Depois da derrota do presidente Jair Bolsonaro, ainda resta esperança para os brasileiros que acreditam num país melhor. Neste ano, pela primeira vez na história, o Congresso Nacional terá uma bancada conservadora-liberal que parece bastante sólida. Nos próximos quatro anos, Lula será obrigado a lidar com algo que não havia em seus dois primeiros mandatos: uma oposição real.
Ainda que o petista consiga cooptar integrantes do centrão, o Parlamento tem novos membros que dificilmente dobrarão a espinha. Entre eles estarão nomes como os senadores eleitos Hamilton Mourão (Republicanos-RS), Sergio Moro (União Brasil-PR) e Tereza Cristina (PP-MS) e os deputados federais Deltan Dallagnol (União Brasil-PR), Carla Zambelli (PL-SP) e Marcel van Hatten (Novo-RS), que, logo depois do primeiro turno das eleições, declararam oposição ferrenha a Lula.
O cientista político Antônio Testa prevê dificuldades para Lula nos primeiros meses do governo. “Bolsonaro conseguiu uma bancada hegemônica conservadora forte”, constatou. Segundo o especialista, Lula será visto com certa desconfiança no início, sobretudo pelos parlamentares mais fiéis ao governo, que podem articular-se para atrapalhar o PT.
Propostas de Lula
Durante a campanha eleitoral, Lula prometeu desfazer uma série de conquistas obtidas pelos brasileiros, desde o governo Michel Temer. A primeira delas será acabar com o teto de gastos, que, segundo o petista, representa “os interesses do setor financeiro”. O PT sustenta que o dispositivo “congelou” gastos. Portanto, para viabilizar os “programas sociais”, será necessário dispensar o mecanismo. O teto impede que o Estado gaste mais do que arrecada.
Outra proposta de Lula é “atualizar” a reforma trabalhista. O ex-presidente mudou o discurso, depois de meses ameaçando revogá-la. “A gente não quer voltar ao que era no passado, porque a legislação trabalhista era de 1943”, disse Lula. “O movimento sindical quer se adequar. A gente quer se atualizar. O pessoal que trabalha com aplicativo. Tem que ter uma regulação, jornada de trabalho, descanso semanal remunerado. Algum direito, porque inventaram que eles são empreendedores, mas eles não são.”
Na campanha, o petista atacou Lira publicamente, ao referir-se ao presidente da Câmara como “submisso” e representante do “pior Congresso Nacional da história”
Outra medida que pode voltar com mais força é a regulamentação da imprensa, que começou a se desenhar em 2010, no segundo mandato de Lula. O texto, contudo, foi sepultado pela sucessora do petista, Dilma Rousseff, após várias manifestações em prol da liberdade de expressão. Antes de a campanha começar efetivamente, o ex-presidente ressaltou a necessidade de regular o setor, visto que “poucas famílias” detêm o controle da mídia. Portanto, é importante que os veículos sejam “democratizados”.
Essas são apenas algumas das investidas que estão por vir. Isso porque, até o momento, não se sabe o que o petista vai propor para “fazer o Brasil ser feliz de novo”. O partido não divulgou o restante do seu plano de governo, tampouco os nomes dos futuros ministros, que permaneceram sob sigilo ao longo da disputa pelo Palácio do Planalto, nos dois turnos.
Trincheira contra retrocessos
A maioria das bandeiras de Lula precisam do aval dos congressistas. Mesmo com os milhões de votos do petista no primeiro turno, sua tropa de choque no Parlamento não será suficiente para garantir-lhe a governabilidade e cumprir todas as promessas a partir de 2023. A cobiça do PT pela Presidência foi tamanha que a campanha não direcionou tantos esforços para crescer no Congresso, o que deixou a legenda relativamente vulnerável nessa área.
Desgastadas por escândalos de corrupção e ameaças de retrocessos de cunho socialista, as siglas de esquerda precisaram unir-se em uma “federação partidária”, — inovação criada neste ano para conseguir ultrapassar a cláusula de barreira. Na prática, aceitaram concorrer em conjunto com o compromisso de que permanecerão unidas até 2026. PT, PCdoB e PV elegeram 80 deputados. PCdoB e PV, sozinhos, com seis eleitos, não superariam a cláusula.
O Partido Liberal (PL), do presidente Bolsonaro, é o que tem a maior capacidade de montar uma trincheira contra as ofensivas da esquerda até 2026. No primeiro turno, a sigla elegeu 99 deputados, a maior bancada da Câmara — performance só registrada no passado pelo extinto PFL, na década de 1990. No Senado, terá 13 cadeiras, também a maior bancada. Tudo isso sem a famigerada “federação” que deu sobrevida aos partidos de viés socialista.
Na Câmara, juntam-se ao PL outras legendas conservadoras, como o PP (47 deputados e 7 senadores) e o Republicanos (41 e 3). Se somadas as cadeiras de partidos que hoje formam o chamado “centrão”, como o União Brasil, o PSD, siglas nanicas e parte do MDB e do PSDB, desenha-se uma massa capaz de aprovar emendas à Constituição — que exigem quórum qualificado (três quintos dos deputados, o equivalente a 308 votos) —, abrir CPIs, comandar as principais comissões temáticas, como Comissão de Constituição e Justiça, e impedir retrocessos.
Os números ainda credenciam a bancada liberal-conservadora a comandar o Congresso Nacional no ano que vem. Os congressistas eleitos na esteira do bolsonarismo dão sinais de que o presidente da Câmara e ainda aliado do Planalto, Arthur Lira (PP-AL), continuará dando as cartas na Casa, dificultando a possibilidade de a esquerda controlá-la e evitar qualquer possibilidade de impeachment contra Lula. Na campanha, o petista atacou Lira publicamente, ao referir-se ao presidente da Câmara como “submisso” e representante do “pior Congresso Nacional da história”.
A mesma vantagem de Lira não se aplica ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Com a força de Bolsonaro, a cadeira de Pacheco está ameaçada, a partir de fevereiro de 2023, quando a Casa se reúne para definir seu novo comandante. As senadoras eleitas Damares Alves (Republicanos-DF) e Tereza Cristina (PL-MS), aliadas de primeira ordem do presidente, já manifestaram interesse em dirigir a Casa, o que pode facilitar a abertura de impeachment contra ministros do STF, freando o ativismo judicial do Supremo e obrigando-o a agir dentro das quatro linhas da Constituição.
O cientista político Marcelo Suano afirma que a tendência é Lula negociar com partidos mais fisiológicos, como os do centrão, que sempre participaram de todos os governos pós-democratização. “Há um contingente disponível para negociar”, disse o especialista, ao referir-se a parlamentares que não são fieis a um candidato. “Não desconsideraria que esse contingente negocie com Lula.”
Se mantiver a espinha ereta, os parlamentares que se elegeram à custa de Bolsonaro podem honrar o legado do presidente, mantendo os avanços obtidos por ele durante o primeiro mandato. Na economia, além dos resultados positivos, o presidente vai deixar como herança a reforma da Previdência, a Lei da Liberdade Econômica e a redução dos preços dos combustíveis. No Congresso Nacional, Bolsonaro, apesar de deixar a Presidência, conseguiu consolidar-se como a maior força política do país.
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Cristyan, considero importante tua análise sobre a nova composição do Congresso para 2023, e, entendo que diante do apoio popular de centro direita revoltado com as manobras das Cortes Supremas que elegeram Lula, e da pouca transparência dos resultados com o impedimento do VOTO IMPRESSO, obteremos importantes reformas quiçá até a POLÍTICA com a redução das gorduras do Legislativo Nacional e do Judiciário, reduzindo respectivamente o número de cadeiras no Legislativo e o excessivo contingente administrativo do Judiciário. Para que precisamos de 513 deputados federais cuja representatividade e extremamente desproporcional para a população eleitoral de São Paulo, que, com 34 milhões de eleitores tem 70 deputados e 16 estados brasileiros com 33 milhões de eleitores tem 145 deputados, e de 3 inúteis senadores por Estado.
Cristyan, curiosamente observei que o eleitorado dos estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Para, Paraíba, Pernambuco, Piauí, R.G do Norte e Sergipe que elegeram Lula, possuem 46.147.632 de eleitores em 2022, e cresceu 8,50% sobre 2018 ou 3.614.167 eleitores, e o dos estados do D. Fed., E. Santo, Goiás, Paraná, R. Janeiro, R.G. do Sul, S. Catarina e São Paulo que elegeram Bolsonaro possuem 80.048.753 de eleitores em 2022, cresceu 5,14% sobre 2018 ou 3.910.390 eleitores.
Diante dessas diferenças, não seria interessante que o jornalismo da revista oeste fizesse um levantamento desses crescimentos por cidades especialmente da Bahia e Maranhão que cresceram respectivamente 8,64% e 11,15%?
Caro Antonio, obrigado pela leitura, pelo comentário e pela sugestão de pauta. Vou apreciá-la com carinho. Abração
Do jeito que o circo foi montado, Lula governará com o apoio do STF, passando por cima do Congresso Nacional. Da mesma forma que Maduro conduz a Venezuela: ele cria as leis, o Congresso veta, mas o STF de lá valida – por isto Maduro conduz a Venezuela do jeito que quer. Temo pelo Brasil, temo que nos próximos anos vivamos exatamente o que acontece na Venezuela.
Análise interessante, Luis. Forte abraço
Prezado Luis Cláudio, o Lula nem precisou ganhar a eleição. Ele já governa o país há muitos anos comandando os patetas do senado que operam no stf e atropelam o executivo. Não tenha dúvidas de que vai piorar e muito.
Isso mesmo Cristyan, essas novas bancadas farão o veinho cacarejar cacarejar e não botar ovo algum. Kkkkkkk
As forças conservadoras devem no primeiro momento concentrar fogo no processo de cassação de Alexandre Moraes, não por vingança, mas para passar um recado aos demais membros do STF, que respaldaram as arbitrariedades de Moraes. A dúvida é quantos dos eleitos se manterão fiéis aos eleitores e quantos serão cooptados pelo novo governo.
Obrigado pela leitura e pelo comentário, Leandro. Abração
Avante Brasil.
Na minha modesta opinião, para colocar um freio da juristocracia, tudo vai depender da Espinha do novo Presidente do Senado. Se for um ou uma Senadora com o olhar no horizonte em vez de olhar rasteiro e covarde, tipo o pacheco (esse cara não merece letra maiúscula), tempos tenebrosos aguardam-nos!
O saudoso professor Olavo reclamava muito que o nosso presidente não sabia lidar com os inimigos. Isso o deixava muito irritado às vezes. E eu concordo plenamente com ele. Não tenho dúvida nenhuma de que se o professor ainda estivesse por aqui não teríamos perdido essas eleições. E é aqui que entra aquele velho ditado: “Dono morto, burro solto”.
Que tática usará o capitão neste momento? Irá se preparar para as próximas eleições ou indicará seu sucessor?
É triste estarmos sujeitos aos maus tratos do STF que, praticamente, escreveu este final.
Isto ficou evidente que precisa mudar, mas, como bem alertou o capitão, agora teremos mais duas válvulas petistas (minha metáfora) atuando no supremo.
Vamos adiante, Brasil! 🇧🇷🇧🇷🇧🇷🇧🇷🇧🇷🇧🇷
Na verdade uma bancada assim é pior. Lula vai governar por decretos; congresso derruba os decretos; aí vem o STF e derruba os vetos…
Com esta composição, a tendência a uma ditadura é ainda maior.
Certamente! E com um governado emparelhado com o STF, vai ser como escalar o Monte Everest (ou mais difícil).
Que pesadelo!
O que nos resta saber é:
1° Quantos nos trairão?
2° Dos que restarem, até quando resistirão a tentação do $Diabo$ ?
Apenas o futuro dirá, caro Juliano. Obrigado pela ponderação, por sua leitura e pelo comentário. Abração