O medo não é uma opção 

A portentosa manifestação a favor do Brasil na Avenida Paulista, no último dia 25, convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, foi muito além do claro recado dado por quase 1 milhão de pessoas de que o Estado de Direito precisa retomar seu curso republicano. Os vídeos de domingo, que viralizaram nas redes sociais mas foram ignorados pela velha e carcomida imprensa, mostram um mar de gente vestida de verde-amarelo, e que deixou uma mensagem para o país e o mundo: esta é nossa armadura contra o medo.

Em meio a um imenso canteiro de girassóis, bandeiras do Brasil se entrelaçaram com bandeiras de Israel. O povo pediu desculpas pela recente comparação abjeta de Lula entre a legítima defesa de Israel e o que Hitler fez com os judeus. Estrelas de Davi andaram lado a lado com a Bíblia, e o povo mostrou que não tem vergonha de expressar sua fé. E ali, diante de milhares de pessoas e dos olhares atentos dos projetos de tiranos daquela Corte, dona Ilda Ferreira, segurando sua já famosa Bíblia, mais uma vez se tornou símbolo de uma guerra que vai muito além da política. Irmã Ilda, como é conhecida, é a representação humana da força de um país que nunca passou por uma revolução de magnitude comparável à da Revolução Francesa ou da gloriosa Revolução Americana, mas que sabe de sua força e enfrenta hoje uma guerra que vai além do campo material e mundano. 

Mesmo diante das arbitrariedades do Supremo Tribunal Federal, das muitas inconstitucionalidades cometidas por Alexandre de Moraes, e do pânico instaurado pela perseguição ilegal a muitos manifestantes do 8 de janeiro, o dia 25 de fevereiro de 2024 entrou para a história como um marco importante em uma longa guerra contra qualquer tipo de império do mal — um dia em que o medo foi enfrentado.

É praticamente impossível não mencionar João Paulo II quando o assunto é exatamente esse enfrentamento do medo. Um dos homens mais inspiradores para a humanidade, João Paulo II proferiu o famoso discurso “Não Tenhais Medo”, durante sua missa de inauguração como papa, em 22 de outubro de 1978. Em seu discurso, ele falou diretamente ao mundo, enfatizando a importância da coragem e da fé diante da adversidade. O discurso foi particularmente comovente, dado o contexto de sua eleição como o primeiro papa não italiano em mais de 450 anos e o clima político da época, com muitos países ainda sob regimes totalitários.

Em seu discurso, o papa que veio da Cortina de Ferro encorajou as pessoas a não terem medo de abraçar sua fé e de lutar pelo que é certo, mesmo em circunstâncias desafiadoras. Ele lembrou-lhes de que a verdadeira liberdade vem ao seguir os ensinamentos de Cristo e ao viver uma vida guiada pelo amor, pela compaixão e, principalmente, pela certeza de “ressurreições” em nossas vidas. 

A mensagem “Não Tenhais Medo” ressoou profundamente entre as pessoas que viviam sob regimes opressivos, que muitas vezes enfrentavam pavor e incerteza em suas vidas diárias, e tornou-se um grito de guerra para aqueles que buscavam liberdade e justiça, inspirando-os a superar seu medo e a trabalhar por um futuro melhor — mesmo que ele não acontecesse imediatamente.

Ao longo de seu papado, João Paulo II continuou a enfatizar o tema da coragem e do destemor diante da adversidade, tornando-se um símbolo de esperança para milhões ao redor do mundo. Seu discurso “Não Tenhais Medo” permanece como um dos mais memoráveis e impactantes, lembrando as pessoas de todas as fés para viverem com coragem e convicção na busca por um mundo mais justo.

O poder da repetição dessa frase, para que não tenhamos medo em tempos turbulentos, tem suas inspiradoras marcas na história e serve como combustível diário para o momento que vivemos no Brasil.

• Movimento Solidariedade, da Polônia: Durante o regime comunista na Polônia, o movimento Solidariedade emergiu como uma força significativa para a mudança. Apesar de enfrentarem uma severa repressão, incluindo prisões e violência, os membros do Solidariedade foram inspirados pela visita do papa João Paulo II à Polônia em 1979. Seus discursos enfatizaram a importância da coragem e da solidariedade diante da opressão, motivando muitos a se levantarem contra o regime.

• Revolução de Veludo, da Tchecoslováquia: Em 1989, a Tchecoslováquia passou por uma revolução pacífica que derrubou seu governo comunista. Os cidadãos foram inspirados pela mensagem de não violência e esperança do papa João Paulo II, que ressoou com seu desejo por liberdade e democracia. Seus discursos os encorajaram a superarem o medo de represálias e a lutarem por seus direitos.

• Protestos Pacíficos na Alemanha Oriental: No final da década de 1980, os alemães orientais enfrentaram um regime repressivo que restringia suas liberdades e limitava suas oportunidades. Inspirados pelos apelos do papa João Paulo II por justiça e direitos humanos, muitos alemães orientais participaram de protestos pacíficos, exigindo reformas políticas. Apesar dos riscos de prisão e retaliação, eles superaram o medo e defenderam suas crenças, o que levou à queda do Muro de Berlim, em 1989.

Esses são apenas alguns exemplos que ilustram como os discursos do papa João Paulo II inspiraram as pessoas a superarem o medo e a agirem contra regimes opressivos. Sua mensagem de coragem, solidariedade e esperança ressoou profundamente entre aqueles que enfrentavam a tirania, dando-lhes força para defender seus direitos e, por fim, promover mudanças.

Hoje, além das perseguições e desmandos políticos no Brasil, vivemos outra preocupação de João Paulo II — a secularização das sociedades. A guerra contra a família, contra a fé, contra a vida.

E, nesta semana, o Brasil de Lula mergulhou de cabeça na mesma batida demoníaca da esquerda radical e dos abortistas americanos: a matança desenfreada de bebês no ventre de suas mães.

Na última quarta-feira, 28 de fevereiro, o Ministério da Saúde emitiu uma nota técnica determinando que não haveria limite gestacional para os abortamentos de crianças oriundas de uma relação sexual não consentida. Basicamente, a nota alteraria o limite temporal para o aborto previsto em lei no Brasil (21 semanas) no caso de estupro, e estabeleceria que, se uma mulher grávida de nove meses afirmasse que havia sido estuprada e quisesse abortar, assim poderia fazê-lo, segundo a orientação do Ministério da Saúde.

O documento demoníaco do Ministério da Saúde, assinado conjuntamente pelo secretário de Atenção Primária à Saúde, Felipe Proenço, e pelo secretário de Atenção Especializada à Saúde, Helvécio Miranda, apresenta uma série de argumentos em prol da interrupção da gravidez. Um deles, por exemplo, é que teorias provenientes de estudos com animais sugerem a possibilidade de um estado intrauterino permanente de “inconsciência”. Para os bastiões de “vidas negras e de mulheres importam” (mas não as vidas de bebês negros e meninas), isso significa que até o nascimento, quando ocorre a separação do recém-nascido do ambiente uterino, o feto “muito provavelmente não é capaz de sentir dor”.

Pode ir buscar seu antiácido. Eu espero.

A nota técnica, assinada por representantes oficiais da pasta, foi postada no site do governo na calada da noite, talvez numa vã esperança de que ninguém notaria a barbárie contra a vida humana que estavam tentando empurrar. Ledo engano. Com as redes sociais — e é exatamente aqui que mora a obsessão pela censura deste governo! —, a notícia se espalhou como fogo morro acima em mato seco.

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Em um pouco mais de 12 horas, o Brasil das redes sociais que se organiza para lotar as ruas lotou as plataformas digitais com a notícia e demandando atenção dos parlamentares de oposição. Mesmo com o link disponível para a nota armazenada no site oficial do governo, a esquerda, como sempre faz, gritou “fake news!”, e tentativas de assassinatos de reputação entraram em curso para estancar a exposição dos reais planos do governo. Afinal, eles nunca esconderam que sempre defenderam a matança de bebês no ventre das mães.

Também não funcionou.

O vigor para lutar contra o que querem fazer com o Brasil está em toda parte

Diante da gigantesca pressão e repercussão negativa, no final da tarde da quinta-feira 29, o Ministério da Saúde suspendeu a nota com a grotesca explicação de que o documento estava suspenso “por não ter passado por todas as esferas necessárias do Ministério da Saúde e nem pela consultoria jurídica da Pasta”.

É no mínimo curioso como para a esquerda, quando se trata de matar seu próprio filho no ventre, o bebê é da mãe — “meu corpo, minhas regras”, eles dizem —, mas, quando o assunto é educação, como homeschooling, por exemplo, ou batalha contra a doutrinação de gênero, a criança é do Estado.

Apenas para registro, até a entrega deste artigo para a Revista Oeste, eu não encontrei nenhuma manifestação de repúdio ou questionamento da CNBB contra a nefasta nota do Ministério da Saúde.

Mas não podemos desanimar. Por incrível que pareça, já andamos bem nos últimos anos, e nossas batalhas seguem com o espírito forte, como João Paulo II mostrou ao mundo. O vigor para lutar contra o que querem fazer com o Brasil está em toda parte. Por uma enorme “coincidência”, a segunda leitura na missa do último domingo — dia 25 e dia da inspiradora manifestação, dia de ver nosso povo sem medo, dia de rever a força da dona Ilda — foi do livro de Romanos (8:31b-34):

“Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas que por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas? Quem acusará os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Foi Cristo Jesus que morreu, ou melhor, que ressuscitou e está à direita de Deus, e quem intercede por nós!”

O Brasil é uma nação temente a Deus — e não tem nenhuma vergonha em mostrar isso. Nossa fé é nosso orgulho e não há mal neste mundo que prevaleça sem padecer diante da Luz. Orai e vigiai.

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