Quando Pol Pot morreu, o então presidente americano, o democrata Bill Clinton, emitiu uma nota que abria da seguinte forma: “A morte do líder do Khmer Vermelho, Pol Pot, trouxe novamente à atenção internacional um dos capítulos mais trágicos de desumanidade do século 20”. O texto seguia apontando para a estimativa de 2 milhões de mortes causadas pelo regime comunista brutal, e clamava por justiça aos assassinos ainda vivos do regime: “Não devemos permitir que a morte dos mais notórios líderes do Khmer Vermelho nos detenha da tarefa igualmente importante de levar esses outros à justiça. E, igualmente, devemos renovar a nossa determinação em evitar que tais atrocidades ocorram no futuro”.
Bill Clinton concluiu: “Agora é o momento de recordar as vítimas do reinado de terror assassino de Pol Pot e de sublinhar a nossa determinação em ajudar o povo cambojano a alcançar uma paz duradoura baseada no respeito pelos direitos humanos básicos e pelos princípios democráticos”. Clinton, não custa repetir, era um democrata, do mesmo partido de Joe Biden. Hoje talvez fosse visto pelo próprio partido como um “conservador” ou até mesmo alguém da “extrema direita”. Quem mudou?
Trago à memória a reação do presidente americano após a morte de Pol Pot para compará-la ao posicionamento de Biden após a morte de Ebrahim Raisi, o presidente iraniano que estava no antigo helicóptero que caiu na região montanhosa e com neblina ao retornar do Azerbaijão. Conhecido como “carniceiro do Teerã”, Raisi presidiu, a mando dos aiatolás xiitas, um regime brutal com milhares de execuções aos seus críticos. Raisi, em discurso recente no aniversário da revolução dos aiatolás, que ocorreu durante o governo de Jimmy Carter, que colocou no poder a teocracia atual, disse que a América representava o passado, e o Irã, o futuro. “A sharia [a lei islâmica] tomará conta do mundo todo”, desejou o presidente iraniano. Biden prestou condolências a esse monstro fanático.
E não foi só ele. Na União Europeia, chegaram a fazer um minuto de silêncio pela “perda”. Os europeus se colocam, assim, ao lado dos terroristas do Hamas, do Hezbollah e dos Houthis, do Iêmen, que lamentaram profundamente a morte de Raisi, além do ditador venezuelano Nicolás Maduro, que o chamou de “irmão”, e de Lula, claro, que demonstrou “profunda consternação” com a notícia. Que os autoritários comunistas mundo afora demonstrem esse tipo de tristeza com a morte de um monstro assassino é algo já natural, uma vez que estão todos unidos contra os valores ocidentais. Mas que líderes do próprio Ocidente façam o mesmo é simplesmente imoral, abjeto e assustador.
O que explica essa postura? Minha tese é a de que houve enorme radicalização da esquerda ocidental, e que sua visão de mundo “progressista” parte de premissas totalmente equivocadas acerca da natureza humana. Os globalistas acreditam que todos compartilham da mesma visão em essência, que todos nascem “bons”, e que basta criar os incentivos materiais adequados por meio de instituições globais que teremos a paz mundial. Parece discurso de Miss Universo ou canção de John Lennon, mas é a ideologia que permeia a visão esquerdista do próprio Ocidente.
No discurso vitimista da esquerda woke, há apenas oprimidos e opressores, e muitos judeus democratas descobriram da forma mais dura que não podem jamais fazer parte do grupo dos oprimidos
Os democratas atuais parecem incapazes de admitir que nem todos desejam a mesma coisa, que nem todas as culturas são equivalentes, que não basta distribuir dinheiro para ter paz. Afagar terroristas que sonham com a destruição do “Grande Satã” não vai fazer com que eles passem a respeitar a América: ao contrário, vai apenas sinalizar fraqueza e atrair ainda mais ódio e violência. Bin Laden, o milionário da Al-Qaeda, não atacou os Estados Unidos porque lhe faltavam oportunidades materiais na vida. E todas as malas de dinheiro que Obama enviou ao Irã em nada ajudaram na paz do Oriente Médio. Foi justamente o oposto: o regime armou e treinou os terroristas que massacraram centenas de israelenses no 7 de outubro.
Os globalistas de hoje se negam a enxergar essa realidade dura, pois isso levaria ao ralo toda a sua ideologia. Eles se recusam a admitir, por exemplo, que o Tribunal Penal Internacional virou uma piada de mau gosto, capturado pelos radicais antiocidentais, colaborando com a narrativa tosca de falsa equivalência entre Hamas e Israel ao emitir no mesmo dia mandados de prisão para o líder dos terroristas palestinos e para o primeiro-ministro Netanyahu. Eles tampouco confessam em público o fiasco que virou a própria ONU, tomada por militantes radicais que odeiam Israel e os Estados Unidos.
O viés marxista da esquerda democrata atual a impede de reconhecer a existência do mal em âmbito individual, pois isso exige responsabilidade de cada indivíduo, em vez de culpar as “instituições”, ou seja, a “superestrutura” ou o “sistema”. No discurso vitimista da esquerda woke, há apenas oprimidos e opressores, e muitos judeus democratas descobriram da forma mais dura que não podem jamais fazer parte do grupo dos oprimidos. É preciso implodir o sistema para fazer “justiça social”, ainda que apoiando terroristas fanáticos no caminho. E essa turma sequer percebe suas infindáveis incoerências, como apontar o dedo para a civilização mais tolerante com minorias para apoiar culturas bárbaras, ou condenar a falta de oportunidades pelas mazelas sociais das minorias, enquanto culpa os “brancos ricos” por todos os crimes morais tais como racismo, machismo ou homofobia. Pelo visto todas as oportunidades e riquezas não serviram para “salvar” essa classe abastada e indecente, não é mesmo?
O “progressismo” vem destruindo os pilares básicos do Ocidente. São os bárbaros de dentro do portão os que mais ameaçam nossa civilização. Falta a essa gente clareza moral para discernir o certo do errado, e falta coragem para admitir que existe o bem e o mal. O legado judaico-cristão coloca o fardo da responsabilidade em cada indivíduo, partindo da premissa de que somos pecadores e temos paixões negativas, e por isso precisamos criar hábitos morais, domesticar nosso lado selvagem ou animalesco, a fim de conviver numa sociedade decente. A esquerda cospe nisso tudo, abraça a religião secular do relativismo moral, do coletivismo, e depois se torna incapaz de julgar o básico, como por exemplo um monstro responsável pela morte de milhares de inocentes. Comparar a postura de Clinton com a de Biden em relação a como reagir diante da morte de tiranos assassinos é constatar a decadência moral ocidental.
Leia também “A incrível pequenez lulista”
Estão no colo do demônio desde já.
É importante trazer a memória momentos como o período de Jimmy Carter, e Bill Clinton, como consta no artigo. Para entendermos o contexto atual.
Pois é, o mundo está de ponta cabeça por conta de cabeças doentias que destroem dia-a-dia nossas instituições.
Constantino, vamos urgentemente atrás do VOTO IMPRESSO para tranquilizar os eleitores democratas conservadores, liberais e que querem transparência nos resultados apurados nas duas urnas, a eletrônica e a lacrada com o VOTO IMPRESSO. Só assim saberemos o desejo da população brasileira e não questionaremos resultados. Já a esquerda se perder por 2 milhões de votos não sabemos o que provocará. Ai veremos como se comportarão os defensores da democracia.
Excelente Consta. como sempre brilhante. Uma crise moral assustadora,.
Esse Constantino é um caba bom danado, as melhores opiniões sobre esse sacrilégio que é esta esquerda
Duas coisas me preocupam, o voto impreço, sem o qual não votarei mais em deputados e senadores e tambem votar em Presidente pra que ! Se quem decide e o STF. E os miseráveis presos injustamente em 8/1, a Câmara poderia muito bem já que tem maioria e aprovar uma anistia para essa gente. E também tirar as algemas dos pseudos soltos.
Rodrigo constantino, sempre coerente nos seus comentarios.
Não resta a mínima dúvida: A CRISE É MORAL! Profundamente moral.
Oportuna lembrança do discurso contundente de Clinton e a complacência de Biden, apesar do desproporcional genocídio no Camboja
A melhor explicação resumida do mal que permeia o ocidente e infelizmente as ‘elites não pensantes’ lideradas por novos bilionários (excluo o Musk) que infelizmente são desprovidos de uma cultura abrangente como a do excelente Rodrigo Constantino. Parabéns e continue nos brindando com seus primorosos textos.
Muito bom!!!!
São artigos que me auxiliam a pensar. Grato