O ano termina na próxima semana e até agora o brasileiro não tem respostas para algumas perguntas que inundaram as manchetes da imprensa por meses a fio: afinal, o que há nas imagens da confusão envolvendo o filho do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), num aeroporto na Itália? Qual história as dezenas de câmeras do Ministério da Justiça — que sumiram — contariam sobre o tumulto do dia 8 de janeiro em Brasília? Qual é o conteúdo bombástico da delação de Mauro Cid, ex-auxiliar de Jair Bolsonaro? Foi comprovada alguma irregularidade com as joias presenteadas a Michelle Bolsonaro? Como foi possível hackear a conta da primeira-dama, Janja, numa rede social?
Outras tantas perguntas podem ser adicionadas à lista, mas só as respostas para essas já bastariam. Porque todas elas foram tratadas como escandalosas, dinamite política ou algo tão grave ao ponto de mudar a legislação do país — e, principalmente, levar Jair Bolsonaro para a prisão. Por que, depois de um ano inteiro, nada foi provado? A explicação mais provável é que foram cortinas de fumaça — ou escândalos de festim, lançados para camuflar o projeto de poder do consórcio que administra o Brasil, formado por Lula e os ministros do STF.
O primeiro caso é daqueles que desafiam qualquer investigador de polícia em início de carreira. No dia 14 de julho, causou alvoroço nas redações a informação de que o filho de Alexandre de Moraes, chamado Alexandre Barci, havia sido agredido na entrada da sala VIP do Aeroporto Leonardo da Vinci, na Itália. Os três supostos agressores moram na cidade de Santa Bárbara D’Oeste, no interior paulista. Trata-se de um casal e o genro deles.
Na única cena filmada de que se tem conhecimento, captada pelo celular de um dos três da família, Moraes diz: “Vocês serão identificados! Bandido!”. A ameaça foi cumprida. Ao desembarcar no Brasil, o trio teve de prestar depoimento à Polícia Federal, mesmo sem a presença de advogado. O ministro Flávio Dino enviou agentes da PF para apreender celulares, computadores e revistar o carro de um deles. As emissoras de TV montaram acampamento na calçada da rua onde moram no interior, o que mobilizou o bairro inteiro.
O jornal O Globo conseguiu ir mais longe: produziu uma espécie de gibi com a reconstituição da cena — nela, o filho de Moraes, caracterizado como um adolescente, embora tenha 27 anos, leva um sopapo no rosto, e seus óculos são arremessados à distância. Essa cena jamais foi comprovada porque, provavelmente, nunca aconteceu.
Aos fatos: a cena cinematográfica da viagem de Moraes com a família à Itália surgiu logo depois de um problema de verdade, ocorrido em Brasília, com um colega da Corte: Luís Roberto Barroso. Às vésperas de assumir a presidência do tribunal, Barroso se sentiu à vontade para subir no palanque da União Nacional dos Estudantes (UNE), braço estudantil do PCdoB, ao lado do ministro da Justiça, Flávio Dino. Foi a primeira vez que um integrante do Supremo foi ao evento desde a década de 1930. Mas não foi só: Barroso se empolgou, afrouxou a gravata e, com o microfone em punho, disparou: “Nós derrotamos o ‘bolsonarismo'”. Ele nunca explicou o uso do pronome no plural — nós, quem? Se ele — ou outro juiz — faz parte da escalação do time vencedor, o discurso é confissão de um crime.
Um grupo de senadores apresentou pedido de impeachment pela participação do magistrado em atividade político-partidária, previsto no artigo 39 da Lei nº 1.079/50. O requerimento não foi analisado pelo presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Nos meses seguintes, de julho a dezembro, não foi reproduzida uma linha na imprensa tradicional sobre a fala de Barroso, tampouco Pacheco foi questionado. A reportagem de Oeste solicita, semanalmente, atualizações sobre o status do pedido de impeachment ao gabinete do senador, mas a resposta é protocolar: “Não houve andamento”. Já o entrevero com o filho do ministro Alexandre de Moraes foi amplamente revisitado, embora ninguém tenha obtido acesso às imagens. Uma comentarista da GloboNews, contudo, chegou a afirmar que “a agressão estava provada”.
O único agente da Polícia Federal que assistiu, de fato, ao filme contido nas câmeras do aeroporto produziu um laudo inconclusivo — ou seja, não conseguiu achar provas da agressão física. A polícia italiana tampouco atestou o confronto. A própria associação de peritos criminais brasileira reclamou da condução da investigação, já que nenhum profissional do ramo foi consultado. Por determinação do ministro Dias Toffoli, as imagens seguem sob sigilo. Por quê?
Cenas proibidas
Outro episódio que marcou o ano — e a gestão de Flávio Dino na Esplanada — foi o desaparecimento das fitas do circuito interno do Palácio da Justiça com as gravações do dia 8 de janeiro, quando Brasília foi palco de uma tarde de fúria na Praça dos Três Poderes. Dino estava no local, como ele mesmo descreveu em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo. Disse que “assistiu a tudo de camarote”. Estava sozinho? Falou com quem? Quem mandou a tropa da Força Nacional de Segurança cercar seu palácio em vez de conter a turba que vandalizou os prédios públicos? Durante todo o dia, ninguém percorreu corredores, o que forçaria o acionamento automático das câmeras?
Não é preciso ser perito em segurança patrimonial para saber que, numa data como essa, qualquer imagem é documento a ser preservado. Nenhum assessor de Dino se preocupou em guardá-las? O sumiço só ficou conhecido porque, depois de dezenas de tentativas, a CPI do Congresso Nacional conseguiu aprovar o acesso à videoteca do Ministério. Dino, contudo, mandou entregar duas fitas com imagens aleatórias do circuito externo. Depois, fez piada com quem apontou omissão de sua pasta.
“É um problema contratual, que acontece em empresas privadas. As imagens não vão mudar o que aconteceu: não vai aparecer disco voador nem nenhuma prova do terraplanismo. Esses que falam em omissão são amigos dos terroristas”, disse.
O terremoto Mauro Cid
O tenente-coronel Mauro Cid ficou preso de 3 de maio a 9 de setembro no Batalhão do Exército de Brasília. A ordem de prisão foi do ministro Alexandre de Moraes. Num dos tantos inquéritos que ele conduz, Mauro Cid é acusado de falsificar carteirinhas de vacinação contra a covid-19. Como o seu aparelho celular foi apreendido e vasculhado, ele passou a ser investigado em diversas frentes. Precisou trocar de advogado três vezes porque os defensores não aceitavam a proposta de assinar uma delação. Qual crime foi cometido? Provavelmente o fato de Cid ter trabalhado como ajudante de ordens — uma espécie de secretário — de Jair Bolsonaro.
Mauro Cid acabou assinando o termo de delação em troca de voltar para casa com uma tornozeleira eletrônica depois de quatro meses. Estava visivelmente abatido e magro. Foi proibido de dar entrevistas. Desde setembro, os grandes jornais do país, além de emissoras de TV, anunciam que sua delação é mais grave do que qualquer pedido de clemência feito pelos corruptos da Lava Jato. Mais: Jair Bolsonaro será preso, não há mais saída.
Mas, afinal, o que está registrado nessa delação? Por que até hoje a bomba não explodiu?
No Judiciário brasileiro, é muito raro um termo de delação permanecer em segredo por tanto tempo — os próprios advogados têm interesse em vazá-lo para a imprensa, como estratégia de defesa. Assim como a Polícia Federal e o Ministério Público também gostam de divulgá-lo como sinal de bom trabalho executado.
O subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos, responsável pelo inquérito, teve acesso a cada linha dos documentos. Em declaração à revista Veja, ele foi taxativo: “Achei tudo muito fraco”.
O jornal O Globo não gostou da entrevista e tentou fazer outra. O jornal perguntou, de novo, ao procurador: “Bolsonaro pode ser preso por algo que foi dito por Mauro Cid?”. A resposta: “São só narrativas, não há robustez para o oferecimento de denúncia”.
Carlos Frederico deixou o caso na semana passada, depois da posse de Paulo Gonet na Procuradoria-Geral da República.
“Ao delator que se propõe a firmar esse tipo de acordo, não basta possuir uma narrativa; ele tem que apontar os participantes de um crime e apontar, pelo menos, os caminhos até as provas para confirmarmos aquilo que ele falou. Por isso, há diversas decisões do Supremo Tribunal Federal que anulam esses acordos”
(Carlos Frederico Santos, subprocurador-geral da República, sobre Mauro Cid)
As cortinas de fumaça fazem parte da cartilha do terceiro mandato de Lula, desta vez em sociedade com o Supremo. O método é eficaz porque a imprensa tradicional publica as informações sem nenhuma checagem. Também serve para abastecer a militância nas redes sociais e ofuscar os problemas reais do país. É o novo truque de quem governa escondido.
Leia também “Como vota, senador?”
O consórcio PT / STF / TSE irá manter o país “deitado eternamente em berço esplêndido”.
A bandidagem assumiu o comando deste podre e insano país. Criminosos são protegidos e libertados, enquanto cidadãos honestos são perseguidos e presos, sem motivo algum. O Crime dita as leis.
Parabéns, jornalista corajoso!
Silvio, espero você pense com carinho na sugestão do leitor Cândido André.
É primeira dama ou primeira trama?
E o Rui Barbosa do Amapá deve estar com o bolso cheio …. cheio de frutos dos mal feitos. Repare ser muito comum na prática do Estado brasileiro, seja por leis, manifestações ou qualquer outro ato, tratar coisas sérias como brincadeira e brincadeiras como coisas sérias. Isso não é à toa. Faz parte de duas linhas de atuação comunista: a manipulação da linguagem (tem até livro sobre isso, infelizmente não sei o nome, mas já li algumas páginas e é excelente, quem indica é o pessoal do PHvox) e a desproporção (causando disfunção na lógica de juízos de valor, e isso quem explica é Olavo de Carvalho em um de seus muitos vídeos e áudios, também não me lembro qual especificamente, no qual ele cita o exemplo da má-interpretação forçada da infeliz frase “Estupra mas não mata”, mas a fonte tá registrada). Exemplos: autoridade de primeiro escalão pratica crime de peculato (é chamado de mal feito, irregularidade, como se fosse uma criancinha que vc diz: é feio, não faz isso, é caca, etc…). Já quando um mero mortal (escravo do Estado) erra uma publicação, aí é tratado com o rigor com que se trataria personalidades como o nacional-socialista Hitler ou o admirador de Karl Marx em sua juventude, Mussolini. Extra- Miguel Realle era integralista. Mais do que isso, na década de 30 era explicitamente fascista. Em um sebo li um pouco de seu livro dessa época, asqueroso. O filho dele, renomado só por ser filho dele, como é comum na “meritocracia classista corporativista jurídica brasileira remanescente das ordenações”, é amigo de nada mais nada menos que Marco Antônio Villa, um professor de história que é infelizmente é referência no Brasil. Enfim, são duas estratégias de dificílima neutralização: a perversão da lógica no juízo de valor e a manipulação da linguagem. Obs. justiça seja feita. Miguel Reale não era tão mal assim, no fim acho que ele sabia que tinha defendido o diabo, e o Código Civil Reale é muito bom e infelizmente o governo e sua base no Congresso estão planejando mudar o Código Civil, e será para muito pior, muito pior mesmo, não tenham a menor dúvida disso !!
Com a boa memória e atuação do Silvio Navarro, sugiro um novo quadro da Oeste, indo atrás de personagens outrora famosos e hoje esquecidos.
Marcos Valério, Antônio Palocci, EIke Batista, e tantos outros. Será que não tem nada a falar!?
Anotado aqui, Candido! Grande abraço!
Excelente análise!
Impossvel não assinar a Oeste! Estamos juntos!
Essa matéria tem que ser impressa e colocada na parede. Essa matéria tem que ficar registrada nos livros de história do Brasil, para que as pessoas vejam o absurdo que é a figura do estado. Grande abraço a todos da revista e se preparem, a censura irá aumentar e muito nesse país!
Excelente desvendamento
Excelente texto.
Muito esclarecedor e revisita situações que não foram esclarecidas mas fica no inconsciente do público.
Como não tiveram uma finalização, fica na cabeça da população apenas aquilo que foi apresentado pela grande imprensa.
Parabéns mais uma vez Silvio Navarro.
Obrigado, Eduardo! Feliz Natal!
Parabéns Silvio pela matéria . Governo desastroso não apresentou nenhum bom projeto , vive de narrativas e a cortina de fumaça muito bem colocada no artigo.
Silvio Navarro,sou sua admiradora.Sua memória,seus conhecimentos e argumentos nos ajudam e encorajam.
Muito obrigado, Alcione! Um abraço