Pular para o conteúdo
publicidade
Manifestantes em frente ao Capitólio em Washington, Estados Unidos, em 2021 | Foto: Sebastian Portillo/Shutterstock
Edição 155

A insurreição teatral

Um vídeo exibido por Tucker Carlson, da Fox News, provou que a narrativa partidária em torno dos eventos envolvendo a invasão do Capitólio foi uma grande farsa

Rodrigo Constantino
-

Por dois anos o público teve acesso apenas às imagens que a grande mídia escolheu divulgar sobre a invasão do Capitólio naquele fatídico 6 de janeiro. A narrativa era que os Estados Unidos viveram uma tentativa terrível de golpe e que a sua democracia correu enorme perigo. Tudo teria sido culpa de Trump, claro, apesar de o então presidente ter sido claro sobre o lado pacífico da marcha de protesto que incentivou. Todo apoiador de Trump era um potencial golpista, eis o resumo da ópera.

Uma ópera-bufa, agora fica mais claro. O Comitê do Congresso que teve acesso ao material completo das câmeras de segurança nunca havia divulgado essas imagens, tampouco a velha imprensa pareceu interessada no tema. A líder era Nancy Pelosi, a democrata. Agora, sob o comando de um republicano, essas imagens finalmente chegaram ao público, por meio de Tucker Carlson, da Fox News.

Na segunda-feira, Tucker Carlson divulgou a primeira parte da investigação de sua equipe sobre cerca de 40 mil horas de imagens de segurança do Capitólio naquele 6 de janeiro de 2021. O vídeo que Carlson exibiu para seu grande público provou que a narrativa partidária em torno dos eventos foi uma grande farsa.

“Os democratas no Congresso, auxiliados por Adam Kinzinger e Liz Cheney, mentiram sobre o que aconteceu naquele dia. Eles são mentirosos. Isso é conclusivo e deve impedir que eles sejam levados a sério novamente”, disse Carlson. A primeira série de clipes de Carlson reproduzidos foi uma filmagem adicional não divulgada anteriormente dos manifestantes de 6 de janeiro circulando sem violência pelo Capitólio, muitas vezes ao lado da equipe de segurança e dos policiais.

Certamente, alguns dos primeiros a entrar no capitólio quebraram janelas e forçaram a abertura da porta. Mas, para as centenas que se seguiram, eles pareciam inconscientes do dano causado e eram claramente não violentos. A polícia simplesmente os deixou entrar. Alguns são vistos parando para limpar alguns danos causados ​​por outros que haviam passado antes.

O foco então mudou para Jacob Chansley, mais conhecido como o xamã QAnon. Os policiais do Capitólio, por sua própria vontade, guiaram Chansley por todo o local. Mesmo quando a polícia superou Chansley em nove para um, eles não se moveram para prendê-lo ou removê-lo. Chansley mais tarde agradeceria aos oficiais em oração no plenário do Senado.

Jacob Chansley | Foto: Johnny Silvercloud/Shutterstock

Se o 6 de janeiro foi o que a mídia e o Comitê Seleto dizem que foi — uma insurreição violenta destinada a interromper a transferência pacífica de poder e assumir o controle do governo federal à força em nome de Donald Trump —, esse é um cenário em que a polícia do Capitólio deveria guiar tranquilamente os participantes do golpe violento? Onde estavam as armas dos terroristas, aliás? E quantos foram mortos naquele dia?

E eis, no fundo, a essência disso tudo: uma elite “progressista” e arrogante despreza a democracia verdadeira, pois despreza o povo, tido como ignorante demais para tomar decisões importantes

Eis outra farsa que vem abaixo com as imagens divulgadas por Carlson. Além de uma manifestante que morreu baleada pela polícia, a única outra morte explorada pela imprensa como prova do perigo da “insurreição” era a de um policial, que foi a óbito um dia após o evento. Alegava-se, sem provas, que Brian Sicknick teria sofrido traumatismo, ao apanhar com um extintor de incêndio durante a entrada forçada dos manifestantes. Mas o mesmo policial aparece nas imagens depois, calmo, organizando o fluxo de pessoas, usando seu capacete intacto.

Por suas ações, os policiais no local claramente não interpretaram os manifestantes que estavam entrando no Capitólio como um ataque à democracia norte-americana. Se os oficiais entenderam isso como uma tentativa de derrubar o governo norte-americano, então o Departamento de Polícia do Capitólio deveria ser destituído de vez por incompetência ou mesmo cumplicidade. A covardia deles seria imperdoável e incompatível com a missão em jogo.

Manifestantes em Washington, em janeiro de 2020 | Foto: Bryan Regan/Shutterstock

As imagens mostradas por Tucker Carlson são devastadoras para as narrativas midiáticas sobre aquele dia. E a reação da mesma imprensa, agora que tudo veio à tona, é ainda pior e mais suspeita: eles acusam o líder republicano de ter liberado essas imagens apenas para Carlson, ou alegam que o apresentador da Fox News é partidário (como se eles, na CNN e companhia, fossem imparciais e objetivos). É como se a transparência com o público fosse prejudicial para a democracia!

E eis, no fundo, a essência disso tudo: uma elite “progressista” e arrogante despreza a democracia verdadeira, pois despreza o povo, tido como ignorante demais para tomar decisões importantes. É por isso que caberia aos parlamentares do Comitê Seleto observar e revelar suas conclusões, tomadas como verdade absoluta. É por isso que caberia aos jornalistas da imprensa tecer análises e disparar julgamentos, condenando Trump pelo “golpe”.

Se o povo analisar por conta própria as imagens, ele poderá concluir que um bando de fanfarrões desarmados não configura um movimento fascista ameaçador. Ele pode até mesmo acreditar que arruaceiros fantasiados e escoltados pela própria polícia não passam de idiotas sem qualquer perigo real para as instituições republicanas. Ele pode, cruzes!, interpretar que a maior ameaça à democracia não veio daquela turba descontrolada e exótica, mas, sim, do establishment, incluindo a mídia, que insistiu por anos em narrativas furadas só para derrubar o presidente de direita que não suportavam, mas foi eleito pelo povo.

Foto: Orhan Cam/Shutterstock

Leia também “A mídia é racista”

10 comentários
  1. Praxedes
    Praxedes

    E a esquerdalha brazuca, pouco criativa, tentou repetir essa farsa por aqui, no 08 de janeiro. A prova é dada pela tentativa de barrar a CPMI.

  2. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    A nova ordem mundial por trás das tragédias com mistura politica mentirosas e surrealistas

  3. Osvaldo Pasqual Castanha
    Osvaldo Pasqual Castanha

    E quando saberemos a verdade sobre o nosso 08 de Janeiro de 2023? Por que a CPI está tendo dificuldade de ser instalada?

  4. Marco Aurélio Bittencourt
    Marco Aurélio Bittencourt

    O crítico no seu artigo é a visão assimétrica sobre canalhas ou supostos canalhas. Se congressistas fizeram o que voce disse, só tem um caminho: a justiça. Por que não tomam essa iniciativa?

  5. COLETTO ASSESSORIA EM SEGURANÇA DO TRABALHO LTDA
    COLETTO ASSESSORIA EM SEGURANÇA DO TRABALHO LTDA

    BELA REPORTAGEM !!!
    REALMENTE A VERDADE TARDA MAS NÃO FALHA !!!!
    PRECISAMOS URGENTEMENTE DA CPI DE 08 JANEIRO, PARA ANALISARMOS AS IMAGENS ( cuidado pois parte destas imagens podem desaparecer ) E OS DEPOIMENTOS.
    TENTARAM FAZER NO BRASIL O MESMO MODELO QUEFIZERAM NO EUA.

  6. Thais de MORAES Machado Suppo Bojlesen
    Thais de MORAES Machado Suppo Bojlesen

    Qualquer semelhança com o nosso 8 de janeiro Não é mera coincidência! A diferença é que nós States não prenderam centenas de inocentes pois o Judiciário lá é Decente!

  7. Mara Nadia Jorge Mattos
    Mara Nadia Jorge Mattos

    O cenário se repetira aqui com a CPMI. Por que o governo quer a

    1. MAURICIO MOURA BRASILEIRO DO VALLE
      MAURICIO MOURA BRASILEIRO DO VALLE

      Caro Rodrigo Constantino, altere por favor a data p 8 de janeiro, o local, Praça dos 3 Poderes e o seu 2° artigo estará pronto. Moro em Brasília há 54 anos, ninguém, ninguém mesmo, entra no Palácio do Planalto e STF sem ser “autorizado”. Impressiona as coincidências.

      1. Mozart
        Mozart

        Sim, estão fazendo tudo para não acontecer a CPI !! Compra indireta para retiradas de assinaturas, com fornecimento de cargos em estatais, negociação para liberação de verbas parlamentares, demora na implantação, sem contar que o Pr do Senado tenta postergar e até esvaziar a CPI. Vamos aguardar, mas receio que esta CPI subiu no telhado….

  8. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    Idêntico ao 8 de janeiro no Brasil.
    Por que a esquerda tenta de todas as maneiras interromper o andamento a instalação de CPMI?

  9. João José Augusto Mendes
    João José Augusto Mendes

    Naturam expella furca tamem usque recurret.

Anterior:
Raquel Gallinati: ‘Fui a primeira mulher a representar os delegados de São Paulo’
Próximo:
Carta ao Leitor — Edição 248
Newsletter

Seja o primeiro a saber sobre notícias, acontecimentos e eventos semanais no seu e-mail.