Não surpreendeu o teor dos diálogos entre auxiliares do ministro Moraes no TSE e no STF. A gente já conhecia os resultados; os meios não poderiam ser diferentes. Agora a investigação sobre a responsabilidade pelo vazamento obtido por Glenn Greenwald e publicado em capítulos pela Folha de S.Paulo só confirma o método. O interessado, ministro Moraes, foi quem mandou investigar. Não foi o verdadeiro interessado, que seria o juiz Airton Vieira ou o perito criminal Eduardo Tagliaferro ou o juiz Marco Antônio Vargas, do TSE. Funcionou tudo intra corporis — como tem sido o “inquérito do fim do mundo”, nascido no longínquo março de 2019 para pegar bolsonaristas. Ao mandar investigar, Moraes cita a Polícia Civil de São Paulo e fala em “possível origem criminosa do vazamento”. Só não falou em polícia do bolsonarista Tarcísio.
Há 70 anos, a “República do Galeão” concluía investigação paralela, fora do devido processo legal, sobre a morte, a tiros, do major aviador Rubens Florentino Vaz, que protegia o jornalista Carlos Lacerda. Os tiros partiram da segurança presidencial, concluíram os brigadeiros e oficiais superiores que instituíram o inquérito sem amparo constitucional. Mesmo assim, deram um ultimato a Getúlio: deveria renunciar. Vargas respondeu que do palácio só sairia morto. E deu um tiro no peito pouco mais de 24 horas depois. Era por isso que os apoiadores de Lula chamavam o inquérito da Lava Jato de “República de Curitiba”. E certamente foi lembrando de 1954 que o ministro Marco Aurélio batizou o inquérito inventado pelo então presidente do Supremo Dias Toffoli de “inquérito do fim do mundo”. A gente vai repetindo a história.
Há 90 anos, em 19 de agosto de 1934, quando morreu o chefe de Estado da Alemanha, presidente von Hindenburg, o então chefe de governo (ou chanceler) Adolf Hitler decidiu assumir também a chefia de Estado — e se intitulou Führer, “o condutor”. A partir daí, todos conhecemos a história. Passou a ser condutor, legislador, dono da vida, das propriedades e dos direitos de todos. E levou a Alemanha para sua maior tragédia. Outro alemão, Karl Marx, já havia avisado que, quando a história se repete, produz tragédia e, na segunda repetição, gera apenas uma farsa. Passados 90 anos, muitos homens públicos, tomados pelos seus desejos e carências pessoais, continuam a gerar, sobre seus semelhantes, tragédias e farsas.
Aqui no Brasil, sem que tenhamos nos dado conta de quantas dessas figuras já povoaram nossos dias, continuamos testemunhando esses condutores do país a nos levarem a lugar nenhum. Desde que nasci, convivi com alguns. Terminaram em tragédias, como Vargas, ou farsas, como Jânio Quadros. Agora estamos vivendo mais um capítulo de nossa história, outra vez com a Constituição desprezada, como em tempos do ditador Vargas, e com características de comédia, como nos rompantes de Jânio. E vamos repetindo, como se fosse a primeira vez, como se fosse uma novidade que surgiu do nada. Na verdade, surgiu da nossa complacência de deixar que os tais homens públicos decidam, com as suas motivações emocionais, o nosso destino, de nossa família, de nossas empresas. Somos a massa de manobra que eles usam para fingir que falam e agem por nós.
Desrespeito à Constituição não é novidade para quem nasceu em 1940, mas continuo querendo respeito, porque a Magna Carta é o marco civilizatório de uma nação
Logo depois do grito da Independência, fizemos uma Constituição. Durou até a da República. Os paulistas morreram por Constituição; Vargas fez e desfez a Magna Carta; os militares de 1964 precisaram da de 1967 e editaram o AI-5. E nós fizemos a Cidadã, de 1988. Quem a desrespeitasse seria traidor da pátria, como amaldiçoou o Doutor Ulisses. Nossos direitos e liberdades alicerçaram-se nela. “Censura nunca, cala a boca já morreu; quem for pessoa pública tem que aceitar crítica e sátira”, já ouvimos de ministros do Supremo. Beleza de democracia de discurso. Quem precisava zelar pela Constituição foi quem permitiu desprezá-la. Quem jurou defender a Constituição, como presidente da República, não reage, não a defende.
Agora estamos à mercê de uma única pessoa, o presidente do Senado. Da decisão monocrática do presidente do Senado para “voltar aos quadros constitucionais vigentes”, como eu tanto ouvi em 1955, na minha adolescência. Desrespeito à Constituição não é novidade para quem nasceu em 1940, mas continuo querendo respeito, porque a Magna Carta é o marco civilizatório de uma nação. Fora dela é nação fora da lei, lei da selva, campo aberto para um Führer ou duce — um condutor, vista ele terno, toga ou farda. De Gaulle não disse, mas a frase atribuída a ele — de que não somos um país sério — é verdadeira enquanto não tivermos o devido processo legal, o respeito aos direitos e garantias fundamentais, a liberdade de informação e de expressão, a vedação à censura e a inexistência de ambiente para surgirem “condutores” que nos conduzam à tragédia.
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Alexandre, artigo primoroso! Uma aula.
Alexandre, entendo que você é a voz mais respeitada pelos velhos meios de comunicação, por juristas, militares, religiosos e empresários que unidos pela democracia poderiam impor uma urgente transparência no processo eleitoral e nas urnas eletrônicas. Como essas celebridades que você conhece entendem o TSE legislando eleitoralmente, impedindo mídias de se comunicarem com o povo sempre em detrimento de candidatos da centro direita?.
Creio que já esta na hora de entender que nossas urnas eletrônicas sequer tem a possibilidade de AUDITAR como as que existem na VENEZUELA, que realmente permitiram identificar a FRAUDE que MADURO tenta impor ao povo venezuelano. Qual a necessidade de nova PEC do VOTO IMPRESSO se esta forma de AUDITAR já tinha sido aprovada pelo CONGRESSO NACIONAL em 2015, testada nas urnas implantadas que deveriam estar implantadas em 2018 e os ministros de plantão decidiram decretar a inconstitucionalidade da LEI?. Não basta implantar sem mais processos legislativos, mas somente como uma atualização do sistema de segurança para o eleitor, que será o primeiro AUDITOR de seu próprio voto ao verificar e encaminhar seu voto para 2 urnas, a eletrônica e a lacrada com o VOTO IMPRESSO. Creio que bastava ser implantada, para o eleitor democrática e pacificamente aceitar o vencedor, e com certeza evitaria a “criatividade” do SISTEMA que de nada valeria. Com certeza não teríamos teremos mais FARSAS como o 8 de Janeiro, atribuído a patriotas democratas, pacíficos e trabalhadores sem quaisquer antecedentes criminais que vem sendo INCONSTITUCIONALMENTE humilhados e condenados severamente como criminosos hediondos.
Na minha opinião, muita coisa precisa mudar no sistema eleitoral brasileiro.
Acabar com esta urna eletrônica como está, que não é usada em canto civilizado nenhum no mundo.
Acabar com obrigatoriedade de voto.
Acabar com números, fazendo o eleitor votar no nome do candidato.
E acabar com a justiça eleitoral, que só tem servido para alocar parasitas que ficam inventando chifre em cabeça de cavalo. A justiça comum que dê conta das demandas.
Tchê: rasgaram a CF e os códigos todos,, desde os processo penal, civil e até leis trabalhistas que estavam consolidadas. Algns princípios norteadores de nossa república democrática foram sendo eliminadas e desprezadas: condção coercitiva, prisão temporária, liberade de opinião parlamentar, indulto presidencial, inquéritos sem fim e as decisões do colegiado foram sendo substituídas por decisões monocráticas, denuncias anônimas se constituirem em prova, colocaram a delação premiada no cesto de lixo, notícias de tablóide são provas e fofoca ao telefone é sentença definitiva de crime contra o estado de direito, e ainda por cima transformarm o golpe eleitoral maniçulado em tese que o golpe foi dado por criminosos sem armas e sem excército.
Fora as miudezas que já são jurisprudência nas instâncias inferiores.
Lamento que o maior responsável por este estado de coisas que se transformou o Brasil tenha um responsável direto: Rodrigo Pacheco.
Muito bom, Alexandre! Excelente, histórico e informativo, curto e grosso texto! Muito obrigada.
Como a história é cíclica. Espero que esse “condutor” faça como aquele outro e tire a própria vida.
O STF hoje da asco
O STF hoje da asco
Rodrigo Pacheco é o comunista responsável pela ditadura comunista em curso. Rodrigo Pacheco é covarde.
Você é absolutamente necessário.