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Apoiadores do recém-eleito presidente da Argentina, Javier Milei, comemoram em Buenos Aires (19/11/2023) | Foto: Reuters/Mariana Nedelcu
Edição 192

Vitória argentina

Na Argentina, os eleitores põem o voto de papel no envelope que recebem no local de votação

Alexandre Garcia
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Às 20h17 do domingo de eleição na Argentina, o candidato Massa declarou-se derrotado. Duas horas e 17 minutos depois de encerrada a votação em cédulas de papel, contadas manualmente em seguida, não restavam dúvidas para Massa quanto ao resultado e à lisura do processo eleitoral. Que inveja da Argentina! O PSDB ainda desconfia até hoje da vitória de Dilma sobre Aécio, e os eleitores de Bolsonaro não se conformam com a derrota por menos de 2% — e as dúvidas pululam na cabeça dos eleitores. Apuração sob os olhos de um exército de fiscais dos partidos. Auditagem imediata e cristalina. As desconfianças ficaram na campanha, com acusações de distribuição de cestas básicas, de envolvimento do papa, de intromissão brasileira. Mas, quanto à contagem dos votos, nenhuma dúvida, apuração transparente, fiscalizada, auditada e acabada rapidamente. Ninguém teve dúvidas. 

Na mesma noite, logo depois, o presidente do Brasil desejou sorte ao novo governo — sem mencionar o nome do vitorioso —, postando: “Meus parabéns às instituições argentinas pela condução do processo eleitoral e ao povo argentino, que participou da jornada eleitoral de forma ordeira e pacífica”. Se Lula acha que merecem parabéns as instituições e o processo eleitoral, por que não enviar ao Congresso um projeto de lei tornando o nosso processo eleitoral tão confiável, transparente, auditável e rápido quanto o argentino? Ano que vem haverá eleições municipais, base de nossa federação, de nossa política, de nossa representação, de nossa democracia. Eleições ainda carregando mistérios e dúvidas, pela falta de transparência na apuração — exigida pelo senso comum no mundo inteiro.

Argentino comemora a vitória de Javier Milei no segundo turno das eleições presidenciais, em Buenos Aires, na Argentina (19/11/2023) | Foto: Reuters/Adriano Machado

O sistema digital é caro e, segundo os entendidos de informática, não é isento de falhas. Caro porque no mundo digital a obsolescência vem rápido. A contagem manual é passível de fraudes, mas aí as fraudes são passíveis de serem descobertas; no mundo digital, não, como já comprovou a tentativa de auditagem do PSDB sobre a eleição de Dilma versus Aécio. Meus amigos argentinos contam que Milei investiu muito nos fiscais das apurações e anunciou isso, a ponto de deixar os escrutinadores bem conscientes de que estavam sendo observados e fiscalizados. Por aqui, aprovou-se em 2015 o comprovante impresso do voto, vetado por Dilma a pretexto dos gastos, mas o veto foi derrubado por 66% do Congresso. Ainda assim, a vontade reiterada de 368 deputados e 56 senadores foi derrubada por oito ministros do Supremo.

Depois da contagem preliminar, tudo é recontado e conferido sob fiscalização tripla. É um sistema aberto. O nosso é fechado. E mostra o resultado antes de nós, sem deixar desconfianças no ar

Na Argentina, os eleitores põem o voto de papel no envelope que recebem no local de votação. Ao sair da cabine indevassável, o envelope é depositado na urna. Encerrada a votação, os votos são contados preliminarmente ali mesmo, sob intensa fiscalização dos partidos. Depois, a Dirección Nacional Electoral, que é do Poder Executivo, soma as atas de 104.577 seções (o Brasil tem 472 mil). A DNE considera fraude impossível, porque há controles cruzados pela Justiça, partidos e cidadãos. Depois da contagem preliminar, tudo é recontado e conferido sob fiscalização tripla. É um sistema aberto. O nosso é fechado. E mostra o resultado antes de nós, sem deixar desconfianças no ar. Um a zero para a Argentina não apenas no Maracanã. Também na eleição de 19 de novembro. Por que ufanismo com o nosso sistema eleitoral digital, se o argentino funciona melhor?

Javier Milei, durante o segundo turno das eleições presidenciais argentinas, em Buenos Aires (19/11/2023) | Foto: Reuters/Agustin Marcarian

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7 comentários
  1. Leonardo Soares de Senna
    Leonardo Soares de Senna

    Parabéns Alexandre!
    Por que o STF derrubou o comprovante impresso do voto????????? Até um bebê sabe a resposta…

  2. Leonardo Abreu
    Leonardo Abreu

    Urna auditável já. Para pacificar as eleições

  3. MB
    MB

    Argentina 2 X 0 Brasil. É a realidade.

  4. MNJM
    MNJM

    O TSE prima pela falta de transparência, uma jabuticaba que custa caro aos cofres públicos.
    As eleições de 2022 foi vergonhosa, faltou transparência, TSE censurou fez o diabo beneficiando o seu candidato. Ninguém que tenha um neurônio pode dizer que não ocorreu. O STF e TSE atuou pressionando o Congresso para não ter o voto impresso, por que será??? Custo, pura balela, para as eleições de 2024 é preciso correr contra o tempo e exigir o voto impresso, todo cidadão quer ter a comprovação do que digitou nas sacrossantas urnas do TSE.
    Parabéns Alexandre pela matéria, preciso voltar a pauta do Congresso o voto impresso.

  5. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    Faltou um Alexandre de Moraes para o processo eleitoral argentino cristalizar mais uma vitória da esquerda.
    Se hackers invadem contas bancárias, sistemas de aeroportos como ocorreu há pouco tempo com o Galeão no Rio de Janeiro, Pentágono, etc, porque raios uma caixinha mais parecida com um ATARI do início dos anos 1990 seria confiável?
    Seus defensores certamente sabem muito bem como se manipula uma eleição.
    No caso da eleição de 2014 a “apuração” teve início somente após o encerramento das votações no Acre que possui menos de 600 mil eleitores, número insuficiente para impactar resultados em um montante de mais de 100 milhões de eleitores.

  6. Fernando Senna
    Fernando Senna

    Porque interessa aos políticos, principalmente do Nordeste. Porque interessa ao TSE (mais uma jabuticaba) que fiscaliza ele mesmo e depois elogia a ele mesmo. Pobre e incompetente Google.

  7. Renato Perim
    Renato Perim

    Porque vivemos sob uma ditadura não declarada e não temos a quem recorrer. Quem pode fazer alguma coisa não quer mudar nada e quem quer mudar alguma coisa não pode fazer nada. Xeque mate.

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