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Donald Trump, ex-presidente dos EUA e candidato presidencial republicano, durante evento das eleições primárias presidenciais de New Hampshire, em Nashua (23/1/2024) | Foto: Reuters/Elizabeth Frantz
Edição 201

Os papagaios ideológicos

Com o ex-presidente Donald Trump mostrando robustez para uma possível volta à Casa Branca, a velha e carcomida imprensa já repete como disco arranhado as bobagens ditas sobre ele

Ana Paula Henkel
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Este ano, o mundo verá mais um ciclo de eleições presidenciais na nação mais próspera do mundo. Os americanos ainda estão diante das primárias do Partido Republicano que apontará o candidato que enfrentará Joe Biden em novembro — se até lá os democratas não derrubarem o atual presidente, já que sua administração é um desastre histórico desde os primeiros meses e as pesquisas mostram que ele tem hoje o pior número de aprovação nos últimos 15 anos.

Com o ex-presidente Donald Trump liderando com enorme folga as primárias de seu partido e mostrando robustez para uma possível volta à Casa Branca, a velha e carcomida imprensa, ou assessoria de imprensa do Partido Democrata, já repete como disco arranhado as bobagens ditas sobre Trump durante mais de quatro anos: nazista, fascista, um perigo para a democracia, ditador… você conhece o repertório.

Mas o que chamam aqui nos Estados Unidos de “TDS” — “Trump derangement syndrome” —, uma reação irracional e estúpida ao nome de Donald Trump, atinge também terras tupiniquins. Nossos correspondentes internacionais, aqueles que, com sua empáfia e tom professoral, acostumaram-se a falar sozinhos durante anos, continuam não enxergando um palmo diante do nariz e seguem fazendo análises como se estivessem em uma arquibancada de jogos de 5ª série. A adjetivação infantil ao ex-presidente não mostra apenas uma cegueira ideológica, mas a completa falta de entendimento sobre o que acontece na América.

Donald Trump cumprimenta seus apoiadores antes de seu segundo julgamento civil, em frente à Trump Tower, no bairro de Manhattan, em Nova York (25/1/2024) | Foto: Reuters/Eduardo Muñoz

Outro dia, assisti a um programa de debates no Brasil sobre a eleição presidencial dos Estados Unidos e a TDS estava lá, mais presente do que nunca. Desta vez, a síndrome do nojinho a Trump era apresentada por um economista liberal e, inclusive, severo crítico do desgoverno de Lula e Biden. Suas falas e argumentos sobre o desastre econômico no Brasil sempre estavam embasados em números e constatações difíceis de serem refutados. O mesmo acontecia quando analisava as políticas energéticas de Biden e como elas afetaram os números inflacionários para os americanos.

Mas bastou o nome Donald Trump aparecer no debate que toda a sua lucidez se esvaiu. Parecia que o corpo do experiente economista havia sido abduzido diante dos meus olhos e agora em cena havia mais um papagaio ideológico repetindo absolutamente todos os jargões vazios de que “Trump é um maluco que vai acabar com a democracia americana”, blá, blá, blá…

Os números e ações de sua administração não deixam dúvidas de que Trump foi, sim, um excelente presidente para os americanos

E aqui entra o pragmatismo de quem em 2016 não tinha a menor simpatia pelo bufão do antigo Twitter. Naquele ano, o ex-presidente que agora tenta voltar à Casa Branca não era meu candidato favorito nas primárias republicanas. Meus nomes eram Ted Cruz e John Kasich. Porém, Donald Trump não apenas saiu das primárias, como derrotou Hillary Clinton em uma eleição histórica, quando as pesquisas apontavam uma gigantesca margem de vitória para a esposa de Bill Clinton.

Hillary Clinton, em 2016 | Foto: Shutterstock

Em 21 de janeiro de 2017, Donald J. Trump entrou na Casa Branca como o 45º presidente dos Estados Unidos da América. Será que ele “acabaria com a democracia” no país mais livre do mundo?

Infelizmente, para os falsos profetas do apocalipse, isso não aconteceu. Muito pelo contrário. Os números e ações de sua administração não deixam dúvidas de que Trump foi, sim, um excelente presidente para os americanos — mesmo com a imprensa, analistas ideólogos e economistas com TDS repetindo platitudes sem sequer mencionar os fatos de sua administração.

Em 2019, o historiador Victor Davis Hanson escreveu The Case for Trump, livro que apresenta argumentos a favor da presidência de Donald Trump e explora os fatores que contribuíram para o seu sucesso eleitoral em 2016. Hanson expõe que a abordagem não convencional de Trump na política, seu status de outsider e sua capacidade de se conectar com os americanos da classe trabalhadora foram elementos-chave em seu apelo. O livro analisa as políticas de Trump, incluindo sua posição sobre imigração, comércio e assuntos internacionais, enquanto examina as dinâmicas culturais e econômicas que ressoam com uma parte significativa do eleitorado americano.

Capa do livro The Case for Trump, de Victor Davis Hanson | Foto: Divulgação

Na obra, Hanson aconselha as pessoas a adotarem uma perspectiva histórica — e não a narrativa midiática — na avaliação das atividades e resultados políticos do governo Trump em questões-chave como nomeações judiciais, energia, crescimento econômico, empregos e política externa. Hanson, membro sênior da renomada Hoover Institution, em Stanford, estuda e escreve sobre história clássica e militar e aplica suas lições a questões políticas contemporâneas. Em uma recente entrevista, o acadêmico detalhou o que os papagaios ideológicos não conseguem enxergar:

O que Trump viu no eleitorado americano em 2016, e até hoje, que ninguém mais viu?

Uma sensação de que, culturalmente, a esquerda estava a levar o país para um território radical que começava a assustar metade do eleitorado, enquanto os republicanos do establishment estavam apegados a uma ortodoxia econômica antipática ao sagrado interior vermelho [republicano]. Então, em segundo lugar, a esquerda elaborou agendas pouco ortodoxas sobre comércio, indústria transformadora, imigração e política externa destinadas a conquistar aqueles que são largamente ignorados nos estados indecisos, especialmente no centro-oeste, refutando tanto o cálculo tradicional da campanha Democrata como a Republicana. Em terceiro lugar, os conservadores queriam um candidato que não seguisse as regras republicanas de campanha e de gestão dos meios de comunicação.

Por que ele incorre em tal desdém?

Uma série de razões. Pessoalmente, ele pode ser cruel e até grosseiro nas réplicas. Seu sotaque, aparência, vestimenta e comportamento são considerados não presidenciáveis pela elite das costas. Seu passado empresarial dificilmente é comparável ao de ex-presidentes. Ele foi considerado um excêntrico por ambos os establishments partidários e depois inexplicavelmente explodiu o regime de esquerda de 16 anos de Obama-Clinton, deixando os progressistas em estado de choque. O seu registro até agora em nomeações judiciais, energia, crescimento econômico, emprego e política externa é impressionante, contrariamente às terríveis previsões de que ele era incompetente e iria destruir a economia ou iniciar uma guerra. E ele poderá ter a capacidade de colher grandes porcentagens de círculos eleitorais democratas — os trabalhadores brancos e as classes sindicais remanescentes, claro, mas também 20% dos votos afro-americanos, e talvez 30%-40% dos votos latinos, o que seria próximo do eleitorado fatal para o cálculo eleitoral democrata e, assim, alcançar o que os estrategistas republicanos mais sóbrios e criteriosos haviam falhado até então. Em suma, alguém que parece, soa e age como Trump não deve ter sucesso de uma forma que muitos presidentes anteriores não tiveram.

Trump e o seu comportamento são diferentes dos presidentes anteriores?

Sim e não. Ostensivamente, ele é o nosso primeiro presidente sem experiência militar ou política anterior, e age nas suas palavras como “novo presidencial” (tuitava sem parar, ataques ad hominem, comícios de campanha intermináveis). Por outro lado, perdemos a perspectiva histórica na era de uma nova mídia negativa contra Trump o tempo todo e de jornalistas historicamente ignorantes — dado que presidentes anteriores como Kennedy, Johnson e Clinton, enquanto estavam no cargo, eram muitas vezes imprudentes em suas vidas pessoais, e ainda assim mais protegidos pela imprensa. Se o comportamento pessoal na Casa Branca, mesmo de um FDR ou dos antigos associados, como Harry Truman, fosse tão bem examinado e publicitado como o de Trump, então poderíamos ter opiniões diferentes sobre esses ex-presidentes bastante bem-sucedidos aos olhos de muitos e mais perspectivas sobre Trump. A internet e as redes sociais são multiplicadores de força destes tempos polarizados.

19 de dezembro
Bill Clinton com Monica Lewinsky, em fevereiro de 1997 | Foto: Wikimedia Commons/Reprodução
As políticas da administração Trump são boas para a América e para as pessoas que votaram nele e, em caso afirmativo, por quê?

Só podemos olhar para os dados dos primeiros 24 meses de sua administração, quando publiquei o livro, antes da pandemia, mas são números extraordinários: 3% de crescimento econômico anual, menos de 4% de desemprego em tempos de paz, produção recorde de gás e petróleo, excelentes escolhas judiciais, desregulamentação muito necessária, desemprego minoritário quase recorde, mercado da bolsa forte e uma inflação e taxas de juros baixas — contrapondo-se ao fracasso em resolver uma dívida de quase US$ 22 bilhões. Em particular, objetivos outrora considerados impossíveis se tornaram viáveis, como vimos com o aumento dos salários reais, aumentos constantes nos empregos na indústria e menos deslocalização e externalização no outrora anulado interior conservador.

No que diz respeito às políticas, acha que obtemos muito mais cobertura midiática das personalidades políticas e do comportamento de Trump do que das próprias políticas que foram implementadas?

Bem, acho que a maioria dos americanos, sim. Se compararmos os 90% de tempo negativo sem precedentes da mídia, as explosões de assassinatos de reputações cometidas por celebridades, os esforços para processar todos que questionassem as máquinas de votação para subverter a votação do Colégio Eleitoral, as tentativas de impedir iniciativas de Trump nos tribunais… nunca vimos tal esforço para desacreditar e destituir um presidente eleito. É bastante assustador que os inimigos de Trump não pudessem esperar até 2020 e ainda tentam derrubá-lo, mas no momento em que ele foi eleito procuraram usar quase todos os meios necessários para destituí-lo — bem para além da resistência legislativa do Partido Democrata, que agora foi substituído por uma nova geração de neossocialistas radicais genuínos.

Existe uma doutrina Trump? 

Existe um ceticismo em relação à governação global à custa do nacionalismo, e mesmo de alianças e acordos transnacionais — pelo menos na medida em que são considerados assimétricos e não são financiados igualmente pelos participantes. Dito isso, a agenda de Trump no exterior visa cada vez mais a conter a China de forma econômica, política e militar, e forçá-la a obedecer às regras comerciais internacionais antes que a sua influência econômica, população, forças armadas e capital redefinam a ordem global do pós-guerra em aspectos bastante diferentes e termos assustadores. Muitos aliados caricaturam publicamente Trump, mas, em particular, apreciam a restauração da dissuasão dos EUA.

Joe Biden, presidente dos EUA, aperta a mão de Xi Jinping, presidente chinês, na cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), em Woodside, na Califórnia (15/11/2023) | Foto: Reuters/Kevin Lamarque/Foto de Arquivo

Internamente, o trumpismo é um capitalismo populista de mercado livre — parte das tradicionais doutrinas econômicas conservadoras de desregulamentação, cortes de impostos e incentivo às empresas privadas misturado com a doutrina do comércio “justo”, em vez de “livre”, na medida em que Trump usa tarifas para forçar aliados e inimigos a concordarem com o comércio simétrico, embora não deixando o mercado julgar inteiramente a política social, enquanto ele procurava parar a deslocalização e a terceirização e manter os direitos para as classes médias.

Por mais que o ódio a Trump propagado pela repetição vazia de achismos dos papagaios ideológicos ainda impere na mídia, parece que sua retórica com o povo americano ainda é da máxima de John Adams, segundo presidente dos Estados Unidos, de que “fatos são coisas teimosas, e, quaisquer que sejam nossos desejos, nossas inclinações ou os ditames de nossas paixões, eles não podem alterar o estado de fatos e evidências”.

Leia também “Quais vidas negras importam?”

8 comentários
  1. Fernanda Spelta
    Fernanda Spelta

    toda a minha admiracoa ao G.Fiuza.
    espero encontrar esse livro. Sou de SP,Capital,Vl Madalena, e agradeco info p compra on line.
    obg.

  2. Jorge
    Jorge

    A impressão que eu tenho é que estamos em uma guerra. O oriente se organiza contra o ocidente, financiado pelos globalistas, que não possuem território físico, apenas financeiro.
    Como um bilionário como Trump, fará a interface entre os bem sucedidos globalistas e os que precisam vencer na vida, na medida que esse contingente de necessitados, significa o aumento de concorrentes contra os globalistas de plantão, que amam o sócio capitalismo como modelo de manutenção de suas posições financeiras ?

  3. Celso Ricardo Kfouri Caetano
    Celso Ricardo Kfouri Caetano

    Queira ou não o Ocidente hoje precisa urgentemente de pessoas como Trump, tem que ter ousadia e enfrentamento. Ditadores, terroristas não se combatem com palavras e ameaças. Milei chamado o Loco pela esquerda também irá colaborar com sua tendência de enfrentamento a esquerda. Mas precisamos de mais Trumps e Mileis.

  4. Luiz Antônio Ranquetat Dornelles
    Luiz Antônio Ranquetat Dornelles

    Ana assinei a revista somente para ler tua coluna parabéns luiz dornelles porto alegre

    1. Ana Paula Henkel

      Muito obrigada pelo carinho e confiança, Luiz! É um prazer e uma honra tê-lo aqui!

      Grande abraço!

      1. Jorge
        Jorge

        A impressão que eu tenho é que estamos em uma guerra. O oriente se organiza contra o ocidente, financiado pelos globalistas, que não possuem território físico, apenas financeiro.
        Como um bilionário como Trump, fará a interface entre os bem sucedidos globalistas e os que precisam vencer na vida, na medida que esse contingente de necessitados, significa o aumento de concorrentes contra os globalistas de plantão, que amam o sócio capitalismo como modelo de manutenção de suas posições financeiras ?

  5. Antonio Carlos Neves
    Antonio Carlos Neves

    Ana, venha nos socorrer por ao menos 8 anos como Senadora da República brasileira e lá com Tereza Cristina e Damares Alves fazer crescer a centro direita no Senado.

    1. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
      Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

      Verdade.

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