Invadir ou não invadir

— Tu acha que eu devo invadir?

— Sei lá, porra. Como é que eu vou saber?

— Ué, tu é meu parceiro. Ou não é mais?

— Se não fosse mais, não tava te enchendo de grana. 

— Então? Invado ou não invado?

— Não sei, irmão! Já falei! Tô cheio de problema aqui, se vira. 

— Mas se eu invadir e tu não me der moral complica pro meu lado. 

— Porra, tu é chato pra cacete. Tá bom, conta aí qual é a parada. Tu quer invadir o território de qual facção?

— Facção? Sei lá. 

— Sei lá?! Como é que tu quer invadir uma área que tu nem sabe de quem é?

— Até sei… mas não tem facção lá, não. 

— Tem o quê? Milícia?

— Não. Lá é exército. 

— Exército?! Que boca é essa que tu quer tomar, maluco? Os caras já têm exército?

— É que não é boca…

— Como é que não é boca? É o que, então?

— País. 

— Ah, tá. Agora me localizei. Beleza, mas cuidado com aquele palhaço. 

— Que palhaço?

— Ué? Não é um palhaço que manda lá? Fica esperto que esse cara tem muita imprensa. 

— Como assim?

— Imprensa, parceiro. O cara é marqueteiro. No meio da guerra fica posando pra capa de revista, dando palestra… Vou te falar: eu tenho até que aprender com esse maluco. A galera da Otan ri demais com ele. 

— Otan? Onde eu quero invadir não é área da Otan. 

— Não? Ah, então confundi com outra guerra. Parceiro, nesse caso é melhor tu conversar com o aiatolá antes de se meter naquele lugar. Os cara ali são mau que nem pica-pau. 

— Desculpe, parceiro. Mas nessa área também não tem aiatolá.

— Porra, tu tá me sacaneando, irmão?

— Nunca, meu padrinho! Acho que é um mal-entendido…

— Se tu não vai se meter com a galera do turbante, nem com a galera da vodka, nem com a galera do pó, tu vai se meter com quem?

— É com a galera da floresta aqui do lado mesmo. 

— Da floresta?

— É. 

— Da floresta??!

— Isso mesmo, padrinho.

— Porra, companheiro. Pode invadir. E vê se não toma mais o meu tempo com besteira.

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