Sem dúvida algumas pessoas estão tristes com a morte do presidente iraniano Ebrahim Raisi. As milícias islamistas apoiadas pelo Irã, por exemplo, ficaram claramente consternadas com a notícia do fatal acidente de helicóptero no domingo. O Hezbollah, do Líbano, ofereceu as “mais profundas condolências” aos líderes do Irã. O Hamas, o grupo terrorista antissemita que atualmente luta contra Israel em Gaza, foi ainda mais longe ao expressar seus “sentimentos de tristeza e dor”. Seus líderes ofereceram sua “total solidariedade” à República Islâmica.
Mas há muitas pessoas no próprio Irã que não estão de luto pela morte do homem de 63 anos. Porque sabem exatamente o que ele era: um islamista tirano e cruel.
A carreira política de Raisi foi construída com base na sua capacidade de intolerância brutal e letal. Ele chamou a atenção do público pela primeira vez em 1985, quando era como um jovem clérigo ultraconservador que foi nomeado vice-procurador de Teerã. Em menos de três anos, ele alcançou notoriedade como um dos quatro membros de um comitê encarregado de processar milhares de dissidentes políticos — uma medida criada para consolidar o triunfo dos teocratas sobre a esquerda iraniana após a Revolução de 1979. Sob as ordens do então líder supremo Ayatollah Khomeini, o comitê de Raisi condenou milhares à morte. Ao longo de cinco meses, entre 5 mil e 30 mil pessoas foram interrogadas, torturadas e executadas. Algumas morreram nas mãos de pelotões de fuzilamento, enquanto muitas outras tiveram lentos enforcamentos públicos em cidades e vilas por todo o país.
Pelo seu papel no chamado “Comitê da Morte”, Raisi ficou conhecido como “O Açougueiro”. Era um apelido que ele provavelmente apreciava. No 30º aniversário das execuções em massa, Raisi as descreveu como “punição divina” e um “orgulho” para a República Islâmica.
Seu violento autoritarismo pode ter resultado na inimizade perpétua de grandes partes da sociedade iraniana, mas parece ter lhe garantido incontáveis benesses entre os clérigos que governam o Irã. A partir da década de 1990, ele ascendeu na hierarquia do Estado iraniano, até ser nomeado procurador-geral, em 2014. Durante seu mandato de dois anos, as execuções aumentaram para níveis que não eram vistos havia anos.
Os assassinos tendem a chegar ao topo na teocracia iraniana, e Raisi tornou-se chefe do Judiciário em 2019. Naquele ano, em resposta a um aumento de 50% nos preços dos combustíveis, protestos antigoverno irromperam por todo o país. Raisi desempenhou um papel crucial na repressão brutal que se seguiu. Pelo menos 1,5 mil manifestantes foram mortos a tiros pelas forças de segurança, enquanto muitos, muitos outros foram presos, torturados e executados. Esse foi o ato de violência estatal mais significativo desde o massacre de 1988. E Raisi teve papel central em ambos.
Poucos meses depois, a repressão de Raisi contra as mulheres sem hijab levou à morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos
Dada sua reputação de repressão letal, a eleição de Raisi como presidente, em 2021, sucedendo o mais moderado Hassan Rouhani, pode parecer surpreendente. Mas essa foi uma eleição em que o povo iraniano desempenhou apenas um papel secundário. Os teocratas do Irã, por meio do Conselho Guardião, decidiram efetivamente quem poderia se candidatar à Presidência, eliminando qualquer candidato que não aderisse à sua posição islamista linha-dura. Como afirmou um de seus rivais declarados, o regime alinhou “sol, lua e estrelas para eleger uma pessoa específica presidente”. Não é de se admirar que a maioria dos iranianos não tenha se dado ao trabalho de votar, com a participação a uma baixa recorde de apenas 49%. Raisi não foi eleito, e sim nomeado presidente pelos poderes constituídos.
No poder, Raisi foi tudo o que seus superiores desejavam. Enquanto o Irã fortalecia suas alianças com Moscou e Pequim, Raisi combinou uma postura antiamericana com uma retórica antissemita e anti-Israel. Em 2022, ele sugeriu que mais pesquisas deveriam ser realizadas para provar que o Holocausto de fato aconteceu, chamou Israel de “regime falso” e declarou que “a única solução é um Estado palestino do rio ao mar”. Não é preciso dizer que, menos de 24 horas depois do ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro do ano passado, Raisi elogiou os terroristas por formarem “uma defesa legítima da nação palestina”. O que é uma forma de descrever o massacre e o estupro de centenas de civis.
Acima de tudo, o presidente Raisi se rendeu à repressão em larga escala, sujeitando avidamente os iranianos às ditaduras cada vez mais severas de um regime islamista. No verão de 2022, ele ordenou que as autoridades aplicassem a lei da “castidade e hijab”. E descreveu o número cada vez maior de mulheres iranianas que não usavam véu em público como a “corrupção” da “sociedade islâmica”. Poucos meses depois, a repressão de Raisi contra as mulheres sem hijab levou à morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos. Ela foi detida e presa pela polícia da moralidade por não usar o véu. Três dias depois, Amini morreu em um hospital em Teerã.
A notícia da morte de Mahsa Amini gerou indignação em todo o Irã. Durante semanas e meses, jovens mulheres e homens de todo o país se reuniram nas ruas para queimar hijabs e manifestar seu ódio pelos aiatolás. A resposta de Raisi foi totalmente condizente com seu histórico em todos os cargos públicos que ocupou. Ele os reprimiu duramente. Centenas de manifestantes foram assassinados pelas forças de segurança. Muitos mais foram presos, torturados, e alguns foram executados. Só porque queriam mais liberdade. Para pensar, falar e se vestir como eles — e não os aiatolás — achavam adequado.
Raisi foi um burocrata islamista cruel, plenamente disposto a reprimir e assassinar seu próprio povo. No entanto, foi notável em sua presidência como houve pouca indignação entre os círculos progressistas ocidentais. Eles ouviram seus discursos antissemitas. Viram o que ele estava disposto a fazer com seu próprio povo, até onde estava disposto a ir para forçá-lo a aderir às exigências intolerantes de seu regime. Assistiram àquelas mulheres e àqueles homens iranianos corajosos tentarem enfrentar de fato a ditadura islamista após a morte de Amini, em 2022. No entanto, além de alguns gestos simbólicos, nenhuma solidariedade real foi oferecida. É quase como se a repressão brutal não contasse tanto, se estivesse sendo conduzida por um dos inimigos implacáveis do Ocidente.
Enquanto absorvemos a notícia da morte de Ebrahim Raisi, devemos lembrar de suas muitas vítimas — e dos bravos rebeldes iranianos que continuam a arriscar tudo por um futuro mais livre.
Tim Black é colunista da Spiked.
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Toda essa tirania não é suficientemente rechaçada à altura. O ocidente como um todo deve expressar seu inconformismo com essas ditaduras sanguinárias .
Espero que esteja no colo do capeta.
Já foi tarde! Não fará falta nenhuma! Poderia ter levado outro presidente junto!!!
Não á toa era ”companheiro” da quadrilha petista no Brasil.
Tem um mal entendido quando fala vitória sobre a esquerda. Mas o importante é o conteúdo, acho que não existe nenhum regime político no mundo pior do que esse iraniano, um horror monumental em nome de Deus. Agem abertamente. Como se apoia um genocídio islâmico por países ou representantes de países ou grupos no ocidente?
Aqui no Brasil tem uma pessoa que só não é como esse assassino, pq não temos pena de morte, pois seriam igualmente assassinadas. Essa pessoa se chama Alexandre de Moraes.
Esse artigo lembrou muito nosso encarcerados geral…
Penso que aqui em nosso país já existe gente em treinamento para ser um Raisi.