A Rússia parece ser uma nação na qual o povo perdeu a voz. Vai haver uma eleição presidencial no próximo mês, mas ninguém duvida seriamente do resultado. Depois de 24 anos no poder, Vladimir Putin quase com certeza será coroado presidente da Rússia mais uma vez. Aliás, o único adversário oficial, o ineficaz candidato antiguerra Boris Nadezhdin, já foi barrado na cédula eleitoral. E, na semana passada, Alexei Navalny, sem dúvida o mais proeminente dos opositores políticos nacionais de Putin, foi encontrado morto em uma colônia penal na região ártica de Yamalo-Nenets, na Rússia. Sua viúva acusa o governo russo de tê-lo envenenado com um agente neurotóxico.
A morte de Navalny, sem dúvida, tem grande significado. Muitos comentaristas concluíram que a morte desse corajoso defensor da liberdade representa o fim da dissensão política na Rússia. Existe uma visão quase fatalista de que agora é impossível desafiar Putin politicamente.
Esse pessimismo é compreensível. Nos últimos anos, certamente houve uma significativa repressão aos protestos políticos e ao ativismo. Isso só se intensificou desde o início da guerra na Ucrânia. O Estado russo, armado com novas leis pós-invasão, agora suprime impiedosamente qualquer forma de dissidência. Muitos oponentes mais veementes do regime de Putin, que antes eram tolerados até certo ponto, receberam longas penas de prisão.
À primeira vista, o autoritarismo pesado de Putin parece desnecessário. Ele não enfrenta nenhum desafio sério ao seu governo. Afinal, uma mistura de medo, fatalismo e apatia há muito tempo domina a vida pública russa, à medida que milhões se afastam da política para a relativa segurança de suas existências privadas. De acordo com alguns relatos, o regime de Putin conseguiu até estabelecer um grau de consenso patriótico em torno da guerra na Ucrânia, com pesquisas mostrando consistentemente altos níveis de apoio doméstico à invasão.
No entanto, se você cavar um pouco mais, as razões para o autoritarismo intransigente de Putin logo ficam claras. Sim, ele controla o aparato repressivo do Estado, domina a mídia e controla a oligarquia russa. Mas, depois de quase um quarto de século no poder, Putin carece de legitimidade e, portanto, de autoridade genuína. Seu regime poderoso foi construído sobre uma base frágil.
No documentário Navalny, de 2022, perguntaram-lhe o que sua morte significaria. Ele respondeu que, “se decidirem me matar, significa que somos incrivelmente fortes”
Sem lealdade nem afeto
É exatamente por sentir sua própria falta de autoridade que Putin é tão sensível a cada manifestação de dissidência. Isso foi ilustrado no verão passado, quando Yevgeny Prigozhin, líder do grupo mercenário Wagner, lançou um levante meio desajeitado.
Prigozhin nem desafiou Putin diretamente. Ele insistiu que suas razões eram desafiar a má liderança militar da Rússia, que ele culpou pelas mortes de milhares de soldados na Ucrânia. No entanto, ao questionar publicamente os chefes do exército russo, Prigozhin também estava questionando a autoridade de Putin. O fato de Prigozhin ter sido capaz de assumir o controle de algumas instalações militares com tão pouca resistência mostrou que Putin não tinha a lealdade nem o afeto dos soldados.
Yevgeny Prigozhin recuou horas depois de lançar um desafio à autoridade de Putin. Mas, alguns meses depois, ele pagou o preço por expor o Estado russo como uma vila Potemkin. O acidente de avião que matou Prigozhin tinha como objetivo lembrar o povo da Rússia de que Putin não vai tolerar nenhum desafio ao seu poder.
“Não tenham medo de nada”
Mas o medo não é suficiente para sustentar um regime. Navalny entendia bem isso. Ele acreditava que, por meio de seu ativismo implacável — sua mensagem de “não tenham medo de nada” —, ele poderia inspirar outros a desafiarem Putin. E sabia que a resistência requer coragem e que, mais cedo ou mais tarde, o povo russo prevaleceria sobre o autoritarismo de Putin. Navalny estava convencido de que era apenas uma questão de tempo até que os russos encontrassem sua voz.
No documentário Navalny, de 2022, perguntaram-lhe o que sua morte significaria. Ele respondeu que, “se decidirem me matar, significa que somos incrivelmente fortes”. Depois, acrescentou: “A única coisa necessária para o triunfo do mal é que as pessoas boas não façam nada. Então, não fiquem sem fazer nada”.
Alexei Navalny sabia que a dependência do Estado russo de assassinar oponentes foi um sinal de sua fraqueza. Mas apenas o tempo vai dizer se atos de grande coragem individual são suficientes para desafiar seriamente o regime de Putin.
Frank Furedi é diretor-executivo do think tank MCC-Bruxelas.
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Se trocar Rússia por Brasil, aí sim, fica perfeito o texto. Vale lembrar: Toninho PT, Celso Daniel, Eduardo Campos.. Coincidências? kkkkk
Essa é uma das inspirações da quadrilha petista. A democracia relativa.
Um dia o povo se cansa da perda da liberdade.
Não é possível que vamos, todos do ocidente, virar uma Coreia do Norte
O mal tá vencendo o bem em muitos países, inclusive no ocidente, o Brasil tem potencial pra reverter esse processo
¨¨ SINTO DECEPICIONAR VOÇES ¨¨ MAS NAVALNY MORREU REALMENTE DEVIDO A UM COAGULO DE SANGUE !
quem fez essa declaração foi Kirilo Budanov chefe da Intelligence do Ministerio da Defesa ucraniana !
Heróis semeados nas trilhas sujas da tirania
Parece que no Brasil estamos caminhando a passos largos na estrada já percorrida pelos russos.
ao ler o artigo me pergunto ( curiosidade docet) porque´o autor dedica tanto espaço a Pregozhin . A maioria sabe quem ele era assim como a Wagner operava. Em vez de falar dele porque´ o autor não explica ao respeitavel publico quem eram Berezovsky,Litvinenko e Skripols?(( Afinal ate´ Theresa May suspeita dos sues conterraneos))
E, sempre por curiosidade , porque´ o autor não especifica porque´ o Navalny foi condenado ?
Porque´não fala que quem denunciou ele foi uma empresa de cosmeticos francesa , a Y.Rocher , de quem era referente na Russia e que fraudou ?
Porque´fala do documentario (( de D.Roher! )) e non fala do que esta´acontecento com Julian Assange ?
Talvez eu seja demasiadamente curioso !
O autor do texto foi inocente ao crer nas pesquisas de opinião pública sobre a invasão da Ucrânia. Nesse governo nada é crível!