Criada em 1979, em Porto Alegre, a Fogo de Chão está comemorando. Em meses recentes, a rede de churrascarias passou a faturar mais do que em 2019, ano pré-pandêmico. Só quem tem um bar ou restaurante sabe as dores e as angústias de ter tido um negócio do ramo entre março de 2020 e os meses intermináveis depois. “Foram os dois piores anos do setor”, define Paulo Antunes, diretor-geral da operação brasileira da Fogo de Chão. Com mais de 500 funcionários, a rede permaneceu fechada por meses e chegou a demitir. “A experiência do churrasco acontece de uma maneira especial, ao vivo, quando o cliente está em nossas unidades”, diz. Em outras palavras, a saída que a rede tentou ao fazer entregas por aplicativos como iFood se mostrou inócua, para um público que anseia em sair de casa para comer uma carne de qualidade, sentado no restaurante, com bom atendimento e ao lado de amigos e da família.
Um setor renasce…
Os números da Fogo de Chão não são isolados no país. O setor tão penalizado na pandemia agora tem apresentado números e perspectivas muito animadores, a começar por emprego: 35% dos empresários da indústria de alimentação pretendem fazer contratações neste semestre. Quem diz isso é a Abrasel. A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes divulgou na última semana um estudo em que apresenta a ampliação de postos de trabalho: bares e restaurantes devem criar 100 mil vagas de emprego no segundo semestre, após um acumulado de 1 milhão de novas posições nos últimos 12 meses. O levantamento mostra ainda que, em junho, os bares e os restaurantes chegaram ao melhor resultado do ano, com 37% deles com lucro no mês, contra 35% em maio.
…e emprega
Nem tudo é festa: 26% ainda estão no vermelho, contra 29% no mês anterior. Outros 37% estão com o caixa em equilíbrio. A aposta é que o desemprego, recuando para 9,3% no trimestre até junho, e a expansão da parcela do Auxílio Brasil para R$ 600 vão, de alguma forma, movimentar o setor. Desde maio, a associação identificou um crescimento tanto no tráfego de clientes como no valor do tíquete médio em bares e restaurantes pelo país, além de uma queda de cerca de 40% no delivery. Há uma compensação dessa retração na chamada venda no “salão” dos estabelecimentos — o que reforça a migração de consumidores para o consumo fora do lar. O Dia dos Namorados foi determinante para confirmar a retomada. Foi explosivo nas vendas de Norte a Sul em junho, para usar as palavras de Paulo Solmucci Jr, presidente da Abrasel.
Entraves
A inflação norte-americana e brasileira em 2022 é um entrave, mesmo com a retomada dos negócios para o setor de restaurantes. São três os principais, sobretudo para quem oferece proteína, como uma rede de churrascarias: preço do petróleo (que encarece a logística), das carnes e aluguéis de unidades.
Da picanha no Brasil…
Com oito restaurantes no Brasil, a Fogo de Chão viu a receita da operação brasileira nos três primeiros meses deste ano encorpar e mais do que triplicar, na comparação com o ano passado. “O momento atual é de muita alegria para todo o setor”, define Antunes, ex-CEO do Fasano Hotéis e Restaurantes. Antunes conta que o plano é seguir na expansão no país. Em São Paulo, foram dois lançamentos no primeiro semestre. No Rio de Janeiro, uma unidade recém-inaugurada na Barra da Tijuca. A ideia é ampliar em outras capitais do Brasil, depois de cravar outros bairros das capitais paulista e carioca. Os estudos para novos endereços estão em andamento.
…ao T-bone na América
Apesar de a criação ter sido no Rio Grande do Sul, o grupo tem a maior parte dos seus ganhos no exterior. Há 25 anos, começou a se expandir nos Estados Unidos. Hoje, tem 50 unidades. “O crescimento lá foi exponencial”, diz Antunes. “O pessoal aceitou e adorou a experiência do churrasco.” Ainda em 2022, outras seis opções serão abertas — uma no México e outras cinco nos Estados Unidos, nos Estados da Flórida, Califórnia, Nova Iorque e New Jersey. A maior parte dos investimentos no Brasil e no exterior acontece graças à entrada do fundo norte-americano Rhône Capital — que comprou 100% da Fogo de Chão, por US$ 560 milhões, em dinheiro, em 2018.
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Os bancos e os auxílios
Uma questão rondou a maior parte dos bancos brasileiros nos últimos dias: vale a pena conceder crédito para a massa de brasileiros beneficiários do Auxilio Brasil que passou a contar com R$ 600? O maior entrave girava em torno da reputação da instituição. A poeira baixou quando Octavio de Lazari, do Bradesco, disse não. “Entendemos que essas pessoas terão mais dificuldade quando o benefício cessar”, disse. Itaú e Santander disseram em seguida que não havia produtos bancários atualmente para quem receberá o Auxílio Brasil. Mas dizer que não há agora não significa que não haverá nos próximos meses. Milton Maluhy Filho, do Itaú, seguiu o discurso de Lazari dias depois e também afirmou que não vai dar crédito. “Entendemos que não é o produto certo para o público vulnerável”, disse.
O lucro dos bancos
Os lucros crescentes dos maiores bancos do país colocaram uma pá de cal em dois temas que rondam o mercado: as fintechs, como o Nubank, que veem sua base de clientes multiplicar, e o advento do Pix, o sucesso nacional que tirou dinheiro das transferências em TED dos bancos, não têm alterado os ganhos de Itaú, Bradesco e Banco do Brasil, todos com altas de mais de dois dígitos nos lucros. Especialmente o BB, com R$ 7,8 bilhões de lucro no segundo trimestre, alta de 54,8%, na comparação anual. É o sexto trimestre de lucro da estatal, presidida por Fausto Ribeiro.
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O Jô, a patrulha…
Jô Soares, uma joia rara na cultura brasileira, morto aos 84 anos, disse a este colunista em uma de suas últimas entrevistas que “praticamente todos” os seus 300 personagens cômicos, muitos deles históricos na televisão brasileira, seriam censurados hoje. “A patrulha está um inferno”, disse. “Qualquer um deles poderia ser patrulhado, porque a patrulha não vê nada. A patrulha é burra, sempre. Mas talvez os mais problemáticos fossem o Pai da Bicha e o Capitão Gay. Se bem que eu sempre fui contra qualquer forma de preconceito. Sou um anarquista.”
…e a graça do Brasil
O Brasil ainda tem graça, Jô? “Tem. O Brasil não perdeu a graça. Eu só tenho medo que se perca a esperança.”
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O QUE ME ASSUSTA É O SEQUESTRO DA PERSONA DO JÔ. DO PENSAMENTO JÔ.
CONSIDERO-ME UM PRIVILEGIADO. ACOMPANHEI A CARREIRA HUMORÍSTICA DO JÔ, DESDE SATIRICOM. DEPOIS VIERAM: FAÇA HUMOR, NÃO FAÇA GUERRA, PLANETA DOS HOMENS. FINALIZANDO COM O QUE ATÉ HOJE SE FEZ DE MELHOR NA GLOBO: VIVA O GORDO. UM JÔ SOARES NO ÁPICE DA SUA CARREIRA FAZENDO HUMOR. PERSONAGENS ESPLÊNDIDOS. VERDADEIROS. IMORTAIS …. BONS E FELIZES AQUELES TEMPOS, MOMENTOS INESQUECÍVEIS. QUE DEUS JÁ O TENHA ENTRE OS SEUS ESCOLHIDOS … O JÔ MERECE ESSE LUGAR … REQUIESCAT IN PACE …