Carta ao Leitor — Edição 197

O ano de 2023 começou com a prisão de centenas de brasileiros, a maioria formada por inocentes, responsabilizados pelo surto de vandalismo registrado em Brasília em 8 de janeiro. A partir daí, o Brasil ingressou ruidosamente no grupo de países que têm presos políticos. Entre eles estão Cuba, Venezuela, Coreia do Norte e China, além de outras deformações autoritárias.

O ano terminou com a condenação de muitos dos supostos vândalos a 17 anos de cadeia. Outros, considerados inocentes, fazem parte da inexplicável multidão de libertados que continuam presos a tornozeleiras eletrônicas. Um dos capturados no 8 de janeiro, Cleriston Pereira da Cunha, morreu no cárcere, mesmo depois de ter sua libertação recomendada pelo Ministério Público.

“Passamos o ano constatando como o Estado, com seus agentes, eleitos ou não, vai se distanciando de seu povo e agindo como se ele, Estado, é que fosse o senhor”, afirma Alexandre Garcia, em sua coluna. “Democracia vira rótulo enganoso, numa inversão em que o Estado não respeita o povo, e o povo teme o Estado.”

Enquanto o Brasil tenta absorver esses retrocessos, uma revolução tecnológica muda o mundo. O avanço da inteligência artificial, produzido pelo surgimento do ChatGPT, fez com que os humanos perdessem o monopólio da racionalidade. “Essa tecnologia é capaz de produzir, traduzir, criar, fazer arte, conversar, aconselhar, dispor de uma memória imbatível, realizar cálculos complexos e elaborar receitas de bolo, tudo ao mesmo tempo”, exemplifica Dagomir Marquezi, na reportagem de capa desta edição.

Segundo Dagomir, o planeta vive uma fase de descoberta de novas possibilidades, e elas aparentemente não têm limites. “A cada dia”, ele observa, “alguém vai aparecer com algo novo. Logo estaremos de alguma forma conjugando nosso cérebro com os instrumentos de IA”.

Esse é mais um dos muitos saltos ocorridos desde o surgimento do Homo sapiens. Há quase três anos, uma reportagem de Oeste mostrou outros. Essas evoluções e revoluções ajudaram o mundo a tornar-se um lugar cada vez melhor para os humanos. “O século 20 e o começo deste viram a diminuição da fome, das taxas de analfabetismo e da pobreza — e, simultaneamente, a expansão do uso de energia limpa, do acesso à informação e ao conhecimento, do desenvolvimento da medicina, da facilidade para viajar e do conforto para morar”, constatou a reportagem de fevereiro de 2021. 

Nesta virada para 2024, Oeste decidiu presentear os leitores com números que provam que o Brasil, embora continue entre os dez países mais desiguais socialmente, também é um lugar melhor para se viver do que era há algumas décadas. Liderado pela iniciativa privada, este Brasil viu a mortalidade infantil diminuir, a expectativa de vida crescer e se tornou o mais sólido dos pilares que garantem a segurança alimentar da humanidade. 

É sempre um consolo lembrar que o nosso país é muito maior que partidos, tribunais ou qualquer político. 

Oeste deseja a todos um feliz 2024.

Boa leitura.

Branca Nunes

Diretora de Redação