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Deputado federal Ricardo Barros | Foto: Marcos Corrêa/PR
Edição 135

‘Quem ganhar vai ter de conversar com o centrão’

Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, afirma que o remédio para o ativismo político do Judiciário virá no dia seguinte à eleição 

Iara Lemos
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Eleito para o sétimo mandato consecutivo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR) é um dos mais experientes estrategistas no tabuleiro da política brasileira. Como um típico integrante do chamado centrão, o hoje líder do governo Bolsonaro na Câmara já ocupou o cargo durante os governos Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em entrevista a Oeste, Barros defende a ideia de que o vitorioso das urnas em 30 de outubro sente para conversar com os partidos que compõem o centro o mais rápido possível. “Eles sempre foram os responsáveis pela governabilidade do país”, afirma. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Ricardo Barros, do Progressistas | Foto: Reprodução

A nova Câmara terá uma configuração mais centro-direita que a atual?

Acho que não estamos tão à direita assim. As pessoas estão agrupadas em partidos de direita, mas isso ocorreu na janela partidária. Muitos deputados que apoiavam o presidente Jair Bolsonaro migraram para a base do governo, mas penso que o Congresso é centro. Ainda assim, houve uma concentração dos parlamentares em menos legendas, o que é muito bom. Para mim, como líder, facilitou.

Essa mudança na configuração da Câmara pode ser um caminho para uma nova reforma política?

A cláusula de barreiras já vai provocar a fusão de muitos partidos, diminuindo a quantidade de siglas que existem hoje. Quem não escolheu o lado de um dos candidatos teve muita dificuldade nesta eleição. O eleitor não quis votar em quem foi sonso, votou em quem se posicionou. E isso vai se espelhar no Congresso. Obviamente, ficamos mais fortes e mais concentrados.

Como será a atuação do centrão nos próximos quatro anos?

Quem ganhar a eleição precisará da maioria para ter governabilidade. E o centrão sempre foi o responsável por garantir isso. O presidente terá de se adaptar ao pensamento do centro e fazer o que ele determina.

Isso é um recado para quem ganhar o segundo turno?

Não é um recado, é uma constatação. Quem ganhar terá de conversar com o centrão, porque todo presidente precisa compor com a maioria. Só vamos saber o que realmente vai acontecer depois da eleição, mas acredito que haverá o avanço de pautas relacionadas aos valores e aos costumes. Esse é o perfil do novo Congresso.

“O Judiciário exacerbou suas ações e agora surge uma reação. Na Câmara, há propostas para reduzir o tempo de duração do mandato dos ministros e mudar o modelo de nomeação para o STF”

A Câmara vai trazer um novo projeto para contrapor as limitações feitas pelo Supremo Tribunal Federal aos decretos das armas editados por Bolsonaro?

O STF fez campanha aberta contra Jair Bolsonaro. Eles foram em cima de pautas que são caras ao presidente, como as armas ou a redução do IPI. Mas isso passa. No dia seguinte à eleição, teremos um remédio especial para o ativismo político do Judiciário.

Que remédio será esse?

Se o Supremo achar que determinada lei não foi bem redigida, vamos fazer outra mais clara para não dar margem para o Judiciário interferir na ação do Executivo. No caso das armas, faremos isso. Se o Supremo não quer diminuir a violência, eles arquem com as consequências. Houve uma redução no índice de violência no atual governo. No Brasil, o cidadão está atrás das grades, e o ladrão solto nas ruas.

O senhor tem porte de armas?

Não tenho. Não me interessei por isso ainda. Neste momento, estou com outras prioridades.

Foto: Divulgação

Como a Câmara pretende agir com relação ao STF?

Os problemas surgem e as soluções se apresentam. Surgiram problemas com as pesquisas, erros grosseiros, e houve uma reação para enquadrá-las. O Judiciário exacerbou suas ações e agora surge uma reação. Na Câmara, há propostas para reduzir o tempo de duração do mandato dos ministros e mudar o modelo de nomeação para o Supremo. Isso não é de hoje.

O senhor defende a ideia de que haja uma ação do Congresso contra decisões monocráticas do STF?

Acredito que a situação criada pelo ministro Alexandre de Moraes, com o inquérito das fake news, ataques a empresários e prisões arbitrárias, isso tudo vai gerar uma reação. O próprio Judiciário criará o ambiente para que uma ação o enquadre. Um exemplo é a lei de abuso de autoridade, aprovada por unanimidade. Por que isso aconteceu? Porque, num determinado momento, a atuação do Judiciário levou a um cenário em que esse Poder precisava ser enquadrado, o que exigia a aprovação dessa lei. Isso vai se repetir.

Isso não soa como uma ameaça ao Supremo?

Não estou ameaçando nada. É apenas ação e reação. Cria-se um ambiente em que todos concordam que isso é necessário. Conseguimos consertar a Lei de Improbidade porque o Judiciário exagerou. O ambiente criado hoje por esse Poder requer um enquadramento.

Já há ambiente para isso?

Quando estivermos em condições de votar, vamos votar. Mas não agora. Neste momento, o foco é a eleição. Não tenho dúvida de que virá uma manifestação do Legislativo com relação a decisões monocráticas, porque não é possível ficar como está. Vamos precisar de um remédio para isso. A velocidade em que ele será administrado vai ser o apelo popular e a reação do Legislativo.

Como o senhor avaliou a condenação do deputado Daniel Silveira?

A imunidade parlamentar não pode ser questionada. Houve um erro do Judiciário, e é aí que falo do ativismo político, da prisão de pessoas por manifestar uma opinião. Quem se sente ofendido por calúnia e difamação pode processar, mas prender, não. O parlamentar pode falar o que quiser. >

A Câmara vai trabalhar por mudanças no teto de gastos?

O teto de gastos já tem de ser revisto. Todos os candidatos à Presidência manifestaram o desejo de manter os R$ 600 do Auxílio Brasil, e, para isso, o teto precisa ser revisto. Não podemos fazer de conta que não estamos vendo. A minha defesa é a desindexação e a desvinculação. Se isso não acontecer, vamos continuar tendo pouca força para manter o Orçamento. O Parlamento tem de ter liberdade de escolher onde pretende aplicar os recursos.

As emendas de relator serão mantidas?

Orçamento não é secreto. A distribuição dos recursos é feita de forma transparente. Os prefeitos e as entidades pedem recursos, e os projetos precisam ser aprovados. A vontade do Parlamento é que vai prevalecer.

Ou seja, quem manda no Orçamento é o Congresso, e não o Executivo?

O dinheiro sempre esteve na nossa mão. Quem autoriza é o Legislativo. Os 513 deputados e os 81 senadores conhecem mais as prioridades do país do que um grupo de executivos de cada ministério. Somos nós que estamos ouvindo as prioridades de cada rincão do Brasil.

Leia também “Jorge Seif: ‘O Brasil ainda paga servidor público para entregar carta'”

1 comentário
  1. Gilvan João da Silva
    Gilvan João da Silva

    Essa matéria deveria ser aberta ao público para podermos compartilhar e iniciarmos já o movimento de pressão aos parlamentares para que essa pauta se torne urgentíssima. A metodologia usada pelo judiciário local é a mesma onde as ditaduras vêm surgindo sem que a população perceba. Embora aqui a esquerda não estivesse no poder o judiciário já estava aí a serviço deles, daí o ativismo judicial estar causando esse estrago no país

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