A América Latina é terreno fértil para demagogos, populistas autoritários, socialistas em geral. Em ambiente com miséria e ignorância, esses oportunistas se criam com mais facilidade, exploram suas vítimas mascarando seu projeto de poder com slogans bonitinhos de igualdade e “justiça social”. E o mais grave é que a história se repete com incrível frequência, como se o povo fosse incapaz de aprender com os próprios erros.
A bola da vez é o Peru, depois de a Argentina trazer de volta ao poder o Foro de SP, mirando no péssimo exemplo venezuelano. Um livro clássico nos meios liberais é O Manual do Perfeito Idiota Latino-americano, escrito por três autores, entre eles Álvaro Vargas Llosa, filho do Prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa, que escreveu a apresentação do livro. Eles tiveram de retornar ao tema com A Volta do Idiota, perplexos com essa insistência nos mesmos erros.
Mario Vargas Llosa disputou a Presidência do Peru em 1990 e perdeu para Fujimori. Desta vez, o escritor liberal apoiou a filha do ex-presidente, para tentar impedir o destino trágico do socialismo. Mas o “professor esquerdista” Pedro Castillo assumiu a liderança numa contagem sob suspeita e por poucos votos a mais pode selar o destino do país rumo ao abismo. É uma sensação grande de impotência por parte de quem sabe o que está em jogo.
Álvaro é autor de outro livro instigante, Liberty for Latin America, em que define os cinco pilares da opressão. A ideia central talvez possa ser resumida por essa frase de Llewellyn Rockwell Jr.: “Devemos nossa liberdade não ao desejo do Estado de permitir que as pessoas e as instituições sejam livres, mas ao desejo das pessoas e das instituições de resistir”. Os oprimidos esperam tudo do Estado opressor! E aí começam os problemas.
Logo na introdução, Álvaro deixa claro que nada é mais crítico para o objetivo de libertar a América Latina dessa opressão que compreender por que as transformações políticas e econômicas das últimas décadas beneficiaram somente uma pequena elite. O autor levanta o debate entre instituições e culturas, alegando que uma necessita da outra. As regras de relacionamento entre indivíduos precisam mudar, mas os valores que determinam a conduta humana também. Esses valores não mudarão a menos que as pessoas vejam que os novos valores são relevantes por meio de incentivos e recompensas possíveis pela mudança institucional.
Se é verdade que a tradição ibérica pesa contra o desenvolvimento da região, também é verdade que a Espanha e Portugal, onde tal tradição se originou, conseguiram prosperar após mudanças institucionais. Claro que para um sucesso sustentável é preciso uma mudança cultural. Victor Hugo já dizia que “não há poder maior que o de uma ideia cuja hora é chegada”. Mas postergar a remoção das causas diretas de opressão até que os valores corretos sejam absorvidos pelo povo vai condenar a região à impotência e ceder espaço para aqueles que são tentados a usar esses instrumentos de opressão para impedir a mudança cultural.
Quais são, então, esses instrumentos de opressão estatal, causa principal do fracasso da região? É o que Vargas Llosa busca responder. Os cinco princípios de organização social, econômica e política que oprimem o indivíduo seriam, segundo o autor, o corporativismo, o mercantilismo, o privilégio, a transferência de riqueza e a lei política, aqui entendida como o positivismo, contrário ao império da lei. Vargas Llosa busca as origens desses instrumentos de opressão no passado da região.
Uma pessoa não era uma pessoa, mas sim parte de um mecanismo maior, e existia somente como fração dessa entidade coletiva. Os indivíduos trabalhavam não para si próprios, mas para a manutenção dessa entidade que exercia força sobre eles. Não trabalhavam para subsistir, mas subsistiam para trabalhar em prol do Estado e seus parasitas. Os exemplos fornecidos pelo autor incluem o estilo de vida dos astecas e incas, em que nobres desfrutavam de privilégios como roupas de algodão e joias, enquanto exploravam escravos.
A organização desses povos era altamente hierarquizada, e os nobres recebiam direitos sobre a terra e o trabalho, transferindo renda por meio de tributos. O rei ou imperador era visto como a própria encarnação divina, e exercia, portanto, autoridade absoluta. A lei era uma extensão do rei, não uma regra objetiva e isonômica. Os maias e astecas praticavam sacrifícios humanos, já que o líder tinha poder sobre a “verdade” e também sobre a vida de todos.
Quando Espanha e Portugal conquistaram várias regiões da América Latina, no século 16, estavam no auge de uma longa tradição corporativista. Como consequência do surgimento do Estado-nação e sua volúpia fiscal, os direitos de propriedade passaram a ser uma transação mercenária entre a autoridade central e grupos particulares. Quando os direitos seletivos de propriedade não eram suficientes, o Estado expropriava riqueza privada diretamente. Esse era o princípio do mercantilismo ibérico. As encomiendas, grandes pedaços de terras concedidos pelo Estado como recompensa militar e outros motivos, eram talvez o maior símbolo de privilégio. Esse símbolo refletia a ideia dominante de que a riqueza não tinha de ser produzida, mas sim tomada.
A estrutura era bastante centralizada, e Espanha e Portugal não objetivavam desenvolver suas colônias, mas obter o máximo de riqueza possível por meio da exploração delas. Chegou a ser ilegal produzir bens que poderiam ser fornecidos pela metrópole. A sociedade colonial rapidamente aprendeu que sua sobrevivência dependia dos esquemas do Estado mercantilista, porque a única atividade rentável era negociar por meio do governo, não no mercado. Quando os movimentos de independência ganharam força na região, já existia uma cultura de que a lei não tinha nenhuma raiz real, sendo algo arbitrário que depende da vontade de uns poucos poderosos. Todo novo governante apontou ou removeu juízes de acordo com seus desejos, reescreveu a Constituição, refez ou estendeu os códigos existentes etc.
Até quando seremos vítimas de opressores mascarados de salvadores igualitários?
Nesse ambiente, o avanço na sociedade era possível somente pela influência no processo político que dominava a lei. Era no teatro da política, não do mercado, que a competição ocorria. A energia estava focada não em produzir riqueza, mas em direcionar a lei para a vantagem pessoal. Com essa mentalidade e com as suas correspondentes instituições estabelecidas, prosperar como nação era praticamente impossível.
Infelizmente, não foi tanto assim o que mudou desde então. Muitos ainda encaram o Estado como um semideus, defendem medidas mercantilistas ultrapassadas, pedem mais interferência estatal na economia, ignoram a necessidade de um império de leis igualmente válidas para todos, focam suas energias na organização em grupos para extrair o máximo de privilégio possível do governo. Alterar esse quadro lamentável exige mudança cultural e institucional. A mudança no campo das ideias será lenta e gradual, como não pode deixar de ser. Combater as instituições opressoras passa a ser uma necessidade imediata. Eliminar o corporativismo, o mercantilismo, o privilégio, a transferência de riqueza por meio do Estado e a lei política arbitrária deve ser então uma meta perseguida por todos os que defendem a liberdade.
O que assusta são os constantes retrocessos na região. É como se o fantasma de Montezuma ou o de Atahualpa ainda pairassem sobre nós, ou então o espectro cubano, cujo regime opressor calcado nessas falácias persiste há mais de meio século. Até quando seremos vítimas de opressores mascarados de salvadores igualitários? Até quando os latino-americanos vão cair na ladainha da esquerda?
Leia também “Os “democratas” totalitários”
O voto auditável é uma ferramenta crucial para a mudança de mentalidade. Creio que estamos no caminho certo. Haja vista o desespero do Barroso e demais togados contra esta mudança.
A eles, stf (em letras minúsculas sim), interessa, e muito, manter o status quo.
Brilhante texto. Lutemos pelas mudanças. Não esmoreçamos.
Obrigado pela lucidez.
Excelente texto. Não vejo luz no fim do túnel.
O governo Bolsonaro é a chance de nos tornarmos um povo menos impostor moral, menos patrimonialista, mais eficiente e menos corrupto. Basta que cada um faça a sua parte, sem desejar que os pagadores de impostos paguem pelos seus privilégios e mordomias.
Conhecer a história para, pelo menos, tentar não cometer os mesmos erros do passado! Infelizmente o conhecimento tem sido tirado de grande parcela da população, uma pena! Artigos como este nos fazem lembrar do que fizeram (estão fazendo) com a educação em nosso país!!!! O trabalho é muito grande e árduo. Eu, nos meus 52 anos, sou uma testemunha do que foi feito, e como foi difícil parar, refletir e mudar, mas É POSSÍVEL!
Muito boa, Constantino, a sua capacidade de síntese. Resumindo, é “isso”!
Muito bom!
Brilhante artigo, Constantino! Obrigada!!
Constantino, a nossa democracia é difícil ser explicada, quando STF, imprensa, celebridades ditas democráticas como FHC, ameaçam apoiar LULA que até recentemente estava preso por corrupção. Confesso que estou pessimista com o quadro politico que se avizinha para 2022. Disputa acirrada, especialmente agravada pela grave crise sanitária nossa e mundial, grande imprensa em decadência e com falta de recursos, criam enorme dificuldade para o governo Bolsonaro concluir com êxito esta gestão. Creio que com as incessantes investidas sem sucesso pelo impeachment de Bolsonaro, só restarão o “milagre” das urnas eletrônicas não auditáveis nos surpreender . Dai, qualquer perdedor, direita, centro ou esquerda com certeza através de suas lideranças promoverão graves conflitos. Ora, se o presidente Bolsonaro pede essa transparência para evitar tão graves conflitos, por que o STF teme o VOTO IMPRESSO? Falar que o presidente não prova que há fraude nas urnas eletrônicas, é o mesmo que Barroso e o STF afirmarem que nunca houve fraudes nas urnas eletrônicas. Como conseguem provar? Basta a palavra desses deuses, que conseguem constantemente contrariar a própria CF e constantemente se ofendem ao vivo no plenário. Que gente de notável saber jurídico e ilibada reputação é essa?.
Tenho insistido para que o bom jornalismo faça urgentemente importantes matérias, entrevistas e artigos que provem que o VOTO IMPRESSO, não é levado para casa, não é um retrocesso porque não substitui as urnas eletrônicas, apenas lhes dá transparência, não custa caro, provavelmente menos que o AUXILIO MORADIA imoral e ilegal pagos durante 4 anos por liminar do presidente FUX, aos nobres juízes, procuradores e assemelhados, e não VIOLA O SIGILO E A LIBERDADE DO VOTO, como falsamente essa douta Corte de ministros tornou INCONSTITUCIONAL, lei aprovada pelo Congresso Nacional em 2015 para vigorar já em 2018. Talvez porque tenha sido emenda do deputado federal Jair Bolsonaro.
Todavia transita PEC na Câmara Federal da deputada Bia Kicis que precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional até Set/21.
Vale dizer que o baixo nível da Globo, CNN, BandNEWS e outras que infestam o noticiário, sempre informam que Bia Kicis é investigada por atos anti-democráticos, sim, aquele inquérito do fim do mundo do investigador, promotor e juiz Alexandre de Moraes. Que imprensa marrom é essa?
Quanto às colonizações da América por espanhóis e portugueses (minhas origens), foi importante tua mensagem que a tradição ibérica pesa no desenvolvimento da região, também é verdade que Espanha e Portugal onde tal tradição se originou conseguiram prosperar após mudanças institucionais, informações constantemente deturpadas por historiadores e celebridades, como importante promotora de justiça paulista escreveu no Estadão artigo contra o governo Bolsonaro, e para tal inicia o artigo condenando a colonização portuguesa que para cá veio dizimar índios e estuprar índias. Essa figura esquece que suas origens árabes quando para cá vieram já encontraram um pais em desenvolvimento por portugueses, espanhóis, italianos, alemães e aqui prosperaram nesta miséria.
em relação a meu comentario anterior, obviamente atrelado ao conceito de liberdade, antes ainda um forte senso de moral, responsabilidade , dever e honra deve ser ensinado como pressuposto para se ter direito a essa liberdade.
O grande problema é a quantidade de esquerdistas nas escolas, universidades, imprensa e nas artes, influenciando novas gerações e garantindo uma renovação constante de “idiotas latino-americanos”. Por isso que é preciso que a direita se organize mais, milite mais, tenha senso de prioridade e brigue menos entre si e gere mais conteúdo e ideias que sejam facilmente assimiladas pelos jovens. LIBERDADE é a palavra-chave. Qual jovem não a almeja? E a partir daí derrubar as hipocrisias da esquerda, desmontar sua falácias e mostrar o quanto eles gostam de ver gente escravizada na pobreza, dependente do Estado e incapaz de traçar seu próprio destino. Isso é urgente. Precisamos fazer agora.
Esplêndido artigo. Realmente foi muito feliz na constatação e comparação. Talvez
tenhamos mesmo as influências Montezuma ou de Atahualpa e, certamente, de Portugal e Espanha. Mas , a verdade é quem tem o poder, seja político ou econômico, busca traçar os caminhos para serem mantidos nele, ou conquistá-lo, sob o discurso hipócrita de proteção dos interesses do POVO, quando na verdade a defesa é dos próprios interesses. Mas os tempos estão mudando. Há uma luz no fim do túnel, e BRASIL liderará essa travessia.
Muito bom artigo.
Quando que o brasileiro comum , mal alfabetizado e instruído por professores esquerdistas, vai entender que o caminho não é este que estão forçando e tentando implantar?.
Excelente texto Consta!
Penso que a única forma de nos tornarmos uma resistência contra esses” opressores mascarados de justiceiros sociais”, é cada vez mais nos informarmos com conteúdos como esses do texto do Constantino, da Revista Oeste e outros .
Criando e colocando em prática essa uma nova consciência liberal diante desse lixo da esquerda.
O Brasil é o país dos privilégios, é administrado pelos privilegiados que legislam sobre os próprios privilégios. Como diz o JRGuzzo, qual é a chance disto dar certo na vida real?
Artigo Fantastico. deus nos salve do Comunismo
Brilhante artigo! A última frase, interrogativa, tem uma resposta simples, uma palavra de cinco letras: SEMPRE.
Esperança zero.
Sempre em dúvida as apurações eleitorais.
A insistência do Ministro Barroso nas urnas atuais mostram o aparelhamento do Foro de São Paulo .Nas eleições de 2018 o STF confiou na imprensa para a derrubada do Governo .Agora bateu o desespero com as urnas auditáveis.
Excelente!
Constantino, infelizmente não ensinam história para que os erros do passado (ou dos vizinhos) sejam repetidos. Ficamos aguardando que as forças armadas renovem os “iluminados” do STF e iniciem a faxina. Seria melhor do que uma revolução que provavelmente ocorrerá se a provável fraude das eleições de 2022 ocorrer. Já está em andamento…
A única forma de colocarmos representantes de verdade seria:
1) Salário simbólico aos representantes (deputados, senadores, vereadores – neste caso deveria ser voluntário mesmo);
2) Voto negativo: para aqueles que recebem votos por “serem conhecidos”, seria interessante haver uma possibilidade de receberem “votos negativos” por serem conhecidos. Se o resultado final por negativo, fica impossibilitado de assumir o cargo. SIMPLES.
Infelizmente, quem faz as leis (quando não é o STF) são os maiores interessados (inclui-se, neste caso, o próprio STF).
Excelente ideia do voto negativo.
Constantino, não existe salvação contra a ignorância…olhe para o Brasil e seus feudos.