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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, o presidente Lula e a primeira-dama, Janja | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Edição 182

Desastre diplomático

Com uma viagem ao exterior a cada 20 dias e gastos milionários, Lula empurra o Brasil para o perigoso eixo Rússia-China e provoca o Ocidente

Silvio Navarro
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Se a agenda internacional do casal Lula e Janja fosse uma série de televisão, ganharia mais tensão a cada novo capítulo — ou embarque, um a cada 20 dias. O mais recente aconteceu no início da semana, na Índia, onde o presidente participou da reunião do G20, grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo e o representante da União Europeia.

O desastre começou já na escada de desembarque do Força Aérea 1 — aeronave que a primeira-dama pediu para aposentar — em Nova Delhi, na sexta-feira, 8, depois do desfile do Sete de Setembro. Janja apressou-se para gravar um vídeo para postar em sua conta no Instagram. A primeira-dama aparece sorridente e diz: “Namastê! [saudação] Olá, Índia! Boa noite! Me segura que eu já vou sair dançando”.

YouTube video

O vídeo de oito segundos produziu um estrago enorme e precisou ser apagado depois da repercussão negativa. Àquela altura, a tragédia causada pelas chuvas no Rio Grande do Sul contabilizava mais de 40 mortos. O Brasil estava em alerta, e o bamboleio de Janja soou como desprezo às vítimas. Lula não visitou as cidades atingidas antes de seguir para o exterior — enviou o vice, Geraldo Alckmin, que reapareceu na mídia depois de meses.

Era só o começo de mais um vexame internacional, não fosse a fala do presidente no dia seguinte, em entrevista à jornalista Palki Sharma, da TV indiana Firstpost. Questionado se recepcionaria o russo Vladimir Putin em Brasília, Lula foi além de uma resposta protocolar: disse que vai convidá-lo a visitar o país e que, enquanto for presidente, o russo não será preso em solo brasileiro. Putin é alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional, também conhecido como Tribunal de Haia, com sede na Holanda, por crimes de guerra contra a Ucrânia. 

“Antes do G20 no Brasil no ano que vem, teremos o Brics [banco de fomento] na Rússia, e eu vou ao Brics na Rússia”, disse. “Espero que também venham para o G20 no Brasil. No Brasil, eles vão sentir um clima de paz, vão sentir que a gente gosta de música, de Carnaval, de futebol, a gente gosta de paz. Eu acredito que o Putin pode facilmente ir para o Brasil. O que eu posso dizer para você é que, se eu for presidente do Brasil e ele for para o Brasil, não há por que ele ser preso, ele não será preso”.

Putin não pode pisar no Brasil. O país é signatário desde 2002, na gestão Fernando Henrique Cardoso — Decreto nº 4.388 —, do Tribunal Penal Internacional, conforme as cláusulas do Estatuto de Roma. Ou seja, a Polícia Federal seria obrigada a prendê-lo. Foi esse o motivo que impediu a ida do russo à África do Sul, em agosto, no encontro do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, além de novos convidados). 

A entrevista de Lula em defesa de Putin soou como mais uma provocação aos integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e novo aceno ao eixo Rússia-China, em contraposição aos Estados Unidos. A imprensa europeia reproduziu a entrevista. O petista foi aconselhado a recuar e sacar seu trunfo para todas as horas: “não sabia”, o que é absolutamente inconcebível para um chefe de Estado que governa o país pela terceira vez. Em uma entrevista coletiva organizada para apagar o incêndio, ele disse isso mesmo: que não sabia da existência da Corte de Haia.

“Eu nem sabia da existência desse tribunal”, afirmou. “Não estou dizendo que vou sair do tribunal, só quero saber por que os Estados Unidos não são signatários, por que a Índia não é signatária, a China, a Rússia. Qual é a grandeza que fez o Brasil tomar essa decisão de ser signatário? Me parece que os países do Conselho de Segurança da ONU [Organização das Nações Unidas] não são signatários, só os bagrinhos”, disse. 

A Corte de Haia tem 123 signatários, entre eles os principais países da Europa, além de Japão e Nova Zelândia, por exemplo. Julga crimes contra a humanidade. A ausência dos Estados Unidos se justifica porque o país tem soldados espalhados em zonas de conflito em diversas partes do mundo. No caso de China, Rússia e Índia, a recusa é porque possuem diversas denúncias de violações aos direitos humanos.

A mentira de que não conhecia o tribunal provocou reações também no meio jurídico. A ex-juíza Sylvia Steiner lembrou Lula de que foi ele quem a indicou para a Corte Internacional, em 2003. “A Constituição brasileira prevê, em seu artigo 5º, parágrafo 4º, que o Brasil se submete à jurisdição do Tribunal Penal Internacional… Então, meu presidente, há um mandado de prisão internacional expedido pelo TPI contra o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Por crimes contra a humanidade. Se ele vier ao Brasil, deverá ser preso. Deverá. Nós cumprimos com nossas obrigações internacionais”, disse em artigo assinado no jornal Folha de S.Paulo.

Notícia da CNN, no dia 8 de setembro de 2023 | Foto: Reprodução/CNN
Foto: Shutterstock
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Notícia da CNN no dia 26/4/2023 | Foto: Reprodução
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Camarada Putin, companheiro Maduro

A insistência em empurrar o Brasil para o eixo Rússia-China e a sequência de afagos a ditaduras latinas e africanas despertaram a atenção dos Estados Unidos. Na semana passada, o senador do Partido Republicano Ted Cruz cobrou sanções ao Brasil. Chamou Lula de “chavista antiamericano”. É um tipo de manifestação que não se via sobre o país no exterior há mais de uma década.

Ted Cruz citou, por exemplo, a violação de acordos internacionais pelo Brasil ao permitir que navios de guerra do Irã atracassem no Porto do Rio de Janeiro, em fevereiro. O caso foi noticiado no site de Oeste, repercutiu muito nas redes sociais pelo mundo, embora não haja uma linha sobre o tema nas publicações da velha imprensa.

O senador lembrou que o Comitê de Relações Internacionais do Senado dos Estados Unidos pode determinar sanções a países que descumpram tratados, embora o governo Joe Biden atue para abafar os episódios. 

Desde que voltou ao poder, o atalho de Lula para colocar o Brasil no eixo antiamericano tem sido o Banco do Brics. A fixação do presidente é tamanha que conseguiu expulsar o economista Marcos Troyjo do comando do banco para instalar Dilma Rousseff no posto — a cadeira é rotativa e fica com o Brasil até julho de 2025. A sede fica em Xangai, na China, com salário mensal de R$ 300 mil.

A cada menção pública à carteira do Brics — US$ 100 bilhões para fomento de obras de infraestrutura —, Lula tem tratado o banco como se fosse seu. Tentou, sem sucesso, que o banco socorresse a falida Argentina, que foi admitida no grupo. Insuflado pelos chineses, Lula decidiu insistir na crítica ao uso do dólar como moeda corrente internacional.

A pedido do presidente, a chefe do Banco do Brics, Dilma Rousseff, também recebeu o ditador venezuelano Nicolás Maduro. Cercada de sanções norte-americanas e malvista pelos integrantes da Otan, a Venezuela quer ser sócia do banco, assim como foram admitidos Irã, Arábia Saudita, Etiópia e Egito. Lula será o principal cabo eleitoral em mais uma ação internacional cujo único propósito é cutucar os Estados Unidos. 

Antiamericanismo e gastança

Em maio, a edição 166 de Oeste mostrou que, àquela altura, a agenda internacional do presidente já se mostrava quase sempre inútil para o país e era extremamente cara. Nesta semana, Lula completou sua 13ª viagem, num giro que passou por 17 países. Ao deixar o Palácio do Planalto em 2010, ele já era o presidente que mais tinha rodado o mundo na história: 139 viagens para 80 países, além de Antártida, Guiana Francesa e Palestina. Com a atualização desses nove meses de mandato, dificilmente será batido um dia.

Um detalhe importante: a nova primeira-dama mantém hábitos luxuosos no exterior. Nenhuma viagem até agora teve como hospedagem uma embaixada ou um hotel de custo médio. Em Londres, foram alugados 57 quartos no JW Marriott, por R$ 37 mil a diária. O Taj Palace, na Índia, tem diárias de até R$ 60 mil. No The Leonardo, na África do Sul, as diárias custaram R$ 160 mil — valor que inclui o aluguel de salas. Janja tem reproduzido o álbum dos tours no exterior nas redes sociais — na Ásia, a produção teve até uso de drone.

Na viagem à China, a imensa comitiva, que levou sindicalistas e até o líder do MST, João Pedro Stédile, desembolsou R$ 6 milhões. Em Portugal, uma apresentadora de TV se assustou, ao vivo, com uma fila de 22 carros e o uso de dois aviões brasileiros cheios. Em resumo: foram gastos em meio ano R$ 30 milhões, sem contabilizar os custos da Força Aérea Brasileira (FAB), que são sigilosos.

Além do cacoete de falar bravatas mundo afora, esses embarques não produziram nada para o Brasil neste ano — um único acordo comercial digno de nota. Pelo contrário, o petista leva como cartão de visitas a proposta de emprestar dinheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) — outro cofre que ele trata como se fosse seu — para ajudar governos de esquerda. O próximo capítulo será em Cuba. Ele viaja nesta sexta-feira, 16, para o fórum “G77+China”, um aglomerado de cem países do chamado “Sul Global”, criado no contexto da guerra fria em benefício da União Soviética, para unir forças contra os Estados Unidos e a Europa. O que o Brasil vai ganhar com essa viagem? Nada. Mas Lula pretende renegociar o envio de dinheiro do BNDES para Havana, paralisado depois do calote pelas obras do Porto de Mariel — cujo lastro foi calculado pelo governo petista no passado em charutos que nunca chegaram.

O casal Lula e Janja seguirá no fim de semana para Nova York. O petista vai discursar na Assembleia Geral da ONU. Nesta semana, entre o desembarque da Índia e a decolagem para Cuba, Lula fez uma breve visita de três dias à cidade de Brasília.

Leia também “Anão diplomático”

12 comentários
  1. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    Fico em dúvida se estas viagens do descondenado e sua partner não tenham nenhum efeito positivo para o país.
    Não pelos acordos e contratos firmados, até agora nenhum, mas se longe ele causa muito estrago, imaginem sendo presencial em Brasília 24 horas por dia.

  2. Herbert Gomes Barca
    Herbert Gomes Barca

    carreta furacão !!

  3. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    O lado bom do chefe da quadrilha petista ter sido eleito pelo TSE a presidente, é que hoje em dia tem WhatsApp e outras ferramentas que não tinham na época que ele foi presidente. Para todos efetivamente saberem quem ele é.

  4. Jose Carlos Rodrigues Da Silva
    Jose Carlos Rodrigues Da Silva

    O povo sempre perde nas eleições, não importa o partido que ganhou.João Gilberto de Souza

  5. Douglas Gonzaga da Silva
    Douglas Gonzaga da Silva

    Nada será esquecido. Obrigado pelo excepcional trabalho Silvio, um verdadeiro jornalista!

  6. FERNANDO
    FERNANDO

    Ainda bem que ninguém é eterno!!!!

  7. Ana Cláudia Chaves da Silva
    Ana Cláudia Chaves da Silva

    Podia ficar em cuba e nunca mais voltar. Ninguém ia sentir falta desse casal estrupicio.

  8. Pedro Hemrique
    Pedro Hemrique

    É o retrato do país do faz de contas que é sério! Um amontoado de parasitas que vivem às custas de nossas entranhas! Até quando à imprensa chapa branca se fará de sonsa?

  9. Frederico Oliveira dos Santos Melo
    Frederico Oliveira dos Santos Melo

    É uma vergonha!

  10. MNJM
    MNJM

    Deveria ficar em Cuba de vez, livraria o povo do seu desgoverno.

  11. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    E pode fazer o que bem entender não tem regras, não tem lei, e a Constituição não trata disso, o sujeito é presidente e leva o dinheiro do povo pra outros países e fica por isso mesmo? Como pode? Cadê a soberania nacional? Vamos fazer alguma coisa não podemos ficar a mercê de um julgo desse

  12. Maki K
    Maki K

    São 4 juizes sitiados em Haia que condenaram o Putin à prisão e todos passaram a compor a lista de “procurados” pela Rússia. E uma desses 4 é uma japonesa.

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