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Edição 09

Carta ao Leitor — Edição 9

A inépcia das autoridades públicas e as ameaças aos valores fundamentais da civilização ocidental

Redação Oeste
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Dois respeitáveis pensadores contemporâneos cravaram prognósticos que, agora, se demonstraram  equivocados. O historiador israelense Yuval Noah Harari escreve em Homo Deus, livro de 2015, que “sabemos bem o que precisa ser feito para evitar a fome, as pestes e a guerra — e geralmente somos bem-sucedidos ao fazê-lo”. Com essas encrencas resolvidas, as aspirações da humanidade seriam, neste século 21, a conquista da imortalidade, da felicidade e da divindade.

Em Sociedade do Cansaço, de 2010, o filósofo sul-coreano Byung-chul Han discorre sobre como as doenças da mente nos atormentam: “Apesar do medo imenso que temos hoje de uma pandemia gripal, não vivemos numa época viral. Graças à técnica imunológica, já deixamos para trás essa época. Visto a partir da perspectiva patológica, o começo do século 21 não é definido como bacteriológico nem viral, mas neuronal”.

Claro: Harari e Han continuam merecendo nossa atenção e seguem produzindo reflexões relevantes. O que fica evidente, aqui, é a fragilidade humana, a pequenez da existência, nossa incapacidade, como indivíduos, de prever o futuro ante o poder da consciência cega que rege o mundo.

Até aí, uma justificável admissão de irrelevância da espécie frente à natureza. Mas, do ponto de vista das políticas públicas, a saída é aceitar a impotência e recorrer a alternativas medievais de resistência a pandemias? É esse o tema da reportagem de capa, assinada por Selma Santa Cruz, “Uma quarentena sem fim”. Selma expõe quanto de incompetência há na gestão pública, como interesses de grupos vão de encontro aos da coletividade e a fogueira de vaidades que arde no ambiente científico.

Felizmente, há exemplos que oferecem um contraponto à inépcia quase generalizada. Em Minas Gerais, sem alarde, as prefeituras têm conduzido uma estratégia até o momento bem-sucedida de combate ao coronavírus. Augusto Nunes ressalta: “Todo brasileiro mora numa rua, num bairro e numa cidade — nessa ordem. Depois é que vêm o país e, por último, o Estado.”

No cenário nacional, por outro lado, interesses políticos que regem o jogo do confinamento e retardam definições acerca de medidas para a retomada da economia antecipam desnecessariamente a disputa presidencial de 2022, como escreve J. R. Guzzo. Guzzo analisa a posição que vem sendo ocupada pelo governador de São Paulo, João Doria. Outros dois agentes políticos têm interesse em influenciar essa disputa, um velho conhecido dos brasileiros e um insuspeito novo ator no palco eleitoral. O ex-presidente e ex-presidiário Luiz Inácio Lula da Silva exibe os limites da ignominiosa “moral” petista ao saudar o coronavírus por, supostamente, expor a fragilidade do liberalismo — leia a respeito no artigo “O monstro e seus sócios”, de Guilherme Fiuza. O novo personagem na cena política é o influenciador digital Felipe Neto. Depois de uma entrevista ao programa Roda Viva, Neto tornou-se o benquisto do momento das esquerdas. Seu discurso repleto de desacertos, embora sem contestações da bancada de jornalistas, é objeto de uma breve exegese por parte de nossa colunista Ana Paula Henkel.

O ingresso de Neto na militância pró-Estado grande animou uma turma para a qual seria educativa a leitura do artigo de Alexandre Borges, “A desigualdade e o dinheiro dos outros”. Um belo trecho do texto: “Nas nações em que uma aristocracia formada de uma elite culpada, intelectuais, ativistas e tecnocratas que resolvem decidir em nome do povo onde os recursos do país devem ser alocados, o resultado é miséria, corrupção e, claro, mais desigualdade entre a elite e a população. A mesma desigualdade que os bilionários progressistas de hoje dizem querer combater”.

Na essência, o que está sob combate são os fundamentos de nossa civilização ocidental. É o alerta do cientista político Bruno Garschagen: “Quanto mais velho é o grupo social, parece ser maior a sensação da profundidade das mudanças ocorridas e do que foi perdido; quanto mais jovem, menor esse sentimento, porque muitos jamais souberam o que isso significava”.

 

Boa leitura.

 

Os Editores.

 

 

2 comentários
  1. Luiz Formentin
    Luiz Formentin

    Excelente revista mesmo!

  2. Elaine Reimberg
    Elaine Reimberg

    Li todos os artigos.
    Excelente revista!

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