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Lula e Getúlio Vargas | Foto: Montagem Revista Oeste/Ricardo Stuckert/Shutterstock/Wikimedia Commons
Edição 245

Donos e farsantes

Lula se prepara para anunciar que, diante da trama golpista, ele é a solução unificada da democracia nacional

Alexandre Garcia
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Em novembro de 1937, Getúlio Vargas usou uma farsa para cercar e fechar o Congresso e decretar o Estado Novo, fazer intervenção nos Estados (menos Minas Gerais) e passar a governar com decretos-leis, até ser deposto, em outubro de 1945. A farsa era o Plano Cohen, nome de um judeu comunista fictício, aproveitando o estudo de um capitão, Olímpio Mourão Filho, sobre insurreição popular no Brasil. Parte da imprensa da época aderiu à farsa e contrariou a natureza do jornalismo, de ser cética e crítica, e foi fácil dispensar o Congresso e a Constituição que os paulistas em 1932 obrigaram Getúlio a aceitar. Antes, em 1935, o levante comunista, também de novembro, ensejou estado de sítio, para que Vargas pegasse não apenas os comunistas, mas os demais adversários que poderiam fazer sombra à sua liderança.

A história do Brasil se encaixa bem na crítica de Karl Marx ao golpe de Napoleão III na França, em 1851. Citando Hegel, que observou que os fatos e personagens de grande importância na história ocorrem duas vezes, Marx acrescenta: “Esqueceu-se Hegel de que a primeira vez vem como tragédia; a segunda, como farsa”. Neste novembro vivemos sobressaltos numa repetição de histórias que viram farsas. Governantes usam isso para se impor e eliminar adversários ou lideranças consideradas perigosas. A história mostra como Getúlio procurou unir o país em torno de si, com o pretexto de ameaças à democracia; o general Galtieri invadiu as Malvinas para tentar unificar o povo argentino em torno de sua ditadura; tentando unir o país em torno de si, Maduro “anexou” parte da Guiana — ainda apenas no mapa. Agora dizem que Lula se prepara para anunciar que, diante da trama golpista, ele é a solução unificada da democracia nacional.

Ilustração: Shutterstock

As conversas de WhatsApp entre militares podem ser uma trama, mas não chegam a ser um planejamento, e muito menos uma execução que caracterizaria crime — e distante da consumação, pois não tinham meios para isso. Segundo o inquérito, eles esperavam uma ação baseada no artigo 142 da Constituição, que o presidente não adotou. Então abandonaram o intento, frustrados com Bolsonaro. O inquérito se chama Contragolpe, mas, ironicamente, se houve contragolpe, foi a negativa do presidente em acolher as ideias daqueles militares. O inquérito está eivado de presunções e hipóteses e carente de descrições fáticas e exposição de provas. Mas fornece munição para quem quer anular Bolsonaro, um líder que cresce quando é atacado. A repetição dia e noite de seu nome nas tevês foi propaganda, e no Paraná Pesquisas Bolsonaro é vencedor da eleição em primeiro e segundo turno, ganhando de Lula, e aparecendo Michelle empatada tecnicamente com o presidente atual.

Por que temem tanto Bolsonaro? Foi acusado de dividir o país, por ter acordado a brasa dormida como num sopro de oxigênio que gerou chamas de liberdade e consciência de que o poder emana do povo. Raymundo Faoro, em seu livro Os Donos do Poder, demonstra que esses donos vêm desde o Império e sobrevivem na República graças aos conchavos e à autoproteção do status quo. Viram em Bolsonaro uma ameaça, a mesma que veem nas redes sociais. É o povo ganhando consciência de seu poder e dispensando intermediários. Bolsonaro, para os donos do poder, representa perigo ao patrimonialismo com que se apoderam do Estado e ao paternalismo com que ganham votos dos menos informados.

Capa do livro Os Donos do Poder, de Raymundo Faoro | Foto: Divulgação

A facada, que foi cogitada, planejada e executada, foi um golpe que não se consumou totalmente, porque não o matou. Essa é a primeira parte da história a que Hegel e Marx se referem. Quando ele se elegeu, abriu uma brecha na fortaleza dos donos do poder, que reagiram para evitar que continuasse. Quando o poder estava com os militares, tiraram os direitos civis de Juscelino, porque era a maior liderança nacional. Hoje não há atos institucionais, mas a força do arbítrio, fora do devido processo legal, fora da Constituição. Então seguem-se farsas. O povo não consegue saber como são apurados os votos; com criatividade, Bolsonaro é feito inelegível e indiciado por uma tentativa a que não aderiu. São repetições sucessivas da história. Como Marx qualificaria essa contumácia?

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9 comentários
  1. ELIAS
    ELIAS

    O único poder capaz de se contrapor aos “Donos do Poder” atual seria o Legislativo. Mas, como vemos, seus membros estão majoritariamente com o “rabo preso”, acovardados e sem uma liderança forte capaz de dar o grito de basta. Assim, a país ruma docilmente para se transformar numa Venezuela.

  2. Sergio Julio Tamarossi
    Sergio Julio Tamarossi

    Ótimo artigo. Parabéns!

  3. Antonio Carlos Neves
    Antonio Carlos Neves

    Alexandre, mova celebridades amigas e verdadeiras da imprensa, religiosas, militares, econômicas, juristas, cientistas sociais, para moverem uma gigantesca manifestação junto ao STF como aquelas que OAB, IMPRENSA e outras lideranças do passado fizeram pedindo a volta da democracia no regime militar. O povo esta desorientado pela velhaca imprensa e maus políticos e necessita de lideranças desses setores. Vamos ajudar Bolsonaro e seguidores da centro direita a se manifestarem. Sobre eleições com VOTO IMPRESSO, seria oportuno orientar nosso PARLAMENTO que não é mais necessário LEIS ou PECs. para implementa-lo em 2026.
    É uma exigência do povo brasileiro para pacificar a nação. Vale lembrar que Bolsonaro disse diversas vezes que passaria a faixa ao vencedor com eleições transparentes e auditáveis, e nada dessa FARSA do 8 de janeiro teria ocorrido.

  4. Vendelino Crisóstomo Salomon
    Vendelino Crisóstomo Salomon

    “Aqueles que não aprendem com a História, estão condenados a repetir os seus erros.” George Santayana.

  5. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    “É o povo ganhando consciência de seu poder e dispensando intermediários.”
    Muito bom, Alexandre.

  6. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Alexandre meu filho você é um condenado, um febrento do rato pra saber interpretar a política brasileira. Vá ser senador pra cassar esse STF pocilga. Você vai ter 99% dos votos do Rio Grande do Sul

  7. Brian
    Brian

    Esse avanço que destrói o Brasil tem um responsável que se chama Rodrigo Pacheco.

  8. Lauro Patzer
    Lauro Patzer

    Lula está afundando pela incompetência, pela desonestidade e pelo seu envolvimento com o mundo corrupto, cujos crimes estão nos autos, que nenhuma caneta de toga amiga pode apagar.

  9. COLETTO ASSESSORIA EM SEGURANÇA DO TRABALHO LTDA
    COLETTO ASSESSORIA EM SEGURANÇA DO TRABALHO LTDA

    EXCELENTE ANALISE !!!
    REALMENTE OS “DONOS DO PODER” QUE COLOCAM SEUS MINISTROS E POLITICOS NAO ACREDITAVAM QUE ” O PODER EMANA DO POVO ” E ACEITARAM O BOLSONARO SER ELEITO AGORA SOMOS NOS QUE NAO MAIS OS ACEITAMOS.
    TENHO RECEIO DESTA FASE DA HISTORIA DO BRASIL POIS A POLITICA NÃO EXISTE MAIS O QUE DEVERA SUBDSTITUI-LA ?:

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