Quais produtos são exportados pelo agronegócio brasileiro para Vanuatu, Mianmar, Butão, Timor, Quirguistão, Polinésia Francesa, Montenegro, Sri Lanka, Omã, Gabão, Bangladesh, Iêmen, Geórgia, Cazaquistão, Kosovo, Nova Caledônia e Macedônia? Para duas centenas de países, além das commodities, o Brasil exporta uma diversidade cada vez maior de novos produtos de origem vegetal e animal. As exportações chegam praticamente a todos os países e dão uma nova imagem e dimensão geopolítica ao Brasil, pouco conhecida e, muito menos, reconhecida por aqui.
Na última década, pelos caminhos abertos pelas grandes commodities, a agropecuária brasileira diversificou, de forma intensiva e constante, sua pauta de exportação e abriu mercados para cerca de 400 novos produtos. Essa diversificação conta com uma maior participação de cooperativas, de pequenos e médios agricultores, e com produtos de maior valor agregado.
Comex, Apex e Ministério da Agricultura atestam essa evolução: em 2019, foram abertos 35 novos mercados, em 22 países. Em 2020, os novos mercados saltaram para 74, em 24 países. Em 2021, foram 77 novos mercados, em 33 países. Em 2022, 53 novos mercados abertos, em 26 países. Em 2023, um recorde: 78 novos mercados, em 39 países. Recorde já superado em 2024: em apenas seis meses, já foram conquistados 82 novos mercados, em 34 países.
Esses novos mercados se compõem de pequenos e médios volumes de produtos processados, com maior valor agregado (reciclagem animal, agroindústria, genética, máquinas, equipamentos…), ou de novos produtos da verdadeira biodiversidade da agropecuária: erva-mate, gergelim, maçã, gengibre, juta, açaí, essências, bulbos… (Revista Oeste, edição 164).
O Brasil exporta cada vez mais ovos in natura e processados industrialmente, cerca de 1% da produção. Passou de 9,5 mil toneladas em 2022 para 25,4 mil toneladas em 2023: um crescimento de 168%. O faturamento cresceu de US$ 22,4 milhões em 2022 para US$ 63,2 milhões em 2023, um salto de 182%. Qual é o principal destino das exportações dos ovos brasileiros? O Japão, com 10,3 mil toneladas (+849%), seguido por Taiwan, com 5,3 mil toneladas, e Chile, com 2,8 mil toneladas. Biosseguridade, ótimos indicadores de produção e ausência de gripe aviária garantem o aumento da exportação de ovos e, também, da genética aviária.
Na genética aviária, cresce a exportação de ovos férteis e de pintos de um dia, produtos de maior valor agregado. Os destinos são países onde a produção de frango cresce e/ou há necessidade de recompor plantéis após casos de gripe aviária e maciços abates. As exportações de ovos fecundados e pintos de um dia em 2023 alcançaram 26,4 mil toneladas, ante 15,6 mil toneladas em 2022, um crescimento de 69,3%. O faturamento passou de US$ 178,8 milhões para US$ 240 milhões, aumento de 34,2%. Dentre os principais destinos estão México, Senegal, Paraguai, África do Sul e Peru.
Outro exemplo são produtos derivados do couro bovino. De janeiro a junho de 2024, a exportação de selas e arreios alcançou o valor de US$ 4 milhões. Desse total, US$ 2,7 milhões, ou 65% das selas e arreios, foram vendidos para os EUA, seguidos pelo Canadá e pelo Uruguai. Deve ter cowboy norte-americano e polícia montada canadense sentados em selas brasileiras. O Rio Grande do Sul garante 54% dessas exportações.
Em termos de exportação, a produção vegetal e seus subprodutos alcançam mais de uma centena de países. Exemplos não exaustivos de itens e países são: maçãs para Bangladesh, Índia, Rússia, Colômbia, Nicarágua e Honduras; gengibre para o Egito; gergelim para Índia, Turquia, Guatemala, México e Arábia Saudita; açaí em pó para os EUA; limão-taiti para o Chile; óleos essenciais, matérias de perfume e de sabor para toda a América do Norte, quase toda a Europa, América do Sul, Ásia e Oceania, e, na África, para Guiné-Bissau, Tunísia, Angola, Gabão e Libéria; amidos, inulina, glúten, matérias albuminoides e colas para África do Sul, Libéria, Guiné, Serra Leoa, Gana, Nigéria, Quênia e Uganda; cascas, películas e outros resíduos de cacau para Filipinas e Uruguai; juta para o Panamá; lã e cardados para Uruguai, Argentina, Itália e Índia; amendoim para mais de 90 países, como Geórgia, Ucrânia, Emirados Árabes e África do Sul; bulbos e flores para Malta, Singapura, Quirguistão e Cazaquistão; erva-mate para Uruguai, Chile e Espanha; produtos alimentícios e animais vivos para Vanuatu, Nova Caledônia, Timor Leste e Mianmar.
A diversificação da exportação a partir de animais e derivados alcança hoje produtos e países como: camarão e carne de camarão para a Austrália; óleos e gorduras de aves e ruminantes para o Equador; vísceras comestíveis e farinhas de vísceras para o Chile; búfalos para reprodução para o Gabão; gelatina e colágeno para Cuba; gado em pé para Egito, Iraque, Líbano, Turquia, Arábia Saudita, Omã e Argélia; genética bovina para Iêmen e Vietnã; mel para o Panamá; cortes de frango para Polinésia Francesa e Butão; alevinos para as Filipinas; embriões bovinos e bubalinos para Angola, Vietnã, Mianmar e Malásia; mucosa intestinal para a Indonésia; sêmen bubalino para o Panamá; filés de peixe para Turquia, Iraque, Arábia Saudita, Tanzânia, Gabão, Coreia do Sul, Filipinas, China e Japão; ossos, chifres, marfim e cascos para Austrália, Angola, Costa do Marfim, Itália, Vietnã e Alemanha; gorduras, óleos animais processados e ceras para Egito, Paquistão, Venezuela, Colômbia, Quênia, Gabão, Indonésia, Malásia e Filipinas; embriões congelados de equinos e vergalho bovino para a Argentina.
Vergalho é o pênis do boi. Exportar vergalho bovino para a Argentina pode surpreender. Por ser macio e resistente, o vergalho desidratado torna-se um mordedor mastigável para cães e gatos. Com baixo teor de colesterol, auxilia na limpeza dos dentes e gengivas dos pets. Não faltam bois na Argentina. E, ainda assim, importam vergalho do Brasil. Esse exemplo ilustra a competitividade da pecuária, da destinação de seus subprodutos e da reciclagem animal. O Canadá também importa produtos mastigáveis para animais de companhia, de origem aviária, caprina e ovina.
Uma ampla gama de produtos agroindustriais, de máquinas e equipamentos ligados à produção agropecuária, também surpreende pelos novos mercados de exportação: produtos alimentícios para Aruba; manufaturas de madeira para Papua-Nova Guiné, Nova Caledônia, Nova Zelândia, Congo e Camarões; máquinas para processar alimentos para todos os países da América do Sul (incluindo Guiana, Suriname e Guiana Francesa), Zâmbia, Hungria, Polônia, Romênia e Áustria; maquinaria de papel e celulose para Finlândia, Reino Unido, México, Argentina, Chile, Rússia e Uganda.
Em 2001, o comércio entre China e Brasil era de US$ 1 bilhão por ano. Hoje, ele é de US$ 1 bilhão a cada dois dias
Em 2023, graças ao conjunto de suas exportações, o agronegócio brasileiro acumulou superávit recorde de US$ 148,58 bilhões. O crescimento foi de 4,9% em relação ao ano anterior. As exportações totalizaram US$ 165,05 bilhões, e as importações somaram US$ 16,47 bilhões, 10% do exportado. O agro brasileiro exporta muito e importa pouco. Em relação a 2022, suas exportações cresceram 3,9% e as importações diminuíram 4,5%. O agronegócio exporta quase R$ 2 milhões por minuto!
Todos sabem ou deveriam saber: o Brasil é o segundo maior exportador de produtos agropecuários do mundo, superado apenas pelos EUA. Ele é o primeiro exportador mundial de açúcar, café, suco de laranja, soja, milho, carne de frango, carne bovina, tabaco, celulose e algodão. Nessa dinâmica de diversificação e crescimento, o caso da China é diferenciado.
Em 2001, o comércio entre China e Brasil era de US$ 1 bilhão por ano. Hoje, ele é de US$ 1 bilhão a cada dois dias. Um exemplo desse dinamismo é a exportação de carne bovina. As exportações para a China saltaram de 123 mil toneladas de carne bovina em 2010 para 2,37 milhões de toneladas em 2023. No primeiro semestre de 2024, o Brasil exportou para o mundo 1,29 milhão de toneladas de carne bovina, um crescimento de 27,3% comparado ao mesmo período de 2023, e um faturamento de US$ 5,7 bilhões. No mesmo período, a China já importou 565.654 toneladas, um crescimento de 10,2% comparado a 2023 e um faturamento de US$ 2,5 bilhões. Os Emirados Árabes Unidos emergiram no segundo lugar, com 95 mil toneladas, um crescimento de 238% em relação a 2023, seguidos pelos EUA, com 85.395 toneladas, um crescimento de 19,7%.
Agricultores brasileiros são campeões mundiais na preservação da vegetação nativa (Revista Oeste, edição 53) e construíram a base tecnológica de um modelo sustentável de agricultura tropical, apesar da insegurança jurídica e fundiária, das invasões criminosas de terras produtivas, da precariedade da infraestrutura logística e do abandono dos programas de desenvolvimento rural e social, principalmente na Amazônia. Países desenvolvidos, campeões do desmatamento, acusam o Brasil de destruir a Amazônia. Enquanto esmaece a imagem do Brasil como terra do futebol e do Carnaval, cresce em supermercados e mesas dos consumidores de todo o mundo a presença competitiva dos produtos da agropecuária mais sustentável do planeta: a brasileira. Isso deveria estar nas marcas, nos rótulos, na publicidade, na mídia e nas redes sociais. Se muitos brasileiros, alguns inclusive com cargos no governo, parassem o aberratio delicti de difamar e infamar a agricultura, já ajudaria muito. 謝謝.
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Esse Evaristo é um peste pra saber das coisas da terra. Mas o Brasil melhoraria muito no humanegócio exportando para China Coreia do Norte Nicarágua Cuba Venezuela Colômbia Bolívia Guiné Equatorial Moçambique Angola minnamar Vietnã México Canadá, todas essas almas sebosas que estão na imprensa ladrona e no stablichment público
Sempre com artigos esclarecedores. Obrigado Evaristo de Macedo.
*Evaristo de Miranda.
É isso. Apesar dos governos irresponsáveis, dos invasores de terras, dos urbanóides que não deixam uma boa comida do Campo por nada!
Esse é o Brasil que dá certo sim. São uns abnegados esses Agropecuaristas e todos que lidam no Campo.
É uma potência que tem muito espaço ainda para crescer sem derrubar uma árvore sequer.
Grande Professor Doutor Evaristo de Miranda, obrigado sempre!
Os seus artigos são verdadeiros ensinamentos e nos fazem felizes. Quem tem um pé, um corpo todo no Campo então se sente envaidecido sobremaneira.
Obrigado.
Este artigo do Dr. Evaristo, mais uma vez, traz uma análise atualizada e inédita para muitos sobre a dimensão internacional que a agropecuária pela exportação está conferindo ao Brasil. Aos governantes caberia explorar e apoiar essa nova realidade e não combate-la como se o agro fosse uma ameaça. Eles sim, ameaçam a saúde econômica e social do país. Parabéns Revista Oeste.
São interesponsaveis @ Noel Almeida
Excelente artigo. Parabéns Dr. Evaristo. O texto mostra como a nossa agropecuária é pujante, tecnológica e sustentável e acima de tudo grandiosa. Obrigado professor por nos mostrar a grandeza da nossa agropecuária, apesar de toda campanha contra feita a começar pelo Filho de Satã que está na presidência, ONGs de fachadas, ecoterroristas, e demais atores do mundo global.
Pois é, somos campeões em tantas coisas boas, apesar da “torcida contra” seguimos em ritmo acelerado para melhorar cada vez mais nosso pais. Porém, alguns ainda insistem em espezinhar o agronegócio e culpar os empresários (empreendedores) pelas mazelas do Brasil. Artigos como esse nos fazem jamais perder a esperança no nosso potenicial. Um dia isso vai vingar e veremos o Brasil ocupar a posição que merece. Parabéns Prof Evaristo.
Um grande abraço, Dr. Evaristo de Miranda, por mais um artigo carregado de informações altamente relevantes sobre o agronegócio brasileiro. 👏👏👏👏👏