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Edição 210

Covid-19: quatro anos depois

As perguntas sobre a pandemia continuam muito mais numerosas que as respostas

Jeffrey A. Tucker.
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A poeira baixou? Longe disso. Está em toda parte. Estamos sufocando nela. A nuvem de tempestade se manifesta de várias formas: inflação, perdas no aprendizado, problemas de saúde, alto índice de criminalidade, serviços estatais que não funcionam, cadeias produtivas interrompidas, trabalho de má qualidade, trabalhadores desalojados, abuso de substâncias, solidão em massa, descrédito nas autoridades, uma crescente crise imobiliária, tecnologia censurada e arrogância do poder estatal.

A propósito, vamos considerar que a própria Páscoa, dia de celebrar o triunfo do Filho de Deus sobre a morte, teve seu culto público cancelado quatro anos atrás. Isso aconteceu. Nem no auge da Segunda Guerra Mundial se considerou algo assim, nem mesmo cancelar o beisebol. Quando a ideia foi sugerida em um famoso roteiro de filme (A Mulher do Dia, 1942), o ator Spencer Tracy perguntou: “Por que abolir aquilo que você está tentando preservar?”.

Boa pergunta. Qual foi mesmo o objetivo do inferno que passamos? Quem fez isso e por quê? Por que durou tanto tempo? Por que não houve nenhuma responsabilização oficial?

Cidadãos rezam em San Giuseppe, durante o fechamento total da cidade, tendo a igreja local disponível por alguns minutos, em Roma, na Itália (11/4/2020) | Foto: Shutterstock

A falta de qualquer prestação de contas real ou sequer de um pedido de desculpas é um presságio: eles vão manter seus poderes recém-descobertos e tentar tudo de novo. Enquanto isso, o mundo está em chamas com guerras, assassinatos em massa, crimes, fome e revolução.

Milhares de perguntas

Tudo isso remonta aos lockdowns que começaram em março de 2020, assunto sobre o qual ninguém na sociedade civilizada fala. Foi um período doloroso, sem dúvida. As pessoas que fizeram isso conosco esperam que estejamos tão traumatizados a ponto de não buscar responsabilização, muito menos justiça. À medida que nos sentimos assim, estamos caindo no jogo deles.

Mesmo agora, há centenas e até milhares de perguntas.

Por que não houve testes amplos de soroprevalência na população antes do lockdown? Teria sido uma ótima maneira de medir o nível de exposição preexistente e avaliar se o objetivo declarado de Deborah Birx, coordenadora de resposta ao coronavírus da Casa Branca, de alcançar a “covid zero” tinha alguma chance de sucesso.

De onde a Organização Mundial da Saúde tirou o número completamente falso de 3,4% de taxa de letalidade por infecção, e por que ele foi divulgado?

Aliás, por que os arquitetos do lockdown não recorreram à vasta literatura já existente, aceita como definitiva no mundo da saúde pública, de que os lockdowns só causam destruição, e de que não existe uma forma de intervenção física que ofereça alguma esperança de conter um vírus destinado a se espalhar por toda a população?

Polícia de plantão para impedir que as pessoas andem pela cidade e obrigá-las a seguir o bloqueio para evitar a propagação de covid-19, durante os 21 dias de lockdown, em Bharuch, Gujarat, na Índia (5/4/2020) | Foto: Shutterstock

Essas informações eram conhecidas na época, assim como o esboço geral do impacto desse vírus. Então, não vamos mais falar sobre o que sabíamos na época. Nós sabíamos.

Mas ainda não sabemos:

  • Como convenceram Trump a reverter sua posição anti-lockdown por volta de 10 de março de 2020.
  • Até que ponto a rápida disseminação do vírus foi impulsionada pelos testes, ou até mesmo qual era o grau de precisão dos testes.
  • Se a onda repentina de mortes precoces foi baseada no pânico, iatrogênica ou causada pelo vírus de fato.
  • Como agências que costumavam ser obscuras conquistaram o poder de gerenciar a força de trabalho dos EUA e censurar a mídia.
  • Quem exatamente deu a ordem para interromper o atendimento hospitalar nos EUA e por quê.
  • Como o governo tentou banir antivirais convencionais do mercado.
  • Quem havia pré-redigido os projetos de lei de mil páginas que autorizaram US$ 2 trilhões em gastos que estouraram o orçamento e desencadearam um experimento de renda básica universal.
Os fantasmas da guerra

Curiosamente, muito disso pode ser explicado pela ambição louca de preservar a ingenuidade imunológica em toda a população que esperava pela chegada da vacina em meados de novembro, oito meses depois. A ideia sempre foi essa, e nesse caso os “15 dias para achatar a curva” eram sabidamente um completo absurdo? Se isso for verdade, a arrogância e o sadismo do objetivo político aqui são desconcertantes.

E, se isso for verdade, por quê? Para implementar uma nova tecnologia de plataforma chamada mRNA que de outro modo não teria chance de ser avaliada de forma ampla pelas vias normais? Foi essa a razão pela qual Anthony Fauci perseguiu a vacina da J&J desde o início, como uma tática para expulsá-la do mercado e abrir caminho para Pfizer e Moderna?

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Anthony Fauci, ex-conselheiro médico chefe do presidente dos Estados Unidos | Foto: D. Myles Cullen/Casa Branca

Se esse era o objetivo, isso foi declarado privadamente, e por quem? Quem sabia do objetivo desde o início?

O fato de alguém da classe dominante nem sequer considerar recrutar toda a população para tal experimento biológico faz renascer os fantasmas da guerra de um passado que pensávamos ter deixado para trás.

A censura como tática industrial

Essas perguntas apenas tocam a superfície. Mesmo depois de quatro anos de pesquisa sobre esse tema como parte de uma equipe muito grande que examinou 1 milhão de páginas de documentação e relatos, tendo escrito dois livros e muitos milhares de artigos, e sendo alimentada por um desejo ardente de saber, a maioria de nós ainda não tem uma resposta clara para uma questão profunda: por que e como isso aconteceu conosco?

Existem muitas teorias, todas com plausibilidade, mas nenhuma com capacidade de explicar o todo.

Podemos dizer que a indústria farmacêutica estava por trás de tudo. Parece crível. O objetivo de testar o mRNA na população global explica muita coisa, especialmente se considerarmos a situação de emergência forjada. Mas a ideia de que centenas de governos no mundo todo foram secretamente cooptados força essa plausibilidade.

Frasco da vacina Pfizer-BioNTech Covid-19, com marca registrada Pfizer, em Bangkok, na Tailândia (17/8/2021) | Foto: Shutterstock

Poderíamos observar que a tecnologia digital manipulou políticas públicas para se beneficiar. O primeiro artigo grande e viral sobre toda a ideia de lockdown foi escrito por Thomas “Hammer-and-Dance” Pueyo, CEO de um hub de ensino on-line que se beneficiou muito. Plataformas de streaming se beneficiaram, assim como a Amazon (fonte de alimentos e produtos), o Uber Eats e o DoorDash, entre outras, como o Zoom.

Mas será que realmente deveríamos acreditar que as liberdades humanas em todo o mundo foram arruinadas para aumentar os lucros dessa única indústria? De novo, é um exagero. E o mesmo poderia ser dito sobre a teoria de que a mídia foi a força motriz. Sim, eles ganharam muito com isso, usando a censura como tática industrial contra startups de novas mídias. Mas como é que teriam conquistado tanto poder no mundo todo?

O papel do PCC

Existe também a leitura de que todo o esquema monstruoso foi elaborado para tirar Trump do cargo, promovendo o caos e autorizando votos pelo correio, que são difíceis, quando não impossíveis, de verificar. Isso parece se encaixar em muitos pontos empíricos. Sem dúvida houve um grande esforço para confundir o público, como se a presença do vírus fosse uma metáfora para a própria administração Trump, que precisava ser sufocada.

O então presidente americano Donald Trump trabalha na suíte presidencial do Centro Médico Militar Nacional Walter Reed, em Bethesda, Maryland, após teste positivo para covid-19 (1º/10/2020) | Foto: Casa Branca/Joyce N. Boghosian

Certamente existe verdade aqui, mas como isso explica as centenas de outros governos ao redor do mundo seguirem o mesmo caminho? O fato de a resposta não ser apenas nacional, mas global, faz surgir questões reais.

Nesse contexto, podemos chamar a atenção para o papel do Partido Comunista Chinês, que foi o primeiro a implementar o lockdown em meio a vídeos teatralmente produzidos de pessoas morrendo nas ruas e depois fez pressão sobre a Organização Mundial da Saúde para recomendar o lockdown para o planeta inteiro.

Essa teoria também contém verdade.

Toda vez que uma questão política toca o domínio da segurança nacional e da inteligência, ela é encoberta por um véu impenetrável de segredo que nenhuma lei ou nenhum tribunal parece ser capaz de controlar

Nas esferas mais profundas, é sábio visitar a complexidade do livro de RFK Jr., The Wuhan Cover-Up, que explica a história do programa de armas biológicas dos Estados Unidos, que data do final da Segunda Guerra Mundial. Existem laboratórios secretos no mundo todo sustentados pelos EUA, inclusive em Wuhan. Suas atividades e seu financiamento têm acesso público encoberto por restrições confidenciais.

O objetivo da pesquisa de ganho de função não é descobrir soluções para novos patógenos emergentes, e sim criar novos patógenos com antídotos que nós temos, e o inimigo não tem.

Instituto de Virologia de Wuhan | Foto: Wikimedia Commons

A liberação desse único patógeno fez parte desse programa? Se sim, isso explicaria por que as burocracias de inteligência e segurança se envolveram profundamente desde o início e também explicaria por que tantos pedidos de Lei de Liberdade de Informação sobre cada aspecto disso foram fortemente censurados e por que estamos tendo tanta dificuldade para obter informações de modo geral.

O mistério da Primeira Guerra Mundial

Toda vez que uma questão política toca o domínio da segurança nacional e da inteligência, ela é encoberta por um véu impenetrável de segredo que nenhuma lei ou nenhum tribunal parece ser capaz de controlar. Também explorei muitas vezes esse caminho de investigação, com uma grande quantidade de evidências como apoio. Nesse caso, estamos de fato falando de uma teoria que vai além, de um golpe da era digital pelos mestres do Estado profundo contra a sociedade civil e a própria democracia.

Você provavelmente pode elaborar dez ou mais teorias convincentes sobre esse episódio. Ligar os pontos é um trabalho em tempo integral.

Um homem sábio mencionou para mim o fato surpreendente de que ainda não temos uma explicação completa de por que e como a Primeira Guerra Mundial aconteceu. Essa guerra acabou com a civilização antiga como a conhecíamos. De certa forma, olhando em retrospecto, foi o começo do fim do que poderíamos chamar de alta civilização e das perspectivas de paz. Ela desencadeou a Revolução Bolchevique, fez com que as liberdades no estilo ocidental fossem mitigadas por atores do Estado administrativo, introduziu a ideia de guerra total, recrutou populações inteiras para se tornarem soldados e despedaçou as expectativas quase globais de prosperidade e paz que surgiam.

Soldados franceses avançam para o ataque a partir de sua trincheira, durante a batalha de Verdun, na Primeira Guerra Mundial, em 1916 | Foto: Domínio Público

E, mesmo assim, ainda não sabemos completamente por que ou como isso aconteceu. Os erros se acumularam, e as maldades, também. Quando esse tipo de caos sádico é uma tentação para uma classe dominante, muitas outras instituições se juntam para participar do festival de saque e pilhagem. A sociedade se vê despedaçada por grupos de interesse que não se importam com o bem geral, muito menos com os direitos humanos.

Essa é uma descrição bastante sólida do que aconteceu conosco quatro anos atrás. Eles destruíram o mundo.

Podemos nunca descobrir a verdade, mas podemos nos aproximar da verdade. Os esforços não vão parar.


Jeffrey Tucker é escritor, fundador e presidente do Instituto Brownstone. Ele também é colunista sênior de economia do Epoch Times e autor de dez livros, incluindo Life After Lockdown, e de milhares de artigos na imprensa acadêmica e popular. Ele fala amplamente sobre economia, tecnologia, filosofia social e cultura.

Leia também “O verdadeiro expurgo na Academia”

3 comentários
  1. Valesca Frois Nassif
    Valesca Frois Nassif

    É uma pergunta que sempre me faço . Por q isso aconteceu e por que permitimos q acontecesse? Como nos dominaram tão facilmente? Como nos impuseram tantas proibições e aceitação de coisas completamente questionáveis ? Tomara q tenhamos essas respostas um dia.

  2. Daniel BG
    Daniel BG

    Um ótimo texto para reflexão. A espoliação dos valores tradicionais está acontecendo e estamos sucumbindo a ela! Como iremos viver o momento presente é muito importante. Para que não deixemos as críticas de lado e nem menosprezemos a vida por causa delas.

  3. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Este tema precisa sempre ser rememorado, já que o brasileiro esquece fácil das coisas.
    Por que isto aconteceu? Pelo menos no Brasil, na minha opinião, pura e simplesmente política. Para derrubar o governo vigente, a esquerda nojenta pintou e bordou aterrorizando a vida da população. O lado bom disso foi percebermos a cretinice e nos distanciar de certas pessoas.

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