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Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Edição 177

Floresta cobiçada

Não finjamos ingenuidade quanto às intenções sobre a Amazônia. Cabe a nós protegê-la da cobiça e usá-la em benefício do nosso bem-estar

Alexandre Garcia
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A Cúpula da Amazônia frustrou as ONGs internacionais, que querem a região intocada. O Brasil não pode usar o seu petróleo, o seu potássio, o seu lítio, e tem que manter intocados também os brasileiros indígenas, num apartheid movido pela eugenia. O presidente Lula chegou a afirmar em Santarém que a Amazônia não pode se tornar um santuário; que antes é preciso cuidar dos amazônidas. Mas falava para o povo local. Meses antes, entrevistado para ser visto na Europa, falava em abrir a Amazônia para a ciência do mundo aproveitar sua biodiversidade, e afirmava: “A árvore é de quem mora no Planeta Terra”. Por mais de uma vez, Lula disse que a Amazônia não é só nossa. Duas plateias diferentes, dois Lulas. 

Terminada a reunião de Belém, Lula ainda disse que quem quer o dinheiro estrangeiro não é o Brasil; é a natureza. Duvido que ele acredite que acreditamos nisso. O dinheiro que vai para o Fundo Amazônico, para ONGs, que vem da Noruega e de outros países europeus, tem um objetivo. Quem paga é quem manda. Fácil entender como é que o rei da Noruega apareceu hospedado em território Ianomâmi em 2013, e o Comandante da Amazônia não sabia de nada. É uma questão de soberania, bem-estar da população amazônica, aproveitamento das riquezas minerais e vegetais em favor dos brasileiros, ou de dar garantias de fornecimento de matérias-primas minerais e vegetais para o bem-estar de países desenvolvidos. Pergunto se os cinco presidentes que se reuniram em Belém percebem que as campanhas estranhas ao continente sul-americano querem dizer exatamente que não devemos usar o que é nosso, porque eles haverão de precisar um dia.

Lula durante cerimônia alusiva à inauguração da Infovia 01, em Santarém, Pará (7/8/2023) | Foto: Ricardo Stuckert/PR

A CPI das ONGs tem revelado que esses interesses já estão estabelecidos firmemente no nosso território amazônico. Na semana passada, um depoimento mostrou uma ONG impedindo uma comunidade indígena de ter eletricidade e internet. Será que pretendem conservar essa parte do povo brasileiro para mostrar à Europa, como em outros tempos? Até a carta de Caminha é respeitosa e elogiosa com esses brasileiros que, 500 anos depois, são tratados como massa de manobra. À exceção de uns poucos indígenas que ainda vivem isolados, todos os demais querem compartilhar dos mesmos serviços que atendem aos brasileiros. Na mesma CPI, o ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo (ex-PCdoB), a deputada Silvia Waiãpi e o jornalista mexicano Lorenzo Carrasco, autor de Máfia Verde, mostraram como ONGs da Amazônia representam governos estrangeiros e substituem o governo brasileiro.

Estranho que não haja esse interesse estrangeiro “ambiental e social” em relação ao Nordeste, onde vive muita gente na pobreza e com carência de investimentos

O extinto Projeto Rondon tinha um lema: “Integrar para não entregar”. A integração pode muito bem manter os costumes, as comidas, as tradições, dando saúde, ensino e oportunidades de autonomia econômica e de renda. Por que não querem que brasileiros de sangue indígena se integrem à pátria? A Amazônia brasileira, como o país inteiro, é uma mistura de sangues. No domingo, 6, fez 121 anos que o gaúcho Plácido de Castro pegou em armas para que o Acre deixasse o Bolivian Syndicate para ser brasileiro; os soldados da borracha vieram do Nordeste no esforço de guerra e hoje integram a genética dos ribeirinhos; os paulistas vieram com a Zona Franca; o Exército misturou ainda mais o sangue original no leque genético nacional. Há 400 anos, Pedro Teixeira subiu o rio para tirar os espanhóis da nossa Amazônia; no Império, o Visconde de Mauá, com sua Companhia de Navegação, afastou o conceito da US Navy de que o Rio Amazonas seria parte do sistema Mississippi-Missouri. Hoje, o que nacionalistas como Monteiro Lobato, Arthur Reis, Osny Duarte Pereira, Leonel Brizola diriam de políticos que recebem com ingenuidade a evidente cobiça mundial sobre a Amazônia brasileira?

Foram convidados para a reunião em Belém, estrangeiros da Alemanha, Noruega e França, “que tradicionalmente apoiam projetos e iniciativas na Amazônia” — como explica nota do Itamaraty. O governo informou que foram convidados “organismos multilaterais e entidades financeiras internacionais, com o objetivo de buscar novas parcerias nesta nova etapa da cooperação amazônica”. Estranho que não haja esse interesse estrangeiro “ambiental e social” em relação ao Nordeste, onde vive muita gente na pobreza e com carência de investimentos. Não finjamos ingenuidade quanto as intenções sobre a Amazônia — ela é Brasil, não Europa nem ONU. Cabe a nós protegê-la da cobiça e usá-la em benefício do nosso bem-estar.

Vista aérea da Floresta Amazônica no Brasil | Foto: Shutterstock

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7 comentários
  1. Daniel Miranda Lewin
    Daniel Miranda Lewin

    EXCELENTE!

  2. Hans Herbert Laubmeyer Filho
    Hans Herbert Laubmeyer Filho

    Alexandre Garcia preciso, como sempre.

  3. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    Não vejo com espanto o interesse do descondenado pela bolsa floresta ofertada por nações interessadas na riqueza amazônica.
    Para manter seus gastos incessantes vai precisar de muito mais dinheiro do que os pagadores de impostos no Brasil consegue arcar.

  4. JHONATAN SURDINI
    JHONATAN SURDINI

    O melhor jornalista.

  5. Fernando Anthero
    Fernando Anthero

    Sim, é preciso acabar com a idéia generalizada de que o estrangeiro só quer o Bem do planeta, deixemos de ser ingênuos

  6. João Bosco Almeida Brito
    João Bosco Almeida Brito

    A estupidez pairou a ditadura relativa do Luiz Inácio Lula da Silva, nem todos os bandidos não é igual à ele, a maioria usam armas ilegais.

  7. João Bosco Almeida Brito
    João Bosco Almeida Brito

    Povo brasileiro, prestem bem atenção nesses gringos, cedo ou tarde eles vão tomar Amazônia como sendo território internacional da preservação ambiental.

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