Numa das cenas memoráveis do filme Matrix, dirigido por Lilly Wachowski e Lana Wachowski, o protagonista Neo (Keanu Reeves) enfim encontra o lendário hacker Morpheus (Laurence Fishburne), que lhe oferece duas pílulas. A azul fará com que ele acorde acreditando no que quiser acreditar. A vermelha, explica Morpheus, levará Neo ao País das Maravilhas, “para que descubra até onde vai a toca do coelho”. “Tudo o que ofereço é a verdade. Nada mais.”
Ao contrário de Neo, boa parte da esquerda brasileira parece optar sempre pela pílula azul. Assim, pode-se continuar enxergando o mundo imaginário forjado para ocultar a realidade. Cuba, por exemplo, ainda é tratada como um país em que os sistemas de educação e saúde são universais e alcançam um nível de qualidade de dar inveja ao mais exigente suíço. Nessa Pasárgada socialista o povo se manifesta livremente nas ruas, não há presos políticos e ninguém foge rumo a nações democráticas.
Essas e outras crendices são fulminadas pelo documentário Cuba e o Cameraman, de Jon Alpert. Disponível na Netflix, foi lançado em 2017 nos Estados Unidos, mas só chegou recentemente ao Brasil. Tema da reportagem de capa desta edição de Oeste, escrita por Augusto Nunes, o desfile de imagens e diálogos resgata 40 anos da Era Castro. E mostra Cuba como ela é.
Outro pedaço desse mundo imaginário emerge no artigo de J. R. Guzzo. “É possível ler pelo menos uma vez por dia que a democracia no Brasil está correndo os riscos mais sérios de sua história neste preciso momento”, escreve Guzzo. Quem quer dar o golpe? “O presidente, que só continuará a ser presidente se ganhar a eleição de 2022, ou quem nega a ele, em qualquer circunstância, o direito de se reeleger?” Você sem dúvida saberá responder.
É também essa deformação da realidade que induz uma tropa minúscula de militantes a tentar difundir o uso da chamada “linguagem neutra”. O tema seria ridículo demais para merecer atenção se não começasse a ser infiltrado em peças publicitárias de empresas privadas, como o Burger King e o McDonald’s, no material de divulgação da abertura do Museu da Língua Portuguesa e até em desenhos infantis da Netflix. É o que mostra a reportagem do editor-assistente Cristyan Costa.
O tema também é abordado por Rodrigo Constantino. “Guerra é paz, liberdade é escravidão, ignorância é força. Tudo é todes, daria para acrescentar hoje”, escreve o colunista de Oeste ao lembrar o que era o duplipensar, eternizado na distopia 1984, de George Orwell. “‘É a capacidade de guardar simultaneamente na cabeça duas crenças contraditórias e aceitá-las ambas.’ O objetivo das autoridades seria a destruição do pensamento independente.”
Oeste e seus leitores — e leitoras — escolheram que pílula tomar faz tempo. Não é fácil. Mas vale a pena viver fora da matrix.
Boa leitura.
Branca Nunes
Diretora de redação
Hoje que vi essa revista Oeste . Gostei muito de ver o Augusto Nunes e equipe . Meus parabéns pela revista ,estávamos precisando de um jornal que apoia o povo de bem .
Parabens a toda essa equipe que nos faz lembrar que ainda existe imprensa isenta no Brasil.
Revista Oeste , grato por existir e lutar com os cidadãos de bem. Você é um dos poucos fios que nos conectam com a verdade.
Nossa mídia honesta está sendo pesadamente atacada , como pudemos observar nas ações da tal CPI Covid contra Jovem Pan , Brasil Paralelo, Terça Livre , nesta semana.
A liberdade neste país está seriamente ameaçada , e a tal “midia tradicional “ ( Traidora dos brasileiros seria mais adequado) , trabalha a cada segundo em consonância com obscuros ,infiltrados nas instituições , para retomar o poder para a conhecida quadrilha.
Passou da hora de cada cidadão que enxerga a realidade catastrófica trabalhar no esclarecimento daqueles que seguem absorvendo as narrativas deturpadas de praticamente TODOS meios de comunicação mais acessíveis e populares. Não podemos permitir que nos tornem uma Venezuela Gigante.
Em meus 63 anos , nunca senti tamanha necessidade de mobilização popular contra um inimigo entranhado no estado , como um câncer que quer tomar o poder a qualquer custo.
Acorda Brasil
Branca Nunes consegue com sua Carta ao Leitor propor aos colunistas que brilhem ao apresentar seu conteúdo para não serem suplantados pela sugestão. E promete aos leitores, com simplicidade, que lerão maravilhas.
Como Constantino a população sabe que pau é pau pedra é pedra e pau só vira pedra quando a paleontologia entra. Ai se vai milhões de anos
Excelente!
Essa revista está cada vez melhor. Considerem chamar o Leandro Rushel e o Paulo Figueiredo para o quadro de colunistas.
Esse texto já vale pela Revista. Excelente!
O conceito da “Matrix” é um dos marcos filosóficos do nosso tempo, assim como a distopia de “1984”.
A jovem diretora de redação de Oeste vem, a cada edição, deixando sua impressão digital. Parabéns, Branca
A ideia é acabar com o sentimento de união de uma nação, de pertencimento à mesma história, do orgulho de uma conquista enfim, a ideia é robotizar, pois robô não pensa, apenas é programado para determinado fim. Triste espetáculo!
Excelente, como de costume.
Obrigado, a Oeste é sempre uma boa leitura.