Ab igne ignem capere.
(Adágio latino)
A atmosfera da Terra segue enriquecendo-se em dióxido de carbono (CO₂). Em 2022, a emissão total alcançou 40,6 bilhões de toneladas. China, Estados Unidos e Índia respondem por mais da metade das emissões planetárias de CO₂. E entre os dez maiores poluidores do planeta, responsáveis por quase 70% das emissões, não havia nenhum país latino-americano ou africano. Das Américas, só figuravam os Estados Unidos. Agora, em 2023, o Canadá entrou no pelotão dos cinco maiores emissores de CO₂, resultado de seus incêndios florestais, ainda em curso.
Em primeiro lugar, na liderança absoluta dos poluidores, com 32,9% das emissões mundiais, a China já avisou: seguirá ampliando suas emissões de CO₂ até 2030. Ponto. Alguém tem algo a dizer ou protestar? Não? Ótimo. Os Estados Unidos, em segundo lugar no ranking mundial, emitem menos da metade da China: 12,6%. Depois vêm Índia, Rússia e Japão, com 7%, 5,1% e 2,9%, respectivamente. Esses cinco países somaram 60,5% das emissões planetárias em 2022.
Agora o Japão cede seu lugar ao Canadá. Em 2023, o total das emissões de CO₂ dos incêndios florestais no Canadá ultrapassou o das emissões anuais do Japão, o quinto maior emissor, segundo o observatório europeu Copernicus. Foi cerca de 1,5 bilhão de toneladas de CO₂.
A superfície florestal incinerada em 2023, em tempo tão curto, é inédita. Para fazer uma comparação: a perda florestal do Canadá em cinco meses superou, e muito, a de toda a Amazônia brasileira em 15 anos!
Outra comparação ilustra a dimensão planetária do desastre canadense. Já em agosto, o dióxido de carbono resultante da queima das florestas canadenses ultrapassara o total das emissões anuais do conjunto do setor aéreo mundial em 2022, cerca de 0,8 bilhão de toneladas de CO₂, segundo o Copernicus Atmosphere Monitoring Service (CAMS).
Até no Círculo Polar Ártico no Canadá, entre julho e agosto, incêndios foram detectados por satélite com valores de Fire Radiative Power (FRP) superiores à média dos últimos 20 anos. As emissões de carbono dos incêndios de junho a agosto no Ártico estão entre as mais altas no CAMS desde 2003.
Em 27 de setembro, o Canadian Interagency Forest Fire Centre encerrou a distribuição de dados diários do monitoramento dos incêndios, por considerar terminada a “estação do fogo” (sic). Ainda havia no país 827 incêndios ativos, dos quais 404 fora de controle.
Entre maio e setembro, cerca de 6,5 mil incêndios calcinaram 18,5 milhões de hectares de florestas no Canadá, segundo o Canadian Interagency Wildfire Center Inc. Recorde territorial e histórico absoluto. Em 1989, o recorde anterior fora de 7,3 milhões de hectares.
A superfície florestal incinerada em 2023, em tempo tão curto, é inédita. Para fazer uma comparação: a perda florestal do Canadá em cinco meses superou, e muito, a de toda a Amazônia brasileira em 15 anos! Foram 18,5 milhões de hectares no Canadá, ante 11,6 milhões no bioma Amazônia, entre 2008 e 2022 (de acordo com dados do Inpe-Prodes). A área devastada canadense equivale à de Portugal e Hungria juntos. Ela é superior à superfície do Uruguai e à da Síria. É mais de 2% da extensão do Brasil. E os incêndios ainda não terminaram, apesar das chuvas outonais crescentes.
A fumaça desses incêndios, visível do espaço, em junho atingiu os Estados Unidos, chegou à Europa Ocidental (Inglaterra, Noruega, Espanha, Portugal, França, Alemanha…) e avançou para o leste. Nos últimos dias de agosto e no início de setembro, ocorreu um novo transporte de longo alcance da fumaça dos incêndios florestais canadenses através do Atlântico em direção à Europa. A fumaça trouxe céus nebulosos às Ilhas Britânicas, ao noroeste, centro e sul da Europa, o que pode ser observado na imagem dinâmica abaixo, gerada pelo CAMS.
Na direção norte, a fumaça afetou continuamente áreas do Ártico canadense e da Rússia. Uma imagem do satélite Sentinel-3, de 23 de setembro, mostra uma enorme nuvem de fumaça dos incêndios, com cerca de 2 mil quilômetros de comprimento, sobre a província de Alberta.
Com o aumento recorde na poluição do ar, em junho Montreal, Toronto e Nova York estiveram entre as cidades mais poluídas do planeta, segundo o indicador internacional IQAir. Situação parecida foi registrada em Detroit, Pittsburgh e Chicago. Alertas de smog foram emitidos em mais de uma quinzena de estados nos Estados Unidos. Mais de 100 milhões de pessoas foram afetadas.
As cinzas e os aerossóis dos incêndios caem aos poucos nos solos e oceanos com as chuvas, em áreas não afetadas. Neste início de outubro, na imagem orbital do monitoramento de aerossóis no Hemisfério Norte, o Canadá parece o deserto do Saara a fornecer partículas para a atmosfera.
Não faltaram bombeiros. Nunca foram empregados tantos recursos humanos e materiais no combate a incêndios como em 2023 no Canadá. Segundo a Direção-Geral do Serviço Canadense das Florestas, além de centenas de milhares de bombeiros, homens das forças armadas e voluntários, contribuíram 5.337 bombeiros de uma quinzena de países: Austrália, Brasil, Chile, Coreia do Sul, Costa Rica, Estados Unidos, França, México, Nova Zelândia, Portugal e outros países da União Europeia.
Foram emitidas 284 ordens de evacuação pelas autoridades canadenses. Mais de 232 mil pessoas terminaram removidas das casas e locais de trabalho devido aos incêndios, sobretudo no oeste e no norte do país. Como se a tragédia da perda de patrimônio não bastasse, pessoas evacuadas foram vítimas de fraudes bancárias e golpes de estelionatários. Prosseguem ainda incêndios e evacuações em novas áreas, na Colúmbia Britânica e em Alberta.
Os incêndios abalaram a economia do Canadá. A indústria florestal foi afetada pela suspensão de atividades (até por razões de segurança), aumento no preço da madeira, paralisações na construção civil etc. Dezenas de milhares de empregos no setor florestal vivem uma crise. Na Colúmbia Britânica, entre 30 e 40 empresas madeireiras cessaram suas operações florestais. Outras dispensaram ou mobilizaram seu pessoal para proteger instalações dos incêndios. A poluição e o risco dos incêndios reduziram passeios e visitas turísticas, como em regiões vitícolas e parques nacionais, causando prejuízos ao setor hoteleiro e à indústria do turismo.
Para a Oxford Economics, os incêndios florestais podem reduzir o crescimento do Canadá de 0,3% a 0,6% este ano. Ottawa estima o custo anual da luta contra os incêndios florestais em cerca de US$ 737 milhões. Para o Instituto Canadense do Clima, incêndios florestais e desastres ambientais podem reduzir à metade o crescimento econômico nos próximos anos. Estimativas das perdas anuais médias chegariam a US$ 11,4 bilhões até 2030. Os prejuízos das companhias de seguros quintuplicaram desde 2009 e chegam a US$ 1,47 bilhão ao ano, segundo o Escritório de Seguros do Canadá.
A fauna e a flora canadenses, já maltratadas e ameaçadas pela urbanização das florestas e pelas atividades humanas, receberam agora o golpe da perda de hábitats em grande magnitude. Metade das aves do Canadá, 150 espécies, e 85 mamíferos, como o endêmico caribu da floresta, viviam ali. A biodiversidade boreal paga com a vida a destruição de milhões de hectares de hábitats. Com a omissão midiática, não se viram fotos de cervos, ursos, caribus, linces, lobos, bisões ou carcajus queimados. Haverá balanço e análise desses incêndios, como cobrado na Revista Oeste (edição 174)? Ou silêncio e omissão?
O desastre canadense será tratado na COP28, em Dubai? Nenhum presidente ou primeiro-ministro europeu acusou o governo canadense de “incompetente em proteger suas florestas”, como tacham o Brasil. Nem sugeriu internacionalizar a floresta boreal. A autoridade canadense não declarou sua floresta patrimônio da humanidade, como disse aqui o governo sobre a Amazônia. Ninguém vinculou a exploração madeireira e o agronegócio do Canadá aos incêndios. A União Europeia não estuda normas para limitar o comércio de bens e serviços de províncias onde ocorrem incêndios florestais.
Cinco meses se passaram. A crise agravou-se. Não houve pedidos do dúctil presidente francês pela livre Forêt du Québec. Artistas e ativistas famosos não saíram em defesa das florestas. Qual é a atenção das mídias nacional e internacional e do universo paralelo de ONGs aos incêndios no Canadá? Quem buscar na internet matérias com dados e análises atuais desse incandescente desastre ambiental encontrará nada ou quase nada. A perda florestal do Canadá já foi indultada por grande parte da mídia, omissa desde o início.
Como publicado na Revista Oeste (edição 172), boa parte da mídia, do ambientalismo e de suas eloquentes lideranças não deu qualquer destaque a essa destruição florestal. E muito, muito, menos ao sempre dado à Amazônia. Omissos, em inexplicável silêncio, eles sumiram como fumaça.
Emissões e omissões andam juntas nessa seara. Lembram o Sermão da Primeira Dominga do Advento (1650), do Padre António Vieira:
“A omissão é o pecado que com mais facilidade se comete e com mais dificuldade se conhece; e o que facilmente se comete e dificultosamente se conhece, raramente se emenda. A omissão é um pecado que se faz não fazendo.”
É para reler sete vezes.
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Canadá prospecta seu território. Observem pelo Google Maps a quantidade de minas extraindo recursos naturais, e consequentemente a elevada qualidade de vida do país. Já aqui no Brasil, a turma do atraso fica nessa conversa mole atrasando o desenvolvimento e a qualidade de vida das pessoas.
E a Marina Silva, sabe disso professor?
E nada será dito, pois o ditador do Canadá já implementou a NOM, enquanto aqui no Brasil ainda há empecilhos. É tudo pelo controle social. No Canadá as pessoas aderiram aos desmandos do filhote Castro apesar de algumas manifestações sufocadas de forma autoritária.
Otimo artigo, só aqui na Revista Oeste podemos ter acesso às verdades. Aqui não se omite e não se mente. Parabéns e obrigado.
Precisa ler sete vezes sete o Padre Vieira !! Onde esta uma fedelha chamada Greta Thunberg ? com sua pergunta – How dare you ?? ….
O silencio ensurdecedor da midia é o que mais doi.
Ler os artigos do pra Evaristo é um vicio. Precisamos sempre mais. E um é sempre melhor que o outro.
Grata por nos manter sempre muito e bem atualizados.
Por este e outros artigos do Prof. Evaristo, vemos mais e mais o quanto esse grupelho de Ungidos está a mentir, omitir e fazer espetáculos retóricos e de contorcionismo de pura Maldade! Tudo com um único interesse! Poder!
Pode jogar o gás que for quem cuida são os gases atmosféricos. O Brasil tem o território mais rico do mundo só tá faltando recuperar sua soberania que perdeu para o comunismo internacional mas ninguém perde só o Brasil apoiado pelo comunismo nacional
Mais um artigo incrível do Dr. Evaristo de Miranda que mereceria ser lido obrigatoriamente por todos os brasileiros.
Pesquisador, o Dr. Evaristo sempre apresenta dados, números, mapas, todas as fontes de suas afirmações, como bom embrapiano. Seus artigos contem argumentos e não apenas opiniões ou convicções. Ele demonstra a dimensão hemisférica do desastre florestal canadense. Perderam mais florestas do que a Amazônia em 15 anos. Óbvio: o contexto ecológico é outro. Quantos lobos foram calcinados? Quantos cervos e caribús? E mesmo diante de tudo isso, segue a omissão silenciosa e vergonhosa da mídia, das Greta$, dos Leonardo$ di Caprio, dos Greenpeace$. Pecado mortal maior de quem, por aqui, acha normal. E o padre Vieira, sempre atual. Só a Revista Oeste trouxe o tema desde o início! Parabéns.
Prezado Evaristo, não são somente as palavras do Padre António Vieira que devem ser relidas sete vezes.
Todo esse excelente artigo deve ser relido pelo menos sete vezes, além de ser amplamente difundido por todos os meios possíveis. Estou fazendo minha parte.
Nesse contexto, enfatizo que é extremamente lamentável a omissão da extrema imprensa brasileira.
Pesquisador, o Dr. Evaristo sempre apresenta dados, números, mapas, todas as fontes de suas afirmações, como bom embrapiano. Seus artigos contem argumentos e não apenas opiniões ou convicções. Ele demonstra a dimensão hemisférica do desastre florestal canadense. Perderam mais florestas do que a Amazônia em 15 anos. Óbvio: o contexto ecológico é outro. Quantos lobos foram calcinados? Quantos cervos e caribús? E mesmo diante de tudo isso, segue a omissão silenciosa e vergonhosa da mídia, das Greta$, dos Leonardo$ di Caprio, dos Greenpeace$. Pecado mortal maior de quem, por aqui, acha normal. E o padre Vieira, sempre atual. Só a Revista Oeste trouxe o tema desde o início! Parabéns.
Soberbo artigo Prof. Evaristo! Como o sermão, é para ser lido, relido e guardado. Peço que venha outro sobre as causas, que imagino sejam naturais, e o quê poderia ter feito o Canadá para evitar ou atenuar este desastre ambiental.
Enquanto isso, a República Lulista das Bananas Vermelhas resolvem seguir ordens do Imperialismo Globalista Americano para parar as Industrias nacionais e pagar mais impostos para proteger o Planeta e a Amazônia dos Gringos…