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Michel Temer, ex-presidente do Brasil | Foto: André Carvalho/Divulgação
Edição 238

Michel Temer: ‘Quanto antes acabar o inquérito das fake news, melhor’

Ex-presidente fez críticas a posicionamentos do PT sobre a economia e comentou decisões do ministro Alexandre de Moraes

Cristyan Costa
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Chovia fino e ventava gelado quando Michel Temer entrou na sala de reunião de seu escritório, localizado no Itaim, bairro nobre da capital paulista, pontualmente no horário marcado para a entrevista, às 15h30. Enquanto arrumava o terno cinza-claro, o ex-presidente caminhou lentamente para fechar a porta do espaço com carpete bege e adornado com prateleiras de madeira marrom-escura. Na estante, inúmeros livros de Direito, história, filosofia e política. Entre eles, Esquerdas e Direitas, de Joaci Góes, e Homo Deus, de Yuval Harari. Durante os primeiros minutos da conversa, Temer falou num tom descontraído sobre seus dois anos e meio de governo. “É curioso que, seis meses antes de assumir, meu partido, por meio da Fundação Ulysses Guimarães, redigiu o documento Ponte para o Futuro, que continha medidas que passamos a adotar de prontidão”, lembrou Temer, enquanto ajeitava a gravata azul-marinho, combinando com a camisa azul-clara. “Logo nos primeiros dias da gestão, um membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social me disse para aproveitar a impopularidade e fazer as reformas de que o Brasil precisava. Por isso, mexemos em uma série de assuntos que são verdadeiros vespeiros. A questão trabalhista, entre outras.”

Sobre o governo Lula — repleto de integrantes que o chamaram de “golpista” ao suceder Dilma Rousseff depois do impeachment —, limitou-se a tecer críticas pontuais à economia. Entre elas, os ataques do Palácio do Planalto à taxa básica de juros, que é determinada pelo Banco Central independente, sob o comando do presidente Campos Neto. “Não acho útil perder tempo falando dessa questão a todo momento, porque é algo que instabiliza a economia e abala o mercado”, observou. “Acho também que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é uma boa surpresa, mas sinto que ele sofre com resistências internas no próprio governo.”

Ao falar sobre sua única — e polêmica — indicação para o Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e as sentenças controversas do ministro, Temer voltou ao tom formal, cerimonioso e fechado dos tempos na Presidência. Elogiou o juiz do STF, mas fez uma constatação importante, como jurista, sobre uma das decisões proferidas por Moraes: o caso Filipe Martins, preso mesmo não tendo viajado para os Estados Unidos com Jair Bolsonaro em dezembro de 2022. “Se o ex-assessor da Presidência demonstrou cabalmente que não viajou para os EUA na data alegada no processo, e caso o único motivo da prisão tenha sido esse, a decisão está errada”, constatou, ao ponderar que precisaria consultar os autos do processo. O ex-presidente comentou ainda o inquérito das fake news, que já dura seis anos. E também falou sobre o protesto do 8 de janeiro.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

O senhor deixou um legado reformista para o Brasil ao sair da Presidência. Qual é o seu maior feito no governo?

Não citaria uma medida única, mas, sim, um conjunto delas que colaboraram para o Brasil caminhar para a frente. Ao assumir o governo, ouvi de alguém próximo que eu deveria usar a minha impopularidade para mexer em vespeiros que as pessoas costumam evitar. Por isso, fizemos coisas ousadas, como a reforma trabalhista, que não tirou direitos das pessoas como se diz. Estabelecemos um teto de gastos, que equilibrou as contas públicas, e reformamos o ensino médio, uma área bastante ideologizada, além de trabalhar pela queda dos juros e pela redução do tamanho do Estado. Só não avançamos mais, com a reforma da Previdência, porque houve o episódio que envolve o empresário Joesley Batista, o qual acabou impedindo esse avanço. De acordo com um livro, à época, esse senhor chegou a ser instruído pelo então procurador-geral da República [PGR], Rodrigo Janot, a gravar uma conversa comigo, durante uma reunião. Só assim a colaboração premiada com a PGR avançou. Um jornal chegou a publicar que eu renunciaria, o que não aconteceu.

Ao assumir o governo, ouvi de alguém próximo que eu deveria usar a minha impopularidade para mexer em vespeiros que as pessoas costumam evitar | Foto: Beto Barata/PR

Hoje, Joesley e Wesley Batista são figuras centrais do governo Lula. O que o senhor pensa a respeito?

Cada governo tem as suas escolhas, e este optou por estar com esses empresários. É uma questão de preferência. Sei que há uma ligação de muito prestígio desses senhores com o governo atual. Não há como negar que são grandes empreendedores, por comercializarem proteína animal no Brasil e no mundo, além de várias atividades no país e fora dele. Agora, volto a lembrar da questão da Previdência porque, se aprovássemos a reforma naquele momento, o Brasil teria ganhado fôlego de dois anos e meio.

Qual nota o senhor daria para a terceira gestão do PT?

Não cabe a mim dar notas a governos. O que posso dizer é que, no plano econômico, vejo como problema a insistência nas críticas à taxa básica de juros. Não acho útil perder tempo falando dessa questão a todo momento, porque é algo que instabiliza a economia e abala o mercado. Acho também que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é uma boa surpresa, mas sinto que ele sofre com resistências internas no próprio governo. Por fim, falta a essa gestão uma palavra de harmonia a todo o país. Durante dois anos e meio de ataques que recebi, não saí achincalhando a oposição sempre que ela vinha feroz para cima de mim.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad
Fernando Haddad, ministro da Fazenda | Foto: Washington Costa/MF

O senhor indicou o ministro Alexandre de Moraes para o STF. O que tem achado do desempenho dele?

Eu o fiz na ciência e consciência de que é um grande constitucionalista. Quando esteve comigo no governo, teve também um ótimo desempenho como ministro da Justiça. Não fosse a coragem dele, acho que não teríamos tido eleições no país em 2022. As pessoas criticam bastante o episódio do 8 de janeiro, com penas pesadas que chegam a 17 anos. É algo que se pode discutir. De todo modo, ele não poderia deixar impune quem destruiu as sedes dos Poderes.

Michel Temer, então presidente da República, e Alexandre de Moraes, então ministro da Justiça e Cidadania (31/8/2016) | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

As penas dos manifestantes são compatíveis com o que aconteceu na Praça dos Três Poderes?

A dosimetria é uma questão a que cada um pode fazer críticas. Vejo que a atual postura do Supremo tem sinalizado no sentido de que, num futuro próximo, não é improvável que haja diminuição do tempo que essas pessoas ficarão presas.

O senhor é a favor da anistia aos presos do 8 de janeiro?

É um tema complicado, que exige bastante diálogo. Não sei dizer se o adequado seria a anistia geral ou uma anistia redutora de penas, portanto, um meio-termo. Resolver essa questão ajuda a pacificar o país, que não pode continuar vivendo na radicalização. Quando um novo presidente toma posse, virou moda destruir o que foi feito no governo anterior, na esteira daquela expressão que ficou popular: “herança maldita”. Se continuarmos nesse estado, vamos desmoralizar o Brasil não só aqui, mas também no exterior.

Moraes manteve Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro, preso durante seis meses, mesmo com a apresentação de provas da sua inocência. Ao libertá-lo, manteve ele preso a uma tornozeleira eletrônica. Como advogado e jurista, o senhor concorda com essa decisão?

Não conheço o caso dele totalmente. Sendo assim, precisaria consultar os autos. Imagino que o ministro Alexandre tenha considerado outros elementos ao manter essa prisão. De todo modo, se Martins demonstrou cabalmente que não viajou para os Estados Unidos na data alegada no processo, e caso o único motivo da prisão tenha sido esse, a decisão está errada. No Brasil, lamentavelmente, as prisões preventivas se tornaram um hábito. Em alguns casos, elas foram alongadas quase que indefinidamente e se tornaram praticamente uma condenação. Esse tipo de prisão é um instrumento para prevenir certos fatos, em um determinado período. Quando são exageradas, entendo que não são úteis para o sistema político-jurídico do nosso país.

O ex-assessor de assuntos internacionais do governo Bolsonaro, Filipe Martins, foi proibido de dar entrevista à Folha | Foto: Reprodução/@filgmartin no X
Filipe Martins, ex-assessor de Assuntos Internacionais do governo Bolsonaro | Foto: Reprodução/@filgmartin no X

O inquérito das fake news no STF já dura seis anos. Ele já deveria ter acabado?

Quanto antes acabar, melhor. Soube, recentemente, que o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, falou que a investigação deve se encerrar em breve. Certamente, os demais ministros estão dispostos a liquidar o caso muito proximamente. O tribunal tem feito outros movimentos também, como conceder a progressão do regime ao ex-deputado federal Daniel Silveira. A Corte tem liberado muita gente, já. Ou seja, pouco a pouco, o STF, que impôs penalidades a algumas pessoas, está, agora, libertando-as.

Qual é o caminho para a pacificação do país? Isso está sendo feito?

Certamente, passa pelas autoridades públicas, à medida que elas falarem a palavra “pacificação”. O que aconteceu na Espanha, quando se estabeleceu o Pacto de Moncloa? O governo chamou a oposição e, juntos, criaram um grande acordo. Continuaram divergindo, mas fizeram um pacto pelo país. Sobre se está sendo feito aqui, acho que há uma certa despreocupação em relação a isso. De vez em quando, digo às pessoas: “Se, na próxima eleição, aparecer uma figura política que tenha peso, tamanho, credibilidade e que pregue a harmonia e a tranquilização do país, esse alguém terá grandes chances de obter êxito nesse tema”.

O senhor vê uma figura como essa na política hoje?

A safra de governadores eleitos em 2022 é muito boa. Tenho tido contato com eles. O de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, por exemplo, é um sujeito adequadíssimo. Cito também os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado; o do Pará, Helder Barbalho; o do Paraná, Ratinho Júnior; e o de Minas Gerais, Romeu Zema; além de Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul. São pessoas muito adequadas e centradas. Acho que o próximo passo da futura eleição vai ser o de moderação para o país inteiro. Isso vai ser útil porque cria respeitabilidade também no exterior.

tarcísio gomes de freitas - reforma tributária
Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo | Foto: Divulgação

O senhor acha que o caminho para a pacificação passa por um maior comedimento do Poder Judiciário, em específico o STF?

Não. Acho que ele passa pela aplicação rigorosa do texto constitucional. A nossa Constituição é muito detalhista e trata de vários temas, como a família, a educação, a cultura e a economia. Tudo está na Constituição. Então, todas as questões são levadas ao Supremo de alguma forma. Fui presidente da Câmara três vezes. Sabe quem mais provocava o Supremo? Era a classe política. Quem perdia um projeto no Parlamento ia bater na porta do STF.

Mas os ministros precisam, necessariamente, decidir sobre tudo? E o STF está cumprindo a Constituição?

Se provocado, o Poder Judiciário não pode negar jurisdição. Negá-la é proibido pelo próprio texto constitucional. Entendo que o STF está cumprindo a Carta Magna. Há séculos, o jurista Rui Barbosa disse que o Supremo é o único Poder que tem o direito de errar por último. Ele pode até errar, mas tem competência para isso. Eu, como advogado, posso e vejo alguma decisão do STF como errada. Todavia, a última palavra é dele. E, sendo dessa forma, é também o que dá estabilidade ao sistema.

O senhor conversa com o presidente Lula?

Conversei muito com ele no passado, principalmente quando era presidente da Câmara. Hoje, não.

Leia também “Antonio Risério, o socialista odiado pela esquerda”

22 comentários
  1. Sonia Regina Del Nero Vitullo
    Sonia Regina Del Nero Vitullo

    Crhistian, seu trabalho é fantástico, porém essa entrevista foi inútil. Esse entrevistado, como sempre, gosta mais das palavras polidas do que das verdades. Ele deve saber, também, que existem palavras polidas para dizer a verdade. Mas, ele é conivente com o sistema, depende dele. Só pisou em ovos, ficou em cima do muro e não respondeu nada objetivamente. Muito chato, tomou seu precioso tempo à toa. E o meu, que incauta, fiquei lendo.

    1. Fernando S
      Fernando S

      Perfeito comentário. 100 % de acordo.

  2. Olnei Pinto
    Olnei Pinto

    Este sempre foi o que é nesta entrevista, as vezes parece mas não é, outras é mas não parece. Na verdade é um político profissional que continua iludindo sem um posicionamento definido.

  3. Marco Antônio Peres
    Marco Antônio Peres

    O Brasil esta com Cancer em estado terminal, esse ai é uma das metástases

  4. Otavio Lazario de Queiroz
    Otavio Lazario de Queiroz

    Quanto antes não. Já deveria ser encerrado. Uma aberracao

  5. EDER CESAR GOMES DE OLIVEIRA
    EDER CESAR GOMES DE OLIVEIRA

    Esse sujeito é muito perigoso, tal como o Kassab. Ouso dizer que ele é mais perigoso que a própria esquerda. A política nacional está eivada desse patrimonialismo e fisiologismo e a corrupção brota dos poros desta gente. Conceitos como liberdade, democracia, vontade popular, costumes e valores nacionais passam longe deste bando. O centrão corrupto que mantém as pautas degeneradas da esquerda em troca de cargos, dinheiro e poder. É urgente que a direita tenha maioria no parlamento para sufocar o centrão e de fato, combater a esquerda.
    Temos o Partido Novo com bons quadros, assim como o PL e penso que se tivermos maioria na Câmara e no Senado com estes dois partidos, poderemos enfim, vencer o jogo e colocar ordem no Brasil, uma vez que a rejeição a esquerda só aumenta.
    Por fim, acabando com esse Câncer que é o centrão, é possível moralizar inclusive o próprio STF e quiçá, termos enfim, segurança jurídica no Brasil com a correta aplicação da lei.

  6. Josenildo Nascimento Melo
    Josenildo Nascimento Melo

    Um homem correto e dos livros. Certamente está analisando o melhor cenário político. Já pensou se o MDB resolve se unir nacionalmente ao PL, PP, União Brasil, PSD e Republicanos? A era PT com certeza findou-se. Já era. O pensamento atual do brasileiro é da cultura cristã e conservador. Boa entrevista. Parabéns à Revista!

  7. Vanildo
    Vanildo

    Pesará em sua consciência eternamente, as consequências nefastas da sua indicação pessoal ao STF e considerando a imortalidade da alma a sua eternidade será longa

  8. Oldair Dorigon Bianco
    Oldair Dorigon Bianco

    Rolando lero-lero.

  9. José Rubens Medeiros
    José Rubens Medeiros

    Sr. Temer, suponho que você, tendo formação jurídica, com larga experiência de vida (octogenário), sabe MUTO BEM que está dizendo uma INADJETIVÁVEL BOBAGEM que se empilha sobre as incontáveis outras que a respeito desse mesmo assunto são cuspidas Brasil afora. Não se trata de “ACABAR O QUANTO ANTES O TAL INQUÉRITO”, mas obviamente de ANULÁ-LO DE CABO A RABO e responsabilizar severamente e pessoalmente (na forma da lei) todos os que direta ou indiretamente contribuíram para o surgimento desse monstro que tem destruído vidas e a intocável liberdade do povo

  10. ODAIR DE ALMEIDA LOPES JÚNIOR
    ODAIR DE ALMEIDA LOPES JÚNIOR

    Nunca se pôde esperar algo que prestasse de Temer. Não seria agora que tal se daria.

  11. Luiz Renato
    Luiz Renato

    São tantas as platitudes ditas por esse indivíduo que nem me dei ao trabalho de terminar de ler essa dita entrevista

  12. David S
    David S

    O cara no ocaso da vida, continua o mesmo demagogo de sempre.
    Esse papo que ele é gentil, o cacete, não passa de um oportunista político e um bajulador “polido”.
    Nunca fui com as fuças deste senhor, mas tenho a competência de observar, que durante o seu governo, ele encarou alguns pontos e resolveu positivamente.
    Agora, não dá para suportar a demagogia escancarada, para agradar a…..

  13. Julio José Pinto Eira Velha
    Julio José Pinto Eira Velha

    Crystian Costa, poderia utilizar seu tempo para fazer reportagens que acrescentem algum conhecimento ou informacão relevante ao leitor, sinceramente o assinante da Oeste merece coisa melhor.

    1. Luiz Renato
      Luiz Renato

      Concordo que foi uma entrevista totalmente desnecessário e os comentários são mais interessantes e inteligentes do que a própria matéria

  14. Felipe Correia
    Felipe Correia

    Falou muito e não disse nada. Temer ficou em cima do muro sobre todas as perguntas feitas. Deve estar com medo do cachorro louco que ele criou.m e colocou pra guardar a casa, chamada constituição.

  15. José Ervolino Neto
    José Ervolino Neto

    Velho corno nojento! Liso e sem vergonha! Enfiou no STF um ditador psicopata!

  16. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Eu se fosse um homem da imprensa jamais iria dá publicidade a um imundo como esse Michel Temer

  17. Maria Weber
    Maria Weber

    Este senhor é patético, não é possível que qualquer pessoa decente considere o Sr Alexandre de Moraes um ministro adequado, uma vez que a psicopatia dele não permitiria que ele sequer dirigisse um condomínio.

  18. Evandir Corrêa Pimenta
    Evandir Corrêa Pimenta

    Falou muito e não disse nada!

  19. Evandir Corrêa Pimenta
    Evandir Corrêa Pimenta

    Falou muito e não disse nada!

  20. Fabio
    Fabio

    Passou pano e não assumiu uma postura incisiva contra o STF, mais do mesmo.

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