Nas últimas semanas, o assunto de uma possível “visita interplanetária” saiu dos tabloides e foi parar na capa de jornais que frequentemente se autocongratulam pela seriedade. A agência de notícias Reuters, por exemplo, nos informa que, “após uma série de tiros contra objetos não identificados, o general da Força Aérea norte-americana que monitora o espaço aéreo disse que ainda não descarta a presença de aliens” para explicar os balões sobrevoando o território dos Estados Unidos.
After a series of shoot-downs of unidentified objects, the U.S. Air Force general overseeing North American airspace said that he would not rule out aliens or any other explanation yet, deferring to U.S. intelligence experts https://t.co/WT0JHmCUV8 pic.twitter.com/IKY0jmwIXC
— Reuters (@Reuters) February 13, 2023
De repente, óvnis e ETs deixaram de ser coisa de conspiracionista, e viraram assunto para a imprensa “responsável”. Por que será?
Não pretendo discutir o assunto em si, porque ele permite mil especulações e nenhuma resolução, mas algo aqui é incontestável e deve portanto ser analisado: o timing. Veja bem: somos alvos constantes de todo tipo de manipulação e propaganda, e é muito difícil entender o que se passa, mas uma coisa quase sempre nos é revelada quando somos alvo de uma falsa revelação: a intenção de nos distrair de algo que está acontecendo. Na situação atual, em que balões são tratados como disco voador, algumas perguntas podem ajudar a nos orientar: Por que agora? Qual acontecimento simultâneo estamos sendo instados a ignorar? Do que estamos sendo induzidos a desviar nossa atenção?
Existe ao menos uma notícia cuja ausência dos maiores jornais e mídia televisiva praticamente confirma a sua importância: as denúncias do jornalista Seymour Hersh sobre as explosões que destruíram o gasoduto que transportava gas da Rússia para a Alemanha. Segundo Hersh, o autor da explosão criminosa foi o governo dos Estados Unidos, que teria armado as bombas, em uma operação clandestina, em junho, durante o Baltops, um exercício militar conduzido pela Otan naquela região desde 1972, sempre na mesma data.
Se isso for verdade, as implicações são catastróficas, porque os EUA não teriam apenas sabotado a Rússia, mas também prejudicado a Alemanha, um país aliado e membro da Otan. Este não é um fato menor, ao contrário — se a imprensa cartelizada fosse minimamente independente e honesta, o assunto estaria na capa de todos os jornais, porque esse é o tipo de evento que escritores de ficção, e analistas de geopolítica, usam como estopim para a simulação de uma guerra mundial.
Em setembro de 2022, o mundo assistiu a um dos maiores eventos geopolíticos em tempos modernos: a sabotagem submarina que explodiu dois gasodutos no Mar Báltico, Nord Stream 1 e Nord Stream 2. Esses gasodutos são cruciais para a vida na Alemanha e para a sua economia, porque eles transportam grande parte da energia consumida no país. Segundo Seymour Hersh, o gás é comprado por um preço tão maroto que seu excedente é revendido para outros países, e a Alemanha ainda consegue ter lucro.
Os gasodutos que explodiram são de propriedade majoritariamente russa, através da empresa semiestatal Gazprom, mas, ainda assim, veículos da imprensa cartelizada jogaram a culpa nos ombros do Kremlin. “A lógica elementar mostra que danificar o gasoduto não era do interesse da Rússia,” disse o porta-voz do governo russo Dmitry Peskov.
Ninguém é obrigado a acreditar em um jornalista premiado fazendo uso de fontes anônimas. Mas os detalhes da história de Hersh são complexos o suficiente para sugerir um conhecimento de bastidores
De fato, é necessária uma lógica muito tortuosa para cogitar a Rússia como a principal suspeita da destruição de seus gasodutos. Falo isso sem receio de ser classificada pelos classificadores de plantão como “pró-Rússia”. Já trabalhei para a TV estatal do país e deliberadamente, e, com a ajuda de um advogado, descumpri meu acordo de sigilo para divulgar manipulações e mentiras que eu presenciei na redação. Descrevi aquela empresa como representante perfeita do pior do capitalismo com o comunismo.
Segundo as denúncias de Hersh, publicadas na sua página no Substack, os EUA provocaram as explosões usando mergulhadores secretamente treinados na Flórida, e contando com a ajuda de pelo menos um outro país, a Noruega. Mas, apesar de serem revelações bombásticas — ainda que baseadas em apenas uma fonte anônima, como admite o próprio Hersh —, sua história foi devidamente ignorada, inclusive por seus antigos empregadores.
“Publiquei minha história no Substack porque eu nem iria cogitar… Tenho vergonha de dizer, depois de tantos anos maravilhosos no New York Times, mas eu nem cogitei uma história dessas para o New York Times,” disse Hersh ao programa Democracy Now. “Eles decidiram que a guerra da Ucrânia vai ser ganha pela Ucrânia, e é isso que seus leitores terão.”
Seymour Hersh é (ou era até pouco tempo atrás) um dos jornalistas mais respeitados do mundo, e um dos mais premiados, vencedor de um Pulitzer e de cinco George Polk Awards, um número nunca igualado por outro jornalista.
Hersh escreveu por muitos anos para uma das revistas mais prestigiadas do planeta, a New Yorker, e cobriu histórias como Watergate e o bombardeio secreto do Camboja pelos EUA quando trabalhava para o New York Times. No começo da carreira, e ainda como freelancer, ele foi autor do furo de reportagem que revelou o massacre de My Lai. Mas, apesar de todo esse currículo, a reportagem investigativa de Hersh publicada no Substack foi descrita da seguinte forma pela Reuters: “Casa Branca diz que postagem de blog sobre a explosão do Nord Stream é ‘totalmente falsa’”.
Ninguém é obrigado a acreditar em um jornalista premiado fazendo uso de fontes anônimas. Mas os detalhes da história de Hersh são complexos o suficiente para sugerir um conhecimento de bastidores, de alguém que está perto da ação, ou perto do seu comando. Mas o que causa perplexidade maior não é que sua história tenha sido ignorada. O que é de fato assustador é que quase nenhum jornal pareceu se importar, ou associar as revelações de Hersh, com duas declarações feitas publicamente por dois altos cargos do governo norte-americano: Victoria Nulan, subsecretária de Estado do governo norte-americano para Assuntos Políticos, e Joe Biden.
Em janeiro de 2022, um dos gasodutos ainda estava em construção, mas já causava muito desprazer aos Estados Unidos, porque, quanto mais a Alemanha se beneficiasse do gás russo, mais as relações entre os dois países se fortaleceriam. Numa coletiva de imprensa, Victoria Nulan fez uma declaração inequívoca: “Se a Rússia invadir a Ucrânia, de um jeito ou de outro, o Nord Stream 2 não vai continuar”.
Para quem estava mal de ouvido, a subsecretária preferiu ser mais enfática: “O gasoduto não está pronto para ser ligado, não foi testado, não foi certificado, e não adquiriu as autorizações regulatórias que iriam permitir que ele fosse ligado, tanto no lado da Alemanha, quanto no lado da União Europeia”. Nulan então cita o senador Ted Cruz, um membro importante do falso binarismo político norte-americano, classificado por ambas as torcidas organizadas como um inimigo de Joe Biden. “Como diz o senador Cruz: ‘Atualmente o gasoduto é apenas um monte de metal no fundo do oceano. Nenhum gás vai passar por ali até que todas essas coisas aconteçam'”.
Pouco tempo depois, foi a vez de Joe Biden deixar claro o que achava do gasoduto. O presidente norte-americano estava falando com repórteres durante um encontro com o chanceler alemão, Olaf Scholz, na Casa Branca. “Se a Rússia invadir — quero dizer tanques ou soldados cruzando a fronteira com a Ucrânia — de novo, vou dizer que não haverá mais um Nord Stream 2. Vamos acabar com isso.” A jornalista Andrea Shalal, da Reuters, então perguntou: “Mas como você vai fazer isso, considerando que o projeto e o controle do projeto estão sob o comando da Alemanha?”. Biden então respondeu: “Nós vamos fazer isso, eu te prometo, nós teremos como fazer isso”.
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Jornalismo nota dez! Parabéns à autora.
Essa mídia é muito poderosa, NOM, agenda, ciência, quem é contra essa enganação, wladimi putim um comunista desastrado
Na minha opinião, isso se chama legítima defesa de terceiros. Dona Ângela andava muito sonsa. É aquela Escola de Frankfurt de cultura de massa, que anda embrutecendo muito os europeus e os próprios ocidentais.
Mas foi errado, Só servirá para irritar mais ainda os Russos e dificultará o diálogo. Biden é um desastre! Os próprios Russos deveriam derrubar Putin, e se recolherem ao país deles.
Enquanto o mundo olha para China /Rússia , EUA aprontam e solta imagens holográficas por aí simulando OVNI e tirando atenção .
Paula Schmitt é uma jornalista NECESSÁRIA. Lamento se estou ferindo suscetibilidades. Estou farto de artigos cheios de opiniões para boi dormir (na verdade, para o curral inteiro) ou sob medida a endossar as narrativas calhordas dos canhoteiros.
Muito bom o texto, de fato, muito bom. Só fiquei com uma dúvida: estamos falando de um oleoduto ou de um gasoduto? Ou seriam ambos a mesma coisa? Ou oleoduto é a tubulação para transporte de gás? Saudações fraternas e parabéns, em meio a alguns equívocos editoriais da Oeste, como aquela constrangedora “matéria jornalística” do menino que ganhou o tal desafio muitíssimo mal explicado da Pepsi. Nem tudo ainda parece estar perdido na Oeste, se ela se voltar para seus ideais, lotear menos nosso espaço mental com publicidade tão agressiva e insidiosa e exorcizar “matérias” péssimas como a do menino contra a Pepsi.
Basta ter um neurônio pra saber que isso foi um feito de americanos ou ingleses.
Pois não há nada pior para o sono de ambos, do que uma união entre Rússia e Alemanha.
Pois a união de ambos criaria um adversário mais poderoso que Rússia e china.
Gente!!! Anglo saxões fazem isso desde SEMPRE…e fazem de “um jeitinho” que os proprietários pareçam os culpados….E TEM IMBECÍS que acreditam nessas ingleses e norte americanos….esses canalhas vão acabar fazendo uma guerra nuclear e espalhar pelo mundo…. São ca na lhas!
Roteiro de série de algum streaming. Parabéns.
Cara Paula, impressionante como não temos mais uma imprensa isenta , não somente no Brasil, mas , em todo o mundo, vemos jornalistas comprometidos com narrativas falsas ou , na melhor das hipóteses , pouco confiáveis . Parabéns pela reportagem.
Endosso!
A Rússia jamais explodiria seus próprios oleodutos e muito menos a Alemanha que recebe o produto há anos para o aquecimento em seus invernos rigorosos.Sim concordo com a jornalista,os EUA com a anuência de Biden e assistência sempre pronta da Noruega.Esse é o mundo que vivemos.
Paula Schmitt é a personificação da excelência no jornalismo investigativo. Sem mais.
Uau,… Paula vc traz a tona detalhes que muitos não observaram….a quem realmente interessa esse “conflito capitalista” ?….que ao meu ver está longe de um desfecho, haja visto que tudo isso alimenta a indústria bélica e também o valioso mercado do aço que hj é uma commoditie super valorizada nos últimos anos pela China, e que tem alto impacto na inflação dos países do mundo, principalmente dos países desenvolvidos. Aço em alta significa inflação em alta. Há diversos interesses escusos e omissos na explosão destes oleoduto/gasoduto,….que lembra muito as realidades das ações fictícias dos filmes de “007” contra os espiões da KGB. Talvez agora a Alemanha coloque em ação de trabalho a maior central de inteligência do mundo – DW. Quem sabe ??
Que boa surpresa ter a Paula Schmitt na Oeste. Seus textos são sempre inovadores e muito bem escritos, nos trazendo boa informação e o prazer da leitura. Parabéns à Paula e a Oeste.