Fundado há cem anos, o Hospital Sírio-Libanês tem dois focos de expansão no momento. O primeiro deles é investir no chamado modelo de atenção primária, quando o foco é a prevenção, e não a doença. O presidente do Sírio-Libanês, Paulo Nigro, chega a dizer que o crescimento das ações de prevenção às pessoas fará com que, no futuro, não existam tantas estruturas hospitalares como temos hoje. O diretor de saúde populacional do Sírio-Libanês, Daniel Greca, diz que a adesão à atenção primária pode mudar bruscamente o setor. “Com atenção primária forte, consigo evitar hospitalizações e que pacientes crônicos precisem de cuidados mais complexos. Quanto mais individualizado for o cuidado num ambiente fora do hospital, consigo segurar esse paciente na prevenção, evitando que ele vá a níveis hospitalares.” No fim de julho, a quinta unidade dedicada à saúde primária do hospital foi aberta, em São Paulo.
Para chegar a esse ponto, a digitalização é fundamental no setor de saúde. “Da mesma forma que o digital impactou a experiência do consumidor, ele impacta agora a experiência do paciente, que exige um cuidado mais personalizado. À medida que você digitaliza, você consegue entregar valor ao paciente fora do ambiente hospitalar. No digital, nós conseguimos controlar e receber muito mais dados para poder acompanhar e entender a população melhor, até mesmo entender uma operação melhor”, diz Greca.
A reinvenção da saúde
É salutar que lideranças brasileiras da saúde, como Nigro e Greca, discutam um assunto que já é amplamente valorizado nos Estados Unidos. A One Medical, empresa voltada para saúde primária, com consultas on-line e presencial e presente em todo o território norte-americano, foi vendida há um mês para a Amazon, por US$ 3,9 bilhões, na terceira maior aquisição da história da companhia de Jeff Bezos. Gigantes de tecnologia, nos últimos tempos, têm estreitado cada vez mais laços com o setor de saúde. A Amazon, em comunicado, justificou a compra da One Medical assim: saúde é um dos setores que mais precisam se reinventar em todo o mundo, e este é o objetivo da compra. A Apple emitiu um comunicado dias antes da Amazon para alardear os recursos que tem em seus produtos, como monitoramento de sono e aulas de ginástica, e as parcerias que mantém com instituições médicas. “Essas ofertas são o futuro da Apple”, escreveu. O Apple Watch deve ser mais aprimorado em breve para recursos de saúde.
O que está por trás das ações e das iniciativas dos gigantes é uma só razão: atender a uma demanda aquecida das pessoas ao que é relacionado a cuidados de bem-estar e saúde.
Atenção primária no Brasil
Como a dita atenção primária vai ser possível no Brasil? Daniel Greca, 39 anos, do Sírio-Libanês, explica que a ideia é expandir o serviço de acompanhamento permanente da vida saudável das pessoas, através de uma equipe variada. “Quero conhecer você como indivíduo — esse é o ponto importante — e desenhar um plano de cuidado, com um time de saúde, como enfermeiros, nutricionistas, farmacêuticos, psicólogos”, diz. “Nesse momento, vou acompanhar a sua saúde, não através da doença, mas através da geração de saúde.” O executivo diz, no entanto, que tem uma barreira que deseja quebrar: a cultura de prevenção do brasileiro. “Muita gente não conhece o modelo de atenção primária, até desvaloriza. Essa falta de educação e conhecimento da importância do que de fato é a atenção primária é um entrave.”
O 5G na saúde
O 5G, a ultraconexão que tem chegado a várias capitais brasileiras depois de estrear em Brasília, tem tudo para impactar imediatamente o setor de saúde. Como? “O acesso é o fator que muda rapidamente”, diz Greca. “O Brasil é um país continental, com municípios pequenos, espalhados. Imagina poder fazer uma cirurgia num paciente que está no interior de um Estado distante estando o médico em São Paulo. Há uma questão de acesso muito importante que vai além da telemedicina.”
Hospitais estelares
O segundo ponto de foco do Sírio-Libanês é a criação de planos de saúde, por meio de parcerias com operadoras, em que a rede credenciada é toda do hospital — uma verticalização que tem a seu favor a credibilidade da marca. A novidade, com anúncios nas próximas semanas, é uma forma de aumentar a receita do hospital, ideia surgida pelos administradores Nigro e Greca. Nos últimos anos, a disputa mais acirrada por pacientes de alta renda foi travada entre os hospitais Albert Einstein e o Sírio-Libanês. Desde 2019, um novo personagem surgiu no caminho: o Vila Nova Star, da Rede D’Or. O cenário atual fez todo mundo se mexer. No primeiro semestre, o Sírio criou um fundo patrimonial que projeta ter R$ 100 milhões em cinco anos. O valor será aplicado em pesquisa, ensino e na abertura de unidades ambulatoriais de pediatria, para exames de ultrassom e câncer de mama, uma maneira de investir e expandir, já que o hospital não pode captar recursos com investidores por ser uma instituição filantrópica.
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O mais bem pago no varejo
Vice-presidentes e diretores do Santander souberam duas semanas antes do anúncio oficial que Sérgio Rial, presidente do banco até 31 de dezembro passado, seria o novo CEO das Americanas. A primeira reação de muitos foi de surpresa. Depois veio a pergunta: como um dos executivos mais bem pagos do país (em 2021, ele chegou a receber R$ 59 milhões entre salário e bônus da instituição) aceitaria a dura missão de presidir e modernizar a varejista em um setor cada vez mais complexo, como o varejo brasileiro, que enfrenta a árdua concorrência estrangeira, como a asiática Shopee e a norte-americana Amazon?
Mapa do Brasil
Simples: Rial gosta de desafios — e foi no varejo do banco que mais se destacou. Essa é uma resposta na lata dada por quem conhece o executivo de perto. Dois foram os destaques de sua passagem de quase sete anos na presidência da operação brasileira do Santander: ele deu a partida na redução de agências físicas em grandes centros urbanos, em que encontrou até três unidades do banco na mesma rua ou avenida. Em contrapartida, expandiu agências no interior e no litoral do Brasil. Para focar no alvo, Rial chegou a comprar um mapa do Brasil e o colocou na sede do banco para mostrar aos funcionários a importância de entender e chegar a todo o país.
Gerente do agro
Rial personalizou também o atendimento ao público do agronegócio. E teve uma sacada que poucos banqueiros tiveram: em vez de chamar gente do setor financeiro para gerenciar unidades, ele recrutou profissionais técnicos — até mesmo agrônomos — para serem gerentes de agências e atender os beneficiários do crédito: os produtores rurais brasileiros. Por isso, ele saiu com aprovação em alta pela maior parte dos funcionários: é o tipo de executivo conhecido como transformacional — aquele que pega uma empresa e a transforma.
Quem manda é o resultado
Rial tem uma frase muito conhecida por quem já trabalhou com ele: “O resultado sempre fala mais alto”. É isso que fez os olhos dos investidores brilharem durante a semana — a crença de que ele vai criar uma ruptura na gestão, com foco em melhores resultados. Em apenas dois dias, segunda e terça-feira, a ação das Americanas acumulou expressivos 41,98% de valorização na Bolsa de Valores de São Paulo.
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Rali de agosto
Agosto nem acabou, mas há gente do mercado financeiro que já fala em rali da bolsa brasileira. Até o dia 23, o investidor estrangeiro ingressou com quase R$ 18 bilhões nas empresas brasileiras listadas na Bolsa de São Paulo. O saldo é positivo no ano em mais de R$ 71,5 bilhões. Os dados são da própria B3.
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