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Ilustração: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Edição 154

A mídia é racista

É muito triste ver indivíduos negros e brancos detonando grupos inteiros de pessoas com base nesse conceito racial, e pregando o afastamento do convívio interracial como solução para o problema

Rodrigo Constantino
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O homem mais rico do mundo, o empreendedor Elon Musk, despertou a revolta dos principais veículos de comunicação nesta semana, uma vez mais. O dono do Twitter, odiado pela imprensa “woke”, acusou a mídia mainstream de ser racista. O contexto era a reação a uma fala desastrada e racista do cartunista Scott Adams. A imprensa afirmou que Musk saiu em defesa do criador de Dilbert, mas isso é “fake news”: ele simplesmente apontou para o duplo padrão da própria imprensa, com toda razão.

Scott Adams | Foto: Wikimedia Commons

Scott Adams fez uma declaração totalmente infeliz e, sim, racista. Com base numa pesquisa da Rasmussen, que revela que quase metade dos negros não considera okay alguém ser branco, Adams declarou que isso era algo estrutural (questionável) e assustador (correto) e que a única saída para um branco seria não andar mais com negros (absurdo e racista).

Adams foi cancelado, perdeu espaço em todos os jornais que ainda publicavam suas tiras, e vem sendo alvo de duros ataques. A fala foi abjeta mesmo, ainda que muita gente esteja tirando do contexto e ignorando a pesquisa que ele menciona antes. Agora podemos fazer um exercício hipotético: imaginar um negro dizendo a mesma coisa com base numa pesquisa invertida.

Qual seria a reação se um negro, com base numa pesquisa que revelasse que cerca de metade dos brancos não considera okay ser negro, afirmasse que a única possibilidade é se afastar de brancos? Ele provavelmente receberia destaque positivo no NYT, seria entrevistado por vários canais como um corajoso herói. E é esse duplo padrão que tem sido o grande responsável pelo aumento do racismo no país. E foi isso que Musk denunciou.

twitter
Elon Musk | Foto: Reprodução

Tanto que o bilionário chamou a atenção para o fato de que os asiáticos costumam ser alvo de racismo, e a imprensa nada fala a respeito. Os asiáticos, como já mostrou o economista Thomas Sowell, são a grande pedra no sapato dos movimentos raciais que culpam o racismo estrutural do sistema supostamente dominado pelos brancos. Se a tal supremacia branca é responsável pela exploração e pela desigualdade, colocando os negros como mais pobres, então como explicar os “amarelos” que despontam na América?

Por algum motivo bizarro, os movimentos raciais passaram a acreditar que reforçar o conceito da raça e, pior ainda, segregar as pessoas com base nisso seria um método inteligente para combater o racismo

Ben Shapiro mostrou em seu show várias falas de comentaristas da mídia mainstream que, se fossem invertidas e sobre os negros, seriam imediatamente rotuladas como racistas e haveria graves consequências para seus autores. Para muita gente da imprensa “progressista”, está tudo bem demonizar todo um grupo de pessoas com base na cor da pele, desde que sejam brancos.

É aceitável, para essa turma, fazer piadas com brancos, mas não com negros, pois a pancada do humor deve ser sempre de baixo para cima, ou seja, de quem tem menos para quem tem mais poder. Uma visão racista em si, que enxerga não indivíduos, mas grupos monolíticos e estanques. Ou alguém vai defender que o branco trabalhador do chão de fábrica é mais poderoso do que o ex-presidente Obama?

Não dá para achar normal ou legal alguém se referir a uma pessoa como “demônio branco” só por sua cor da pele. Não é aceitável rotular todo um grupo de pessoas como desprezível só por serem brancas. A The Cut, publicação da New York Magazine, fez um vídeo entrevistando negros e perguntando em que brancos são superiores. A lista é abominável: em opressão, em mentiras, em violência, em roubar etc. Imaginem se um grupo de brancos se referisse assim a negros só por serem negros…

Martin Luther King Jr. tinha um sonho: o de viver num mundo em que as pessoas fossem julgadas por seu caráter, não pela cor de sua pele. Um nobre ideal, sem dúvida. Por algum motivo bizarro, os movimentos raciais passaram a acreditar que reforçar o conceito da raça e, pior ainda, segregar as pessoas com base nisso seria um método inteligente para combater o racismo. O tiro saio pela culatra, óbvio.

Martin Luther King, Jr. | Foto: Reprodução

Quando Jon Stewart, o famoso comediante esquerdista, acha graça de uma convidada branca que diz que todos os brancos, sem exceção, são responsáveis pelo racismo estrutural no país, isso é descolado. Mas podemos apenas pensar qual seria a reação se a fala trocasse branco por negro. Quando um convidado negro afirma, na MSNBC, que os brancos agem com violência quando perdem na política, isso é considerado sabedoria, mas basta trocar o sinal para enxergar o racismo evidente em generalizar dessa forma abjeta o comportamento das pessoas.

Não existe o “racismo do bem”, como querem os esquerdistas identitários. Até 2014, cerca de 70% da população norte-americana, segundo o Gallup, considerava desejável o relacionamento interracial. Isso valia tanto para negros como brancos. Desde então, a taxa começou a despencar, e hoje oscila em torno de 40%, para ambas as “raças”. O que mudou? Talvez possamos buscar a resposta no próprio movimento racial, que vem investindo pesado na segregação com base na cor e jogando uns contra os outros, normalizando o ódio racial se for voltado contra brancos. Talvez Obama tenha parcela de culpa, por ter utilizado a cartada racial de forma sensacionalista e acirrado os ânimos, em vez de representar a superação da questão racial na América, como havia prometido.

Barack Obama, ex-presidente norte-americano (2016) | Foto: Gil Corzo/Shutterstock

É muito triste ver indivíduos negros e brancos detonando grupos inteiros de pessoas com base nesse conceito racial, e pregando o afastamento do convívio interracial como solução para o problema. Racismo é quando uma característica do indivíduo, no caso a “raça” — ou a cor da pele, para ser mais preciso —, acaba tendo predominância sobre todo o resto. Formam-se, assim, grupos monolíticos com base nesse único quesito estético, como se todos os brancos ou todos os negros fossem iguais. Absurdo total, claro.

E, ao tomar o partido dos mais radicais desses movimentos raciais, que pedem “reparação” como vingança e condenam todos os brancos pelos males da nação, a imprensa demonstra ser racista mesmo. Elon Musk está certo, portanto: a mídia, em geral, é racista. Isso não quer dizer, por coerência óbvia, que todos os jornalistas são racistas. Mas, sim, que eles estão submetidos a uma mentalidade predominante que enxerga o branco como malvado e o negro como vítima, não importa o caso individual em questão. Cabe ao jornalista sério combater esse tipo de coisa.

Leia também “A folia petista”

12 comentários
  1. Ronaldo Rodrigues Rosa
    Ronaldo Rodrigues Rosa

    Brilhante artigo, Constantino.

  2. Elizabeth R.Rio
    Elizabeth R.Rio

    Interessante como essa galera esquerdista parece pensar que só há duas raças, branca e negra, e que racismo envolve apenas essas duas raças.

  3. Antonio Carlos Neves
    Antonio Carlos Neves

    Constantino, difícil é constatar que a maioria dos negros bem sucedidos no esporte, cultura e artes, estabeleçam relacionamentos com pessoas brancas e não incitam esse racismo estrutural, e uma minoria mesmo tendo esse relacionamento faça apologia a esse racismo.
    Como interpretar o cantor brasileiro “Seu Jorge”, que disse em entrevista ao Estadão em 2020 que: “no dia em que o negro brasileiro se enxergar como povo negro, as coisas vão mudar. O dia em que nós entendermos que somos um povo dentro desse País, as coisas podem mudar. Nós somos maioria, mas precisamos nos enxergar como povo negro, sair dessa conta de que somos povo brasileiro. Tudo que acontece com a gente cai na conta do povo brasileiro. Como se fosse uma unidade brasileira”.
    Como entender que esse mesmo Seu Jorge tenha sido casado com varias mulheres brancas e com filhos mestiços para os incluir nesse POVO NEGRO?

  4. Rui Licinio Filho
    Rui Licinio Filho

    A falado do Scott Adams não foi racista. Ele apenas foi irônico. O problema é que , não importa se seja de esquerda ou de direita, culto ou ignorante: brasileiro não entende ironia!

  5. Teresa Guzzo
    Teresa Guzzo

    Ninguém escolhe no mundo a cor de sua pele,de seus olhos ou a família que o recebe na hora de seu nascimento.O seu sexo (masculino ou feminino)é determinado geneticamente desde o momento que o espermatozoide encontra o óvulo no útero. Atualmente você pode sofrer discriminação por ser heterossexual. Algumas empresas e até concursos públicos estabelecem cotas raciais para quem pode concorrer,priorizam uns em detrimento de outros.Acredito apenas em meritocracia, na boa educação que iguala a todos.O resto é conversa para boi dormir.

    1. Alzira Conceição Pacheco de Lima
      Alzira Conceição Pacheco de Lima

      Concordo com vc Teresa, e muitos desses que vivem com mi-mi-mi sobre racismo ainda se escandalizam com relacionamentos interraciais. É a hipocrisia que tão bem caracteriza a ala autodenominada progressista.

  6. RICARDO TEIXEIRA DA CRUZ RIOS
    RICARDO TEIXEIRA DA CRUZ RIOS

    Racismo e preconceito andam de mãos dadas. A Esquerda adora explorar esse tema para angariar simpatias e votos. Não podemos nos esquecer do racista Hittler responsável pela morte de mais de 25.000.000 (vinte e cinco milhões) de judeus na Segunda Guerra Mundial. Todos nós temos um viés racista e preconceituoso. O racismo da imprensa está atrelado ao grupo racial que a financia. Quando se trata de dinheiro público, as questões raciais ficam associadas a ideologia de gênero do momento. A Rede Globo é o exemplo clássico de jornalismo tendencioso, racista e sem ética. Publica as coisas que o governo financiador quer ver publicadas. Petrobrás derramando rios de dinheiro em publicidades estatais entre tantos e tantos exemplos, enchendo de dinheiro os cofres da emissora. Esse tipo de jornalismo tem alguma credibilidade? A mídia, redes sociais e tudo que gira a nossa volta é repleta de racismo, propriamente dito, preconceito social e coisas assim. O mundo tem mais de 8.000.000.000 (oito bilhões) de pessoas. Conviver com tanta gente junta requer um esforço hercúleo de exercício ao respeito pelo próximo. Entender que os direitos de alguns terminam quando começam os dos outros, realmente, isso é muito difícil. Eu não tenho vida social alguma por causa de todo tipo de preconceito, bullying e racismo que sofri ao longo da vida. Hoje, estou ficando velho, mas sou feliz com minha esposa e meu filho. Eles bastam para mim. Não tenho rede social alguma e vivo muito feliz assim. Não sinto necessidade e nem vontade de ter vida social. Tenho liberdade para o que eu quero fazer e na hora que eu quero fazer. Aprendi, ao longo da vida, dar valor a minha liberdade e não me preocupar com opiniões alheias. Se gostam ou não de mim, isso não me interessa. Parabéns, Constantino, pelo texto.

  7. Mary Rodrigues De Oliveira Rios
    Mary Rodrigues De Oliveira Rios

    Foi a esquerda que nos dividiu em cores e raças! Éramos todos iguais! Lembro do meu tempo de ginásio: na minha turma tinha negro, japonês, índio, mestiço e branco e éramos iguais, não tinha nada de racismo. Nem sabíamos o que era isso.

  8. Cicero Pereira
    Cicero Pereira

    Boa tarde! Li uma matéria, na qual uma pesquisa séria, apurou que um percentual muito alto, de jornalistas, têm viés esquerdista, sendo assim acabam “contaminando” suas matérias com suas ideologias, o que é lastimável pois enganam os leitores que, via de regra, acreditam no que a mídia veicula!

  9. Luiz
    Luiz

    Cor da pele e origem deveriam ser vistas como são: cor da pele e origem. Só isso. O ser humano que está ali sob essa pele, de qualquer cor e origem, é que deveria interessar. Não se pode dividir a humanidade e os indivíduos com base nisso. Mas vá dizer isso pra esses movimentos e pra essa mídia que não admitem, mas são, sim, extremamente racialistas…

  10. Rogerio De Souza
    Rogerio De Souza

    Esses movimentos radicais sempre pregam a segregação, depois que a esquerda pegou potencializou e cresceu exponencialmente, para racismo, gênero, feminismo, etc…eles tentam empurrar/impor o que eles querem e isso gera o efeito contrário.

  11. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    Dividir a humanidade pela cor da pele e algo inaceitável mas é uma das ferramentas das esquerdas para tomar o poder. Dividir para tirar proveito.
    Conheço muitas pessoas de pele negra muito bem sucedidas como também brancos que se mostram verdadeiros párias da sociedade (o Congresso brasileiro está repleto destas criaturas).
    Seria mais sensato gastar nosso precioso tempo discutindo problemas comuns aos humanos.

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