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Novak Djokovic, da Sérvia, beija o troféu durante a cerimônia de premiação do campeonato de tênis US Open (11/9/2023), em Nova York, nos Estados Unidos | Foto: Chine Nouvelle/SIPA/Shutterstock
Edição 182

A vingança de Djokovic

As proibições irracionais dos Estados Unidos e da Austrália ao tenista — e a incontáveis outras pessoas não vacinadas — são um lembrete da imprudência das autoridades nos anos da pandemia

Brendan O'Neill, da Spiked
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A vingança, ao que parece, é um prato que se serve com um forehand poderoso. Foi o que Novak Djokovic fez no Aberto dos Estados Unidos, no domingo, 10. Depois de três horas e 16 minutos de uma partida muito intensa, ele derrotou Daniil Medvedev, quase dez anos mais jovem, com uma jogada que Medvedev simplesmente não conseguiu devolver. Mas não foi apenas seu oponente russo que ele humilhou, foram também as elites do lockdown. Foi o velho fanatismo do “zero covid”, especialmente duro com o tenista, que ficou famoso por não se vacinar contra a covid-19. Depois de ser excluído de alguns dos grandes torneios por sua recusa supostamente “arrogante” em tomar a vacina, Djokovic voltou com força para lembrar aos tiranos da covid da própria grandeza — e da tolice deles.

Alguns veículos da imprensa estão chamando a atuação brilhante de Djokovic no Estádio Arthur Ashe, no Queens, em Nova York, de uma “missão de vingança” contra Medvedev, que o derrotou no Aberto dos Estados Unidos de 2021, vencendo-o em sets sucessivos. No processo, ele impediu Djokovic de se tornar o primeiro homem a vencer os quatro Grand Slams no mesmo ano desde 1969 (quando a lenda do tênis australiano Rod Laver alcançou essa proeza incrível). Com certeza, isso deve ter incomodado o perfeccionista sérvio. Mas sem dúvida a final de domingo foi uma “missão de vingança” pelo Aberto dos Estados Unidos de 2022, não de 2021. Porque Djokovic enfrentou algo pior do que a derrota em 2022 — ele não foi autorizado a jogar.

O campeão de tênis cuja exclusão em 2022 não fazia sentido científico nem moral emergiu vitorioso em 2023. E, é claro, há a deliciosa ironia de que a Moderna é uma das patrocinadoras do Open deste ano

Sob a decisão cientificamente questionável de Joe Biden, de que pessoas que não fossem norte-americanas e não estivessem vacinadas fossem barradas na fronteira, Djokovic foi impedido de entrar nos Estados Unidos por quase dois anos. Biden emitiu seu decreto presidencial proibindo a entrada de viajantes aéreos que não fossem cidadãos americanos e não estivessem vacinados em novembro de 2021. O decreto só foi revogado neste ano, em 12 de maio. Claro, toda nação tem o direito de impor regras de fronteira. Mas, como Joel Zinberg comenta no New York Post, a rigorosa proibição de estrangeiros não vacinados fazia pouco sentido para Djokovic, considerando que ele pegara covid-19 duas vezes, em junho de 2020 e em dezembro de 2021. Especialistas concordam que a imunidade natural da infecção é bastante boa. Uma meta-análise publicada na Lancet descreve o nível de proteção gerado pela infecção como “alto”. É por isso que alguns países, incluindo o Reino Unido, permitiram a entrada mediante comprovação de vacinação ou recuperação. Mas não os Estados Unidos de Biden. Eles mantiveram todos os não vacinados do lado de fora por dois anos absurdos.

Foi um regime desnecessariamente rigoroso, que colocou em dúvida as elites do lockdown, que afirmavam estar apenas “obedecendo à ciência”. O que há de científico em proibir a entrada de pessoas que terão sólida imunidade ao vírus com que você está preocupado? Especialmente um homem de 35 anos — idade de Djokovic em 2022 — em ótima forma, que está o mais longe possível de ser um vetor de doenças. Zinberg afirma que a restrição duvidosa de Biden a cidadãos não americanos que não haviam sido vacinados foi motivada por questões políticas, não sanitárias. Decidido a manter altos os níveis de vacinação, o governo americano “se recusou a reconhecer a existência da imunidade natural pós-infecção”. Em resumo, o direito de viajar de estrangeiros não vacinados — sem contar o direito dos Estados Unidos de se beneficiar do turismo — foi sacrificado em prol da missão de vacinação do próprio país. Com certeza é possível incentivar a vacinação e ser honesto sobre a existência da imunidade natural, não é? Somos adultos. Podemos lidar com informações.

Djokovic
Novak Djokovic | Foto: Reprodução/Flickr

Isso é o que torna a vitória de Djokovic no domingo tão saborosa: o homem ridiculamente tratado como uma ameaça à saúde voltou para demonstrar sua habilidade para o mundo. O campeão de tênis cuja exclusão em 2022 não fazia sentido científico nem moral emergiu vitorioso em 2023. E, é claro, há a deliciosa ironia de que a Moderna é uma das patrocinadoras do Open deste ano. E que o forehand decisivo de Djokovic foi chamado de “Moderna Shot of the Day” — algo como “jogada Moderna do dia”. Não é preciso ser um antivacina que passa o dia vociferando on-line sobre “terapia genética experimental” e bradando para “o gado” que se vacinou para achar engraçado que talvez o homem mais conhecido do mundo a não tomar a vacina agora esteja sendo celebrado publicamente por uma fabricante de vacinas. Acho que o programa de vacinação da covid-19 foi uma conquista extraordinária, e posso até sorrir por isso.

A demonização de Djokovic nos últimos dois anos foi intensa. Ele foi transformado pelos fanáticos do lockdown em garoto-propaganda do “perigo da covid”. Ele era a doença personificada, e sua “arrogância” foi retratada como uma ameaça à vida e à saúde. A mídia o considerou “culpado de maus modos” quando ele disse que não tomaria a vacina. Disseram que Djokovic resumiu a arrogância letal daqueles que ousaram desafiar as regras da covid-19. A ideia de que não deveria haver “restrições ao seu estilo de vida” poderia “encorajar outros a seguir o mesmo egoísmo”, disse um observador. “O egoísmo de Novak Djokovic”, destacou uma manchete na revista The Atlantic. Ele foi criticado por “preferir gerar o caos a tomar uma vacina”.

Depois, houve o escândalo do Aberto da Austrália. Lá também Djokovic foi tratado como uma doença ameaçadora. De início, ele recebeu uma isenção médica para jogar no Aberto da Austrália de 2022 sem ter se vacinado, mas foi detido por autoridades de fronteira à sua chegada. Um tribunal ordenou sua liberação, mas, mesmo assim, o ministro da Imigração revogou seu visto por “questões de saúde e de ordem”. Ele foi despachado. Foi ridicularizado na mídia liberal e rotulado de “rei da estupidez”.

O tratamento chocante que a Austrália deu a Djokovic — como se ele fosse um vetor solitário da doença — foi flagrantemente ideológico. O foco eram as elites australianas se recusando a permitir qualquer brecha na fachada de seu regime de “covid zero”. Quem sabe, se tivessem permitido a permanência de Djokovic, isso teria levantado questões complicadas sobre os controles de fronteira tirânicos que tinham sido rigorosamente aplicados contra o vírus? E ele foi banido para poupar o constrangimento dos autoritários. Um cordeiro sacrificial para a legitimidade em declínio do “covid zero”. Djokovic se vingou lá também: ele venceu o Aberto da Austrália em janeiro deste ano.

As proibições irracionais dos Estados Unidos e da Austrália a Djokovic — e a incontáveis outras pessoas não vacinadas — são um lembrete da imprudência das autoridades nos anos da pandemia. Proibições de viagem que perduram, uma releitura do indivíduo como uma ameaça “à saúde e à ordem”, a minimização de fatos científicos, transformar os “egoístas” em exemplos que queriam gozar de controle sobre o próprio corpo — esse regime, sim, foi estúpido e arrogante, não o desejo de Djokovic de jogar tênis.

Djokovic
Novak Djokovic | Foto: Reprodução/Flickr

Brendan O’Neill é repórter-chefe de política da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show. Seu novo livro, A Heretic’s Manifesto: Essays on the Unsayable, já está à venda. Ele está no Instagram: @burntoakboy

Leia também “A volta do sacrifício animal”

5 comentários
  1. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    A vacina experimental foi vociferada a todos pela turma da $aúde.

  2. Gustavo Pinto Guimaraes
    Gustavo Pinto Guimaraes

    Como sempre falo em todas as vitórias do Djoko: “IDEEEMOOOOOOO” (Idemo = Vamos em sérvio)

  3. Vanessa Días da Silva
    Vanessa Días da Silva

    Tudo uma farsa. Uma substância que não imuniza e não evita o contágio jamais poderia ser considerada uma vacina. Forçar pessoas que tiveram determinada doença a se vacinarem contra a mesma, inclusive uma suposta vacina que sequer foi adequadamente testada, cujo vírus sofreu tanta mutações que nem de longe se parece com o vírus inicial para o qual fizeram a ” vacina” é um escândalo.
    Ficar ignorando a explosão de mortes súbitas em pessoas jovens e saudáveis divulgando que a causa não foi identificada é subestimar a inteligência da população.

  4. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    E o mundo da IA sabe que os donos de laboratórios americanos que são da Nova Ordem Mundial e os cientistas chineses fabricaram esse vírus e a partir daí estamos numa Terceira Guerra Mundial, o ocidente contra o Comunismo Internacional

  5. Diego Angeleti de Almeida
    Diego Angeleti de Almeida

    Engraçado foi ver alguns jornalistas esportivos no Brasil que detonaram Djoko pela escola de não vacinar, agora terem que engrandecê-lo pelo grande atleta que é.

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