Na madrugada do dia 12 de março de 1938, o exército alemão cruzou tranquilamente a fronteira austríaca e anexou o país vizinho, sem precisar dar um único tiro. Esse foi o primeiro ato de expansão territorial praticado pelo regime nazista. A anexação da Áustria ficou conhecida como Anschluss, uma palavra alemã que significa “conexão” ou “anexação”.
Poucas horas depois, Adolf Hitler cruzou a fronteira, pela qual as tropas alemãs estavam passando a manhã toda. À noite, ele discursou em Linz, perto de seu local de nascimento, e disse: “Quando parti desta cidade pela primeira vez, senti no fundo da minha alma que era minha vocação e minha missão, dada a mim pelo destino, que eu deveria trazer meu país natal de volta ao Grande Reich Alemão. Eu acreditei nessa missão e a cumpri”.
A ocupação alemã já tinha sido preparada na noite do dia anterior por um grupo armado de nacional-socialistas austríacos. Eles haviam invadido o prédio do governo e forçado a renúncia do chanceler Kurt Schuschnigg. “Deus proteja a Áustria”, declarou o chanceler à rádio durante a sua renúncia. Em seguida, instruiu o exército austríaco a se retirar sem resistência quando as tropas alemãs entrassem no país. No dia 13 de março a anexação estava completa. O homem de Hitler, Arthur Seyss-Inquart, foi instalado como o novo chanceler.

Ao incorporar o país vizinho, Adolf Hitler violou o Tratado de Versalhes e o Tratado de Saint-Germain-en-Laye, os quais proibiam expressamente a unificação desses dois países. No Tratado de Saint-Germain, de 1919, que pôs fim ao Império Austro-Húngaro, o artigo 88 estipulava expressamente que a união de Áustria com Alemanha estava proibida. Anschluss é o retrato do desprezo do Fürher diante de uma ordem [política] europeia posterior à Primeira Guerra Mundial.
As demais potências europeias não puniram os nazistas por violarem os tratados internacionais. A aceitação da Anschluss permitiu que Hitler levasse adiante sua política externa expansionista e agressiva de forma indiscriminada.
A Anschluss transformou a Áustria da noite para o dia. A nazificação foi implementada a passos largos. Muitos austríacos participaram da empreitada com entusiasmo, e se aproveitaram da Anschluss para perseguir implacavelmente a população judaica do país. Decretaram políticas nazistas e lutaram ao lado da Alemanha na Segunda Guerra Mundial.

Muitas prisões foram feitas em Viena. As autoridades nazistas prenderam judeus austríacos, dissidentes políticos, ciganos, mestiços, negros, deficientes físicos e homossexuais e os enviaram para campos de concentração. No dia 10 de abril, foi organizado um plebiscito no qual o povo austríaco deveria responder se concordava com a anexação. Havia cartazes por toda a cidade com os dizeres: “Em 10 de abril, dê seu ‘sim’ ao Führer”. A imprensa e o rádio repetiam sem cessar o “sim”, para que não houvesse vozes dissidentes. O sigilo ao voto não foi mantido. Os nazistas intimidaram a população espalhando a notícia de que havia um controle secreto para saber o voto dado por cada eleitor. O resultado foi 99,73% de votos favoráveis à Anschluss, para surpresa de ninguém. Havia, porém, muitos austríacos que apoiavam genuinamente Hitler. A Áustria permaneceu parte da Alemanha Nazista até 27 de abril de 1945, quando declarou Independência.


Depois do sucesso da Anschluss, o próximo alvo de Hitler foi a Checoslováquia, que agora estava completamente exposta, cercada por território alemão. A parte norte da Checoslováquia era conhecida como Sudetos, região muito desejada pela Alemanha, não apenas por boa parte de sua população ser “etnicamente” alemã, mas, principalmente, por ser uma região rica, com avançados parques industriais, sobretudo de fabricação de armas.
Hitler ameaçou entrar em guerra sobre a questão dos Sudetos. Em 29 e 30 de setembro de 1938, os líderes britânicos, italianos, franceses e alemães se encontraram em Munique para discutir a questão. Os Aliados concordaram em conceder os Sudetos à Alemanha em troca de uma promessa de paz. Esse infame acordo — já que os checos não estavam presentes na mutilação de seu próprio país — ficou conhecido como Pacto de Munique.
Obviamente, menos de seis meses depois de sua assinatura, Hitler também quebrou esse acordo. A Alemanha invadiu as províncias checas da Boêmia e da Morávia em 15 de março de 1939.
O próximo alvo seria a Polônia, que já estava cercada por alemães. O fim dessa história é de conhecimento geral: em 3 de setembro de 1939, sem querer aceitar mais a expansão de Hitler, a Inglaterra e a França declararam guerra à Alemanha. Assim tem início a Segunda Guerra Mundial.
Daniela Giorno é diretora de arte de Oeste e, a cada edição, seleciona uma imagem relevante na semana. São fotografias esteticamente interessantes, clássicas ou que simplesmente merecem ser vistas, revistas ou conhecidas.
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