O fenômeno é global. A democracia de cidadãos vem dando lugar à democracia de torcedores. Para um torcedor, é irrelevante se os jogadores do seu time cumprem regras ou cometem infrações. Não interessa. O importante é que vençam a partida. Na mais longeva, sólida e exemplar democracia do mundo, o ambiente de torcidas políticas polarizadas adiciona mais complexidades aos desafios gigantescos que o Ocidente tem de enfrentar.
Como Joe Biden terá de gastar muita energia na tentativa de aplacar tensões internas, os Estados Unidos naturalmente perderão espaço na cena global, mesmo mantendo o protagonismo. De modo que China e Rússia encontrarão mais oportunidades para articular em favor de suas visões de mundo — totalitárias, como se sabe.
No passado, mesmo ante divergências relevantes, os partidos Republicano e Democrata chegavam rapidamente a um consenso em relação à forma de combater ameaças externas. Foi assim durante a Guerra Fria. Hoje, ao contrário, a peleja dentro de casa compromete o timing de acordos macroestratégicos para o eixo ocidental.
O resultado das eleições norte-americanas e seu impacto no país e no mundo são objeto da análise de três dos nossos colunistas: J. R. Guzzo, Ana Paula Henkel e Rodrigo Constantino.
De qualquer maneira, convém não esperar da democracia aquilo que ela não pode oferecer — não que se defendam, aqui, alternativas autoritárias ou mesmo alguma utópica epistocracia. A esse respeito, uma importante advertência vem do cientista político Bruno Garschagen: “A democracia é um instrumento. Ela depende de homens imperfeitos para ser posta em uso”. Garschagen diz ainda: “Por si só, a democracia não é capaz de garantir que os melhores ascendam ao poder, que o eleitor seja racional, que os poderes políticos sejam limitados e controlados, que as liberdades sejam respeitadas”. Convém ter em mente, portanto, que o jogo democrático consiste, “no fim do dia” — para usar uma expressão tão comum aos norte-americanos —, em tentar fazer o melhor possível apesar dos vícios insanáveis do sistema.
Alguns desses vícios permitem aventuras desmioladas de tiranetes contemporâneos durante a pandemia de covid-19. O governador da Califórnia estabeleceu normas para a celebração do Natal — mesmo em casa. O presidente francês, Emmanuel Macron, determinou toque de recolher entre 21 horas e 6 da manhã, como se vírus atacasse mais ferozmente nesse período. “Quem é o engenheiro dessas medidas impressionantes? Borat?”, pergunta Guilherme Fiuza. “Ou você fundamenta rigorosamente na ciência medidas extremas como essas, ou você assume a sua tirania.”
Borat parece ter sido o autor de algumas das melhores “pensatas” proferidas pela inesquecível ex-presidente Dilma Rousseff. Augusto Nunes apresenta uma emblemática coleção de reflexões supostamente inspiradas no pensamento do gênio Nelson Rodrigues. “Por algum motivo misterioso, em setembro de 2012 ela deu de exumar, para tratar invariavelmente a pauladas, o escritor que teve a sorte de partir sem conhecer a doutora em nada.”
Para nos desconectar da tumultuada realidade terrena, o colunista Dagomir Marquezi traz notícias promissoras. A Lua tem água. Será possível estabelecer uma base lá para uma tranquila parada técnica a caminho de Marte. Não se trata de especulação. É pura ciência — bem diferente daquela “ciência” invocada pelos tiranetes…
Boa leitura.
Os Editores.
Eleições 2020. Ó que é pior : ” conto do vigário ” ou ” conto do político ” ?
Assinei para acompanhar o excelente Constantino!
Já assinava a Gazeta, que também não se intimidou com a vociferação da horda lacradora. Ganharam mais um assinante, e estou maravilhado de ver o seu time de colunistas. Prossigam neste caminho. Parabéns!
Prezados da Revista Oeste, há tempos pensava em assinar a Revista, por todo o conteúdo de qualidade que vocês oferecem. Me decidi definitivamente ao ver a postura que vocês tiveram em manter em seus quadros, o excelente analista político Rodrigo Constantino, e não ceder às pressões insanas de uma pequena parcela de lacradores. Parabéns pela atitude! E vamos as leituras!
Sem dúvida Rodrigo Constantino é homem honesto profissional estudioso competente Sua coragem afirma personalidade independente É homem sujeito a erro com qq um mas o importante é a boa fé a intenção não amesquinhada por interesses materiais q nunca satisfazem e não afirmam a pessoa Brasileiro sempre tá em busca de cargos e vantagens Isso é q os estrutura e tem inveja dos independentes como Rodrigo é ou busca ser
Caros da Revista Oeste,
Assinei a mesma, como voto de agradecimento por terem tido verdadeira empatia pelo Rodrigo Constantino, não o mandando embora. Vocês foram justos com alguém que foi “cancelado” por uma turma de lacradores inconsequentes.
Ele representa nossa voz engasgada – uma voz conservadora nos costumes, principalmente.
Grato mesmo.
Faço minhas as suas palavras, Valter. Sou assinante há mais tempo. Levo essa vantagem, hehehe. Temos que serrar fileiras em torno de Constantino. Jovem pan, deu uma enorme bola fora. Augusto Nunes tem que entrar nesse jogo. A Oeste é excelente, mas com Constantino era melhor ainda.