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Luís Roberto Barroso | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Edição 175

Abafadores de eco

Supremo e governo Lula produzem enorme barulho para encobrir o revelador discurso de Barroso na UNE

Alexandre Garcia
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O que mereceria um simples registro ganhou manchetes e páginas sem fim, porque o episódio no Aeroporto de Roma aconteceu apenas dois dias depois da inédita participação de um ministro do Supremo no Congresso da UNE. Como todos ouviram, na quarta-feira 12, o ministro Barroso, discursando na UNE, afirmou que “nós derrotamos o bolsonarismo”. Para a sorte dele, antes que a semana terminasse, na sexta-feira 14, seu colega Alexandre de Moraes foi xingado no Aeroporto de Roma (Fiumicino).

A fala de Barroso no evento da UNE complementa a que proferiu em Nova York: “Perdeu, mané, não amola”. Ou seja, o vitorioso que se gabava em Brasília já havia tripudiado de um derrotado na cidade norte-americana. A presença de um juiz do Supremo no Congresso da UNE foi histórica. Na ocasião, as emoções do supremo magistrado expuseram aquele que foi presidente da Justiça Eleitoral num período de preparo para a eleição presidencial de 2018 — época de debates sobre segurança das urnas e comprovante impresso do voto.

O ministro do STF, Luís Roberto Barroso, causou polêmica no evento da UNE, ao lado de Flávio Dino | Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Aí, sobreveio um fato quase rotineiro de apupos, em outro continente. Foi a oportunidade para desviar a atenção da opinião pública, saturando-a com o incidente de Fiumicino. Até então, esse tipo de xingamento a autoridades não mereceria mais que um registro nos jornais do dia seguinte — discreto, para não estimular a prática desse tipo de manifestação. Em geral, só apareceria nas redes sociais o vídeo colhido por algum circunstante. Igualmente, as redes registravam os aplausos, como os que recebia o ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo nos tempos do Mensalão, ou as selfies com o juiz Sergio Moro, condutor do inquérito da Lava Jato. Ironicamente, o alvo em Roma foi justamente o ministro que, em junho de 2018, sentenciou em voto: “Quem não quer ser criticado, satirizado, fica em casa”. 

Não fosse o artigo sétimo do Código Penal, seria um caso de Justiça Federal de primeira instância, mas foi a última instância que reagiu, já negando a possibilidade de recursos e revelando um estranho espírito de corpo

Com tanta exposição do incidente, e para que não se multiplicasse, o Poder Executivo tratou de anular o estímulo para novas manifestações contra autoridades, anunciando uma proposta de lei para dissuadir os descontentes com servidores do público. Penas gigantescas de prisão para ataques a autoridades, ultrapassando até as penas de crimes gravíssimos. O próprio presidente da República se encarregou de qualificar os supostos agressores de animais selvagens que deveriam ser extirpados — surpreendente para um país que não tem pena de morte.

Também surpreendente que o próprio tribunal que abriga o ministro em questão tenha assumido o caso, embora os supostos agressores não tenham foro no Supremo. Não fosse o artigo sétimo do Código Penal, seria um caso de Justiça Federal de primeira instância, mas foi a última instância que reagiu, já negando a possibilidade de recursos e revelando um estranho espírito de corpo. Foi a presidente do STF quem autorizou busca e apreensão no domicílio das pessoas investigadas, A Polícia Federal entrou na residência do casal Mantovani e levou documentos, celulares, computadores — ação inédita para um aparente caso de vias de fato, que é contravenção, e de desacato no exterior, sem crime extraditável que justifique inquérito aqui no Brasil.

Kassab prefeitos
Kassab é secretário de Governo de São Paulo | Foto: Reprodução/Wikimedia Commons

O PDS de Gilberto Kassab também se contaminou com a caça aos “animais selvagens” e sumariamente expulsou Roberto Mantovani do partido, mesmo sem apurações conclusivas do episódio. O presidente da República, discursando no Sindicato dos Metalúrgicos, aprovou a expulsão sumária e lembrou que o expulso fora candidato a prefeito. Não mencionou que a candidatura, em 2004, tinha o apoio de Lula e vice do PT. Depois, recomendou que, mesmo não gostando de alguém, não se deve xingar. Em seguida, qualificou Mantovani de canalha. E não se constrangeu em revelar para uma plateia de metalúrgicos que havia avisado o chefe de governo alemão de que o suposto agressor de Moraes se diz representante de uma empresa alemã. Olaf Scholz deve ter estranhado a denúncia e a dimensão dada ao caso.

Para completar a barreira de som, anunciou-se com estardalhaço o já sabido no caso Marielle. Apareceu uma delação premiada de Élcio Queiroz, sem prêmio, repetindo o já sabido. Para corroborar com alguma ação, prendeu-se o condenado Suel, que já cumpria prisão domiciliar. Passou quase três anos em endereço conhecido e não sofreu atentado algum; agora está em presídio de segurança máxima, com o pretexto de queima de arquivo. O Capitão Renault, de Casablanca, foi o modelo: “Prendam os suspeitos de sempre”. Produz-se muito barulho para abafar ecos do revelador discurso de Barroso na UNE.

Leia também “Julgar o prejulgado?”

11 comentários
  1. JHONATAN SURDINI
    JHONATAN SURDINI

    Se for de DIREITA, o processo vai até o seu fim, que já começa na prisão. Se for de alguém da esquerda, da patota, … peçam a de calabresa pra mim, por favor!

  2. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Corrigindo que o Barroso foi presidente do TSE no aquecimento das eleições do ano passado, e não 2018. Inclusive, esta fala por si só ”nós derrotamos o bolsonarismo” já invalida o processo eleitoral presidencial de 2022. Cadê o povo nas ruas?

  3. Alem Alberto Chedid
    Alem Alberto Chedid

    As falas do lula lorpa despirocado são sempre um discurso bestialógico, sem nexo, desconexo e delirante. O lorpa se acha um novo Messias e ninguém vai tirar isso dessa cabeça de alimária. Ponto.

  4. Dalmacio Irapuan dos Santos
    Dalmacio Irapuan dos Santos

    “Perdeu, mané!” / “Nós derrotamos o bolsonarismo!” / “Eleição não se ganha, se toma!” – E mais: “Aos ‘AMIGOS DOS AMIGOS’ os favores da lei, aos manés, os rigores!” – Eis o resumo da quadrilha que administra o País. Pobre Brasil!!!!

  5. Marcos Antonio
    Marcos Antonio

    Sim, o STF derrotou o Presidente da República, com ajuda da mídia. A Ministra Carmem Lúcia chegou a declarar em seu voto que chamar Bolsonaro de Genocida não era crime seria apenas uma questão. de expressão pessoal. No entanto foi expressamente proibido chamar Lula de : ex presidiário, de Ladrão, de amigo do Maduro e qualquer outra coisa que não um candidato democrata E óbvio, foi o Ministro Edson Fachin, em decisão monocromática que determinou nulo o processo contra Lula. A grande mídia pode querer abafar a inconstitucionalidade do discurso de Barroso mas não poderá calar quem o fizer. Devemos sempre lembra-los disso.

  6. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    Os caminhos que o país está trilhando está muito atormentado com as decisões dos Supremos poderosos.
    O poder é muito perigoso. Ele atrai os maus e corrompe os bons.
    Em algum momento esses processo sofrerá ruptura e as conse

  7. Otacílio Cordeiro Da Silva
    Otacílio Cordeiro Da Silva

    Brasília vive sem líderes e sem Deus, tem só mandantes. Pelo visto, isto vai acabar mal. Para eles ou para nós. Pode aguardar.

  8. MNJM
    MNJM

    Grande Alexandre. Óbvio que o Serviçal Pacheco engavetará mais um pedido de impeachment desses togados ativistas políticos. Barroso entregou o jogo no seu discurso. “Nós derrotamos o Bolsonarismo”. Nós quem?? O STF e o TSE ?? Deve explicações ?????

  9. Pedro Hemrique
    Pedro Hemrique

    Este é o país do faz de contas Sr. Garcia! Contar com o parlamento para que façam o trabalho para o qual foram eleitos é enxugar gelo.

  10. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    República Federativa Democrática Relativa Alexandrina do Brasil

  11. Renato Perim
    Renato Perim

    Detalhe sem importância, acredito se tratar de erro de digitação: o partido do Kassab é PSD e não PDS.

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