Sob a mira de uma metralhadora, um garoto judeu-polonês com olhar aterrorizado e braços levantados se rende aos oficiais nazistas. A foto, registrada em 1943 por um autor anônimo durante a Revolta do Gueto de Varsóvia, tornou-se uma das imagens mais tristes e emblemáticas do Holocausto.
Antes da guerra, cerca de 380 mil judeus viviam na Polônia, o equivalente a um quarto de sua população. Depois da invasão alemã, em 1939, tiveram que se sujeitar às leis antijudaicas. Em 1941, foram forçados a se mudar para Varsóvia, capital do país, onde foi criado um gueto delimitado por muros de 3 metros de altura e 18 quilômetros de extensão no total. Dessa forma, os judeus ficaram isolados dos demais habitantes. Era oferecida uma ração alimentar de apenas 180 calorias diárias por pessoa. A partir de julho de 1942, soldados alemães enviaram cerca de 5 mil judeus de Varsóvia para campos de concentração. Na medida em que as notícias dos extermínios se espalharam, residentes do gueto formaram um grupo de resistência contra a ocupação nazista e começaram a cavar bunkers e contrabandear armas, o que ficou conhecido como a Revolta do Gueto de Varsóvia.
A fotografia revela o momento em que um grupo de pessoas foi retirado à força do bunker e capturado pelas tropas alemãs. A maioria usa roupas esfarrapadas e tem poucos pertences. Todos foram deportados para os campos de extermínio de Majdanek ou de Treblinka. O medo fica evidente no olhar do menino.
O major-general da Schutzstaffel (conhecida como SS), Jürgen Stroop, foi enviado por Heinrich Himmler para acabar com a revolta. A SS mandou caminhões-tanques, lançou gás venenoso nos bunkers e incendiou grande parte do gueto. O conflito arrastou-se por quatro semanas. Foi o maior ato de resistência judaica contra o Holocausto na Europa.
A famosa imagem do menino faz parte de uma série de fotos e documentos do que foi chamado de “O Relatório Stroop” (The Stroop Report). Nele, Stroop escreveu: “Hoje, 180 judeus, bandidos e sub-humanos foram destruídos. O bairro judaico de Varsóvia não existe mais”. A liquidação dos insurgentes foi relatada com muito orgulho num álbum revestido com capa de couro e 75 páginas de anotações, resumos de operações e detalhes de como era realizado o assassinato do povo judeu, além de mais de 50 fotos comoventes tiradas no front. A maioria das imagens que compõem o álbum é composta de cliques do oficial da SS Franz Konrad, conhecido como “Rei do Gueto”. Mas não é possível afirmar com exatidão que a foto do menino de Varsóvia foi registrada por ele. O álbum acabou sendo mais tarde a ruína de Stroop e de outros oficiais da SS durante os julgamentos de Dachau e Nuremberg. As fotografias encontradas no álbum serviram de prova documental do horror do Holocausto e dos efeitos da doutrinação cruel e doentia antissemita.
A única pessoa identificada na foto foi o soldado nazista que segura a metralhadora e posa para a câmera com uma expressão de orgulho e empáfia. Seu nome é Josef Blösche, um oficial de alta patente da SS. Foi julgado no Tribunal de Nuremberg e sentenciado à morte por crimes contra a humanidade. O menino com meias até os joelhos e aparência de seis ou sete anos de idade — cuja identidade nunca foi confirmada — passou a representar a violência praticada contra as crianças indefesas e todos aqueles que sofreram com as atrocidades cometidas pelo Terceiro Reich.
Manter a memória viva passou a ser um desafio, uma vez que as testemunhas oculares do Holocausto praticamente desapareceram. A Segunda Guerra Mundial, um dos piores capítulos da história da humanidade, trouxe lições que não podem ser esquecidas.
Daniela Giorno é diretora de arte de Oeste e, a cada edição, seleciona uma fotografia relevante na semana. São imagens esteticamente interessantes, clássicas ou que simplesmente merecem ser vistas, revistas ou conhecidas.
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Assinei a Revista Oeste hoje.
Este foi o 1° artigo lido na revista, assunto que tenho grande interesse em conhecer, pelas atrocidades nazistas cometidas pela população civil, principalmente os judeus.
Parabéns Daniela pela bela reportagem!
Chocante.
E tem crápula e canalha que defende isso. O grupo terrorista hamas é o exemplo da crueldade. Tem que ser totalmente eliminado.
Esta imagem é uma das provas definitivas da torpeza inerente à condição humana. Somos capazes dos maiores heroísmos e das piores crueldades.
Há que se ter coragem para olhar.
Entre tantas imagens do horror do HOLOCAUSTO, a escolha foi precisa. Pior, só crianças decapitadas pelo Hamas.
De faz necessário a leitura do livro “Maquiavel Pedagogo” do Pascal Bernardin para que todos possam ter a noção do que órgãos supranacionais vieram fazendo para que o Mundo pós WWII chegasse onde chegou através dos meios de ensino.
*Se faz necessário
Naquela época, os nazistas, levavam os judeus para os campos de concentração e depois de uma seleção rigorosa, para detectar e separar os possíveis trabalhadores braçais em seus projetos, os demais, homens mulheres e crianças, eram conduzidos à câmara da gás e depois aos fornos.
Hoje temos o Hamas, que invade um território soberano, mata indiscriminadamente seus habitantes, estupram, mutilam, degolam e incineram inocentes, em nome de Deus.
Evoluímos tecnologicamente, mas moralmente continuamos os mesmos bárbaros de sempre!
Tenho dó dos que justificam e apoiam esta barbárie!