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Reverendo Martin Luther King fala aos manifestantes em Montgomery, no Alabama (25/3/1965) | Foto: Reprodução/Stephen Somerstein/Ogden Museum of Southern Art
Edição 206

Imagem da Semana: marcha pela liberdade

Em março de 1965, Martin Luther King Jr. liderou uma passeata que foi de Selma a Montgomery, no Alabama, pelo direito ao voto

Daniela Giorno
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“O fim que procuramos é uma sociedade em paz consigo mesma, uma sociedade que possa viver com a sua consciência. E esse será o dia não do homem branco, nem do homem negro. Esse será o dia do homem como homem.”
(Martin Luther King Jr., em discurso no Capitólio de Montgomery, em 1965)

Em 7 de março de 1965, cerca de 600 pessoas se reuniram em Selma, no Alabama, nos Estados Unidos, para marchar até a capital do estado, Montgomery. Marcharam para garantir que os negros norte-americanos pudessem exercer o seu direito constitucional ao voto.

Na Ponte Edmund Pettus, em Selma, soldados estaduais e membros do condado, comandados pelo xerife Jim Clark, atacaram violentamente os manifestantes com cassetetes e gás lacrimogêneo e deixaram muitos feridos — alguns inconscientes. O evento ficou conhecido como Bloody Sunday (“Domingo Sangrento”).

Ponte Edmund Pettus, em Selma, Alabama, onde aconteceu o “Domingo Sangrento”, em 1965, nos Estados Unidos | Foto: Carol M. Highsmith’s America/Library of Congress, Washington

Mas os manifestantes não pararam. Dois dias depois, o pastor Martin Luther King Jr. conduziu cerca de 2,5 mil pessoas de volta à Ponte Pettus e reforçou a não violência no seu discurso antes de iniciar a passeata, uma vez que as ameaças de morte estavam cada vez mais incisivas:

“Digo a vocês nesta manhã que eu preferiria morrer nas estradas do Alabama a fazer um massacre em minha consciência. Digo a vocês que, quando estamos em marcha, não entramos em pânico e nos lembramos de que devemos permanecer fiéis ao princípio da não violência. Peço a cada um dos participantes: se não consegue ser não violento, não venha para cá. Se não pode aceitar golpes sem retaliar, não participe da marcha. Se pode aceitá-los em função de seu compromisso com a não violência, de alguma forma estará fazendo por esta nação algo capaz de salvá-la. Se puder aceitá-los, deixará a polícia estadual ensanguentada por suas próprias barbaridades. Se puder aceitá-los, fará uma coisa que vai transformar as condições aqui no Alabama.”

No entanto, essa segunda tentativa de manifestação não aconteceu. O reverendo King resolveu obedecer a uma ordem judicial que os impediu de fazer a marcha completa.

A terceira marcha aconteceu sob a escolta federal, com proteção de mil policiais militares e 2 mil soldados do exército. Começou no dia 21 de março pela Rodovia Jefferson Davis, alcançou Montgomery em 24 de março, e chegou ao Capitólio do Alabama no dia seguinte. Milhares de pessoas juntaram-se ao longo do caminho. Segundo Martin Luther King Jr., quando se marchava de Selma a Montgomery, o movimento pelo direito ao voto teve uma magnífica expressão ecumênica e de não segregação. Católicos, protestantes, judeus e brancos uniram-se para lutar contra as injustiças enfrentadas pelos negros no estado e em todo o sul dos Estados Unidos na questão do voto.

Manifestantes pelos direitos civis em frente ao Capitólio do Estado do Alabama no final de sua marcha de Selma a Montgomery, 1965. Foto: Cortesia CSU Archives/Everett Collection/Shutterstock

Cerca de 25 mil chegaram à capital. Foram até a entrada do edifício do Capitólio do Estado do Alabama, com uma petição endereçada ao governador George Wallace. Foi a última das três marchas daquele mês. Nesse dia, quando Martin Luther King Jr. discursava para os manifestantes, o estudante universitário Stephen Somerstein, com apenas 24 anos, subiu ao palco e teve a chance única de fazer a histórica foto por trás de King.

Somerstein tinha apenas dez rolos de filme consigo, o suficiente para registrar 400 quadros. E só podia revisar seu trabalho na sala escura, no momento de revelar as fotografias. “Cada foto que eu tirei tinha que ser perfeita”, lembrou Somerstein em uma recente entrevista na Sociedade Histórica.

Stephen Somerstein fala sobre uma foto que tirou da famosa marcha de Selma a Montgomery, no Alabama, em 1965, em palestra na Sociedade Histórica de Nova York (14/1/2015) | Foto: Reuters/Brendan McDermid

Alguns meses depois, o Congresso aprovou a Lei dos Direitos de Voto, sancionada em 6 de agosto de 1965 pelo presidente Lyndon B. Johnson. Essa lei foi projetada para eliminar as barreiras legais, em nível estadual e local, que impediam o voto dos negros americanos.

Johnson chamou o direito ao voto de “o instrumento mais poderoso alguma vez inventado pelo homem para derrubar a injustiça e destruir os terríveis muros que aprisionam homens por serem diferentes de outros homens”.

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Daniela Giorno é diretora de arte de Oeste e, a cada edição, seleciona uma imagem relevante na semana. São fotografias esteticamente interessantes, clássicas ou que simplesmente merecem ser vistas, revistas ou conhecidas.

Leia também “As vítimas do Caracazo”

1 comentário
  1. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Os EUA pelejou e a liberdade venceu, exemplo para nós sobre a importância do voto, escrutínio público, não a força e a fraude, enquanto há tempo

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