Aqui estamos mais uma vez. Outra grande organização do lobby trans que costumava ser intocável começou a sucumbir. Desta vez, é a Mermaids, a instituição de caridade com sede no Reino Unido para “crianças e jovens de gênero variante e seus familiares”. Ela se encontra sob investigação pela Charity Commission, o departamento que investiga as instituições que não garantirem a proteção das crianças. A Loteria Nacional britânica, uma de suas principais financiadoras, paralisou uma doação de £ 500 mil nesta semana.
A Mermaids foi abalada por diversos escândalos nas últimas semanas. No mais recente, um membro do conselho pediu demissão depois que o jornal The Times revelou uma apresentação sua num evento para uma organização norte-americana que presta serviço para “indivíduos de gênero autoidentificado… que sentem atração sexual por crianças”.
Uma investigação do Telegraph também noticiou que a equipe da Mermaids enviou peças usadas para achatar os seios — conhecidas como binders — para adolescentes de 13 anos sem a autorização dos pais. Uma jornalista adulta, fazendo-se passar por uma adolescente de 14 anos, que afirmou explicitamente que seus pais “não iam deixar”, supostamente conseguiu um binder com a Mermaids.
A instituição também foi acusada de dar conselhos para adolescentes em seu fórum de internet e afirmar que bloqueadores hormonais são seguros e “totalmente reversíveis” (as evidências médicas afirmam outra coisa). E supostamente também parabenizou um usuário adolescente que afirmou querer “todas as cirurgias”. Depois dessas alegações, a Mermaids está sendo investigada por possíveis violações de proteção infantil.
Lobby trans
Mas também já houve questionamentos sobre a Mermaids antes dessas alegações. Pais, terapeutas e feministas que criticam a teoria de gênero manifestam preocupações sobre as ideias promovidas pela instituição — por meio de seu trabalho com políticos, com a mídia, com médicos e até diretamente com as crianças, pelo seu site e por visitas a escolas.
As recentes alegações contra a Mermaids ocorreram logo depois que o NHS — o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido — ordenou o fechamento da clínica Tavistock, em Londres, o único serviço especializado em identidade de gênero para crianças e jovens da Inglaterra. Em sua avaliação provisória da Tavistock, a dra. Hilary Cass revelou que o modelo de atendimento da clínica “não era seguro” para crianças. Ela também confirmou que os profissionais da Tavistock eram pressionados a “afirmar” a nova identidade de gênero da criança, e que os bloqueadores de puberdade que são prescritos para isso são em grande parte medicamentos experimentais.
Antes dessa avaliação, o alarme já havia sido disparado repetidas vezes. “Destransiocinadores” vieram a público afirmar que se arrependiam de ter tomado hormônios e feito cirurgias — e que gostariam que alguém tivesse questionado sua vontade de mudar de gênero. Diversas denúncias alertaram para o fato de que a clínica estava acelerando o processo de transição das crianças sem explorar seus históricos pessoais. E advertiram que havia poucas evidências de que os medicamentos que estavam sendo prescritos para as crianças eram seguros. Também houve acusações de que muitos dos menores que estavam sendo medicados na verdade eram autistas ou, se não houvesse intervenção, seriam homossexuais. E alertas sobre a influência cada vez maior dos grupo de lobby trans nas clínicas médicas.
O funcionalismo público woke
No entanto, nada disso pareceu fazer diferença. Ao contrário, mesmo enquanto as alegações condenatórias se acumulavam, o volume de crianças sendo tratadas pela clínica aumentou, de cerca de 250 pacientes por ano em 2011-12 para aproximadamente 5 mil paciente em 2021-22. Mesmo quando ministros do governo expressaram suas preocupações sobre a Tavistock, foram silenciados pelo funcionalismo público woke.
Ao tentar cancelar um grupo que critica a ideologia de gênero, a Mermaids acabou expondo a beligerância de suas próprias ideias
Um lobbista acusado de ter uma influência excessiva na Tavistock era a Mermaids, que é apenas um dos muitos grupos de lobby trans que afirmam que todas as crianças têm uma “identidade de gênero”, que às vezes pode não corresponder ao seu sexo biológico. Essa identidade, diz a Mermaids, deve ser afirmada. Isto é, socialmente afirmada — pelo uso de pronomes de preferência e de novos nomes. Assim como afirmada do ponto de vista médico — em geral com remédios que bloqueiam a puberdade, hormônios e, em alguns casos, cirurgias, de mastectomias para meninas até vaginoplastias para meninos.
De acordo com a Mermaids, não fornecer esse “cuidado de afirmação de gênero” coloca crianças trans em risco de suicídio. Um release de imprensa lançado pela instituição em 2019 marcando o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio afirmava que apenas usar o nome e o pronome corretos de uma pessoa (ou seja, afirmar socialmente sua identidade de gênero) já pode reduzir o risco de suicídio. E então um debate complexo sobre como lidar com crianças em crise que apresentam disforia de gênero foi reduzido a um simples ultimato: afirmem a identidade de gênero das crianças ou elas vão se matar. Não é difícil enxergar o dano que essa abordagem pode causar.
Ainda assim, quando foram confrontadas com esse ultimato, as pessoas não deveriam ter perdido suas habilidades críticas. Figuras importantes e respeitadas fizeram fila para ser vistas do lado dessa nova vítima merecedora de solidariedade: “a criança trans”. Adotar a ideologia trans e defender o trabalho da Mermaids era uma forma de fazer isso. Nos anos recentes, a instituição foi incensada pela realeza (o príncipe Harry, bem como William e Kate) e por celebridades como Emma Watson. Ela fez parcerias com a Starbucks e a ITV. A alta sociedade embarcou por completo. Afirmar a identidade de gênero de uma criança, em todas as circunstâncias, de repente se tornou a posição virtuosa.
Transfóbicos preconceituosos
Por outro lado, qualquer um que questionasse essa abordagem era tratado como hostil, na melhor das hipóteses ou, na pior, como um criminoso de extrema direita. Críticos da Mermaids foram considerados transfóbicos preconceituosos. Pessoas que nunca tinham ouvido falar da instituição — incluindo pessoas nos Estados Unidos, como Alexandria Ocasio-Cortez — automaticamente defenderam a instituição de toda e qualquer crítica.
Tamanha foi asa protetora colocada sobre a Mermaids que diversos críticos chamaram até a atenção da polícia, depois de embates por rede social com Susie Green, presidente da instituição. Até mesmo agora, após um membro do conselho pedir demissão por ser associado a um “evento de apologia à pedofilia”, alguns ideólogos trans ainda menosprezam todas as críticas. Eles afirmam que a recente atenção que a Mermaids tem chamado só pode ser motivada pela transfobia.
Durante anos, a censura dos ativistas trans protegeu a Mermaids e outras organizações similares da devida averiguação. No último mês, ela moveu uma ação contra a Charity Commission, numa tentativa de cancelar o status de instituição de caridade da LGB Alliance. A Mermaids afirma que a LGB Alliance, a única instituição beneficente do Reino Unido que defende exclusivamente os direitos de pessoas atraídas pelo mesmo sexo, é aparentemente “transfóbica”, por alertar para os danos que a ideologia trans pode representar para crianças homossexuais.
Para boa parte do tribunal, pareceu que as ideias da própria Mermaids sobre gênero estavam em julgamento. Testemunhas de defesa da Mermaids afirmaram que bebês saem do útero sem sexo e que é transfobia afirmar que homens gays não podem ter vagina. Essas ideias malucas são parte integrante da ideologia de identidade de gênero que alimenta a abordagem da “afirmação de gênero” das crianças — incluindo a ideia de que elas devem se submeter a tratamentos médicos para alinhar seu corpo e sua identidade.
Então, em uma grande virada irônica, ao tentar cancelar um grupo que critica a ideologia de gênero, a Mermaids acabou expondo a beligerância de suas próprias ideias. Depois de anos de silêncio forçoso, a Mermaids está finalmente sendo submetida ao escrutínio que merece.
É impossível não achar que o castelo de cartas trans está prestes a desabar.
Fraser Myers é editor-assistente da Spiked e apresentador do podcast da Spiked.
Ele está no Twitter: @FraserMyers
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FINALMENTE UMA LUZ NO FIM DO TUNEL
Seres mal resovidos querem transferir todas as suas frustrações para crianças indefesas.
Enquanto os financiadores de porcarias não forem penalizados, não faltarão idealistas no mundo. Falam tanto no Capital que oprime trabalhadores, porque não falam também do Capital que oprime os não-trabalhadores? Simples assim.
Ainda tenho esperança. Obrigado pelo artigo.