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Familiares e apoiadores protestam pela libertação dos reféns sequestrados no ataque fatal de 7 de outubro pelo grupo palestino Hamas, em Tel Aviv, Israel (20/1/2024) | Foto: Reuters/Alexandre Meneghini
Edição 201

O drama no cativeiro do Hamas

Israel acusa terroristas de torturarem os reféns, enquanto boa parte do mundo se cala diante das atrocidades

Eugenio Goussinsky
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Mia Schem, de 21 anos, foi alvejada no braço por uma metralhadora. Ela tentava fugir dos terroristas do Hamas que invadiram a festa rave no sul de Israel, em 7 de outubro de 2023. Cerca de 360 pessoas foram assassinadas na invasão. No total dos ataques pelo sul do país, o número de mortos foi de aproximadamente 1,2 mil.

Durante o ataque, Mia entrou em seu carro com uma amiga. Mas os pneus foram perfurados por tiros, o que a obrigou a parar. Ela contou os detalhes ao Canal 12, de Israel, depois de ser libertada, no dia 30 de novembro, após 54 dias de cativeiro. “Um caminhão cheio de terroristas armados passou, e um dos membros do Hamas olhou para mim e simplesmente atirou em meu braço, de muito, muito perto”, declarou.

Três dias depois, obrigada a vestir um hijab (o véu islâmico), a jovem foi levada para uma sala de cirurgia, onde foi operada “sem anestesia, nada”

Ferida, Mia se fez de morta, mas logo foi descoberta. Foi puxada pelos cabelos e levada a uma van que seguiu direto para Gaza. Segundo as Forças de Defesa de Israel (FDI), muitos dos sequestrados — principalmente crianças, idosos e jovens — são vistos pelos terroristas como instrumentos de barganha na negociação de troca de reféns por prisioneiros em Israel.

Mia Shem, de 21 anos, de Shoham, que foi sequestrada na festa em Reim | Foto: Reprodução

O Hamas, no entanto, não poupa os sequestrados de sofrimento, segundo o relato de Mia. “Quando chegamos a Gaza, eles me puxaram novamente pelos cabelos para fora do carro, me jogaram num quarto dos fundos de um hospital. Esticaram meu braço, o amarraram em um pedaço de plástico, e fiquei assim por três dias. Tinha certeza de que iriam amputar meu braço”, disse.

Três dias depois, obrigada a vestir um hijab (o véu islâmico), a jovem foi levada para uma sala de cirurgia, onde foi operada “sem anestesia, nada”. Depois da operação, ninguém nunca lhe fez um curativo. E ela foi enviada à casa de uma família apoiadora do grupo terrorista. Lá, conheceu o ódio gratuito dos moradores.

Sem tomar banho durante todo o período em cativeiro, Mia não recebeu nenhum medicamento ou analgésico. Recebia comida “às vezes”. Estava faminta. Houve um momento em que um dos filhos mais novos da família entrou em seu quarto e mostrou sua crueldade: “Chegou perto de mim, abriu o saco com a comida, fechou e saiu”.

Dias depois ela foi enviada para um túnel, onde viu outros reféns e passou seus últimos dias antes de ser libertada.

Mia Schem foi libertada para a Cruz Vermelha, após 54 dias de cativeiro em Gaza | Foto: Reprodução
Terror psicológico

Casos como o de Mia são vistos até como leves em relação à dramática vida no cativeiro do Hamas. Nas poucas ocasiões em que dá informações sobre os reféns, o grupo terrorista o faz por meio de imagens de alguns dos sequestrados afirmando que estão sendo bem tratados. O rosto abatido e o olhar atormentado dos reféns, no entanto, servem como uma mensagem de terror enviada aos familiares. São um sinal de que estão sendo torturados, conforme realça o governo israelense.

Segundo Rafael Azamor, representante para o Brasil do Fórum das Famílias de Sequestrados e Desaparecidos, boa parte da opinião pública, organizações como a Cruz Vermelha, também têm se calado em relação aos 136 reféns que ainda estão sob controle dos terroristas.

“Não temos prova de vida dos familiares”, afirmou Azamor. “Organismos internacionais como a Cruz Vermelha nunca dão qualquer tipo de informação aos familiares. Muitos reféns precisam de medicamentos, e não sabemos se estão tomando, por exemplo. Mas concluímos que os reféns não ficam sozinhos; estão sempre sendo vigiados por serem de grande valor nas possíveis trocas por terroristas presos em Israel.”

Descrição semelhante, sobre o terror psicológico, foi dada por outra refém libertada, a israelense Aviva Adrienne Siegel, de 62 anos, professora do jardim de infância. Ela comentou com a família a respeito das muitas situações vividas no contato diário com os membros do grupo radical.

O sobrinho de Aviva, Natan Siegel, de 38 anos, contou a Oeste que os extremistas eram duros e, quando deixavam as frases curtas de lado, faziam uma guerra psicológica com os reféns. “Os sequestradores enganavam, falavam como se a situação de Israel estivesse muito pior do que está na guerra”, ressalta Natan, que é casado com uma brasileira nascida em Curitiba (PR). “Eles também tentavam aterrorizar dizendo que Israel tinha deixado os reféns de lado, que eles iriam morrer sozinhos.”

Organizações como a Cruz Vermelha também têm se calado em relação aos 136 reféns que ainda estão sob controle dos terroristas | Foto: Shutterstock
As mentiras do Hamas

Em 7 de outubro, Aviva Siegel e seu marido, Keith Samuel, estavam em casa no kibutz Kfar Aza, onde vivem há mais de 40 anos. Eles se esconderam no chamado quarto seguro durante a invasão, mas foram capturados. Keith continua em cativeiro.

Natan confirma que sua tia ainda se ressente dos traumas daquele período. E que se mantém intranquila porque seu marido não retornou com ela. “Ainda há coisas que ela não está disposta a falar, mas talvez com o tempo ela vai, e, se não, está tudo bem, não precisa dividir tudo”, conta o sobrinho. “O importante é que ela está conosco.”

O Hamas ainda utiliza a propaganda para divulgar números imprecisos a respeito das vítimas dos ataques de Israel. “As armas mais fortes do Hamas são as mentiras e a propaganda”, diz o reservista Roi Yanovsky. “É o seu combustível. Foi assim que reforçaram a mentira do ‘cerco’ durante anos, e é isso que está sendo feito agora com as imagens de vítimas e o assassinato de ‘jornalistas’ que se revelam depois agentes terroristas.”

Ele prossegue em seu depoimento, depois de ter passado cem dias em combate contra os terroristas. Ele se lembra do caso em que um míssil lançado pela Jihad Islâmica atingiu um hospital de Gaza, e a culpa foi imediatamente atribuída a Israel. “Gaza é o único lugar no mundo onde são relatadas 500 mortes meia hora depois de uma explosão”, afirma o militar. “Mesmo em caso de terremotos e catástrofes graves, as forças de resgate demoram vários dias para identificar e estimar o número de vítimas, mas o Ministério da Saúde palestino [do Hamas] conhece os danos exatos um minuto depois da explosão. É ridículo, e o fato de a mídia mundial citar os números como palavras sagradas é patético.”

Em 7 de outubro, Aviva Siegel e seu marido, Keith Samuel, foram capturados. Keith continua em cativeiro | Foto: Reprodução
A omissão do governo brasileiro

Um caso que mostra o absurdo da situação é a total omissão com relação ao brasileiro Michel Nisenbaum, de 59 anos. Michel desapareceu na manhã de 7 de outubro, e não houve notícias a seu respeito.

No dia 7 de outubro, Michel, que nasceu em Niterói (RJ), foi buscar a neta na base de Reim, onde o pai dela é soldado. No caminho, se deparou com os terroristas. O carro que dirigia, vindo de Sderot, onde mora, foi encontrado todo queimado.

A irmã de Michel, Mary Shohat, de 66 anos, acredita que ele esteja vivo, porque foram rastreados sinais de seu notebook em Gaza. Ela tem uma forte relação com o irmão, que a ajuda a cuidar da mãe, Sulmira, de 87 anos.

Mary, também brasileira, fez parte da comitiva de familiares, junto com uma das filhas de Michel, Hen Mahluf. Elas estavam no grupo que veio ao Brasil em campanha para que os governos aumentassem a pressão pelo retorno dos reféns.

As duas foram recebidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Lula prometeu que iria tentar buscar soluções, mas até agora nenhuma atitude foi tomada. O encontro ocorreu no dia 11 de dezembro de 2023. De lá para cá, afirma Mary, a incerteza continua a mesma. “Até agora não houve nenhuma novidade em relação ao mês passado. Nenhum refém que voltou sabia algo sobre o Michel.”

A brasileira também é uma das participantes das comissões que têm exigido do governo de Israel uma solução para que os sequestrados retornem. “Falamos com políticos, no Parlamento, temos toda semana reunião com juízes, inclusive brasileiros. Estamos fazendo tudo o que podemos e o que não podemos.”

Esperando por um milagre

O drama deixou as famílias esgotadas, segundo Mary. É por isso que praticamente todas elas consideram que a guerra deve ser encerrada agora, com o retorno de seus familiares. Mesmo que a infraestrutura do Hamas não seja destruída em sua totalidade.

“Por mim, a guerra deveria terminar agora, para que todos os reféns sejam libertados”, desabafa a brasileira, que mora em Israel desde 1973. “São 136 os reféns nas mãos do Hamas. Já morreram pelo menos oito, os corpos estão lá. Precisamos parar a guerra porque, senão, não haverá mais pessoas com vida para voltar.”

“Essa busca me faz seguir em frente”, diz Hen, uma das filhas de Michel. Ele tem ainda outra filha, Michal Ben David, e cinco netos. “Eu não iria resistir um dia sequer se ficasse deitada em casa esperando por um milagre.”

“As notícias não vêm, mas mantenho a esperança”, insiste Mary. “Se eu não tiver esperança, o que vou fazer? A esperança é a última que morre.”

Leia também “O Brasil sem Pelé”

6 comentários
  1. Gilson Herz
    Gilson Herz

    Os vermes do Hamas precisam ser eliminados um por um, bem como os vermes que governam esse nosso País.

  2. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Se nós leigos alcançamos essas informações por causa da Internet e sabemos onde está o bem e mal, como pode alguém acreditar em Lancelote Lula STF TSE CNJ STJ MPF parlamentares de esquerda imprensa tradicional, se todos eles apoiam o Hamas? Nós brasileiros não acreditamos em terrorista nem em comunista nem em ladrão nem em narcotraficante, toda população brasileira acredita no aristotelismo

  3. José Luís da Silva Bastos
    José Luís da Silva Bastos

    E o PT está bem quietinho e não chama o Hamas de terrorista,,partido podre.

  4. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Aterrorizante essa situação. Que o bravo povo israelense consiga superar.

  5. FATIMA
    FATIMA

    HAMAS são carniceiros satânicos. Desgraçados.

    1. João Luiz Marassi
      João Luiz Marassi

      Crueldade extrema contra inocentes. São seres humanos ou são monstros?

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