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Edição 61

O bloqueio psicológico da imprensa

A mídia passou da oposição a Bolsonaro ao ódio gramatical, como descrito no dicionário, e do ódio a um estado de permanente excitação nervosa

J. R. Guzzo

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Tudo bem: a “CPI da Covid”, como se autonomeou a aglomeração de aproveitadores formada no bas-fond do Senado Federal com a finalidade oficial de “apurar” o que houve de errado na administração da epidemia no Brasil, vai resultar, para qualquer efeito prático, no equivalente a três vezes zero. Como poderia ser diferente? Fez parte da mais legítima natureza dessa gangue política, composta de muito do que existe de pior na política nacional, agir, antes mesmo da sua primeira reunião, exatamente ao contrário do que pretendem ser tais “comissões” — pelo menos segundo o que está dito na lei. Para não tornar a conversa mais demorada do que é preciso: pode haver uma comissão, formada por parlamentares, mas não há, nunca houve nem vai haver inquérito nenhum.

Desde o primeiro minuto do que eles chamam de “trabalhos”, a “CPI da Covid” não fez inquérito sobre nada. Não foi investigada nenhuma suspeita séria. Os inquisidores não foram capazes de demonstrar, ao longo dos interrogatórios feitos até agora, aquele mínimo de qualidade técnica que se exige da mais modesta delegacia de polícia do interior na condução de um inquérito. Não houve a procura, o processamento e o exame de fatos. Não houve, por parte dos senadores empenhados na acusação, o mais remoto sucesso, ou esforço, em comprovar alguma coisa, nem mal e mal, de tudo o que estão dizendo — até agora, a sua atividade vem se resumindo a exibir aos gritos uma suspeita e, depois, ficar repetindo os gritos que deram. Não houve, em suma, o menor talento em nada do que se fez. Sobrou apenas uma pasta de latidos sem coerência, sem direção e sem objeto determinado — uma operação amadora, incompetente e mal-intencionada.

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