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Francisco 'Frasso' Solórzano registrou a brutal repressão do Estado contra manifestantes durante Caracazo. A imagem foi publicada no El Nacional, em fevereiro de 1989 | Foto: Francisco Solórzano/Divulgação
Edição 205

Imagem da Semana: as vítimas do Caracazo

Há 35 anos, uma série de protestos contra o aumento das passagens de ônibus tomou conta das ruas de Caracas e de outras regiões da Venezuela

Daniela Giorno
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O venezuelano Francisco Solórzano, conhecido pelos colegas de redação do El Nacional como Frasso, foi um dos principais fotógrafos a registrarem o trauma coletivo de Caracazo, um dos mais sombrios episódios do século 20 na América Latina.

Na manhã do dia 27 de fevereiro de 1989, trabalhadores que utilizavam o Terminal Rodoviário de Guatire, no subúrbio de Caracas, se revoltaram contra mais um aumento nas passagens de ônibus e começaram a protestar. Não demorou para que o exemplo de Guatire se espalhasse para a capital e para outras regiões do país. À tarde, os saques começaram, e as emissoras de TV divulgaram as cenas de vandalismo e violência.

O povo se sentiu traído pelo novo pacote de medidas econômicas anunciado pelo recém-eleito presidente Carlos Andrés Pérez, que, entre outras coisas, elevou o preço do combustível. Surgiu, então, uma espécie de levante.

Protestos no Terminal de Guarenas, no estado de Miranda, na Venezuela (1989) | Foto: Wikimedia Commons

O confronto entre o povo e as forças de segurança leais ao presidente foi sangrento. Bairros pobres da cidade de Caracas transformaram-se em uma zona de guerra. Foram cinco dias de caos nas ruas da capital do país. O evento ficou conhecido como “El Caracazo”, “O Esmagamento em Caracas” ou “El Sacudón” (“o abalo”). Os números oficiais estimam aproximadamente 300 mortos, mas alguns relatórios sugerem que cerca de 3 mil pessoas perderam a vida. Muitos foram enterrados anonimamente em valas comuns, tornando impossível ter certeza do número.

Os 71 mortos do dia 27 foram originalmente enterrados em uma vala comum numa seção do cemitério geral da capital, conhecido como “La Peste”. Seus restos mortais foram exumados em 2009 e levados para uma base militar, onde foram verificados se realmente eram originários do Caracazo.

Vítima do Caracazo em Petare, na Venezuela. Imagem captada pelo fotógrafo Francisco Solórzano (Frasso) e publicada no El Nacional, em 1989 | Foto: Francisco Solórzano/Divulgação

Durante a crise de 1989, Pérez anulou garantias constitucionais da população, como a liberdade de expressão e o direito de se reunir. Estipulou, também, um toque de recolher.

Os acontecimentos mortais abriram espaço para alguns soldados se juntarem ao movimento secreto MBR-200, comandado por Hugo Chávez. O Caracazo foi o antecedente histórico do grande apoio popular que Chávez recebeu após a sua aparição televisiva durante a revolta militar de 4 de fevereiro de 1992, quando preparou o terreno para a vitória eleitoral em 1998 e para a chamada “Revolução Bolivariana”.

O trabalho de Frasso na cobertura do Caracazo lhe rendeu o Prêmio Rei da Espanha de Fotografia de 1989 e serviu como prova no processo que familiares das vítimas moveram contra o Estado na Corte Interamericana de Direitos Humanos. O resultado da sentença foi favorável e saiu apenas em 1999.

Frasso seguiu um caminhão carregado de caixões. Os corpos foram enterrados numa vala comum no cemitério “La Peste” | Foto: Francisco Solórzano/Divulgação

Daniela Giorno é diretora de arte de Oeste e, a cada edição, seleciona uma imagem relevante na semana. São fotografias esteticamente interessantes, clássicas ou que simplesmente merecem ser vistas, revistas ou conhecidas.

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1 comentário
  1. Valesca Frois Nassif
    Valesca Frois Nassif

    Imagens muito impactantes e que nos levam a entender a enorme aceitação por Hugo Chaves e consequente derrocada de Andres Pérez.

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