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Centro de distribuição do Mercado Livre no Brasil | Foto: Divulgação
Edição 143

Por jato, barco ou cavalo

O Mercado Livre ensina como entregar 450 mil pacotes por dia para o Brasil inteiro

Bruno Meyer
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O Mercado Livre prepara o lançamento de novas naves no Brasil em 2023. “Naves” são como os funcionários da empresa chamam informalmente os centros de distribuição (CD). Os novos investimentos do site, que vende 32 produtos a cada segundo, foram revelados pelo diretor de operações da companhia, Edmundo Gardolinski, durante uma visita da coluna ao maior centro de distribuição do Mercado Livre, localizado em Cajamar, a uma hora de São Paulo. É neste gigantesco espaço e também num recém-lançado Sortation Center que a empresa consolida 450 mil pacotes por dia, o que equivale a 30% das entregas realizadas no Brasil. Oeste acompanhou o passo a passo da maior empresa de comércio eletrônico da América Latina para 2023.

Mais centros de distribuição

A Meli — como os 15 mil funcionários chamam o Mercado Livre — teve a tecnologia e a contratação de pessoas como prioridades. No recrutamento, desenvolvedores foram integrados à área de tecnologia e, atualmente, engrossam um exército de mais de 1,5 mil profissionais que trabalham exclusivamente para Mercado e Envios. Em 2022, a automação foi instalada, ainda como parte de um investimento pesado de R$ 17 bilhões no Brasil, valor 70% maior que em 2021. A empresa não fechou ainda o valor que será investido em 2023. Mas os principais executivos já sabem que, além de mais centros de distribuição, a empresa vai aprimorar a automação dos CDs, popularizar o Mercado Coin (ativo digital para ser desenvolvido e comercializado no site) e contratar mais gente.

Edmundo Gardolinski, diretor de operações do Mercado Livre: democratizar o acesso ao comércio eletrônico brasileiro | Foto: Divulgação

Sem selfie

O Centro de Distribuição de Cajamar tem aparência de uma cidade interiorana, com regras próprias, em que circulam mais de 1,6 mil pessoas, vindas de ônibus exclusivos da empresa. Funcionários e os raros visitantes precisam vestir colete amarelo, tênis especiais sem cadarço e se desvencilhar de relógios, brincos, correntes, mochilas e bolsas, para que não haja nenhuma tentativa ou indício de furto de itens. Não podem também entrar com celular, por exemplo. Fazer imagens internas nem pensar. Este colunista conseguiu entrar com um celular, mas foi advertido por um funcionário, sob alegação de que uma empilhadeira poderia passar por cima, enquanto um vídeo selfie fosse feito. Era antes do meio-dia. Esse é um horário crucial para a operação de um centro de distribuição do Mercado Livre.

Hora do rush

A obsessão de uma varejista mundial é entregar um produto quanto antes para o consumidor. Em Nova Iorque, os carros, as vans e os caminhões já viraram parte da paisagem da cidade, com pacotes da Amazon por todo lado para os moradores dos prédios. O Mercado Livre sabe disso e corre para antecipar as entregas. O horário das 10 da manhã até o meio-dia é o mais movimentado. “Esse é o nosso rush, é o foco que todo centro precisa ter para entregar no mesmo dia”, diz Gardolinski, enquanto aponta para equipes variadas que depositam pacotes nas esteiras. “Aquela turma separa os produtos para os nossos clientes que vão receber ainda hoje.” Em 2017, 95% das entregas da empresa eram feitas via Correios e 5% pela própria rede logística do Mercado. Esse número reverteu totalmente. Em 2022, 95% das entregas são feitas via redes de logística próprias do Mercado Livre.

95% das entregas são feitas pelo próprio Mercado Livre | Foto: Divulgação

De brinquedos a livros

Quando um cliente compra no site do Mercado Livre, o produto já se encontra armazenado no centro de distribuição. Por isso, é curioso andar pelas prateleiras do CD, mesmo que o acesso seja raro para profissionais de imprensa. A cada andada, o observador depara com produtos infantis, remédios e livros. O trabalho é bem manual nesse primeiro passo: o representante coleta o produto, coloca-o numa esteira, e ele é encaminhado para as estações de embalagens, onde é empacotado e enviado ao destino final. Cem cidades brasileiras, cujos CEPs cobrem 20% das vendas, recebem no mesmo dia, se pedir na parte da manhã. E 2,1 mil cidades recebem em até um dia e 4,7 mil municípios brasileiros em até dois dias.

Centro de distribuição | Foto: Divulgação

Como democratizar o comércio eletrônico

O Mercado Livre percebeu há poucos anos que logística é tudo para quem quer se tornar relevante no varejo. “Nosso objetivo é democratizar o acesso de todos os brasileiros ao comércio eletrônico com um desafio: entregar de forma rápida e eficiente para uma grande quantidade de CEPs em todo o território nacional, não somente em regiões de grande concentração”, define Gardolinski. “Não é fácil você conseguir levar em dois dias os pacotes para cerca de 90% dos CEPs do Brasil. Exige uma logística diferente da dos países europeus, ou mesmo da dos Estados Unidos, porque a aglomeração se encontra na costa, e a gente tem desafios específicos para alcançar o território nacional.”

Entrega a cavalo

Para democratizar — palavra usada por um dos principais executivos da empresa —, a companhia usa vários métodos: 5 aviões (serão 11 jatos, numa parceria com a GOL, até o fim de 2023), 4,2 mil caminhões (97 movidos a gás), 1.250 vans e 18 mil veículos. Até o último dia de dezembro, a empresa projeta usar mais de 400 vans elétricas. Mas a curiosidade é que a diversidade é tamanha, num país como o Brasil, que o Mercado Livre faz entregas em barcos, bicicletas e até a cavalo. “Confesso que a gente faz entregas que vão além do comum. Enfrentamos inclusive uma estrada cheia de lama. Tudo para que o nosso cliente receba o produto.”

Da França à Bahia

O poderio do Mercado Livre foi demonstrado nos últimos tempos pelo assédio a profissionais de diferentes áreas no mercado de trabalho. Gente da Ambev recebeu proposta salarial muito acima da média. Nessa mesma leva, o gaúcho Gardolinski foi recrutado, em agosto de 2020, para trabalhar numa operação da empresa na Bahia, vindo da gestão de uma operação da Amazon no interior da França. Ele conta que nada é parecido com administrar uma logística como a do Brasil. “Naturalmente é mais difícil fazer isso aqui, pelas dimensões continentais do nosso país”, diz. “Nós temos mais de 40 milhões de habitantes num espaço como o Estado de São Paulo. Não há nada parecido assim na Europa.” Uma de suas táticas para desbravar o país é estudar e entender determinadas regiões — é aí que se faz o uso de barcos a cavalos.

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2 comentários
  1. Mantovani

    E se essas entregas fossem via correios, com seria? Quinze, vinte dias para receber a mercadoria, não?

    1. Marcus Borelli
      Marcus Borelli

      Na verdade os Correios até que estão bem melhor. Mas na gestão petista se houver vai piorar e muito.

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