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Dilma Rousseff, ex-presidente da República e atual presidente do Banco do Brics, na sede do BNDES, no Rio de Janeiro (6/12/2023) | Foto: Pedro Kirilos/Estadão Conteúdo
Edição 202

Não há perigo de melhorar

Lewandowski mudou de endereço para que o Brasil continue onde está

Augusto Nunes
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“O Lewandowski, que eu conheço lá de São Bernardo…”, começou o discurso do presidente Lula na cerimônia de posse do novo ministro da Justiça. O que disse depois da pausa deve ter feito o coração do nomeado bater em descompasso: “E é importante eu dizer a vocês que eu conheci a mãe do Lewandowski mais do que ele. Era uma senhora extraordinária”. Outra pausa. Será que ele vai contar tudo?, empalideceu o filho na segunda pausa. O susto só passou quando Lula resolveu esquecer aquela mulher inesquecível para queixar-se de problemas presentes. Naquele momento do palavrório, o que mais o incomodava eram os salários pagos aos integrantes do primeiro escalão. Segundo o orador, estão muitíssimo abaixo do nível profissional das sumidades que juntou no mais obeso ministério da história.

A história que Lula deixou de contar reafirma que o Brasil não é mesmo para principiantes. Quando era vizinha da família Lula em São Bernardo, a matriarca dos Lewandowski vivia louvando as virtudes do filho doutor. Marisa Letícia já descansava no posto de primeira-dama quando soube que o marido estava à procura de alguém formado em Direito para preencher uma vaga aberta inesperadamente no Supremo Tribunal Federal. A mulher do chefe lembrou-se das conversas com a mãe extremosa, encampou os elogios e sugeriu a Lula que incluísse entre os candidatos aquele Ricardo com sobrenome complicado. Márcio Thomaz Bastos, ministro da Justiça e conselheiro presidencial para questões ligadas ao Pretório Excelso, fez meia dúzia de consultas e confirmou que o indicado era simpatizante do PT. Portanto, não havia pedras no caminho.

Lula, entre Ricardo Lewandowski e Flávio Dino, durante a cerimônia de posse do novo ministro da Justiça e Segurança Pública | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Em 16 de março de 2006, Ricardo Lewandowski vestiu a toga pela primeira vez. Nos 17 anos seguintes, não perderia uma única e escassa chance de mostrar no plenário do STF o tamanho da gratidão pelo emprego parido em conversas entre vizinhas. Revisor do julgamento do Mensalão, negou uma a uma a enxurrada de bandalheiras devassadas pelo relator Joaquim Barbosa. Na luta pela absolvição dos culpados, deixou claro que também no Egrégio Plenário não há limites para a chicana. Nem para a pouca vergonha. Depois de uma sessão especialmente crispada, durante uma conversa por celular com um irmão, indo e vindo no jardim de um restaurante a que chegara para jantar, descuidou do tom de voz e deixou escapar que José Dirceu só não fora inocentado porque alguns ministros haviam votado “com a faca no pescoço”.

Liberada para disputar o cargo que quisesse, Dilma Rousseff resolveu virar senadora por Minas Gerais nas eleições de 2018. Depois de caprichar no papel de “vítima de um golpe de Estado de cunho misógino”, amargou um desmoralizante quarto lugar

No discurso, Lula revelou que o convidado hesitou em aceitar o novo cargo porque finalmente começara a prosperar como advogado de bandidos da primeira classe. Os irmãos Joesley e Wesley, por exemplo, figuram entre os fregueses que aceitam pagar honorários calculados em dólares por minuto. São ignorados os argumentos e promessas expostos por Lula para convencer Lewandowski a trocar essa mina de ouro por um salário inferior até ao que ganhava no Supremo. Sobretudo porque o agora ministro da Justiça nunca deixou de lembrar, mesmo a companheiros mais afortunados, que é preciso armazenar dinheiro suficiente para garantir uma velhice sem sobressaltos financeiros. Foi essa uma das linhas que balizaram sua atuação num dos capítulos mais delirantes da história do Brasil: o fatiamento do impeachment, brasileirice concebida na sessão do Senado que consumou o despejo de Dilma Rousseff. Pior presidente da história, perdeu o emprego mas manteve os direitos políticos sem os quais não é possível pendurar-se no gigantesco cabideiro de empregos públicos.

Ex-presidente Dilma Rousseff | Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

O comando da sessão ocorrida no Congresso em 31 de agosto de 2016 foi dividido pelos presidentes do STF, Ricardo Lewandowski, e do Senado, Renan Calheiros. Convencido de que a perda do cargo era inevitável, a dupla decidiu interpretar o texto constitucional com contorcionismos de bailarino russo, na tentativa de revogar ao menos por um dia o trecho que inabilita o alvo do impeachment, por oito anos, para o exercício de função pública. Nesse esforço, o carioca Lewandowski tentou inutilmente emocionar a plateia com o choro convulsivo sem lágrimas: “A pena inabilita a condenada ao exercício de qualquer função pública — de professor, de servidor de uma prefeitura, até de uma merendeira de um grupo escolar”, exemplificou o ministro. A conversa fiada foi ampliada pelo alagoano Renan: “No Nordeste, costumam dizer uma coisa com a qual não concordo: ‘Além da queda, coice’. Nós temos de julgar, mas não podemos ser maus, desumanos”, fingiu compadecer-se o líder da bancada do cangaço.

Liberada para disputar o cargo que quisesse, Dilma Rousseff resolveu virar senadora por Minas Gerais nas eleições de 2018. Depois de caprichar no papel de “vítima de um golpe de Estado de cunho misógino”, amargou um desmoralizante quarto lugar. Sem currículo para tentar a vida de merendeira, instalou-se em Porto Alegre, conseguiu um cargo remunerado no segundo escalão do PT e, fantasiada de perseguida política, infiltrou-se na multidão de contemplados por indenizações e mesadas distribuídas por três comissões estaduais de anistia. A aposentada de 78 anos furou a fila do INSS para embolsar outros R$ 5 mil mensais sem ter apresentado todos os documentos necessários. Em março de 2023, excluída do bando de 38 ministros, seguia reivindicando a quarta e mais cobiçada “bolsa ditadura” — a concedida pelo governo federal — quando soube da notícia inverossímil: por decisão de Lula, a antiga assaltante de bancos seria alojada na presidência do Novo Banco de Desenvolvimento, o Banco do Brics.

Alojada por conta da instituição financeira numa residência em Xangai que abrigaria confortavelmente todos os antigos companheiros de luta armada, afagada por privilégios só acessíveis aos podres de rico, a ranzinza monoglota que tenta expressar-se num subdialeto indecifrável, derrapa nas quatro operações, berra que 30% de 30% não é 30% de 30% e quase quebrou o Brasil embolsa salários mensais calculados em US$ 50 mil (cerca de R$ 257 mil). Até o fim do mandato, em 6 de julho de 2025, não tem motivos para preocupar-se (e também depois desse prazo poderá falar sozinha e em paz frases inteiras em dilmês castiço). A menos que continue achando, como achava na infância, que uma cédula cortada ao meio passa a valer o dobro.

No Brasil, só é considerado um maluco sem remédio quem rasga dinheiro. Se fizer isso, Dilma não conseguirá ser merendeira sequer em alguma escola dirigida e frequentada por napoleões de hospício.

Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Leia também “O rancor dos velhos pecadores”

29 comentários
  1. Indignado
    Indignado

    Esta coluna vai entrar para o panteão dos melhores textos já escritos sobre politica bostileira. Esse é o país da piada pronta.

  2. Douglas Gonzaga da Silva
    Douglas Gonzaga da Silva

    Excelente texto Augusto, parabéns pelo trabalho primoroso como de costume. Parabéns a todos que contribuem com a melhor revista do país! Deus abençoe ricamente.

  3. Luiz Marcelo Chiesse da Silva
    Luiz Marcelo Chiesse da Silva

    Uma vergonha, e não há como esperar algo melhor deste desgoverno.

  4. Ernesto Quast
    Ernesto Quast

    Parabéns! As pessoas de bem precisam se envolver na política, senão só sobra esses parasitas, que só se preocupam com o próprio umbigo. É importante valorizar os escassos políticos de bem, não generalizar, para que não se desmotivem, já carregam um peso hercúleo. Melancias, doutrinadores em escolas, dólar na cueca, o que mudou foi que antes era disfarçado. Atualmente, em todo o planeta a coisa é escrachada, a ponto de não se poder falar que o vírus chinês veio da… China! Intencional, acidental? Financiado? Aguardemos o vírus X. Enquanto isso, vamos trabalhar para colocar verdadeiros representantes, que sejam a favor do voto distrital e confirmação do voto após 2 anos.

  5. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    A caterva continua seu projeto de destruição do país.
    Até quando iremos tolerar estas práticas?
    O que devemos fazer com nosso Congresso?

  6. Dayse de Moraes Santos
    Dayse de Moraes Santos

    Parabéns ! Como sempre um artigo maravilhoso, obrigada!

  7. Hugo F Vieira Neves
    Hugo F Vieira Neves

    Abro a Oeste diariamente apenas para ler e reler os artigos do Mestre Augusto Nunes, o habilidoso domador da língua materna e insigne operador da inteligência emocional linguística. Claro que não perco outros ases: JR Guzzo, Ana Paula, Fiuza, Constantino etc.

  8. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    “Advogado de bandidos da primeira classe”. Este é o Ricardo Lewandowski.

  9. juscelio dos Santos
    juscelio dos Santos

    Senhor Augusto Nunes, um craque em redação, um craque na análise dos fatos. Parabéns

  10. Francisco Nascimento Garcia
    Francisco Nascimento Garcia

    Houve uma época também que os sinistros tinham rusgas entre si e em uma ocasião o microfone aberto da #GloboLixo captou o que seria uma “ameaça” que Lewandowski fez a PToffoli!
    Nenhum dos integrantes do supremo presta, mesmo aqueles indicados por Bolsonaro!

  11. Rafael Lima Bechtlufft
    Rafael Lima Bechtlufft

    Dilma tinha que montar um standup, faria muito sucesso. Mas tem que ser de improviso e inédito. Eu não perderia nenhuma apresentação.

  12. Ana Kazan
    Ana Kazan

    Não há palavras suficientes que nos sossegue o coração frente a todo esse escárnio do bando para com o Brasil e o povo brasileiro. Mas a cabeça e o texto do Augusto, com suas múltiplas camadas de entendimento, apazigua um pouco nossa humilhação.

  13. Antonio Carlos Neves
    Antonio Carlos Neves

    Augusto, convide FHC para uma entrevista e nela explore qual interpretação faz das decisões tomadas pelos ministros do STF e do desgoverno Lula. Aos 78 anos, ex tucano desde a fundação do partido até 2019 ano que se revelaram maus caráter FHC, DÓRIA e outros , tenho vergonha ter admirado essa cambada do PSDB, e creio que foram eles quem ARTICULARAM essa GAMBIARRA para descondenar Lula, elaborar a Carta pela Democracia, e levar vários ministros do STF a impedir e destruir o governo Bolsonaro honesto, competente e que saneou nosso pais. Mais, peça que fale alguma coisa do VOTO IMPRESSO, que o PSDB defendeu ardorosamente quando o Aécio Neves “perdeu?” para Dilma em 2014.
    Vale dizer que a PEC do VOTO IMPRESSO, destruída por Barroso, ainda assim teve aprovação pela maioria do plenário da Câmara dos Deputados, porém insuficiente para aprovar uma PEC.
    Pergunte se soube que a maioria dos tucanos presente no plenário votaram a favor do VOTO IMPRESSO.
    Agora, precisa de PEC ou LEI para implantar meios de Segurança, Transparência e Auditoria do VOTO, conforme nossas FFAA sugeriram através do Ministério da Defesa?. Lamentavelmente não enxergaram a admiração que a população tinha por eles e NÃO EXIGIRAM a implantação dessas mudanças.
    Exigir esses procedimentos necessários ao TSE pela competente equipe de TIs das FFAA, não é GOLPE, mas somente para evitar distúrbios como aquela farsa do GOLPE de 8 de janeiro. Uma eleição AUDITADA jamais seria questionada por mais de 60 milhões de eleitores. Lembro que Bolsonaro disse varias vezes que passaria a faixa para o vencedor com eleições transparentes e auditáveis.
    Augusto, você já foi âncora do RODA VIVA (CULTURA) e do DIRETO AO PONTO (JOVEM PAN) e portanto nos proporcionaria excelentes entrevistas com essa gente que fez o “L”.

  14. Rosangela J . Dias
    Rosangela J . Dias

    Augusto parabens pelo texto. Adorei a sua frase “mudando de endereco para que o Brasil continue onde esta”.
    *teclado Americano

  15. MNJM
    MNJM

    Parabéns mestre Augusto, pensar que esse traste foi Presidente do país. Lixo

  16. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Esse Lula se for condenado a morte um milhão de vezes, ainda não paga os crimes que cometeu contra o Brasil, a América Latina e a África

  17. Joao Pita Canettieri
    Joao Pita Canettieri

    “*GUARATINGUETÁ SP BR*” #AcordaBrasil – Um DESgoverno. Como diz a Ana Paula *TRANCA A PAUTA*

  18. Ed Camargo
    Ed Camargo

    O que torna os seres humanos únicos, já dizia o Grego Aristóteles, é a nossa capacidade de raciocinar e de usar essa razão para investigar a natureza do mundo e o nosso propósito nele. Depois de lêr esse soberbo texto do Augusto, resta-nos concluir que o roubo endémico dentro do governo, o roubo endémico que enfrentamos nas ruas, os golpes incessantes aos quais devemos sempre estar atentos, tudo isso faz parte do adernamento ideológico do povo, e esse mesmo povo elege seus representantes que através do poder continuam roubando sem sofrer quaisquer consequências, muito pelo contrário os ladrões são glorificados e recompensados.
    Muitos oblívios a esta situação, não acreditam que seja verdade, mas inflezmente é a nossa realidade.
    O ditado diz que tudo aquilo que esta ruim, ainda pode piorar, pois bem, agora nossos antagonistas querem passar uma nova lei ou novo direito: Os políticos esquerdopatas instituíram um novo direito: o direito de não serem ofendidos ou como preferem, constrangidos. Quando reina a tolerância a todo tipo de comportamento ilícito e criminoso por parte deles, aqueles entre nós que acreditam em padrões e regras estão destinados ao castigo de multas e prisões. Nossos antagonistas, estão interessados em castigar-nos simplesmente por relatar e comentar os fatos, agora você passa ser uma pessoa desagradável ou constrangedora, porque você discorda deles. Isto é o que torna os esquerdopatas em parasitas: um sentimento imerecido de superioridade e entitulamento moral sobre você.

  19. Oldair Dorigon Bianco
    Oldair Dorigon Bianco

    É isso, país lixo.

  20. Oswaldo Silva
    Oswaldo Silva

    E pensar que essa tranqueira foi presidente do Brasil.

  21. Valesca Frois Nassif
    Valesca Frois Nassif

    Parabéns , mestre Augusto! Com diria nosso outro mestre, Fiúza : contando ninguém acredita! Só mesmo com muita ironia e sarcasmo pra conseguirmos digerir tamanhos absurdos!

  22. Eleni Vicente de Sousa
    Eleni Vicente de Sousa

    O ópio dessa gente é o dinheiro… o poder, terão a eternidade para TENTAR se satisfazer.

  23. renato neves
    renato neves

    Vou parar de ler um pouco ( vou vomitar) já volto!

  24. renato neves
    renato neves

    Vou parar de ler um pouco ( vou vomitar) já volto!

  25. Antonio Mario Scalamandré
    Antonio Mario Scalamandré

    Neste momento, no Brasil, está perigoso até pensar. Imagine comentar sobre esses desgoverno e larápios.

  26. Teresa Guzzo
    Teresa Guzzo

    Augusto, essa corja ganhou na mega sena da virada sem precisar apostar em qualquer lotérica, aliás ganharam tudo apenas com articulação política com o diabo.Esses foram talhados para a corrupção e para roubar dinheiro público, como disse Sergio Cabral ao juiz:”sabe doutor tenho um vício em roubar dinheiro dos outros”,foi liberado da prisão de 400 anos,se não me engano sem tornozeleira eletrônica. É o país da injustiça e do absurdo, como retrata uma das mais brilhantes capas da Revista Oeste.

    1. Mozart
      Mozart

      A verdadeira Ilha da Fantasia!!

  27. Marcos Bovolon
    Marcos Bovolon

    O curriculum da companheirada é de causar inveja a quem busca incansavelmente se refastelar com os 5,5 trilhões de impostos arracadados anualmente do bolso do contribuinte brasileiro. Enquanto Dilma foi anistiada pela ditadura, anistiada pelo impeachment, anistiada pelo INSS, muitos aposentados continuam na fila esperando por uma revisão de benefício que nunca chegará aos pobres que Lula diz se compadecer.

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