OBrasil é um campeão mundial do agronegócio, e todo mundo sabe disso. Mas esse feito não acontece por milagre. Existe muita gente trabalhando duro para que o país se destaque nessa área. O governo Lula, em compensação, joga contra: deixou que o Plano Safra, um dos grandes segredos para esse sucesso, fosse interrompido.
Por mais trivial que seja um prato quentinho de arroz e feijão, a existência desses alimentos envolve atividades muito complexas e arriscadas. Se há risco em cozinhar com uma panela de pressão, imagine em cultivar em áreas equivalentes a vários quarteirões por meses para vender a colheita. Além do longo tempo investido sem faturar, o preço pode cair bem na época da safra. Pior ainda: algum evento incontrolável da natureza (como uma grande chuva) pode arrasar toda a plantação e acabar com a produção inteira.
É preciso mitigar a insegurança que afeta tanto os produtores quanto os credores e os consumidores. Daí a necessidade do Plano Safra, algo muito além de uma linha de crédito para comprar sementes, custear insumos e garantir o salário dos trabalhadores no campo. O programa também serve para adquirir equipamentos necessários para produzir mais com menos terra, construir estruturas dedicadas à armazenagem e até comprar máquinas para a produção agroindustrial.
O arroz da mesa, por exemplo, não sai da roça branquinho e polido. Uma central de beneficiamento deixa o grão adequado para o cozimento em casa. O mesmo acontece com o feijão. A carne, então, nem se fala. É preciso abater e fatiar um boi para que vire um bife. O leite também não sai da vaca sozinho — é preciso um laticínio para ser transformado em produtos absolutamente comuns, como creme, manteiga, queijo, iogurte, leite condensado, requeijão etc.

Sem dinheiro na roça?
O Tesouro Nacional anunciou a paralisação do Plano Safra em 21 de fevereiro. Segundo algumas estimativas, o freio puxado sobre as linhas impedia que R$ 36 bilhões chegassem aos produtores. O governo Lula correu para tentar apagar o incêndio e, dias depois, liberou R$ 4 bilhões para evitar que a fonte secasse completamente. Ainda assim, nos bastidores, líderes do setor agrícola afirmam que os valores não estão à altura da demanda e que o Palácio do Planalto está atirando no escuro.
A paralisação de R$ 36 bilhões equivale a toda a riqueza gerada ao longo de um ano em Cuiabá, uma das capitais do agro brasileiro. O baque gera uma enorme insegurança: “Como o programa será executado no futuro?”
Na safra 2024/2025, o plano completo previa a injeção de R$ 476 bilhões para subsidiar as linhas de crédito. A aplicação se estende a produtores de todos os tamanhos: do criador de galinhas em uma pequena granja de produção de ovos ao grande agricultor que planta milho e soja, usados na nutrição dessas aves.
Ao longo dos últimos anos, tanto um quanto o outro tiveram que lidar com riscos muito além de qualquer controle. Boa parte das preocupações vem do céu. Para as granjas, o perigo é um vírus trazido do Norte para o Sul por aves silvestres que causa a chamada gripe aviária. Até agora, os brasileiros conseguiram lidar de forma exemplar com o problema. Diferentemente do resto do mundo, aqui a doença não chegou às granjas comerciais — tudo graças à expertise dos criadores brasileiros.
Já para os agricultores, as chuvas (ou a falta delas) foram um grande problema. No Estado líder do cultivo de grãos, Mato Grosso, houve estiagem na época de plantio em 2024, reduzindo a produção de uns e chegando a destruir toda a lavoura de outros. Ao mesmo tempo, um dilúvio arrasou o Rio Grande do Sul e tornou imprestáveis colheitas inteiras de soja. O arroz não foi perdido por sorte: pouco antes de a chuva começar, havia sido feita a colheita na maior parte das roças.

A vida do agricultor fica difícil inclusive quando a safra supera as expectativas. Grandes colheitas derrubam o preço na roça. Ao mesmo tempo, os preços de insumos vitais, como o diesel para mover os tratores, o fertilizante para a planta crescer e os defensivos para as pragas não se alastrarem, continuam subindo. Tudo isso é cotado em dólar, moeda sobre a qual o governo Lula demonstrou não ter mais qualquer controle.
O faturamento cai enquanto o custo sobe. Muitas vezes, o jeito é jogar fora a produção. No Brasil, a doação é algo burocrático e até gera imposto. O pagador é quem recebe — se não há dinheiro para comprar comida, imagine então para pagar o imposto para recebê-la? Quando o agricultor descarta uma carga inteira de alimentos em vez de doá-la, faz isso apenas por um motivo: não encontra quem tenha dinheiro para receber a carga. Recentemente, vídeos de agricultores desesperados exatamente por esse motivo inundaram as redes sociais. Somam-se a isso alguns números que evidenciam quanto viver da produção rural não está fácil.
Cartão amarelo no campo
O mercado de máquinas agrícolas mostra que o agro botou o pé no freio. Em 2024, as vendas de colheitadeiras não chegaram à metade do número registrado no ano anterior. No Brasil inteiro, foram vendidas 3,2 mil unidades, ante as 8,8 mil de 2023. E os resultados negativos não se limitam à necessidade de investir menos — há quem esteja quebrando.
Na semana passada, o Banco do Brasil divulgou seus resultados de 2024. O agro é o principal negócio da carteira de crédito da instituição. A imensa maioria do agro ainda consegue pagar as contas — o agricultor brasileiro lida com anos de incerteza e fez brotar onde o mundo achava que nada seria possível. Ainda assim, a inadimplência passou de 2% — mais do que o dobro do cenário um ano antes, quando não chegava a 1%. Em meio à falta de recursos para pagar as dívidas, muita gente pediu recuperação judicial — que é nos negócios o equivalente a um cartão amarelo no futebol: não tira o jogador de campo, mas o deixa a um passo de sair do jogo.
Da carteira de agro do Banco do Brasil, 250 clientes recorreram à recuperação judicial. A situação pode se deteriorar ainda mais. No terceiro trimestre de 2024 (dados mais recentes), a Serasa registrou um aumento de 60% no número de pedidos de recuperação judicial no setor, no somatório de pessoas físicas, jurídicas e empresas relacionadas ao agronegócio.
O pior resultado foi dos agricultores que atuam como pessoas físicas. Nos nove primeiros meses de 2024, foram 426 pedidos de recuperação para essa modalidade de produtor, mais do que o triplo do registrado no mesmo período do ano anterior. E esse aumento ocorreu sem que houvesse interrupções nas linhas de crédito. Não é preciso ter bola de cristal para saber que o resultado será muito pior se o Plano Safra continuar paralisado.

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Lamentável esse desgoverno..
Que o PT não faz a mais remota ideia do que é governar um país até quem tem pouca atenção no cenário político brasileiro já percebeu… mas o que parece é que voltaram ao poder (o que é diferente de ganhar a eleição, não nos esqueçamos) com o intuito de destruírem o Brasil.