Há três semanas forças turcas lançaram um ataque militar na região de Duhok, no Curdistão iraquiano. Os moradores foram forçados a “fugir aterrorizados” da chuva de bombas. Foi apenas o mais recente bombardeio aos curdos, já cerceados, feito pela Turquia, membro da Otan e aliada do Ocidente. Não chegou aos trending topics da internet. Não houve protestos barulhentos em Londres ou Nova York. Os turcos não foram comentados nos círculos descolados como assassinos enlouquecidos e sanguinários. Os usuários do Twitter não revelaram seus sonhos de que os turcos queimassem no inferno. O jornal satírico The Onion não fez nenhuma piada desconfortável sobre soldados turcos amarem matar crianças. Não, o ataque a Duhok passou praticamente despercebido.
Mas, quando Israel se envolve em uma operação militar, a história muda. Sempre. Toda vez. A fúria anti-Israel no Ocidente chegou a um nível extraordinário depois da escalada de violência no Oriente Médio nos últimos dias. Os protestos foram instantâneos e incendiários. Bandeiras de Israel foram queimadas nas ruas de Londres. As redes sociais foram tomadas por condenações. The Onion tuitou: “Soldado das Forças de Defesa de Israel reconta as terríveis e heroicas histórias de guerra sobre matar um bebê de 8 meses” — foram dezenas de milhares de curtidas. Israel precisa ser boicotado, isolado, banido da comunidade internacional, gritou a esquerda. Políticos do Ocidente, incluindo o líder do Partido Trabalhista no Reino Unido, o britânico Keir Starmer, apressaram-se em criticar. “Qual é a diferença?”, lia-se na placa de um protesto em Washington que mostrava a bandeira israelense ao lado da bandeira nazista. Os judeus são os nazistas de agora, sabe. Irônico, não?
Eis uma pergunta que os ativistas anti-Israel nunca foram capazes de responder: por que tratar Israel de forma tão diferente de qualquer outra nação na Terra? Por que chamar o país de sanguinário que mata crianças quando Israel toma medidas militares, mas não quando a Turquia ou a Índia o fazem? Por que precisamos correr para as ruas para atear fogo à bandeira de Israel, mas nunca à da Arábia Saudita, apesar da guerra inconcebível contra o Iêmen? Por que é apenas “errado” — ou, na pior das hipóteses, “hediondo” — quando a Inglaterra ou os Estados Unidos jogam bombas no Oriente Médio, mas nazismo quando Israel dispara mísseis contra a Faixa de Gaza? Por que alguém apenas se opõe às ações militares de alguns Estados, mas odeia Israel, de modo visceral, público, verbalizado?
O julgamento e o tratamento de dois pesos e duas medidas dispensado a Israel é uma das facetas mais incômodas da política global do século 21. Essa parcialidade ficou ferozmente evidente nos últimos dias. Israel é agora o único país que deve se deixar atacar. Deve se sentar e não fazer nada enquanto seus cidadãos são atingidos por pedras ou foguetes. De que outra forma podemos explicar a relutância de tantas pessoas em colocar os eventos atuais em qualquer tipo de contexto, incluindo o contexto de um grupo terrorista islâmico reconhecidamente antissemita, o Hamas, disparar centenas de mísseis em áreas civis de Israel? Nesse contexto, enfurecer-se apenas com Israel, amaldiçoar seu povo e queimar sua bandeira porque o país lançou mísseis para destruir os pontos de disparo do Hamas em Gaza é essencialmente dizer: “Por que os israelenses não se deixam matar?”.
Não se esperaria de nenhuma outra nação que não reagisse à desordem interna — apoiadores do Hamas se revoltaram em partes de Jerusalém e ao redor da Mesquita de Al-Aqsa — ou a ataques estrangeiros. Imagine se a Ilha de Wight, que fica na costa sul da Inglaterra, no Canal da Mancha, fosse lar de um movimento cuja Constituição expressasse ódio por todos os bretões étnicos e que disparasse com regularidade centenas de mísseis contra Sussex, Kent, Hampshire. As Forças Armadas britânicas não reagiriam? Claro que sim. Mas a demonização descolada de Israel está tão aguda que se espera que a nação democrática aceite os ataques militares dos muçulmanos radicais ao sul. Para os ativistas do Ocidente que consideram a existência de Israel uma aberração, qualquer esforço que o país faça para proteger suas fronteiras ou seus cidadãos é uma afronta à decência e à paz global. Eles não conseguem entender por que Israel não se odeia tanto quanto eles o odeiam e, portanto, não se deixa punir por seus virtuosos inimigos. Como vocês ousam viver?
Nenhum palestino com menos de 34 anos participou de uma eleição nacional
Na relação Israel-Palestina, o contexto local é sempre esmagado pela narrativa e pelo preconceito dos observadores ocidentais. Assim, a violência atual é vista como algo que emerge da “limpeza étnica” israelense do bairro árabe de Sheikh Jarrah em Jerusalém Oriental. “A mais recente crise Israel-Palestina está relacionada à limpeza étnica”, disse a emissora de TV norte-americana MSNBC. Primeiro, os eventos em Sheikh Jarrah, ainda que sem dúvida aflitivos e desagradáveis, são mais complexos do que muitos observadores aceitam. Em segundo lugar, e mais importante, o retrato das tensões atuais como uma batalha entre o expansivo Israel e a comunidade palestina sitiada ignora o conflito interno que está ocorrendo neste momento na Palestina.
Boa parte da presente instabilidade tem origem, na verdade, no anúncio do cancelamento, há três semanas, das eleições na Cisjordânia, anunciado por Mahmoud Abbas. Abbas é o líder do Fatah e presidente da Autoridade Nacional Palestina. Ele ocupa o cargo desde 2005. Deveria ter cumprido um mandato de quatro anos. Está no poder há 16. A democracia desapareceu nos Territórios Palestinos. Como um relatório destaca, nenhum palestino com menos de 34 anos participou de uma eleição nacional. Abbas afirmou que o recente cancelamento do pleito se devia a discordâncias sobre Jerusalém Oriental, mas muita gente suspeita que sua verdadeira preocupação é que o Hamas derrotaria o Fatah e passaria a dominar tanto a Faixa de Gaza quanto a Cisjordânia. As ações recentes do Hamas foram basicamente uma reação a Abbas e uma tentativa de se posicionar como o verdadeiro representante dos palestinos contra Israel.
E nisso o Hamas foi estúpido e totalmente auxiliado pelos obsessivos anti-Israel do Ocidente. A hipermoralização ocidental das tensões atuais, sua forma de retratar o confronto — uma história em preto e branco do maligno Estado de Israel versus os destemidos defensores dos árabes de Jerusalém Oriental —, beneficiou em grande medida o Hamas em seu conflito interno na Palestina de legitimação contra o Fatah. O ingênuo lobby anti-Israel está insensatamente ajudando a elevar uma organização islamista radical a líder de todos os palestinos. Aliás, alguns ativistas anti-Israel estão até se manifestando com o repugnante slogan do Hamas: “Do rio ao mar, a Palestina será livre”. O bordão é essencialmente um chamado para apagar Israel do mapa. Isso representa uma vil consumação do casamento profano entre a esquerda ocidental e o Islã radical.
A ironia dos comentários e do ativismo anti-Israel no século 21 é que o antissemitismo aparece agora sob a forma de anti-imperialismo, mas com a substância do imperialismo. Veja como os militantes rotulam Israel como um “Estado pária”, para tomar emprestada a expressão do imperialismo ocidental moderno. Observe como eles pedem que as forças ocidentais isolem e castiguem Israel e apliquem sanções contra o país. Ou veja como, em sua forma mais extremada, o ativismo anti-Israel promove uma caricatura racial dos israelenses como sedentos de sangue, como perigosos de maneira singular, como uma ameaça muito peculiar à paz mundial. O sentimento anti-Israel adota as posturas da liberação nacional do século 20, enquanto, na verdade, promove a agenda política do chauvinismo ocidental que vê Israel como um Estado distintamente problemático que precisa de nossa punição virtuosa.
Não há nada de positivo nas agressões a Israel. Em sua ingenuidade, elas ajudam a ascensão do Hamas. Em sua arrogância, elas dão poderes ao Ocidente para determinar o destino do Oriente Médio. Tudo isso acumula mais conflitos e mais ódio para o futuro.
Leia também “Não há equivalência moral”
Brendan O’Neill é editor da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show. Brendan está no Instagram: @burntoakboy
Boa reportagem. Concordo que a questão é complexa, mas o povo de Israel tem todo o direito de existir e se defender. Não precisa ter que viver na sombra de qualquer terror que o ameace.
a pergunta que fica sem resposta: porque pessoas que sequer conhecem um judeu os odeiam tanto? no mais discordo em classificar o Hamas como um organização islamita radical o correto é uma organização terrorista radical.
Não sou judeu e acho que hoje em dia o anti-semitismo é a coisa mais próxima do nazismo, é só dar uma folheada nos livros da história mundial.
Que bela matéria. Uma análise quase perfeita, porque perfeito só Deus é. Como diz nosso Presidente: “Veja o que Israel é em termos de Território e o que eles tem . Veja o que nós temos e o que somos.”. Realmente Israel nos serve de exemplo em tudo.
Esse conflito é antigo e não vai acabar tão cedo. Desde os tempos de Abraão, o povo hebreu (o Israel de hoje) enfrenta dificuldades para se estabelecer como nação. O pequeno povo escolhido por Deus para representar seu nome se “perdeu” na caminhada e optou por desobecer seu criador, misturando-se às nações. As consequências dessa desobediência são os constantes conflitos em que se envolvem, há quase 6.000 anos. Logo, quem, porém, acha que Israel vai ser “varrido” do mapa pode tirar o cavalinho da chuva. A aliança de Deus com Israel é eterna.
Quando paro para analisar certas coisas acabo dando razão ao Fiusa. Essa coisa de esquerdaXdireita, sionismo, islamismo, ocidente, oriente, fascismo, nazismo, comunismo etc etc perdem cada vez mais o sentido nesse século XXI. O que vale são os anseios apátridas dos grandes conglomerados de interesse econômico que podem agir, como qualquer cidadão, de forma honesta ou espúria. A última, infelizmente sempre favorecida pela ganância e sede de poder.
Excelente matéria! Respeito aos israelenses!
Parabéns! Esclarecedor.
Ótima reportagem !
E não nos esqueçamos ,que Israel é uma ilha de tecnologia de ponta atualmente !
Exportando para o mundo produtos sofisticados ,exportando serviços ,técnicas ,patentes de altíssima complexidade .
Enquanto que o seu entorno vivem num atraso total e absoluto !
País admirável !
Excelente reportagem! Admiro o povo judeu, são inteligentes, investem muito em educação, tecnologia, estão fazendo do pequeno território de Israel um grande país rico e sustentável em energia solar e também porque globalmente são muito unidos.
Parabéns à Revista Oeste por publicar o primeiro artigo nitidamente a favor de Israel na imprensa brasileira. É preocupante como a imprensa (inter)nacional cobre o conflito em Gaza.
“O mundo está virado de cabeça para baixo mesmo” como disse o Senhor Jesus o mundo jaz no maligno.
Viva Israel. Todo o meu apoio a esse maravilhoso país. Enfrentem esses canalhas com toda força necessária. Deus está com vocês.
Israel é uma democracia – a única no Oriente Médio. Precisa dizer mais alguma coisa? E é essa democracia que os esquerdistas aqui do Ocidente querem ver destruída. Precisa dizer mais alguma coisa???
Muito bem, Alberto! Precisa dizer mais alguma coisa? É espantosa a miopia e o ódio cego dos militantes esquerdistas anti-Isreal. Atacam irracionalmente a ÚNICA democracia do oriente médio. Parafraseio Mr. Samler, do romance de Saul Bellow: essa gente enlouqueceu? Evidências não faltam.
Não conseguiram jamais destruir Israel. Deus é fiel.
Excelente matéria!
Infelizmente tem judeu nessa mesma toada das esquerdas, o Mark Elliot Zuckerberg, apoia incondicionalmente a esquerda mundial, onde se incluem os radicais antissemitas
Concordo integralmente xará!