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Oliver Stone durante exibição do documentário Lula, nas Sessões Especiais do 77º Festival de Cinema de Cannes, na França (20/5/2024) | Foto: Reuters/Stephane Mahe
Edição 218

Nobel de Efeitos Especiais

A paz de Oliver Stone contém segredo mal guardado e desconcertante do desinteresse pelas pessoas reais, a mistificação da solidariedade em causa própria

Guilherme Fiuza
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Oliver Stone fez um filme sobre Lula dizendo que ele é corajoso porque luta pela paz. A diplomacia de Lula manifestou “profunda consternação” com a morte do presidente do Irã, para quem a violência não era problema, era método — inclusive terceirizado. Os terroristas do Hamas também ficaram consternados. O mesmo Hamas que agradeceu publicamente o apoio de Lula. Como se vê, a paz de Oliver Stone não é para amadores.

Mas convicção é tudo. Oliver Stone é admirador de outros grandes pacifistas, como Nicolás Maduro — que, como todos sabem, é uma flor de pessoa. O que ele faz com seus opositores é questão de foro íntimo e ninguém tem nada com isso. As multidões de venezuelanos que fogem há anos do seu país devem ter algum problema com as flores. Lula disse que a Venezuela chavista tem excesso de democracia. Oliver Stone era fã de Hugo Chávez, o criador da floricultura venezuelana. Veja que a paz está por toda parte.

Lula e Oliver Stone, em 2016 | Foto: Reprodução/Redes Sociais
Vladimir Putin e Oliver Stone, em 2017 | Foto: Diviulgação/IMDb

Às vezes a paz machuca. Às vezes a paz explode. Às vezes a paz trapaceia. Às vezes a paz massacra. Irã, Venezuela, Nicarágua, Angola… A cara feia da paz não dá filme. Nem aplauso de claque em festival. Nada de botar uma coisa dessas na tela, que não fica nem bem. Vai que alguém resolve tentar fazer isso em casa?

A paz de Oliver Stone contém o silêncio de todos os massacrados que não têm despachante em Hollywood. Contém o drama dos sem-dramaturgia. Contém a asfixia das vítimas da propaganda enganosa. A paz de Oliver Stone contém o charme irresistível da defesa dos povos imaginários, o segredo mal guardado e desconcertante do desinteresse pelas pessoas reais, a mistificação da solidariedade em causa própria.

Aplausos de pé para a encenação impecável (ou quase). O Oscar da Paz vai para o Nobel de Efeitos Especiais, ou vice-versa. Tanto faz. Se liga na hipnose. Quem rir primeiro perde. Quem ri por último ri pior. Tá rindo de quê?

Oliver Stone durante exibição do documentário Lula, nas Sessões Especiais do 77º Festival de Cinema de Cannes, na França (20/5/2024) | Foto: Reuters/Stephane Mahe

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11 comentários
  1. Pedro Henrique
    Pedro Henrique

    Muitos $$ foram liberados para mais um incompetentemente!

  2. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Com certeza teve propina envolvida.

  3. Guilherme Marchiori de Assis
    Guilherme Marchiori de Assis

    Não esperava nada de pior desse péssimo diretor sobre um péssimo e indigno “presidente”.

  4. RODRIGO DE SOUZA COSTA
    RODRIGO DE SOUZA COSTA

    Um pouco atrasado pude consumir minhas gotas semanais de provocação inteligente, artigo muito raro nos editoriais e materias na imprensa brasileira.

  5. Lauro Patzer
    Lauro Patzer

    Gostei, Fiuza. “Oliver Stone, asfixia de uma propaganda enganosa”. Eu diria uma peça publicitária montada com endereço de local e CEP. Não passa de uma flor de plástico, um kitsch ideológico bem claro.

  6. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Pau nas urêa Fiuza

  7. Elias José de Souza
    Elias José de Souza

    A enganação é a principal estratégia dessa turma, sem ela o regime não prospera.

  8. Nilza Helena Costa Oliveira
    Nilza Helena Costa Oliveira

    Grande Fiuza. Sempre grande. Cada dia melhor.

  9. Osmar Martins Silvestre
    Osmar Martins Silvestre

    Grande Fiuza. Lembrei-me daquela propaganda que virou meme: “corte rápido… tramontina”. Valeu.

  10. MB
    MB

    Esse mistificador oportunista não enganou o saudoso Paulo Francis, que sacou as intenções do sujeito. O filme dele sobre o “JFK, a Verdade Que Não Quer Calar” diz tudo.

  11. Mauro Maretto
    Mauro Maretto

    Hollywood é a Globo lixo em escala ampliada, cinematográfica…

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