A palavra mais utilizada pelo economista Adriano Pires para definir a atual estratégia da Petrobras é “insensata”. “A empresa está investindo, tomando decisões e fazendo escolhas olhando para o espelho retrovisor, e não para o para-brisa. Um dia vão bater em algum poste”, diz.
Depois de mais de 30 anos atuando no mercado de óleo e gás, Pires se tornou um dos maiores especialistas em energia do Brasil. Foi um dos criadores da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), contribuindo para a elaboração da Lei nº 9.478, de 1997. Sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), foi, provavelmente, o único cidadão brasileiro que recusou o convite para se tornar presidente da Petrobras. “Preferi declinar, geraria problemas demais na minha vida”, explica.
Segundo Pires, a Petrobras voltou a ser utilizada como um braço de política fiscal do governo federal, visando mais a um retorno eleitoral do que financeiro. Em detrimento dos acionistas privados. “O governo não entendeu que a Petrobras não é uma estatal, é uma empresa mista, com boa parte do capital nas mãos de investidores privados”, observa.
Para Pires, os investimentos em refinarias, como a Abreu e Lima, ou a tentativa de reverter privatizações ocorridas no passado, como a Vibra (antiga BR Distribuidora) ou a Refinaria de Mataripe (BA), não têm o menor sentido econômico.
Mesmo assim, após um ano de gestão do Partido dos Trabalhadores (PT), a Petrobras se encontra numa situação muito melhor do que o mercado imaginava. “Todo mundo achava que o novo governo chegaria arregaçando a estatal. Foi menos pior do que esperávamos.”
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, declarou no final do ano passado que a empresa voltaria a investir em refinarias. E na semana passada foi anunciado um novo investimento bilionário na Abreu e Lima. Essa estratégia faz sentido?
É uma notícia ruim, mas que o mercado estava esperando a qualquer momento. Durante a campanha eleitoral, o presidente Lula sempre deixou muito claro que era contra a venda de refinarias. Mesmo que a decisão tivesse sido tomada via Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica]. A Petrobras tinha assinado um acordo com o Conselho para vender 50% de sua capacidade de refino e ficar apenas com as refinarias de São Paulo e do Rio de Janeiro. O objetivo era aumentar a competitividade do setor de refino no Brasil. Com o novo governo, esse entendimento foi rasgado.
Mas, do ponto de vista técnico, faz sentido esse investimento?
É um absoluto nonsense. Abreu e Lima é um projeto condenado. Está tudo errado. Começou errado, continuou errado e vai acabar errado. Agora, o que é ainda mais lamentável é o discurso do presidente Lula tentando justificar a retomada das obras com argumentos ideológicos. Ele poderia até usar questões técnicas para justificar esse investimento, já que a refinaria, se finalizada, poderá produzir bastante diesel. Além disso, essa obra está parada há muito tempo e, quanto mais tempo demora, mais cara fica. Haveria até uma história a ser contada do ponto de vista técnico. Mas outra vez estamos cometendo um erro do ponto de vista ideológico.
Quando tomou posse no ano passado, Prates deixou claro que sua gestão seria marcada pela retomada de todas as atividades onde a estatal historicamente atuou, da extração do petróleo ao posto de gasolina. Isso faz sentido?
Não. É um modelo atrasado e ineficiente, que não traz benefícios nem para a empresa, nem para os acionistas, incluindo a União, nem para o setor de petróleo como um todo. O PT está cometendo um erro enorme. Eles estão atrelados a crenças de um passado que já passou. E não foi bom. Parecem não entender que olhar para o retrovisor é pior do que olhar para o para-brisa. Os erros cometidos nas gestões passadas são evidentes para todos. Sem contar que o modelo tradicional da indústria petrolífera “do poço ao posto” não existe mais em nenhum país do mundo. E onde ainda persiste é muito menos eficaz. O mundo mudou, mas parece que eles não perceberam.
O mercado também parece não ter percebido, pois as ações da Petrobras em 2023 acabaram se valorizando quase 30%.
No ano passado o mercado tratou muito bem a Petrobras. No começo do novo governo, todo mundo achava que Lula entraria rachando a empresa. Mas essa nova política de preços acabou não sendo aplicada, e de fato a estatal manteve certa paridade com as cotações internacionais. Além disso, o petróleo ajudou, pois acabou caindo em nível mundial. Então foi possível reduzir o preço no Brasil também. Agora, em 2024 vai começar a verdadeira gestão do PT da Petrobras. E o mercado vai perceber.
Mas como é possível que ações de uma petrolífera se valorizem quando o petróleo cai?
Esse é o paradoxo da Petrobras: é a única petrolífera do mundo que prefere petróleo em queda do que em alta. Porque, se o preço subir demais, o governo vai querer interferir para represá-lo, e isso vai acabar devastando as contas da empresa. Já vimos esse filme no passado. Agora o mercado aprendeu. Além disso, há uma questão de pragmatismo também por parte de Lula.
Em que sentido?
Aos anúncios nem sempre seguem os fatos. E o mercado também aprendeu a decifrar as falas do presidente. Por exemplo, estamos em ano eleitoral, e Lula quer ajudar a eleger os prefeitos do seu partido. É claro que anunciar um investimento de R$ 8 bilhões numa refinaria do Nordeste soa bem para os ouvidos do eleitorado local. Agora, o mercado vai aguardar para ver se isso tudo será feito mesmo. O governo prometeu no passado refinarias no Ceará e no Maranhão, e não aconteceu coisa nenhuma. Nem mesmo o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) está completo. A Petrobras sempre foi utilizada para angariar votos e agradar aliados.
O governo está utilizando a Petrobras mais uma vez como braço de política industrial, para realizar investimentos que não cabem no orçamento público?
Essa parece ser a tendência, mas a Petrobras já mostrou no passado que não aguenta. A estatal se tornou a empresa mais endividada do mundo. Chegou um momento em que a empresa não tinha nem balanço. Teve processo em Nova York. A história recente mostra que a Petrobras não é para isso. Ela é uma empresa de capital aberto. O governo deveria trabalhar para ela gerar lucro, pagar dividendos. Aí, sim, o governo, como maior acionista, faria o que quisesse com esse dinheiro. Já se sabe que usar a Petrobras como instrumento de política vai levar a empresa, sem a menor dúvida, para a situação calamitosa anterior. A Petrobras não vai aguentar esses desaforos todos que parecem estar pela frente.
O senhor chegou muito perto de ser presidente da Petrobras. Se estivesse no comando da empresa, quais investimentos priorizaria?
Os que dão mais retorno para a Petrobras. Principalmente a exploração de petróleo do pré-sal, onde a empresa é provavelmente a líder mundial. E onde estão as maiores margens de ganho. O refino, assim como a distribuição e outras atividades em que a Petrobras quer voltar a investir, têm margens muito menores, por isso não faz sentido a empresa gastar dinheiro e energia. O que o governo precisa entender é que a Petrobras não é uma estatal, é uma empresa mista. O governo detém a maioria das ações, mas mesmo assim tem a obrigação de prestar contas para seus acionistas privados. Entre os quais muitos são estrangeiros.
O senhor acha que o governo poderia atuar para fechar o capital da Petrobras ou recomprar ações a fim de reduzir a presença de investidores privados?
Acho que o governo não vai fechar o capital da Petrobras. Além das questões políticas ou jurídicas, uma operação como essa demandaria uma quantidade absurda de dinheiro que o governo não tem como conseguir. Mas ele vai continuar a olhar para a Petrobras como se a empresa fosse uma “estatal pura”. Basta ver o que está acontecendo agora com a Vale. Uma empresa privatizada, e Lula quer absolutamente colocar Guido Mantega no comando. Por uma questão que ele considera de “justiça”, de “reparação histórica”. Também estamos vendo uma campanha do presidente Lula querendo reestatizar a Eletrobras.
“O governo está cometendo com a Petrobras o mesmo erro que levou a Argentina para onde ela está hoje. E isso assusta”
O discurso de Prates e de Lula antecipam uma volta do monopólio no refino por parte da Petrobras?
O monopólio na extração de petróleo acabou em 1997, com a Lei nº 9.478. Mas o monopólio do refino, de fato, não foi alterado. O acordo com o Cade seria a solução para esse problema. E, mesmo assim, a Petrobras manteria 50% do mercado, ou seja, continuaria sendo o ator dominante. Monopólio é algo muito complicado e muito ruim. Monopólio é falta de transparência, por isso que não é bom para o consumidor — nem monopólio público nem privado. O discurso do presidente Lula não é bom para o Brasil. Afasta os investidores internacionais e só traz instabilidade regulatória e insegurança jurídica.
No mesmo discurso, Lula chegou a falar da Eletrobras. Você espera mudanças nessa empresa também?
É muito difícil, mas nada é impossível. A única certeza é que, com esses discursos, não apenas a área de petróleo e gás ou a de energia elétrica acabam sendo abaladas. Toda a economia entra num clima de incerteza. Principalmente a infraestrutura, que é um setor intensivo de capital e com investimentos de longo prazo. Não aprendemos nem mesmo com nossos vizinhos. Veja o caso da YPF, a Petrobras argentina. Ela foi privatizada nos anos 1990. Os espanhóis da Repsol compraram. Em 2012, o governo de Cristina Kirchner estatizou de novo. Agora Milei quer privatizar mais uma vez. Mas quem vai comprar, sabendo desse histórico? Com a incerteza de uma reviravolta futura? Só fundos especulativos, não investidores sérios, e não quem quer fazer investimentos de longo prazo. O governo está cometendo o mesmo erro que levou a Argentina para onde ela está hoje. E isso assusta.
Mas como é possível que o governo não entenda esse risco?
Evidentemente estão olhando mais para o retorno político do que para os números. Quando se abriu o mercado de petróleo no Brasil, no fim dos anos 1990, começaram a ser realizados os primeiros leilões. Naquela época, o Brasil produzia 800 mil barris por dia. Hoje o Brasil produz 3,1 milhões de barris por dia. Somos o nono maior país produtor de petróleo do mundo. E vamos chegar a 2030 com 5 milhões de barris. O Brasil é, hoje, um grande protagonista mundial do setor de produção de petróleo. Ao contrário, no setor de refino, que nunca foi aberto, o Brasil passou da autossuficiência nas décadas de 1960 e 1970 para ser um importador. Com certeza, se tivéssemos aberto o mercado de refino, hoje seríamos um exportador de gasolina, de diesel, de GLT. Faz muito mais sentido do ponto de vista econômico esse petróleo produzido no Brasil ser refinado internamente do que ser exportado. Mas a Petrobras não consegue fazer isso.
A Petrobras está tentando entrar no capital da Refinaria de Mataripe (BA). E a empresa proprietária já acusou a estatal de estar praticando preços predatórios vendendo petróleo mais caro para ela. O governo declarou guerra para a única grande refinaria privada do Brasil?
De fato, o que a Refinaria de Mataripe está dizendo é que no ano passado o governo vendeu para ela barris de petróleo mais caros do que vendia para outras refinarias da Petrobras. Tanto é que a Acelen, controladora da refinaria, entrou com uma reclamação no Cade acusando a Petrobras de estar usando seu poder de monopólio para prejudicá-la. No final do ano tentaram chegar a um acordo em que a Petrobras colocou que pode voltar a ser sócia da refinaria da Bahia e também do novo projeto da Acelen, de energias renováveis. Dessa maneira, se isso acontecer, seria um jeito de reforçar o monopólio.
Vale a pena comprar ações da Petrobras hoje?
Com o atual governo, as ações da Petrobras sobem ou descem na base de uma canetada. Quando começa uma intervenção na empresa, o mercado reage muito mal. As ações da Petrobras não têm o mesmo desempenho de ações da Shell ou da Exxon, que sobem ou descem em função da gestão, em função do mercado. A Petrobras, não. Por isso, comprar ações da Petrobras hoje poderia ser algo próximo de uma loucura.
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A quadrilha de volta a cena do crime.
Pois é, Adriano Pires foi sério quando indicado para a presidência da Petrobras. Houve um discutido “conflito de interesses” porque ele era presidente da uma consultoria de energia. Agora o tal do Prates que além de ter sido “senador”, tinha também empresa de consultoria de energia e participou de missões internacionais do CONSORCIO DO NORDESTE, aquele que pagou R$50 milhões para compra de respiradores de uma empresa de maconha e nunca recebeu a mercadoria. Agora como presidente da Petrobras levou para a diretoria financeira da empresa Sergio Caetano Leite no passado foi subsecretario do Consorcio do Nordeste. Muito estranho esse relacionamento que no passado recente impediria as 2 nomeações.
Fui mais de 30 anos acionista da Petrobras e participei daquela méga capitalização em 2010 que nos cobrou US$8,51 por barril para pagamento à cessão onerosa de 5 bilhões de barris que nos custou $42,55 bi para pesquisar e explorar petróleo a 7000 mts. do nivel do mar no famoso pre-sal. Para não perdermos participação compramos ações da Petrobras a R$26,30 e somente após 2018 começamos a receber o retorno desse investimento com os governo Temer e Bolsonaro.
Agora essa cambada usa recursos publicitários da Petrobras para comprar a velha imprensa e fazer propaganda do governo com aquela singela mensagem GOVERNO FEDERAL- UNIÃO e RECONSTRUÇÃO.
O que fariam se recebessem a Petrobras quebrada como Temer recebeu em 2016?
Pior é o especulador do mercado financeiro badalando essa gente inútil
“*GUARATINGUETÁ SP BR*” #AcordaBrasil – Um DESgoverno. Como diz a Ana Paula *TRANCA A PAUTA*