Olhamos perplexos para o passado, para os rituais de sacrifício de animais realizados pelos nossos antepassados. Fosse o sacrifício de gado pelo povo celta para apaziguar divindades irritadas ou o abate de bois pelos antigos romanos para que Júpiter fosse mais parcimonioso com suas tempestades, tudo era um pouco louco. “Nunca seríamos tão supersticiosos”, dizemos para nós mesmos. Não tenho a certeza de que isso seja verdade. Considere a proposta de abate de centenas de milhares de cabeças de gado na Europa em nome do Net Zero — o modelo de zero emissão líquida de carbono. É o retorno da loucura pagã, sem dúvida.
Agricultores irlandeses estão sendo pressionados a “abater até 200 mil vacas” para que o país possa alcançar suas “metas climáticas”, noticiou o Financial Times no fim de semana. O governo irlandês está considerando propostas para eliminar essa quantidade de cabeças de gado nos próximos três anos para ajudar na redução de 25% nas emissões agrícolas. Veja, as vacas produzem metano, e o metano é prejudicial. É um gás de efeito estufa. A pecuária representa 40% das emissões desses gases na Irlanda, então se tornou um alvo natural para os fanáticos do Net Zero. Todos os Estados-membros da União Europeia estão sendo pressionados a avançar na direção do Net Zero. E, se isso implicar o sacrifício do gado, que seja. Salve o planeta, mate as vacas.
É tanta superstição. Propor um “massacre de vacas” para tentar compensar as condições climáticas furiosas aparentemente causadas pelo homem? Se alguém conseguir explicar em que isso é diferente do abate ritualístico de um pobre touro em uma tentativa desesperada de apaziguar os antigos deuses do clima, fico muito grato. Aliás, quando muito, a matança de gado proposta na Irlanda é pior do que as ações pagãs de nossos antepassados com pouca escolarização. Pelo menos eles eram sábios o suficiente para oferecer apenas um ou dois animais aos deuses do trovão, enquanto os neopagãos do culto Net Zero estão oferecendo rebanhos inteiros para tentar aplacar as ondas de calor e inundações que acreditam que a furiosa Mãe Terra tem reservado para nós.
E eles parecem não se importar muito com as consequências dessa compensação pagã de carbono. Os pecuaristas irlandeses estão seriamente preocupados com seus meios de subsistência. A indústria de laticínios vale 13 bilhões de euros por ano para a economia da Irlanda. Ela representa 54 mil empregos. E gerou uma impressionante receita de 6,8 bilhões de euros em exportações só em 2022. O que vai acontecer com todo esse trabalho produtivo se o abate de vacas em nome do Net Zero decolar? Somos retratados como “assassinos do clima”, reclama um agricultor irlandês. Na verdade, ecoativistas protestaram em Dublin com faixas dizendo “carne + laticínios = crise climática” — uma imagem perfeita do grau de desconexão das elites urbanas, que provavelmente nunca pensaram duas vezes sobre quem produziu o delicioso creme que cobre as panquecas de 20 euros devoradas no brunch de domingo em um restaurante descolado nessa mesma cidade.
O sacrifício desta vez não apenas dos animais, mas também dos meios de subsistência e até mesmo da liberdade. A pecuária leiteira, a produção de alimentos, o uso de pesticidas, os voos baratos, nosso direito de andar de carro
Outra consequência provável da “proposta de massacre das vacas” na Irlanda seriam mais emissões globais. Os excelentes produtores de laticínios irlandeses abastecem 130 mercados ao redor do mundo. De onde essas nações vão obter o leite, a manteiga e o queijo de que precisam, senão da República da Irlanda? Provavelmente de países “com credenciais verdes piores do que as da Irlanda”, dizem os agricultores do país. E eles estão certos. O Reino Unido importa 43% da carne bovina da Irlanda. Lembre-se disso da próxima vez que estiver saboreando um suculento hambúrguer: é provável que ele tenha sido feito por um desses “assassinos climáticos” do outro lado do Mar da Irlanda. De onde os britânicos vão trazer sua carne bovina se a loucura assassina de vacas dessa elite irlandesa de fato sair de controle? Da Nova Zelândia? A pegada de carbono aérea envolvida em um relacionamento carnívoro de longa distância como esse faria as vacas soltadoras de pum da nação vizinha parecerem, em comparação, totalmente ecológicas.
E esse é o duplo impacto do neopaganismo do Net Zero, do medo irracional dos fenômenos climáticos que se disfarçam de revelação científica: prejudicamos a produção doméstica enquanto é provável aumentarmos as emissões globais. É um jogo de perde-perde. E não foi só da Irlanda que a histeria antiagricultura tomou conta. Os agricultores holandeses protestam há quatro anos contra a determinação, feita por seu governo, de reduzir as emissões de nitrogênio pela metade até 2030, o que poderia levar ao fechamento de 3 mil fazendas. Ou seja, à diminuição das vacas e dos empregos. Alguns dias atrás, agricultores australianos se juntaram à crescente revolta dos trabalhadores contra a ideologia Net Zero. Eles conduziram seus tratores ao redor do parlamento em Victoria para protestar contra uma nova política de “energias renováveis” que, eles acreditam, vai invadir suas terras e limitar sua capacidade de produção.
Sem dúvida, nada resume melhor a irracionalidade das elites ecológicas do século 21 do que a atitude displicente em relação aos direitos e à felicidade das pessoas que produzem nossa comida. O ritual de sacrifício para aplacar os céus está mais uma vez em alta entre os governantes da Terra. O sacrifício desta vez não apenas dos animais, mas também dos meios de subsistência e até mesmo da liberdade. A pecuária leiteira, a produção de alimentos, o uso de pesticidas, os voos baratos, nosso direito de andar de carro — tudo isso está sendo oferecido no altar panegírico do Net Zero. “Perdoai nossa arrogância”, clamam as elites enquanto sacrificam, uma por uma, as coisas que compõem uma vida boa e saborosa. Certamente está na hora de uma reação racional contra esse paganismo moderno.
Brendan O’Neill é repórter-chefe de política da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show. Seu novo livro, A Heretic’s Manifesto: Essays on the Unsayable, já está à venda. Ele está no Instagram: @burntoakboy.
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Esse governo irlandês só pode ser um governo retardado mental. Não tem cientista sério nessa Irlanda? Pum de boi, metanol, efeito estufa, carbono…Isso não tem nada a ver com mudanças climáticas. Mudanças climáticas é coisa do cosmo, o homem nem o boi nem a agricultura não estão inserido nesse processo. O sol é quem esquenta e esfria o planeta, o movimento de translação do sol é de 210 milhões de anos, nesse percurso a influência gravitacional está presente. Essas coisas cósmicas não é coisa do homem, o homem, toda humanidade junto com animais e plantas estão participando momentaneamente no aquecimento e o que ele pode fazer pra melhorar a própria vida desses seres é despoluir o ambiente. Mas o dinheiro tá na frente de todas as tragédias. O processo cíclico de mudança do clima não é coisa do homem. A nova Ordem Mundial fica dando risada do abestalhamento dos povos que acreditam nesse absurdo