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Foto: Shutterstock
Edição 173

Uma fórmula antidemocrática

Há políticos que não querem educação nem ensino, porque povo sem um e outro é mais fácil de ser conduzido. Paternalismo e clientelismo andam juntos

Alexandre Garcia
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O governo federal está extinguindo o Programa Nacional de Escolas Cívico-Militares. Onde existem escolas assim, acabou a influência do traficante à sua porta: a disciplina, que é a base de todo e qualquer trabalho ou aprendizado, fez subir o aproveitamento em todas as matérias; a ordem manteve as escolas limpas e sem depredação e baniu a violência. É um exemplo do que dá certo. Um exemplo de que, junto com o ensino, podem vir a formação de cidadania e o respeito às leis. Mas o governo federal crê que disciplina e valores são algo inconveniente. O presidente, no Foro de São Paulo, há pouco dias, confessou que historicamente combate esses valores. Mas um país sem isso não tem futuro.

Presidente Luiz Inàcio Lula da Silva, participa da Abertura do XXVI Encontro do Foro de São Paulo, em Brasília (29/6/2023) | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

A reforma tributária já tem relator no Senado, e o povo brasileiro está alheio a ela. Só as elites se manifestam; algumas prevendo mais carga tributária, outras antevendo prosperidade. Ela parece cinzenta, pois está entre o preto e o branco: ou é caixa-preta ou é cheque em branco. Depois de aprovada na Câmara, ouvem-se dos próprios deputados queixas de que votaram sem conhecer o texto, ou votaram sem entender as consequências das mudanças. Representantes do povo são espelho de seus eleitores, que se calam quando seu representante vota o oposto do compromisso de campanha ou quando lhes dá as costas e deixa de representá-los, para ganhar um cargo em outro poder. Uns e outros carecem de educação e ensino que lhes credenciem para praticar um sistema que tem defeitos, mas ainda não se encontrou outro melhor: a democracia, em que todo poder emana do povo e é exercido em seu nome, através de seus representantes nomeados pelo voto. Por isso, a massa dos pagadores de impostos não é ouvida nem sabe o que vai acontecer quando se mexer nas leis tributárias.

Senador Eduardo Braga (MDB-AM), relator da reforma tributária | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Muitos políticos não pensam que educação e ensino são prioridades absolutas para tirar de uma situação crônica um país tão rico de recursos naturais e tão pobre em bem-estar. Políticos que não pensam que é preciso educação e ensino porque, afinal, muitos deles não tiveram formação e ainda assim tiveram votos. Há políticos que nem querem educação e ensino, porque povo sem um e outro é mais fácil de ser conduzido. Paternalismo e clientelismo andam juntos. São pagadores de impostos que nem sabem que pagam e recebem qualquer esmola como dádiva pessoal de quem usa o imposto do suor alheio. Povo que não é ensinado a pensar também não sabe que é a origem do poder, mandante de seus mandatários políticos e daqueles que são servidores do público. Não sabe que o Estado está a seu serviço.

Famílias que não ensinam seus filhos a ética, o cumprimento das leis, a cidadania, as virtudes, o respeito aos outros, os modos de viver em coletividade estão formando que país?

Esse povo que se deixa conduzir só se libertará com a educação e o ensino. Desde criança convive com maus exemplos exaltados na mídia, que omite os heróis verdadeiros. Aí, fica fácil enganar o povo, como aconteceu na pandemia, quando usaram o medo para paralisar corpos e mentes. Uma fórmula antidemocrática em que o medo paralisa e a ignorância aliena. Agora o Censo nos mostra que estamos cada vez mais velhos e aposentados e cada vez menos jovens e produtivos. Não há país que gere bem-estar se os que geram riqueza forem menores em número. A janela dessa oportunidade vai se fechar em breve, e é preciso correr com mais produtividade dos que estão em idade ativa. 

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Para mais produtividade, ensino; para cidadania e democracia, educação. Educação é tarefa da família; ensino, tarefa da escola. É sinal de que estamos carentes de pais e professores, se as pessoas não praticam a cidadania ou não sabem interpretar um texto nem acertar as letras das palavras que jogam nas redes sociais. Professores que não transmitem conhecimento da língua, da matemática, das ciências; pais que transferem a educação para os professores, se eximindo de sua missão. Famílias que não ensinam seus filhos a ética, o cumprimento das leis, a cidadania, as virtudes, o respeito aos outros, os modos de viver em coletividade estão formando que país? Não há outra saída para garantir futuro para este país a não ser educando e ensinando.

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11 comentários
  1. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    René Descartes, cunhou a frase:
    “Cogito ergo sum”, ou seja: “penso, logo existo” ou “penso, portanto, sou”
    John Watson, integrante do grupo Behaviorista, disse:
    “Dê-me uma dúzia de crianças saudáveis, bem formadas, e meu próprio mundo especificado para cria-los e eu vou garantir a tomar qualquer uma ao acaso e treiná-lo para se transformar em qualquer tipo de especialista que eu selecione – advogado, médico, artista, comerciante-chefe, e, sim, mesmo mendigo e ladrão, independentemente dos seus talentos, inclinações, tendências, habilidades, vocações e raças de seus antepassados. Eu vou além dos meus fatos e eu admito isso, mas tem os defensores do contrário e eles foram fazendo isso por muitos milhares de anos.
    Gosto de utilizar a Coreia do Sul como parâmetro para o Brasil.
    Em 1960 o PIB per capita da Coreia era de US$ 158.00. Em 2022 fechou em US$ 42,500.00.
    O Brasil fechou 2022 com PIB per capita de US$ 9.230,92 considerando dólar médio a R$ 5,00.
    A Coreia conseguiu um milagre? Não, apenas investimentos no ensino com garantia de retorno certo e por isso após 6 décadas seu PIB per capita é quase 5 vezes superior ao brasileiro.
    Vale ressaltar que existem profissionais da educação brasileiros trabalhando na Coreia do Sul, alguns ocupando cargos de direção nas instituições de ensino.
    O resultado prático pode ser observado através de fotos noturnas de satélite com a Coreia do Sul toda iluminada e a Coreia do Norte na total escuridão.

  2. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    A esquerda prega a desordem. Portanto, seus governos não combinam com este modelo de escolas.

  3. Antonio Carlos Almeida Rocha
    Antonio Carlos Almeida Rocha

    a coisa é grave! o analfabetismo funcional, por exemplo, está migrando para as camadas mais “altas” da pirâmide educacional…nao é incomum hoje ver profissionais saídos da universidade que tropeçam constantemente no “plural” (a primeira vítima) mas já começo a ver com preocupação que o “gênero gramatical” também está sendo “assassinado” aos poucos. Pobre da “pontuação” também…parágrafos inteiros sem nenhuma vírgula ou ponto final. Que dizer daqueles com pouca ou nenhuma instrução…comunicam-se na forma escrita em uma outra língua que não o português…

  4. Alcione Magalhães Ferreira
    Alcione Magalhães Ferreira

    Sou professora aposentada e bem sei o quanto precisamos de uma boa escola para nossos jovens .Excelente artigo ,Alexandre Garcia.

  5. MNJM
    MNJM

    Excelente artigo Alexandre. Vivemos uma baderna Institucional a maioria do povo vota por esmolas.
    Pacheco é o grande responsável por essa insegurança que vivemos hoje. FAÇA O SEU PAPEL COLOQUE EM PAUTA O IMPEACHMENT DOS TOGADOS QUE ESTÃO NA SUA GAVETA, QUE TANTO MAL FAZEM AO PAÍS, COM A HIPOCRISIA QUE É PARA DEFENDER A DEMOCRACIA.

  6. Gilson Herz
    Gilson Herz

    Estamos afundando dia a dia como sociedade. Nossa classe política, exceto alguns, são fisiológicos e parasitas. O caos está se instalando e isso não vai acabar bem.

  7. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Olha a falta de critério nas escolhas dos ministérios, olha o da ciência, tecnologia e inovação. Como pode meu Deus do céu, é a mesma coisa de você dar um jaleco branco pra um mecânico de automóvel operar um paciente cardíaco

  8. Marcelo Gurgel
    Marcelo Gurgel

    A grande maioria do nosso povo desconhece a importância do Concresso e vota em pessoas no mínimo despreparadas que chegam à esse cargo sem entender a sua importância para a sobrevivência e o bem estar dos seus eleitores. No Brasil a ignorância é maioria absoluta.

  9. Célio Antônio Carvalho
    Célio Antônio Carvalho

    É por isso meu caro Alexandre Garcia que temos pessoas despreparadas no mais alto Cargo da Nação!
    É o famoso: “rouba mas faz”! Onde já se viu isso?
    Um País tão grande mas com enormes desafios pela frente. Em todas as áreas: educação, ciência, infraestrutura, etc. Mas só querem nos taxar com a criação de impostos novos. Infelizmente o POVO não tem acesso ao que acontece de fato. Aos seus PODERES. O PODER é do POVO. E deverá ser em seu nome e benefício exercido de forma plena, consciente, objetiva, clara.
    Eu costumo dizer que somos jovens. Daqui a uns 500 anos talvez sejamos diferentes, quem sabe?

  10. Teresa Guzzo
    Teresa Guzzo

    Excelente artigo, seja muito bem vindo Alexandre Garcia.

  11. Osmar Martins Silvestre
    Osmar Martins Silvestre

    Mas, o que dizer de um país onde um desqualificado moral e culturalmente, chega à Presidência da República pela terceira vez, demonstrando além de qualquer resquício de dúvida que aqui, neste país, não é necessário ser honesto, competente, trabalhador, educado, para ter muito sucesso. Pelo contrário, essas que outrora já foram virtudes, aqui são vistas como defeitos. Então, vale lembrar o que disse em seu discurso no Senado em 1914, Rui Barbosa. Como acontecia naquela época, não mudamos, o mesmo tipo de gente detém o poder e nós continuamos a nos desanimar da virtude, rir da honra e ter vergonha de ser honesto. O Brasil só se deteriorou desde que aquele traidor do excelente D. Pedro II, proclamou a república.

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