Na noite de 22 de julho deste ano, um tremor de terra de magnitude 2,3 na escala Richter foi registrado na cidade de Seattle, nos Estados Unidos. Apelidado como “Swift Quake”, foi resultado de um concerto da cantora Taylor Swift no estádio de Lumen Field, no centro da cidade. O público de 70 mil pessoas pulando ao mesmo tempo e o sistema de som em altíssimo volume tocando Shake it Off fizeram a terra tremer. O fenômeno foi registrado pela sismóloga Jackie Caplan-Auerbach.
Para quem duvidou, a resposta veio no dia seguinte, 23. No segundo show, o tremor registrado foi praticamente o mesmo, com dois picos nos mesmos horários. “Coletei cerca de dez horas de dados em que o ritmo controlava o comportamento”, declarou Caplan-Auerbach à CNN Internacional. “A música, os alto-falantes, a batida. Toda essa energia pode penetrar no solo e sacudi-lo.”
Não foi o único feito titânico de Taylor Swift. Seu show Eras, que em três horas e meia apresenta músicas selecionadas de todos os seus álbuns, foi o primeiro da história a render mais de US$ 1 bilhão à artista. Aos 34 anos, a norte-americana de West Reading, no distrito da Pensilvânia, foi eleita a Pessoa do Ano pela revista Time.
Na lista das mulheres mais poderosas do mundo da revista Forbes, ela saltou do 79º lugar em 2022 para o quinto neste ano. A plataforma de streaming Spotify revelou que Taylor Swift foi a artista mais ouvida do mundo. A Amazon Music e a Apple Music também declararam a loura de longas pernas a artista do ano.
Taylor entrou para a restrita lista dos artistas bilionários (Jay-Z e Rihanna são os outros dois). Seu poder é tão grande que seu tour movimenta substancialmente as finanças dos lugares onde faz show. Por exemplo, em Denver, no Colorado, ela acrescentou US$ 140 milhões à economia local, com hordas de fãs animados gastando em hotéis, restaurantes e comércio em geral.
As Swifties
Seu público é muito jovem e feminino. Suas fãs são conhecidas como Swifties. É basicamente para elas que TS escreve suas canções. As letras contam histórias muito pessoais. Encorajam as garotas a conseguir o que desejam com fé e força de vontade. As Swifties agradecem lotando estádios com pulseiras de contas nos braços.
Esse público é tão fiel que, se Taylor Swift tivesse que pagar pela publicidade que já conseguiu com a divulgação nas redes sociais, a despesa seria, segundo a Forbes, de US$ 130 bilhões. A artista tem 279 milhões de seguidores no Instagram e 94,9 milhões no X.
Ela causou frisson no ano passado por refazer quatro dos seus álbuns do jeito que ela queria (as “Taylor’s Versions”), e não como a gravadora tinha lançado. Nesse dia, estabeleceu o recorde de maior número de streamings de 2023 do Spotify, Amazon e Apple. A procura para os seus shows foi tão grande que o Congresso norte-americano abriu um inquérito parlamentar para investigar a empresa Ticketmaster, que entrou em parafuso com tantos pedidos de ingressos ao mesmo tempo.
O show Eras dura três horas e meia, tem mais de 40 canções, 16 trocas de roupa, e recursos cenográficos como fogos e ilusão de óptica. Depois de conquistar as Américas (e faturar o bilhão), Taylor começará sua excursão pelo resto do mundo no dia 7 de fevereiro. Vai se encontrar com as Swifties do Japão, Austrália, Singapura, 12 países da Europa, e só vai parar em dezembro, no Canadá.
Taylor aproveitou uma tendência de mercado para megaespetáculos, como o dela e o de Beyoncé: filmar e lançar no cinema antes de mandar para as empresas de streaming. O filme The Eras Tour estreou no Brasil nos cinemas em 3 de novembro e, no Amazon Prime, nesta quinta, 21 (veja o box no final da reportagem).
200 milhões de discos
Taylor Alison Swift é filha de um casal que trabalhou no mercado financeiro. Aos 9 anos, já havia percebido que seguiria a carreira artística. Começou tocando violão e cantando num café de Stone Harbor, em Nova Jersey. Aos 11, viajou à capital do country, Nashville, no Tennessee, para fazer testes, mas foi rejeitada. Descobriu que não adiantava imitar as veteranas; ela precisava descobrir seu próprio caminho. Aos 12, passou a estudar mais a fundo as primeiras noções de composição.
A carreira profissional de TS começou oficialmente aos 14 anos, como cantora country. Ela lançou seu primeiro disco aos 15 — a gravadora havia percebido que havia um público de adolescentes que gostava desse tipo de música e que Taylor era a figura perfeita para cumprir essa função. Depois, ela foi se afastando do country em direção ao território mais amplo da música pop. Com o disco 1989 (ano de seu nascimento), despediu-se de vez do country.
Desde o início, a cantora aprendeu que precisava controlar a própria carreira. Seus números só cresceram desde então. Segundo a Wikipedia, Taylor vendeu até agora 200 milhões de discos, ganhou 117 certificados do Guinness World Records, foi nomeada três vezes como a maior vendedora de discos do mundo. Em seu apartamento em Tribeca, em Nova York, ela ostenta 12 prêmios Grammy e uma penca de outros troféus da indústria fonográfica.
‘Ela é estranha’
Sua caminhada para o megassucesso de hoje é, claro, cheia de variações nos arranjos e no clima, do country ao techno e ao pop. Seus fãs sabem de cor cada uma de suas canções. Quem não é fã tem dificuldade de diferenciar uma música da outra. Elas parecem cada vez mais permanecer na fórmula mais segura do pop internacional. Herb Scribner, colunista de música do Washington Post, descreveu a estrela da seguinte forma:
“Taylor Swift é estranha. Se você acha que ela é a maior cantora pop que já existiu, isso significa que ela é estranha. Se você acha que ela é tediosa demais para ser tão absurdamente famosa, isso também significa que ela é estranha. (…) Ela é claramente algum tipo de gênio, e obviamente é uma marca de superstar mais brilhante do que a maioria que veio antes, mas é a estranheza de Swift que acomoda todas as perspectivas. Pode ser sua característica mais essencial, mesmo que sua música pareça tão normal. E isso também é estranho.”
A revista Time a elegeu Pessoa do Ano (concorriam com ela Barbie, rei Charles III e Vladimir Putin). A justificativa: Taylor Swift teria encontrado uma maneira de “transcender fronteiras e virar uma fonte de luz”
Taylor Swift é uma linda mulher, inteligente, carismática, tem uma voz privilegiada, sabe dançar, compõe com facilidade. E tem o toque de Midas. Taylor passou pelo Brasil em novembro, e os fãs reclamaram da desorganização do evento, com bagunça nas filas e descaso da produção. Os ingressos iam de R$ 500 a R$ 2.250 (nos Estados Unidos, o preço chegou a US$ 900, cerca de R$ 4.500). Foi a turnê em que a fã Ana Clara Benevides faleceu após uma parada cardiorrespiratória no Estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro, por causa do excesso de calor.
Taylor Swift segue seu rumo. Não se mete em polêmicas nem expõe sua vida pessoal. Soube entender o mundo em que vive, onde a arte é cada vez mais um algoritmo a ser seguido. Suas letras são elogiadas pelas histórias que contam. A vida para ela não deve estar fácil, apesar de todo o dinheiro envolvido. Pois quem fatura US$ 1 bilhão num tour vai ter que faturar mais na próxima excursão (e provocar terremotos e tsunamis) — ou será considerado decadente.
‘Fonte de luz’
A revista Time a elegeu Pessoa do Ano (concorriam com ela Barbie, rei Charles III e Vladimir Putin). A justificativa: Taylor Swift teria encontrado uma maneira de “transcender fronteiras e virar uma fonte de luz. Ninguém mais no planeta pode mobilizar tão bem tantas pessoas (…) Swift é a rara pessoa que é a autora e a heroína de sua própria história. Universidades estão oferecendo cursos sobre as lições de Swift em literatura, negócios e leis. (…) Ela está escrevendo seu próprio mito, formado pela sua própria jornada. E tem sido épica”.
A Time vai mais longe na sua exaltação: “Como estrela pop, ela se senta com raras companhias como Elvis Presley, Michael Jackson e Madonna; como compositora, ela tem sido comparada a Bob Dylan, Paul McCartney e Joni Mitchell”. Parece um exagero. E é.
Apesar de tanta adulação, Taylor Swift parece não ter caído na armadilha do estrelismo. Seus gestos públicos são contidos. Ela não faz demagogia política. Suas declarações estão cheias de fragilidade num tom gente-como-a-gente. Mas seus críticos mais severos dizem que essa persona light esconde uma mulher ambiciosa, uma “cobra” que atinge seus objetivos com frieza. Outra de suas marcas é a franqueza. Uma de suas letras, Mastermind, dá uma pista do que Taylor acha de si mesma:
“Ninguém brincava comigo quando eu era uma criancinha
Então eu tenho planejado como uma bandida desde então
Para fazer com que me amem de um jeito que parece fácil”
Leia também “Fazendas de concreto”
Nesse mundo louco de Internet ainda é possível desconhecer grandes mitos pops. Nunca ouvi TS..
Ivete sem galo e sem público