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Ilustração: IA/Shutterstock
Edição 208

Que beleza de derrota

Assim como fazem hoje em dia os técnicos de futebol após as derrotas dos seus times, aprenda a transformar o que não presta em glória

Guilherme Fiuza
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O dom de palestrar é a última maravilha da modernidade. Qualquer revés pode se tornar triunfal se bem embalado pela língua. Assim como fazem hoje em dia os técnicos de futebol após as derrotas dos seus times, aprenda a transformar o que não presta em glória:

1. O juiz era honesto e isso nos prejudicou. 

2. Fizemos exatamente o que foi treinado, mas o adversário não entendeu a nossa proposta. 

3. A torcida ficou impaciente e isso desestabilizou nossos jogadores. 

4. O cabeleireiro do craque do time faltou e ele entrou em campo inseguro. 

5. A chuva prejudicou nosso goleiro. Ele precisou usar as mãos para tentar evitar o desmanche do seu penteado e não pôde usá-las para segurar a bola. É um ser humano e só tem duas mãos. 

6. Nossos dirigentes são corruptos, mas temos torcedores ilustres (que não se vendem barato).

7. Queremos agradecer à imprensa por entender o nosso futebolês e repetir com entusiasmo todos os clichês pseudoacadêmicos que tanto abrilhantam as nossas derrotas. 

8. Nossas derrotas na verdade são vitórias com déficit de gols. 

9. Quem pode estar preocupado com déficit quando todos sabem que o superávit é desumano, avarento e neoliberal?

10. Libertamos nosso clube da ditadura do teto de gastos. É uma medida que enobrece a nossa administração, porque a falência virá na próxima gestão e não teremos nada com isso. 

11. Quem critica a escalação do Zezinho das Couves não sabe do que está falando. Se vocês soubessem o valor da comissão que eu ganhei para fazer isso entenderiam o meu lado. 

12. Transparência é tudo. 

13. Zezinho das Couves atuou bem pelos lados do campo flutuando entre as linhas, atacando o espaço e executando a ideia de jogo que é oferecer a bola ao adversário, jogar sem a bola, priorizar a bola parada, compactar na subida e na descida, zum de besouro um ímã e botar a comissão no bolso que ninguém é de ferro. 

14. Como diria o poeta: “A beleza do bolso dos outros é que ele não tem fundo”. 

15. Atuamos contra o preconceito, contra o machismo, contra o racismo, contra o feminismo… hein? Ah, ok: a favor do feminismo, a favor do ambientalismo, a favor do amor, contra o ódio, ou seja, atuamos tanto contra quanto a favor, e o placar do jogo diante disso tudo é uma coisa menor. 

16. Nosso zagueiro de 1,60 metro também é uma coisa menor. 

17. O importante é competir. 

18. A competição é uma imposição do capitalismo selvagem. 

19. Estou um pouco confuso. 

20. Daqui vocês vão pra onde?

Ilustração: Shutterstock

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8 comentários
  1. Herbert Gomes Barca
    Herbert Gomes Barca

    “Daqui vocês vão pra onde ?” Hahahahahá sensacional Fiuza

  2. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    E os departamentos de marketing de muitos clubes? No lugar de fomento a atividade física que é o intuito de seu dever, se transformam em ”agentes sociais”, com superficialidade e desviando o foco.

  3. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Fiuza tá de brincadeira, que Paralelo!

  4. Maria de Lourdes De Mendonça Arruda
    Maria de Lourdes De Mendonça Arruda

    As comparações do Fiúza são únicas.

  5. Ana M Santos
    Ana M Santos

    Sensacional

  6. Simone Vieira Pereira
    Simone Vieira Pereira

    Sensacional! Ri muito…. obrigada Fiuza ????????????????

  7. James
    James

    Quem não sabe o que quer
    Nunca saberá se já achou!
    Eu quero minha parte, em dinheiro!

    1. Herbert Gomes Barca
      Herbert Gomes Barca

      boaaa

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