“Quero ser a primeira mulher de saia a chegar ao topo do Everest, porque quero agitar nossas saias e a bandeira da Bolívia”, disse Elena Quispe Tincuta, em entrevista publicada na Reuters no dia 6 de março. Essas mulheres se orgulham de sua herança cultural e usam roupas esvoaçantes com cores tradicionalmente vibrantes para escalar montanhas. Elas são as “climbing Cholitas“, ou “Cholitas alpinistas” bolivianas. Um grupo de mulheres indígenas aimarás que estão quebrando estereótipos e preconceitos e se preparam para alcançar o cume mais alto do mundo, localizado na Cordilheira do Himalaia.
A palavra “chola” é um termo depreciativo para alguém de raça mista (espanhola e indígena), em sua maioria das etnias aimará ou quéchua, da Bolívia. No espanhol sul-americano, adicionar o sufixo “ita” confere à palavra um tom mais carinhoso. Nesse caso, o recurso é usado em referência a essas mulheres, que enfrentam discriminação racial desde a época colonial. Elas foram proibidas de utilizar transportes públicos, de acessar determinados espaços, e foram sistematicamente assediadas. Mas as “Cholitas” reapropriaram-se do rótulo e tornaram-se símbolo de identidade e resiliência.
Tradicionalmente, essas mulheres indígenas com idade entre 22 e 53 anos apenas trabalhavam nas montanhas cozinhando ou carregando equipamentos para que outros alpinistas chegassem ao acampamento-base. Em 2014, contudo, 11 dessas carregadoras e cozinheiras aimarás resolveram prender suas tranças com grampos, trocar o chapéu-coco alto pelo capacete, e começaram a escalar também. Em janeiro de 2019, Lidia Huayllas Estrada, Dora Magueño Machaca, Ana Lía Gonzáles Magueño, Cecilia Llusco Alaña e Elena Quispe Tincuta alcançaram o pico do Monte Aconcágua, a 6.961 metros de altitude — a montanha mais alta fora da Ásia.
“Da montanha, vi as luzes da cidade de La Paz brilhando como estrelas”, disse Julia Quispe Tincuta, de 35 anos, irmã de Elena. “Naquele momento, eu soube que nunca mais iria parar de escalar.”
Embora troquem o chapéu-coco pelo capacete de proteção, elas rejeitam os equipamentos tradicionais de montanhismo e carregam seus pertences em mantas coloridas. Agora elas estão treinando — e buscando apoio financeiro — para a próxima expedição, em 2025: o Everest.
Daniela Giorno é diretora de arte de Oeste e, a cada edição, seleciona uma imagem relevante na semana. São fotografias esteticamente interessantes, clássicas ou que simplesmente merecem ser vistas, revistas ou conhecidas.
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Incrível e desafiador o que essas” Cholitas Escaladoras” conseguiram realizar! Uma das reportagens mais interessantes que tive a oportunidade de ler! Parabéns à Daniela Giorno pelas lindas fotos e a todos os colaboradores.
Incrível a força e determinação dessas “cholitas nessa incrível escalação ao topo dessa montanha na Bolívia!!🙏🙏🙏👏👏👏👀👀👀😍😍😍