Pular para o conteúdo
publicidade
Ilustração: Revista Oeste/IA
Edição 240

A imprensa saiu do armário

Enquanto pudermos fingir que todos os problemas da humanidade cabem nessa gangorra idiota 'direita x esquerda', você estará em maus lençóis — e nós estaremos numa boa

Guilherme Fiuza
-

Nós, da imprensa, temos uma sagrada missão: impedir que Donald Trump seja eleito presidente dos EUA. Vale puxão de cabelo e dedo no olho. Vale mentir como se não houvesse amanhã, desde que a mentira seja sutil. Se a mentira não for sutil, vale também.

Vale tudo, porque vale dizer que a eleição de Trump será o fim da democracia (valeu, De Niro). Ele governou democraticamente por quatro anos? Sem perseguir ninguém e fortalecendo as minorias? Dane-se. A gente diz que ele é fascista e corre pro abraço. Nós, da imprensa, não precisamos provar nada. Por uma coincidência divina, os checadores estão sempre olhando pro outro lado quando a gente mente.

A gente pode dizer que o Trump vai trazer inflação, mesmo a inflação tendo subido no governo Biden. Não pega nada pra nós! Está surpreso? Então é porque você não entendeu as regras do jogo. Vamos repetir: vale puxão de cabelo e dedo no olho.

O melhor da festa é podermos dizer que tudo que vem do Trump é uma ameaça “da direita”. Nós sabemos que ele reduziu as tensões internacionais, da Coreia do Norte ao Oriente Médio — mesmo a Meryl Streep dizendo que ele ia provocar a Terceira Guerra Mundial. Mas nós continuamos podendo dizer que o Trump é o apocalipse “direitista” porque nossos críticos nos ajudam! Eles dizem que tudo que é bom vem “da direita”. Não é maravilhoso?

Ilustração: Revista Oeste/IA

É maravilhoso porque nos ajuda a mentir. Como sabemos, “direita” é um conceito tão vago que pode significar tudo — inclusive nada. Aí é molezinha pra nós. Pegaria muito mal, por exemplo, a nossa censura no caso do computador do filho do Biden. Mas aí eles dizem: “Estão censurando a direita!”. Ufa. Eles sempre nos salvam. Aí basta a gente dizer que “a direita desinforma” e que “estamos combatendo as fake news”.

Por que os nossos críticos não chamam censura de censura, mentira de mentira, perseguição de perseguição, e botam tudo que é certo nessa embalagem mal-ajambrada da “direita”? Porque assim eles ganham audiência, engajamento, voto, grana, poder etc. Não é perfeito? Nós seremos felizes para sempre na nossa guerrinha de mentira.

Quem perde? Ora… Quer mesmo saber? Então vamos lá, seja forte: quem perde é você, querido. Enquanto pudermos fingir que todos os problemas da humanidade cabem nessa gangorra idiota “direita x esquerda”, você estará em maus lençóis — e nós estaremos numa boa. Dá até pra dizer que a série de atentados contra Trump é culpa dele próprio — e da onda de ódio “da direita”.

Obama disse que o único plano de Trump é semear “a raiva e o ressentimento”. Não é maravilhoso? Sem dúvida, Barack Obama é a segunda maior atração da Disney depois do Pateta. O que seria dele sem o teatrinho “direita x esquerda”? Não arrumava uma ponta nem no Domingão do Hulk.

Agora dá licença que nós precisamos apreciar a obra de arte Trump Enforcado.

Republicanos classificaram a instalação como um ato de violência política | Foto: Reprodução/Redes sociais
Trump Enforcado, escultura exposta no entorno de uma rodovia em Las Vegas, nos Estados Unidos | Foto: Reprodução/Redes Sociais

Leia também “Reunião política”

2 comentários
  1. Renato Perim
    Renato Perim

    Fiuza é muito bom, mas essa negação dele em reconhecer que as ideias de esquerda via de regra demandam mais estado e a direita quer o oposto, é que não dá pra engolir. Se minha explicação estiver errada, me desculpem, mas provem que não é isso que eu disse.

    1. Victor
      Victor

      Prezado Renato, você está totalmente correto.

Anterior:
Obama ao resgate
Próximo:
Apaziguamento ou confronto?
Newsletter

Seja o primeiro a saber sobre notícias, acontecimentos e eventos semanais no seu e-mail.