A Reuters perguntou ao chanceler Mauro Vieira se há chance de guerra Venezuela-Guiana, e ele respondeu: “Não. Em absoluto”. Resposta de quem tem 50 anos de Itamaraty, que pressupõe certeza no futuro. O presidente da Guiana não confia. Disse que Maduro é imprevisível. Mas nosso ministro das Relações Exteriores deve saber alguma coisa. Afinal, uma missão do Itamaraty esteve em Caracas dias atrás. E Mauro Vieira deve ter ouvido alguma coisa de Lula, nas recentes conversas sobre o perigo de guerra no norte do Brasil. O presidente do Brasil já palpitou bastante sobre a guerra na Ucrânia e a guerra em Gaza, e tem se manifestado pouco sobre a ameaça na nossa fronteira norte. O pouco que disse foi que “precisamos baixar o facho”, mas não especificou o alvo da recomendação, e logo dirigiu-se aos dois: “Espero que o bom senso prevaleça do lado da Venezuela e do lado da Guiana”. Como assim? A Guiana ameaça? A Guiana é agressora? Nesse conflito, o sujeito ativo é a Venezuela e o passivo é a Guiana. O que é ter bom senso para a Guiana? Entregar 74% do seu território para não haver guerra? Aliás, foi esse o conselho que Lula deixou em abril em outra guerra: a Ucrânia poderia ceder a Crimeia e terminar a guerra.
O atual presidente pode fazer algo que Bolsonaro, se estivesse no poder, não poderia: demover Maduro. Bolsonaro admitiu em Brasília a embaixadora indicada por Juan Guaidó. Não teria chance alguma com Maduro. Já Lula é credor de Maduro. Até apresentou-o como legítimo guardião da democracia (relativa) e dos direitos humanos na Venezuela. Tentou enfiá-lo goela abaixo dos presidentes sul-americanos reunidos em maio em Brasília com tal insistência que irritou até o socialista chileno Gabriel Boric. Maduro deve muito a Lula, e Lula é o mais indicado para impedir que Maduro se lance numa guerra de conquista.
Maduro não aceita o Tribunal Internacional de Haia como mediador indicado pela ONU, conforme se depreende do acordo de 1966 que ele aceita. O Tribunal mandou sustar o referendo, e ele não acatou. A Comissão Eleitoral da Venezuela anunciou que o resultado do referendo foi 95% favorável a uma “retomada” do Essequibo. Mas o resultado engana, porque, dos 20,7 milhões de eleitores, compareceram apenas 10,5 milhões, e 95% de 10,5 milhões são 9,97 milhões de eleitores — ou seja, 48% do total de eleitores. Se fosse maioria absoluta — e não simples —, a ideia de invasão da Guiana estaria reprovada pelo povo.
É a oportunidade para ele surgir como pacificador, inclusive para compensar os tropeços da última viagem. Resta saber se Lula quer
Maduro quer desviar a atenção dos problemas internos, suspender uma eleição, tentar unir os venezuelanos em torno de um objetivo nacional e, se tudo der certo, ainda se apossar de gigantescas reservas de petróleo. O PIB da Guiana, no ano passado, cresceu 63%, por causa do petróleo. A Venezuela tem suas razões históricas, como tem a Argentina sobre as Malvinas. Mas Maduro corre o risco de repetir o destino do ditador Galtieri, que precisava unir o país, fazer os argentinos esquecerem os problemas internos, e aproveitou uma reivindicação histórica. Só que a Argentina se tornou a invasora, a agressora. Perdeu a razão e a vida de 650 jovens soldados. E Galtieri perdeu o poder, encerrando um ciclo de generais.
Em dezembro de 2002, com o objetivo de ficar mais livre para cuidar do Iraque, o presidente Bush, na Casa Branca, pediu ao recém-eleito Lula que administrasse Chávez. E não foi Lula quem sugeriu que amigos do Hamas interferissem para libertar os reféns? Agora é ele o amigo que pode interferir. Se não agir, vai ser ultrapassado. E não custa lembrar: a Guiana era colônia inglesa, como os Estados Unidos, que ajudaram a Inglaterra a recuperar as Ilhas Falkland. E a maior parte das reservas está sendo explorada pela ExxonMobil. Os norte-americanos já estão na Guiana, em operações aéreas de “exercícios”, e presença terrestre com oficiais de alta patente do Comando Sul. Um sinal para dissuadir Maduro, que já imprimiu novo mapa da Venezuela, inflada com 74% da Guiana.
Lula pode, tem crédito para deter Maduro, e esse poder gera o dever de não se omitir tendo condições de agir. É uma expectativa de responsabilidade para o Brasil. Como chefe de Estado do Brasil, certamente já recebeu avaliações sobre o que seria ter uma guerra na fronteira norte, literalmente envolvendo o Estado de Roraima. É a oportunidade para ele surgir como pacificador, inclusive para compensar os tropeços da última viagem. Resta saber se Lula quer. Se Maduro for detido pelos norte-americanos, e não pelo vizinho amigo, vai ser um vexame para o Brasil.
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Vexame do Brasil, passando vergonha sendo conivente com as aventuras do Maduro.
Tô farto da retórica desses ladrões comunistas terroristas, nada mais me emociona
Caro patrício. Estava eu dando uma campereada, oiuvindo as siriemas de um lado, os budios de outro, e lembrei deste texto teu. De repente, no meo da trilha cruza uma jararaca. Aí lembrei do Lula. Com as duas imagens no pensamento livre e teatino, fiquei na obrigação de dar outra versão ao ditador venezuelano que fica cada vez mais maduro e um dia vai apodrecer, cair do galho, como se diz por este rincão. A invasão na Guiana é só um teste. O ditador sabe que Lula é amigo e cordeiriho Assim, ele também pensa em recuperar um pedaço do Brasil, lá no Norte, ao lado da Guiana. Sabe que Lula não declarará guerra a VEnezuela. Quando a Guiana, o pessoal de lá está cozinhando no tacho e a água ainda não ferveu. Maduro é racista e quer dominar os negros da Guiana porque ele considera um povo inóquo na América Latina, sem grandes aspirações, nem disputa a Libertadores…
É tudo muito louco. Lula, estadista de bordel, não fará nada.